Válvulas: controle mantém produção local

Consideradas o coração das linhas de processos, as válvulas de controle apresentam um panorama de mercado diferente dos demais segmentos de aplicação. São equipamentos fabricados para situações muito específicas encontradas em cada caso, de forma quase artesanal e de altíssima precisão. Dessa forma, manter a produção local, com serviço de engenharia e assistência pós-venda faz sentido, ainda que as válvulas custem mais caro em relação a outros países.

Química e Derivados, Frank Kwan (dir.) com válvula globo de alta pressão
Kwan (dir.) com válvula globo de alta pressão

A Emerson Process Management, detentora da marca Fisher (fundada em 1880), concluiu em março do ano passado a duplicação da capacidade de produção da fábrica de Sorocaba-SP e aposta no aumento do conteúdo nacional. “As regras de conteúdo local estimulam a produzir no Brasil, embora os custos sejam mais altos, além da dificuldade para qualificar fornecedores”, salientou Frank Kwan, diretor e gerente geral da Fisher no Brasil. Na sua estimativa, uma válvula feita no Brasil custa cerca de 30% a mais do que em outras unidades da companhia.

Em geral, componentes pequenos e simples são comprados no Brasil, enquanto itens mais complexos e grandes apresentam mais vantagens quando importados, até mesmo com prazos mais curtos de entrega. A parte eletrônica embarcada nas válvulas é totalmente importada. Kwan avalia o conteúdo local de uma válvula de controle entre 30% e 40%, em média. “Isso varia muito, dependendo do modelo, tamanho, classe de pressão, material construtivo e até do peso do equipamento”, informou.

A política interna da Emerson não contempla a verticalização da produção das válvulas na direção de operar fundições próprias. “Preferimos desenvolver parceiros locais para fundir os corpos com a qualidade que desejamos”, afirmou. Para ele, no caso das válvulas de controle, como lida com desenhos específicos, a importação de fundidos não é tão marcante quanto nas demais válvulas, com maior grau de padronização.

O mercado brasileiro de válvulas de controle apresentou forte crescimento há dois ou três anos, para depois se estabilizar. “Ganhamos o contrato para fornecer 1,5 mil válvulas de controle para a refinaria do Comperj e, por isso, estamos com uma boa carteira”, comentou.

As válvulas Fisher foram bem demandadas no país até o início dos anos 1980. Com o início da política de nacionalização de suprimentos, que exigiu a implantação de fábricas, a marca deixou de atuar diretamente no país. Há quinze anos, ela montou fábrica local e passou a disputar o mercado com mais força. “Somos líderes no segmento de controle no país desde 2011”, afirmou Kwan.

A meta da divisão de válvulas da Emerson é duplicar as suas vendas no país no prazo de cinco anos. Kwan entende que será preciso aumentar a capacidade de produção local, mas principalmente aproximar-se mais dos clientes. “Nossos engenheiros e canais de venda devem ficar mais perto deles para que entendam as suas necessidades e também para dar mais suporte local”, explicou.

A companhia conta com uma ampla rede de canais de venda e está reforçando a área de serviços. Em novembro, abriu o centro de entregas rápidas de válvulas em Sorocaba. Até o final deste ano, iniciará as operações de um centro de assistência técnica completo na região de Camaçari-BA. “A ideia é ter mais profissionais em contato com os clientes”, afirmou. Kwan, porém, salienta que esses esforços de nada adiantarão se a confiabilidade, a performance e a qualidade das válvulas não for preservada. “Não sacrificaremos de forma alguma esses aspectos”, reiterou.

As válvulas de controle chegaram a um estágio tão elevado de precisão que é difícil melhorar seu desempenho. Mas não é impossível. Kwan apontou a eletrônica embarcada como fonte de avanços recentes, pela capacidade de gerar dados e permitir diagnósticos precisos, que auxiliam a prever falhas e evitar perdas. “Também na parte mecânica das válvulas ainda é possível obter melhorias”, afirmou.

