Válvulas: Concorrência global e custos elevados provocam mudanças profundas na indústria nacional

Química e Derivados, Válvulas: Concorrência global e custos elevados provocam mudanças profundas na indústria nacionalA indústria nacional de válvulas está em reorganização. Pressionada pelo acirramento da concorrência global e também pelo aumento dos custos no país, a fabricação local procura novas maneiras para se manter relevante, até recorrendo à importação de componentes. É perceptível a presença crescente de válvulas produzidas no exterior, em especial nas linhas padronizadas, as commodities. Mas, até nos complexos modelos para controle de fluxos, a desnacionalização se manifesta.

Química e Derivados, Lúcio: parcerias internacionais ajudam a atualizar tecnologia
Lúcio: parcerias internacionais ajudam a atualizar tecnologia

Esse quadro pode ser interpretado de maneira sombria, comprovando os vaticínios apocalípticos de morte setorial. Mas também permite enxergar um setor em plena remodelação, a ponto de algumas empresas investirem para conquistar espaços no mercado. É o caso, por exemplo, da KSB Válvulas, que inaugurou em abril sua fábrica em Jundiaí-SP, para onde transferiu a linha de produção de Barueri-SP, fruto da compra da IVC-Vanasa. Investir também está nos planos da Triple M, fabricante local que também atua como importadora, interessada em transferir-se de Sorocaba-SP para Boituva-SP e, com isso, aumentar sua capacidade operacional.

“Os números do setor de válvulas industriais estão abaixo do esperado. A relação cambial favorece a importação e não a produção local, um fenômeno que está afetando toda a indústria de bens de capital aqui no Brasil”, comentou Pedro Ariovaldo Lúcio, presidente da Câmara Setorial de Válvulas Industriais (CSVI), da Abimaq, e também proprietário da RTS Válvulas.

Ele explicou que nem mesmo a exigência de conteúdo local mínimo em projetos ligados ao governo federal (como os da Petrobras) é suficiente para proteger o setor contra a invasão de produtos importados. “As regras de conteúdo local admitem uma diferença máxima de 25% de preço entre o nacional e o importado, isso é insuficiente para compensar os custos mais elevados que temos em mão de obra e matérias-primas”, explicou Lúcio. Ele aponta o exemplo das peças forjadas que custam € 1 por kg na Itália, contra R$ 16/kg no Brasil. “Até o Japão, com a recente desvalorização da sua moeda, está ganhando espaço por aqui”, informou.

Lúcio atribui a falta de competitividade da produção nacional a fatores estruturais fora do controle dos fabricantes. Na lista, os culpados habituais: impostos elevados e cumulativos, infraestrutura deficiente, leis trabalhistas anacrônicas e moeda valorizada demais. A conjuntura também não ajuda. A lenta recuperação americana, somada à baixa atividade produtiva europeia, derrubou preços e fez os grandes produtores mundiais buscarem mercados alternativos. O Brasil é um deles.

A CSVI e a Abimaq, em atuação conjunta, conseguiram instituir um mecanismo de licença não automática para a importação de válvulas dos tipos borboleta e solenoides. “Esses produtos estavam ingressando no nosso mercado com preços aviltados demais”, explicou Lúcio. Outra medida defensiva obtida pela entidade foi o aumento que o governo federal concedeu para a alíquota do imposto de importação para os modelos de esfera, de 14% para 30%. “Mesmo assim, em muitos casos, ainda compensa importar”, lamentou.

O número de interessados em válvulas industriais no Brasil é relevante. A CSVI conta com 68 associados, mas existem outros dez em atividade (não participantes da entidade). Além deles, Lúcio estima em 150 o número de revendedores e de 300 o de distribuidores atuantes.

Nesse ambiente, Lúcio considera que a indústria brasileira está vivendo das sobras de seus concorrentes. “Às vezes, um pedido de válvulas não contempla todas as necessidades de um projeto e se torna inviável comprar lá fora o pequeno número de peças faltantes, que acaba sendo suprido pela indústria local”, explicou. A reposição de válvulas também se firma como um campo de operações para quem tiver presença local.

