Tubos: Produção nacional pode suprir à demanda

Produção nacional pode suprir à demanda, mesmo com o pré-sal, mas teme importação subsidiada

Não será por falta de tubos que os investimentos anunciados pelo governo e pelo setor privado em vários segmentos da atividade econômica nacional deixarão de ser executados.

A capacidade de produção de tubos de aço no Brasil vai além de 4,3 milhões de toneladas anuais, mas seu índice médio de ocupação em 2009 não passou de 65%.

Isso garante o atendimento da demanda nacional, ainda que os vários projetos divulgados sejam ativados simultaneamente para formar o mutirão de obras característico dos anos de campanha eleitoral.

“A capacidade hoje ociosa e as novas fábricas de tubos que estão em construção são suficientes para suprir a demanda, embora possa haver alguma dificuldade em obter alguns tipos especiais”, avaliou José Adolfo Siqueira, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tubos e Acessórios de Metal (Abitam).

As importações contribuirão para abastecer o mercado, principalmente nos produtos feitos com aços e processos especiais, como os feitos de ligas especiais ou os cladeados.

Siqueira observa, porém, um aumento na importação de tubos com similar nacional. Essas operações decorrem de distorções criadas pela introdução de regimes tributários especiais, como o Repetro (Regime Aduaneiro Especial de Exportação e Importação de Bens Destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e Gás Natural) e o Repenec (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infraestrutura da Indústria Petrolífera nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste).

Química e Derivados, Adolfo Siqueira, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tubos e Assessórios de Metal(Abitam), Tubos - Produção nacional pode suprir à demanda, mesmo com o pré-sal, mas teme importação subsidiada
Siqueira: Abitam luta contra regime que estimula importação

“O governo muitas vezes quer desonerar algum grande projeto de investimento, mas acaba por privilegiar importações que ficam isentas de tributos no país de origem e também aqui”, criticou.

Essas distorções são perigosas porque desestimulam a implantação de fábricas no país onde, por força dos mesmos regimes especiais, a cadeia produtiva acumula créditos tributários para receber algum dia.

Além disso, o fabricante local nem sempre consegue escapar de tributos estaduais e municipais e, por isso, ainda fica entre 7% e 10% mais caro. “Desse jeito, uma empresa internacional prefere montar uma fábrica nova no exterior e trazer de lá os tubos.”

Representando o setor, a Abitam pleiteia a revisão desses regimes especiais, reconhecendo sua importância para a atração de capitais externos para grandes projetos em tempos de alta inflação e baixa credibilidade internacional do país.

Em 2009, por exemplo, a participação dos importados no mercado local foi expressiva, principalmente porque houve uma retração de demanda. “Há um excesso de produção de tubos de aço no mundo, que se reflete nas ocorrências de subsídios, subfaturamento e dumping, com as quais temos de competir, além de suportar uma taxa cambial desfavorável”, afirmou Siqueira.

A Abitam espera uma recuperação significativa do mercado nacional de tubos em 2010, que começou com os setores de construção civil e automotivo em forte atividade. A partir do segundo semestre, devem surgir encomendas ligadas ao saneamento básico e também às obras necessárias para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e para a Olimpíada do Rio (2016).

Além da condução de fluidos, os tubos de aço são muito usados como componentes estruturais de edifícios e de vários equipamentos urbanos. “Há muita fumaça, muitos projetos anunciados, mas poucos pedidos efetivamente colocados”, lamentou.

Siqueira revela boas expectativas para 2010. Em 2008, um ano excepcional para os negócios, o faturamento setorial chegou a US$ 5 bilhões, com produção superior a 2,2 milhões de toneladas de tubos de aço. O diretor da Abitam comentou que 2009 mostrou os efeitos da crise, porém estes variaram de segmento para segmento de mercado. No total, ele apontou uma queda de aproximadamente 15% no movimento físico, que ficaria, portanto, perto de 1,87 milhão de toneladas. “É possível que voltemos ao patamar de mercado de 2008”, comentou.

Com costura – O desempenho dos produtores de tubos de aço carbono e inox sem costura em 2009 ficou abaixo do alcançado em 2008, mas isso apenas comprova que este ano teve números excepcionais. Pelos resultados divulgados em fevereiro pela Confab Industrial S.A. (grupo TenarisConfab), verifica-se que a empresa obteve a receita líquida de R$ 1,76 bilhão, quase 11% inferior ao R$ 1,97 bilhão registrado em 2008. Porém, em relação a 2007, houve um aumento de quase 14% nesse item em 2009.