Há avanços surgindo em materiais construtivos, por exemplo, para suportar condições mais severas. A engenharia também evolui. “Foi inaugurado, com investimento de US$ 30 milhões, um laboratório com área de 12,6 mil m² na nossa matriz para estudar e aprimorar as válvulas, aumentando sua confiabilidade, tempo de serviço e performance”, comentou Kwan. O laboratório consegue testar válvulas até 36 polegadas a 3.500 psi, enquanto o anterior só ia até 16 polegadas. Ele também está equipado para avaliar tecnologias para abatimento de ruídos nas válvulas, uma preocupação recente.

“Esse laboratório permite obter as curvas de vazão na prática, com maior volume de dados, dispensando estimativas, isso melhora o controle”, comentou. O laboratório está disponível para clientes de todo o mundo, sendo capaz de simular as mais diversas e críticas condições de operação, como as do pré-sal. Segundo Kwan, um estudo recente lá realizado teve por objeto válvulas para instalações nucleares.

A tendência de usar maiores diâmetros está relacionada, entre outros, aos avanços na exploração de óleo e gás em plataformas offshore. “As linhas de produção têm diâmetros e vazões cada vez maiores para reduzir o custo das instalações e aumentar a produtividade”, explicou. Os modelos do tipo globo são considerados os mais precisos, mas se tornam muito pesados e caros quando construídos em grandes diâmetros. Nesses casos, são preferidos os tipos esfera e borboleta, em ordem crescente de diâmetro. Segundo Kwan, a Fisher renovou há dois anos a linha de controle do tipo borboleta, com rangeabilidade típica desses elementos, mas com a qualidade de controle de uma válvula de esfera. “Quando o ruído é importante, ou a aplicação favorece a cavitação, as válvulas globo são as indicadas”, considerou.

Além das válvulas de controle, a unidade de Sorocaba produz atuadores com várias tecnologias, indicados para automatizar válvulas on/off, e também chaves de fim de curso.

Química e Derivados, Válvulas: controle mantém produção local
Válvulas: controle mantém produção local

Consolidação internacional – Em setembro de 2012, a Pentair e a Tyco Flow Control promoveram a fusão de seus negócios globais, criando um gigante em produtos e soluções para água, controle de fluidos, gerenciamento térmico e equipamentos de proteção, com 30 mil funcionários espalhados pelo mundo. No Brasil, a Pentair conta com mais de mil colaboradores, alocados em duas fábricas (Sorocaba e São Paulo) e mais de uma dúzia de escritórios comerciais. A divisão Valves & Controls oferece válvulas, atuadores e soluções de automação para óleo e gás, açúcar e álcool e outros processos, com as marcas Hiter, Crosby, Vanessa, Keystone, Clarkson e Westlock.

“Acreditamos que seja importante manter estrutura no Brasil, pois a exigência de conteúdo local imposta pelos principais clientes incentiva a manter a produção aqui, além de encorajar investimentos de longo prazo com elevada capacitação”, afirmou Márcio Razera, líder nacional e diretor comercial da Pentair Valves & Controls Brasil.

Ele comentou que o mercado nacional teve um forte crescimento há alguns anos, mas depois adotou um ritmo mais lento. “Esse cenário nos faz planejar para sermos mais competitivos, fornecendo soluções integradas, além dos produtos de alta qualidade”, afirmou. Os negócios da companhia são mais direcionados para óleo e gás, processos industriais (com destaque para o setor químico), açúcar e álcool e mineração. Isso não exclui outros segmentos, como petroquímica, papel e celulose ou alimentos e bebidas.

Segundo Razera, a Pentair lista vários produtos desenvolvidos pela sua engenharia local para responder a necessidades específicas de clientes e está expandindo sua atuação em sistemas completos. “Temos projetos para fornecer uma solução totalmente automática que envolve válvulas, atuadores e um sistema de automação”, informou. Recentemente, a empresa lançou a linha de válvulas Keystone CompoSeal, do tipo borboleta com sede resiliente e corpo de ferro fundido, aliando leveza e resistência à corrosão, sendo indicada para vários mercados industriais.