O presidente da CSVI calcula ser mais vantajoso, nas condições atuais, substituir válvulas antigas a investir na sua reforma. “Uma válvula de dez anos de uso já é obsoleta; como o custo de um equipamento novo caiu muito, vale mais a pena comprar uma válvula nova, construída de acordo com as normas atuais, para colocar no seu lugar”, salientou. Ele também comentou que a atividade de empresas de recuperação causa preocupações para os fabricantes. “Eles nem sempre usam a melhor tecnologia para executar os reparos necessários e o equipamento pode falhar, prejudicando a imagem do fabricante original, cujo nome está estampado no corpo”, alertou.

Nascida como fabricante de válvulas tipo borboleta, a RTS ampliou sua posição de mercado nas linhas de gaveta, globo, esfera e retenção mediante a aquisição da piracicabana Brusantin há 2,5 anos. “Essa aquisição nos permitiu ampliar nossa fatia de mercado, crescendo em mercados adicionais”, explicou Lúcio. Por medida de racionalização operacional e redução de custos, a fábrica de Piracicaba está sendo fechada e seus equipamentos principais transferidos para a sede da RTS, em Guarulhos-SP.

A RTS está atenta às oportunidades de mercado, acompanhando com atenção vários setores econômicos. “O setor sucroalcooleiro sempre foi um grande cliente, agora não mais”, exemplificou. Há alguns anos, a empresa começou a representar um fabricante japonês de válvulas borboletas triexcêntricas. Com o tempo, desenvolveu tecnologia própria, especializando-se na faixa de 150 a 300 lbs, a de maior demanda. Uma plataforma de petróleo, como explica Lúcio, usa válvulas desse tipo para pressões acima de 900 lbs.

“O mercado nacional está comprando menos válvulas e importando mais, cerca de 90% das válvulas vendidas aqui são trazidas de outros países”, apontou. Nessa situação, ele considera que a indústria nacional deve se concentrar em produtos especializados, deixando de lado as linhas feitas em série. “Estamos sempre buscando novos produtos e tecnologias para oferecer ao mercado, elevando o conteúdo local, mesmo que tenhamos de importar partes e peças”, afirmou. Ele também não descarta formar acordos para representar fabricantes internacionais, oferecendo estrutura comercial e de assistência técnica. “Esse é o caminho que enxergamos hoje”, disse.

Química e Derivados, Hube concentrou-se nas linhas em que é mais competitivo
Hube concentrou-se nas linhas em que é mais competitivo

Adaptação ao mercado – A Durcon-Vice promoveu uma profunda reorganização de negócios para se adaptar às circunstâncias de mercado. “Hoje só estamos produzindo sete tipos de válvulas. Nos últimos cinco anos, deixamos de fazer quase 70% da nossa linha tradicional, que agora só fabricamos sob encomenda”, explicou seu proprietário Alejandro Hube. Com isso, a empresa ganhou produtividade, tornando-se mais competitiva.

Hube entende que foi muito curto o período de transição do mercado fechado local para a globalização. A crise mundial de 2008 deu uma pancada nos mercados regionais, entre eles o brasileiro, direcionando para eles o foco de produtores globais altamente qualificados. Ele avalia o mercado nacional de válvulas em R$ 3 bilhões/ano, dos quais a Petrobras responde por R$ 200 milhões em compras diretas (reposição) e por R$ 1 bilhão em indiretas (por empreiteiras ou epecistas). Nas suas contas, 70% desse mercado é atendido por importações, realizadas por fabricantes locais, distribuidores e clientes. As vendas dos fabricantes nacionais ficam com 20% do mercado, partilha completada com 10% referente à produção local dos fabricantes internacionais. “A disputa pelos negócios locais está cada vez mais agressiva”, considerou.

Nesse quadro, quem dita as regras são os compradores, que puxaram os preços locais para bem perto da média global. “Além disso, produto bom precisa ter tecnologia moderna e o Brasil estava atrasado nisso, a Petrobras apontou a necessidade de avançar e ajudou os fabricantes nacionais”, comentou.

