Ureia: aplicações técnicas pedem qualidade superior

Uso industrial amplo exige qualidade adequada para evitar danos ao consumidor

Muito conhecida pelo uso como fertilizante agrícola, a ureia ampla aplicação industrial que, longe de rivalizar em volume, apresentam exigências de qualidade diferenciadas. Nem sempre essas exigências são observadas no mercado brasileiro, situação capaz de criar problemas relevantes.

“No caso do Arla-32, o uso de ureia fertilizante no lugar da ureia adequada pode reduzir ou eliminar o benefício esperado na redução de emissão de poluentes”, salientou Paulo diretor executivo de Agro e head de logística corporativa da Unigel, única produtora local de ureia.

Arnaez comentou que as fábricas de Camaçari-BA e Laranjeiras-SE, da Petrobras Fertilizantes, ficaram quase três anos paralisadas antes de serem arrendadas para a Unigel, que retomou e ampliou a produção.

“Quando a Petrobras saiu desse mercado, na falta de outro produtor local, os clientes foram buscar suprimentos no exterior, nem sempre com a mesma qualidade, e isso abriu uma janela até para fraudes”, apontou.

Como a ureia fertilizante tem especificações menos rigorosas e é vendida a granel (sem embalagem), seu preço é menor que os tipos especiais, como a pecuária, a técnica e a automotiva.

Ureia: Qualidade adequada para evitar danos ao consumidor ©QD Foto: iStockPhoto
Arnaez: fabricante local pode oferecer tipos sob encomenda

“Esses tipos especiais apresentam altíssima pureza, não podem conter contaminantes, tanto que devem ser embalados imediatamente após a produção”, explicou.

Esses tipos de ureia não recebem o aditivo CUF (concentrado de ureia formol), que é adicionado ao fertilizante para evitar o empedramento durante o transporte.

Como explicou o diretor, os tipos especiais apresentam teor de biureto bem abaixo de 2% (máximo permitido para fertilizante) e nunca apresentam CUF. “A ureia automotiva, usada no Arla-32, exige teor máximo de biureto de 0,9%”, comentou. No transporte a granel podem ocorrer contaminações diversas, com metais, por exemplo.

A presença de contaminantes na ureia técnica pode resultar em defeitos ao longo das cadeias produtivas. Uma resina ureia-formaldeído, muito usada no setor moveleiro, pode ter a coloração alterada. A presença de formaldeído também é indesejável para a alimentação pecuária. Os fertilizantes foliares são exigentes em qualidade, com limite de 0,3% de biureto pelas normas oficiais.

 “No Brasil, só existe regulamentação para a ureia fertilizante e a pecuária, ambas fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), além da usada no Arla; os tipos industriais seguem, ou deveriam seguir, os padrões internacionais”, alertou. Segundo o diretor, a entrada do Proconve 8 (programa oficial de redução de emissões veiculares), que tem por base o protocolo Euro VI, é mais restritivo quanto às emissões dos motores a diesel. “A frota de caminhões demora 10 anos para ser renovada e como as regras ficaram mais rígidas, os novos veículos deverão ter sistemas mais robustos para tratar os gases de escapamento, ou seja, consumirão mais Arla, que é feita de ureia”, avaliou.

“A Unigel retomou a produção local de ureia em 2021 e investiu para poder produzir os tipos especiais na Bahia e em Sergipe, antes, essa produção era restrita à Camaçari, unidade que ainda concentra a oferta desses insumos”, explicou Arnaez. Isso permite à companhia produzir tipos diferenciados sob encomenda de clientes, com teores de biureto ainda mais baixos. Como explicou, embora o processo industrial seja o mesmo, a produção dos itens de alta qualidade implica perda de produtividade e elevação de custos. Daí a diferença de preços com o tipo fertilizante. Ele estimou que a ureia automotiva tenha cotações 60% acima da fertilizante, diferença que cai para 30% no caso da pecuária, e 20% na industrial.

“Sempre recebemos consultas de clientes sobre a possibilidade de fornecermos tipos diferenciados de ureia, produto que possui uma grande diversidade de aplicações, embora pouca gente saiba disso”, comentou. Ele citou um desenvolvimento recente, o uso de ureia especial como nutriente na fermentação alcoólica conduzida nas usinas sucroalcooleiras. “Ter suprimento local garantido é fundamental, com assistência técnica e desenvolvimento de soluções”, salientou. Como informou, a companhia não trabalha com tipos adequados ao mercado cosmético, mas estuda essa possibilidade para o futuro.