Além disso, à queda de 11% na receita líquida correspondeu uma redução de 38,7% na tonelagem processada de aço em tubos, de 478,4 mil t para 293,3 mil t, no período de comparação. Segundo a companhia, isso deve ser interpretado considerando a redução da demanda nacional por dutos de gás por terem sido concluídos recentes projetos de grande envergadura, os gasodutos troncais do Plano Nacional de Gás Natural (Plangás). As exportações de tubos foram prejudicadas pela apreciação do real e pelo desinteresse na construção de novos gasodutos, justificada pela crise econômica mundial. Em compensação, a empresa vendeu, em 2009, 31,9 mil t de tubos especiais para prospecção de petróleo (OCGT – Oil Country Tubular Goods), quantidade 41,8% acima da vendida em 2008.

Atenta aos planos de investimentos da Petrobras, a Confab injetou R$ 28 milhões na adaptação da principal linha produtiva de tubos para confeccionar produtos com maior espessura de aço, voltados para aplicações offshore. Esses novos tubos foram vendidos para o gasoduto do campo de Tupi e entregues em dezembro passado.

A Confab iniciou 2010 com o mesmo cenário de retração de demanda nacional e internacional, moeda local apreciada e elevação de custos. Porém a venda de tubos OCGT para a Petrobras deve ser mantida em nível considerável. Além disso, espera-se para o segundo semestre uma retomada de investimentos em dutos de transporte para álcool e petróleo/gás (offshore), no Brasil e no exterior. A área de atuação da companhia compreende a América do Sul e o Caribe.

A Soluções Usiminas, empresa do grupo siderúrgico Usiminas (com participação acionária da Nippon), projeta para 2010 e anos seguintes um forte crescimento no consumo de tubos de aço. Isso se deve ao “crescimento da economia nacional previsto para 6% em 2010, ao avanço dos projetos ligados à Copa do Mundo, Olimpíada, exploração do pré-sal e do programa Minha Casa Minha Vida, além do fato de ser um ano de eleições majoritárias”, comentou Luis Ernesto Migliora, diretor da Soluções Usiminas.

A empresa detém 20,16% do mercado nacional de tubos de aço, segundo a Abitam, produzindo tubos de aço carbono e inox com costura com perfil redondo, quadrado, retangular ou oblongo, galvanizados a fogo, além de eletrodutos, tubos de condução preto e schecules. Opera com aço de diversas qualidades em bobinas, com laminação a frio ou a quente. Seus segmentos de atuação incluem implementos agrícolas e rodoviários, estruturas metálicas, construção civil, indústria naval e automobilística.

Segundo Migliora, o mercado nacional de tubos de aço vinha crescendo em ritmo acelerado até a crise mundial de outubro de 2008. Em 2009, a retração de consumo foi de 25%. “Em 2010, a demanda deve voltar aos níveis de 2008”, afirmou. Tamanha é a confiança no mercado que a Soluções Usiminas mantém um plano arrojado de crescimento, com metas agressivas até 2014, implicando grandes projetos de investimento “que ainda não podem ser revelados”, enfatizou Migliora.

A Soluções Usiminas é fruto da consolidação das empresas Dufer, Zamprogna, Rio Negro, Usial e Usicort. Com isso, o grupo conseguiu verticalizar totalmente a atividade, da mineração até a distribuição de tubos para seus clientes. Tem previsão de faturar R$ 3,5 bilhões em 2010, comercializando mais de 1,2 milhão de t de produtos no Brasil e na América Latina. “A concentração da oferta no setor de tubos está ligada à alta tecnologia dos equipamentos industriais de um pequeno número de fabricantes, que buscam constantemente inovar e agregar valor aos seus produtos, por exemplo, elaborando peças tubulares, usando materiais de alta resistência e oferecendo tubos de dimensões especiais”, explicou Migliora.

“A concentração de produtores é uma clara tendência mundial no setor, mas não a integração a jusante”, afirmou Siqueira, da Abitam. Para ele, a formação de grandes grupos atende às exigências de mercado que pedem fornecedores qualificados com alta escala produtiva e capacidade de investir.