Mesmo assim, ele não vê grandes possibilidades de o Brasil se destacar como exportador de válvulas, nem de outros bens de capital mecânicos, com raras exceções. Ele atribui essa avaliação aos elevados custos de matérias-primas e de mão de obra. “Hoje é mais barato comprar aço lá fora, especialmente na Ásia, do que aqui”, comparou.

A mão de obra fica cara por apresentar baixa produtividade. “Há cinco anos, um trabalhador do setor produzia em média US$ 40 mil/ano, enquanto, no exterior, esse valor era de US$ 200 mil/trabalhador/ano”, comentou. Atualmente, a Durcon-Vice alcança índice de US$ 180 mil/trabalhador/ano, informou Hube. “Conseguimos isso com o uso de centros de usinagem de comando numérico (CNC), racionalização de processos e de custos”, explicou. Com a implantação de um novo sistema de tecnologia de informação (ERP), ele espera dispor de ferramentas de gestão mais eficazes e, com isso, ampliar em 20% sua produtividade.

A empresa iniciou no ano passado um ciclo de investimentos de R$ 7 milhões para a troca do sistema de TI e a aquisição de novos CNC, estes com financiamento do BNDES a juros baixos e dez anos para pagar. Além das duas fábricas de válvulas e uma fundição própria, a empresa adquiriu um terreno de 40 mil m² próximo a Jundiaí-SP para instalar sua terceira unidade fabril, com início de obras a partir de 2014.

A redução do portfólio deu mais foco aos negócios da empresa, segundo Hube. “Bem focados, nos dedicamos mais aos mercados atendidos e vendemos mais para eles”, considerou. A escala de produção dos itens selecionados aumentou e a área de engenharia pôde se concentrar em aprimoramentos. Ele explicou que os critérios para a escolha dos sete itens considerou mercados e produtos. “Priorizamos as vocações nacionais: energia (vapor, principalmente), saneamento básico, mineração e petróleo/gás”, disse.

Do ponto de vista dos produtos, foram escolhidos os que não apresentavam concorrentes nacionais, ou estes eram pouco numerosos em relação ao tamanho do mercado. Os escolhidos também não deveriam ser produzidos na Ásia, mas em países avançados da Europa ou da América do Norte. Ou seja, a competição não seria feita pelo preço. Os sete tipos são: para termelétricas: as válvulas by pass de turbinas, condicionadoras de vapor e globo para dreno e bloqueio com alta pressão; para serviços gerais e processos: borboleta triexcêntrica, com vedação metal/metal, válvulas de recirculação para proteção de bombas centrífugas, gaveta, globo e retenção, em modelos de tampas aparafusadas e pressure seal; e guilhotinas para mineração. Todos resultaram de contratos de transferência de tecnologia com prazos de cinco a dez anos, celebrados com fabricantes internacionais respeitados, mas aprimorados pela equipe própria de engenharia da empresa.

Segundo Hube, a Durcon-Vice obtém cerca de 15% de suas vendas com exportações para os Estados Unidos, México e Canadá, principalmente. “Nossas válvulas de recirculação são usadas nas instalações para craqueamento de xisto e de areias betuminosas, mercados em crescimento”, afirmou. Sua meta é elevar a exportação para 30% do faturamento, sem prejuízo dos negócios locais. “Temos uma fábrica, com um sócio, nos Estados Unidos, e trazemos alguns produtos de lá para cá e exportamos para eles também, se formos competitivos”, ressaltou.

A Durcon-Vice mantém um escritório comercial na China, voltado para compras de forjados, hoje importados de lá, mas também da Índia e da Alemanha, a depender do tipo de material. Fundidos começarão a ser importados a partir de 2014, quando estiver montada uma estrutura para comprar bem. “Nossa fundição tem um papel mais estratégico, atende a 40% de nossas necessidades, fundindo 35 t/mês”, explicou. Ele considera que o Brasil é mais competitivo em atividades de engenharia, montagem, assistência técnica e atendimento pós-venda, devendo trazer do exterior peças e partes com menor custo.