Suprimento globalizado – A GE Flow & Process Technologies herdou da Dresser as históricas linhas de controle (Masoneilan, criada em 1882) e segurança (Consolidated, 1879), que integram o portfólio da GE Measurement & Control, atendendo os mercados de petróleo e gás, energia, química, petroquímica e nuclear. A GE também possui linha completa de dispositivos de campo (sensores e transmissores) e sistemas de controle digital, aos quais as válvulas são conectadas. Com a aquisição da Dresser, a companhia completou seu pacote tecnológico em controle de fluxos.

Química e Derivados, Edgardo Torres, GE, válvulas da Dresser completaram portfólio da GE
Edgardo Torres, GE, válvulas da Dresser completaram portfólio da GE

Edgardo Torres, líder da GE Measurement & Control para a América Latina, observou que o mercado de válvulas de controle começou a evoluir no Brasil em 1973, alimentado por grandes projetos como refinarias, polos petroquímicos, siderúrgicas e produção de celulose, todos usuários de válvulas com acionamento pneumático. A produção nacional seguiu firme até os anos 1990, quando a redução dos impostos de importação, o controle da inflação e o câmbio livre favoreceram a globalização das atividades. Isso permitiu às empresas eleger fábricas de excelência em vários países, com grande produção e baixo custo.

“Apesar das dificuldades da fabricação local, a GE tem capacidade técnica para, em caso de necessidade, fabricar as válvulas de controle tipo globo Masoneilan no país, pois tem todos os modelos de fundição e dispositivos de usinagem, mas o preço do mercado nacional ainda impede a produção de ser integralmente feita no Brasil”, declarou Torres.

Ele atribuiu o custo de produção elevado à tributação e ao preço dos insumos. “Podemos rapidamente mover nossa estrutura para fabricação local, desde que os compradores reconheçam esse esforço e cubram os valores envolvidos”, salientou. Para Torres, é difícil encontrar um produto industrial que integre componentes mecânicos (válvula) e eletrônicos (posicionador) e seja fabricado localmente ao preço praticado por aqui.

Herança da Dresser, a GE hoje conta com grande base instalada de válvulas de controle fora do segmento de óleo e gás. “A crise de 2008 provocou uma retração do investimento industrial que não chegou a atingir o setor de óleo e gás, cuja demanda interna é ainda maior”, explicou Torres. Ele espera que uma nova fase de equilíbrio se instale, abrindo oportunidades de negócios em outros segmentos.

Para Torres, as válvulas de controle têm sua importância cada vez mais reconhecida. “Não há sistema de controle digital que faça uma válvula mal dimensionada funcionar bem”, salientou. Os avanços nas válvulas e nos sistemas de diagnóstico permitem obter dados em tempo real do desempenho e da redução da variabilidade. Todos os novos projetos preveem válvulas inteligentes com controle híbrido, com sinal de 4-20 mA associado à comunicação Hart ou totalmente digital, com protocolo Fieldbus ou Profibus. O uso de posicionadores inteligentes é crescente, dialogando com os sistemas de monitoramento preditivo, indicando falhas e fugas dos pontos principais de controle.

Quanto à necessidade de desenvolvimentos para a exploração do pré-sal, Torres comentou que a GE fornece válvulas de controle para aplicações offshore da Petrobras desde os anos 1980. Os requisitos atuais são mais rígidos, tanto nas classes de pressão, que chegam a 10 mil lbs, quanto nos materiais especiais, os chamados superausteníticos (duplex), mais resistentes ao enxofre presente no óleo nacional.

“Apesar de estarem na zona de variação da maré, podendo receber o ataque do sal marinho direto pela água do mar ou pelo ambiente, existem mais válvulas instaladas nas plataformas feitas de materiais comuns (o mais usado é o aço-carbono fundido) do que de inox ou aços-liga. “Para proteger o aço-carbono, é aplicada uma camada externa de pintura epóxi, com preparação específica, sob norma da Petrobras”, comentou. Os acessórios usam aço inox em substituição ao alumínio.

Os aços-liga, materiais especiais, já são requeridos para aplicações em terra firme, em projetos de refino e processamento de gás natural, seguindo os mesmos padrões das plataformas quanto à compatibilidade química e à proteção anticorrosiva.

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