O mercado de insumos químicos foi sacudido primeiro pela pandemia do coronavírus e, a partir de 2022, pela invasão da Ucrânia pela Rússia. A ureia não passou incólume por esses períodos. Arnaez comentou que a Europa é um produtor importante de ureia, mas consome lá mesmo o que produz. “Com a guerra e o corte do suprimento de gás russo, a produção por lá ficou inviável; a Unigel chegou a exportar tipos especiais para lá no ano passado, mas agora a situação está se equilibrando e os preços recuaram”, comentou.

Da mesma forma, os Estados Unidos são um grande produtor mundial, mas pouco fornecem para cá, preferindo abastecer o mercado europeu. “O Brasil é considerado por eles como um mercado muito descontado”, avaliou. Assim, os maiores fornecedores de ureia para o Brasil são o Irã, a China e a Rússia, dos quais os dois últimos têm maior relevância.

Arnaez estima o mercado brasileiro da ureia técnica (sem incluir a pecuária e a automotiva) em 300 mil t/ano, um volume pequeno perto das 7,5 milhões de t/ano consumidas como fertilizante. “Temos capacidade produtiva instalada para produzir essa quantidade e até mais, sem problemas”, disse. “Aliás, quase 50% das nossas vendas são direcionadas para os tipos especiais, atendemos a praticamente toda a produção nacional de Arla-32 e estamos com participação muito grande na pecuária e industrial.” A capacidade total de produção de ureia da Unigel chega a 1,1 milhão de t/ano.

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O mercado atraente da ureia

A gigante Yara, líder mundial em nutrição de plantas, importa para o Brasil produtos fabricados em suas unidades globais. “Importamos todos os tipos de ureia para cá: fertilizante, técnica, nutrição animal e automotiva; embora o mercado agrícola seja muito forte, as demais aplicações também são interessantes por aqui, aliás o Brasil se destaca como um dos principais consumidores mundiais”, afirmou Cesar Ribeiro, gerente de vendas industriais da Yara Brasil.

Ele adverte que as especificações dos variados tipos de ureia são diferentes. “A diferenças se relacionam à quantidade de aldeído, biureto e minerais presentes na ureia”, confirmou. Cada aplicação também requer embalagens adequadas. “A ureia automotiva, por exemplo, não pode ser transportada a granel, pois pode haver o empedramento; por isso, ela é importada em big bags.”

Da mesma forma, Ribeiro salienta que aplicações industriais exigem respeito às especificações técnicas e o uso de tipos inadequados, como o fertilizante, seria reprovado pelos clientes por representar um risco ao produto final. “Há casos de uso indevido de ureia fertilizante no Arla-32, mas ela pode causar danos ao catalisador do veículo e ao seu desempenho. Isso é considerado um crime fiscal”, advertiu.

A ureia técnica, indicada para uso industrial, encontra largo emprego no Brasil, segundo Ribeiro, na fabricação de compensados de madeira, na síntese de resinas ureia-formol, tratamento de água, entre outros.

Detergente

A distribuidora de produtos químicos Royal Marck tem a ureia técnica em seu portfólio, obtendo-a por importações.  “Tem vindo muito produto da Rússia e até alguns lotes da Bolívia, enquanto as remessas da China foram reduzidas”, informa o sócio-proprietário Luís França.

Ele comentou que a técnica é praticamente igual à fertilizante, mas vêm ao Brasil já ensacada e com um código da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) diferente, sendo sujeita a uma tributação própria. “A ureia usada para fazer o Arla tem qualidade superior.”

França comentou que grande parte de suas vendas desse produto é direcionada para a fabricação de detergentes líquidos. “A neutralização dos detergentes é feita com soda e isso leva à formação de sais que turvam o produto final; a ureia é adicionada como alternativa ao uso de aminas (TEA, DEA) para dar transparência, mas deve ser aplicada na dosagem certa, para não derrubar a viscosidade”, explicou. Outro uso relevante é a síntese de resinas ureia-formaldeído.

“Verificamos que o uso de ureia nas resinas e nos detergentes está caindo, acompanhando uma tendência de mercado em geral desde o início do ano”, apontou. “Mas o consumo da ureia no agro não para de crescer”, finalizou França.

fonte: Revista Química e Derivados – Edição número 644 –  página 58 – Ano LV ©QD

Para informações sobre fornecedores de ureia, consulte o Guia QD, a maior plataforma de compra e vendas do setor. Veja ureia técnicalíquida, P.A e agrícola.

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