Uma das atitudes tomadas para garantir negócios consiste em manter um estoque para ter válvulas para pronta-entrega aos clientes. “Cerca de 80% de nossos produtos são entregues imediatamente ou no máximo em 30 dias, isso representa quase a metade do nosso faturamento”, considerou. O estoque tem valor estimado em R$ 8 milhões, entre acabados e semiacabados.

Hube considera fundamental se aproximar das empresas de engenharia de projetos, que especificam as válvulas. “Essas engenharias muitas vezes preferem colocar marcas importadas nos projetos, desprezando fabricantes nacionais de alta qualidade, isso precisa mudar”, criticou.

Ao mesmo tempo, Hube entende que o setor de válvulas industriais já conta com proteções suficientes para enfrentar a concorrência global. Mas ele admite que a rentabilidade está baixa, inferior a 5% para um faturamento de R$ 65 milhões em 2012, considerando todo o grupo empresarial.

Química e Derivados, Marchina reforça importações, mas produz borboleta Mack
Marchina reforça importações, mas produz borboleta Mack

Aposta na internacionalização – O setor de válvulas no Brasil precisa acompanhar os movimentos dos concorrentes internacionais. A Triple M do Brasil produz em Sorocaba-SP as válvulas de borboleta Mack, com sede resiliente (de Viton, EPDM, BuNa e PTFE), aprovadas pela Petrobras. Agora está importando corpos usinados e internos para montar válvulas de gaveta, globo, esfera e retenção. “Somos certificados na ISO 9000 para a fabricação de borboletas e montagem das demais, mas só as borboletas, por enquanto, estão qualificadas pela Petrobras”, explicou o gerente geral Antonio Marchina. Ele espera que esses produtos sejam auditados até o final deste ano pela estatal.

Além disso, a Triple M também distribui produtos feitos pela YDF (China), Mogas (EUA), Vimec (Itália) e as triexcêntricas da Tomoe (Inglaterra). Só as válvulas da YDF não estão cadastradas na Petrobras na categoria master offshore. “Temos acordos de tecnologia em vários produtos para aumentar o conteúdo de produção local”, comentou Marchina. As peças de maior parte, por exemplo, são equipadas com caixas de redução para acionamento feitas no Brasil, ou com atuadores automatizados locais, contando com um parceiro especializado. É o que faz com as borboletas triexcêntricas, que são acopladas a sistemas de automação no Brasil, onde também são pintadas conforme as normas do comprador.

Química e Derivados, Marchina reforça importações, mas produz borboleta Mack
Marchina reforça importações, mas produz borboleta Mack

A Triple M foi criada em 2009 e já tem 40 funcionários e um estoque de 20 mil válvulas de gaveta, globo, esfera e retenção. As borboletas geralmente são feitas sob encomenda. A empresa conta com quatro máquinas para testes de válvulas, sendo duas delas capazes de lidar com equipamentos de duas até oito polegadas a 1.500 lbs. As demais podem chegar a 24 polegadas a 600 lbs. “Temos capacidade para testar 6 mil válvulas por mês”, afirmou. Como a Petrobras exige que todos os equipamentos a ela vendidos sejam testados, Marchina vê nessa atividade um serviço que poderá prestar a terceiros. “Em Boituva, separaremos fisicamente as operações da Mack, da Triple M e da unidade de serviços”, adiantou.

O plano da Triple M é atuar no conceito de whole supplier, entregando conjuntos de tubos, conexões e válvulas feitos de materiais especiais e com as marcas de fornecedores aprovadas pelos clientes. “Isso exige ter estoques elevados”, ressaltou Marchina. Esse conceito, segundo ele, é muito comum nos Estados Unidos. Seu sócio majoritário, o grupo norte-americano IPPC, atua na distribuição de tubos, principalmente os fabricados com ligas especiais. “Os tubos são fabricados em vários locais do mundo, mas podemos atender com rapidez se os trouxermos dos EUA”, considerou. Ele afirmou já ter realizado negócios nesse conceito.

Para Marchina, importar partes e peças da China é uma operação comum, realizada por muitos fabricantes nacionais. Segundo informou, o mercado mundial de válvulas soma US$ 60 bilhões/ano, dos quais apenas US$ 2 bilhões se referem ao Brasil. O maior cliente nacional do setor é a Petrobras, que demanda cerca de US$ 1,6 bilhão anualmente, dos quais menos de US$ 300 milhões seriam fornecidos pelas empresas cadastradas como fornecedoras (CRCC). O resto é importado, embora grande parte dessas válvulas seja fornecida dentro de pacotes completos, como caldeiras. “Só se consegue ser competitivo com alianças internacionais”, considerou Marchina. O mundo tem cerca de 15 mil fabricantes de válvulas, dos quais 150 estão no Brasil.

Ele citou como exemplo um fabricante chinês, capaz de produzir 6 mil válvulas por dia. “Eles trabalham com escalas enormes, a fundição de aço deles é gigantesca, enquanto o Brasil não tem capacidade instalada para suprir a sua demanda de fundidos e forjados”, comparou. Ele recomenda aos empresários nacionais buscar fontes de suprimento competitivas de materiais, montar equipamentos no país para depois vender a produção em toda a América Latina e, talvez, até nos EUA. “A Itália, por exemplo, tem marcas espetaculares de válvulas, mas elas são produzidas na China”, comentou. É preciso ter estrutura para tanto, pois é difícil manter a qualidade de produção em larga escala naquele país sem uma presença constante.

Por enquanto, a Triple M não é grande exportadora. “Vendemos um volume pequeno para a Argentina”, informou. Mesmo assim, desde 2009, quando foi criada, até agora, a empresa registra crescimentos anuais de 100% no faturamento, alimentando a meta de chegar a R$ 100 milhões em vendas até o fim de 2015.

A produção de petróleo e gás no pré-sal não anima muito o empresário. “A exploração do pré-sal não usa o arroz com feijão, mas exige equipamentos e materiais muito sofisticados, de altíssima tecnologia”, avaliou Marchina. Até os tubos usados nesse caso são especialíssimos. As solicitações chegam a pedir válvulas capazes de suportar pressões equivalentes a 3 mil m de profundidade. “Ninguém tem sistema para fazer esses testes, só o Cenpes”, afirmou. Mas a estatal tem grande poder de atração e vários players estão interessados em disputar essas encomendas, sozinhos ou mediante parcerias. Marchina avalia que o mercado de óleo e gás no Brasil ainda oferece uma boa demanda pelos próximos vinte anos.

Para que a indústria nacional tenha sucesso, ele recomenda a capacitação dos fabricantes locais. Isso exige a importação livre de impostos de maquinários avançados, ampliar a oferta de cursos tecnológicos e buscar matérias-primas onde houver (especialmente de superligas). “Depois disso, poderemos ter uma indústria competitiva de válvulas”, disse.

Química e Derivados, Nelsen mostra válvula de esfera de 2500 lbs para offshore
Nelsen mostra válvula de esfera de 2500 lbs para offshore

Produção completa – A KSB Válvulas inaugurou fábrica no Brasil (ver notícia na QD-531, de março de 2013) com outra orientação estratégica: sua produção é verticalizada, desde os fundidos, supridos em grande parte por uma unidade do grupo situada em Americana-SP. “Trabalhamos com produtos engenheirados, todos os componentes são específicos para cada um, não dá para horizontalizar”, explicou Igor Norris Nelsen, diretor executivo da divisão de válvulas da KSB.

A nova instalação resultou do investimento de R$ 50 milhões, incluindo um terreno de 103 mil m², dos quais 11.250 m² edificados. A área é suficientemente grande para abrigar, no futuro, uma unidade de produção de bombas seriadas, hoje instalada em Vinhedo-SP.

A fábrica foi construída segundo os padrões mais modernos de saúde, segurança e meio ambiente e é um dos centros de competência da companhia para óleo e gás – o outro fica na Alemanha, mas é mais voltado para petroquímica. Por isso, a unidade de Jundiaí faz os projetos das válvulas com corpo próprio de especialistas, faz modelagem computadorizada e análise de elementos finitos, suprindo outras unidades do grupo que tenham negócios em óleo e gás.

A alta especialização tem permitido à unidade de válvulas “apenas sobreviver”. Segundo Nelsen, 2011 e 2012 foram anos difíceis para o mercado nacional, que se tornou muito competitivo. “Grandes grupos compraram muitas empresas do setor, impondo a necessidade de produzir em escala maior; quem está estruturado e se modernizou, consegue competir”, avaliou.

A exigência de índices de nacionalização de 65% em projetos de óleo e gás também contribui para a sobrevivência da fabricação local, mas não permite grandes lucros. “O grau de exigência da Petrobras é um dos mais elevados do mundo, quem fornece para ela pode fornecer para qualquer outra companhia de petróleo”, ressaltou Nelsen. Ele explicou que todas as petroleiras exigem o atendimento das normas API. A estatal brasileira também, mas, além disso, ela pede que sejam observadas as normas brasileiras (NBR) e as normas internas da companhia, com todas as suas particularidades.

Ele comenta que houve uma abertura para importação de válvulas API da China, e os fornecedores de lá se apresentaram por aqui com preços muito baixos e conquistaram muitos pedidos. Em 2012, porém, depois de enfrentar problemas de qualidade com essas compras, a Petrobras voltou aos fornecedores nacionais. “Ela está exigindo índice de nacionalização por especialidades, como bombas e válvulas, não por projetos completos”, explicou Nelsen.

Ao mesmo tempo, a estatal está incentivando a adoção da NBR 15827, criada para normalizar a qualidade das válvulas. “Essa norma exige testar o equipamento em bancada especial que reproduz condições críticas, inclusive elevadas temperaturas externas. Nós investimos R$ 1 milhão em uma dessas bancadas e precisaremos aplicar mais R$ 500 mil em novos equipamentos de testes”, comentou Nelsen. A estatal deu grande apoio aos fabricantes locais ao encomendar protótipos para quatro empresas instaladas no país (a KSB é uma delas), motivando o desenvolvimento da tecnologia.

Pedro Lúcio, presidente da CSVI, comentou que a estatal tenta implantar a NBR 15827 no país há oito anos, sem sucesso. “Custa muito caro atender a essa norma, os fabricantes nacionais já atendem a exigências muito superiores às que são solicitadas aos produtos importados, nós queremos isonomia”, criticou. Ele reconhece que essa norma elevaria o nível de qualidade dos produtos vendidos para óleo e gás. “A Petrobras e a Abimaq estão revendo essa norma, talvez seja interessante, não como barreira técnica, mas porque essa norma realmente tem foco na qualidade do produto”, salientou. No exterior, segundo ele, os compradores costumam confiar nos certificados da ISO 9000, dispensando outros.

Aliás, as exigências da Petrobras superam o limite da razoabilidade. “Cada válvula entregue para a estatal leva com ela pelo menos 45 folhas de papel com documentação, não importa qual o tipo, nem a aplicação”, disse Lúcio. “Isso nos obriga a ter mais funcionários para administrar essa parte burocrática do que na produção”, criticou.

Para a KSB, a norma NBR 15827 é vista como uma forma de impor uma qualidade mínima aos produtos destinados a óleo e gás. A empresa está qualificando seus modelos de esfera no escopo da norma e também desenvolve trabalhos com a linha de gaveta. Além desses, a empresa fabrica globo, borboleta e retenção, com diâmetros até 60 polegadas, para pressões até 2.500 lbs. Em maio, a empresa estava testando um modelo de esfera para 2.500 lbs, com peso total de 20 toneladas. “Temos produtos para a área seca da produção, mas não para subsea”, explicou Nelsen.

A KSB Válvulas tem pedidos para a exploração do pré-sal, a exemplo das plataformas replicantes (feitas com projetos idênticos). Nelsen comentou que essas válvulas não diferem muito dos pedidos tradicionais para refinarias, mas exigem materiais de construção mais avançados e diâmetros maiores. “O pré-sal exige materiais que suportem condições mais elevadas de abrasão e erosão, preferindo duplex e superduplex, por vezes com revestimentos orgânicos ou de Inconel”, explicou. Também são fabricadas válvulas para a produção de gás natural, com desenhos bem diferentes.

Além dos materiais, Nelsen informa que os produtos voltados para óleo e gás avançaram muito em eletrônica embarcada, sendo exigido um alto grau de automação. “O Brasil já tem plataformas de produção não habitadas, com operação remota”, informou. A empresa produz caixas de engrenagens mecânicas e recorre a parceiros para receber atuadores elétricos compatíveis.

Além da qualidade da produção, Nelsen afirma a necessidade de contar com assistência ágil. “Uma plataforma de 100 mil barris/dia parada, com o óleo a US$ 100 por barril, representa perda de faturamento de US$ 10 milhões/dia”, salientou.

Embora a KSB seja uma conhecida fabricante de bombas, com atuação destacada em óleo e gás, Nelsen não vê grande possibilidade de sinergia comercial com as válvulas. “São produtos comprados mediante negociações separadas, os projetos são diferentes, bem como os tempos de produção, não dá para amarrar vendas conjuntas”, explicou.

Química e Derivados, Válvula de 20 polegadas para amônia, produzida pela Vastin
Válvula de 20 polegadas para amônia, produzida pela Vastin

Nichos mantidos – A indústria de válvulas compreende um universo amplo de produtos e segmentos, com uma grande quantidade de nichos que são atendidos por empresas especializadas. É o caso dos produtos para linhas de refrigeração e aquecimento.

A Vastin iniciou suas operações em 1992, quando foi identificado um bom potencial de mercado em válvulas para amônia e óleo térmico, usadas em vários segmentos de mercado, como abatedouros, frigoríficos, têxteis e também na química. A linha compreende linhas do tipo globo, com função de bloqueio, com algumas características específicas, como um modelo para controle, desenhado para óleo térmico.

“Trabalhamos em aplicações que exigem alta segurança, a exemplo da amônia e do óleo térmico, ou seja, do muito frio ao muito quente, sem vazar ou travar”, comentou Eduardo Lins dos Santos, gerente comercial. A Vastin lançou há cinco meses uma válvula de dreno, indicada para escoar óleo térmico do fundo do reservatório do sistema, fruto de um desenvolvimento da própria empresa. Agora, lançou um modelo de aço laminado especial para uso em amônia com 20 polegadas de diâmetro. “Antes só chegávamos a 14 polegadas”, comentou Santos.

Por atuar em um nicho muito específico, a Vastin sofre um pouco menos com a concorrência dos importados, embora também sinta a sua pressão no mercado. “Quando há importação de aquecedores de óleo, eles já vêm com as suas válvulas, mas são equipamentos de qualidade, feitos na Alemanha, por exemplo”, comentou, apontando como o principal negócio a venda de peças para reposição.

Santos enfatizou a qualidade dos equipamentos, cuja produção começa com tubos de aço nacionais, fornecidos pela Mannesmann. “Nossa produção tem ISO 9000 e rastreabilidade, não podemos colocar a segurança em risco com o uso de materiais de origem desconhecida”, afirmou. Ele disse que a Vastin só não fabrica os volantes e as vedações, que podem ser elastoméricas ou metálicas.

Segundo comentou, 2008 foi o pior ano da história da empresa, por conta da redução de investimento por parte dos clientes. “Fizemos o possível para manter nossos profissionais, altamente qualificados, pois sabemos como é difícil recontratar”, comentou. Aos poucos as vendas reagiram, mas não voltaram ao patamar de antes da crise. “Estamos considerando ingressar nos países do Mercosul com as nossas válvulas”, afirmou.

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