A aproximação entre siderúrgicas com produtores de tubos – a exemplo da Usiminas com a Zamprogna – ficaria restrita a nichos de mercado, sem delinear uma tendência. “Nem faz muito sentido, porque se a siderúrgica quiser fazer tubos ela não precisa comprar ninguém, basta colocar os equipamentos ao lado da produção do aço para processamento imediato, com vantagens ainda maiores”, explicou.

Migliora explica a entrada de tubos de aço importado no Brasil pela existência de subsídios em outros países produtores. “Mas existe uma preocupação dos clientes finais com a qualidade desses materiais que podem comprometer a sua produção”, afirmou. “Deve-se exigir que esses tubos tenham qualidade padronizada, atendendo às normas técnicas brasileiras.”

Ele salientou que os tubos de aço brasileiros são competitivos em toda a América Latina, em virtude da proximidade geográfica e da existência de acordos comerciais que facilitam as negociações. Em outras regiões predominam os tubos com e sem costura de origem chinesa, que contam com matéria-prima com preço subsidiado.

A alemã Schulz anunciou a construção de sua quarta linha de produção em Campos-RJ, na qual investirá cerca de R$ 20 milhões para produzir tubos com costura indicados para situações especiais de operação. A terceira linha ainda está em construção, mediante investimentos estimados em R$ 100 milhões, com o objetivo de produzir tubos bimetálicos de alta resistência, com aplicação possível nos campos de produção de petróleo, especialmente do pré-sal. As duas outras unidades, já em operação, confeccionam tubos de aço e conexões.

Para Siqueira, da Abitam, o investimento da Schulz mostra que a produção nacional está atenta às necessidades dos clientes. “Além dela, a Usiminas e o Cenpes estão estudando aços especiais que possam resistir às condições severas do pré-sal”, comentou.

Sem costura – Maior produtora nacional de tubos de aço sem costura, atendendo os setores petroquímico, petrolífero, energético e indústrias diversas, entre elas a automotiva, a Vallourec & Mannesmann do Brasil (VMB) surgiu em 1997 como joint venture entre o grupo francês Vallourec e a alemã Mannesmann. Em 2005, a francesa comprou a parte da alemã, incluindo a fábrica do Barreiro, em Belo Horizonte-MG, capaz de transformar 600 mil t/ano de aço em tubos. A VMB é totalmente verticalizada, com subsidiárias encarregadas de alimentá-la com minério de ferro e carvão vegetal. Por usar carvão de origem renovável, a empresa tem a vantagem ambiental de fixar carbono em florestas plantadas, compensando as emissões normais do processo siderúrgico, adotando a classificação de “tubo verde” em seus produtos.

O grupo Vallourec montou uma joint venture com a japonesa Sumitomo Metals, denominada Vallourec Sumi­tomo Tubos do Brasil (VSB), para montar uma fábrica moderna de tubos de aço sem costura com diâmetros de 6 a 16 polegadas em Jeceaba-MG. As obras começaram em 2007, estão em fase de montagem dos equipamentos e estruturas básicas, com previsão de iniciar operações durante o segundo trimestre de 2010.

A VSB terá capacidade instalada para produzir um milhão de toneladas de aço por ano, das quais 700 mil t/ano serão destinadas para a fabricação de 600 mil t/ano de tubos de alta qualidade com conexão Premium, divididas igualmente entre os parceiros. As cem mil t/ano restantes se referem a rejeitos de processo (sucata) que serão reciclados. Outras 300 mil t/ano de aço formarão lingotes para serem entregues ao grupo Vallourec.

A fábrica de Jeceaba usará tecnologia moderna. Sua aciaria será a pioneira no Brasil a usar o Sistema Consteel, conjunto de equipamentos que aumenta a produtividade e reduz o consumo de eletricidade, além de gerar menos ruído, protegendo os trabalhadores. O carregamento do forno elétrico será feito de forma contínua, acelerando o processo e agilizando a produção de aço. Terá também o laminador Premium Quality Finishing.

A unidade da VSB representa um investimento estimado em US$ 1,6 bilhão e terá 90% de sua produção encaminhada para outros países, nos quais existe uma tendência bem orientada de longo prazo para uso de tubos de aço sem costura com conexões Premium nos setores de petróleo e gás natural, principalmente. O complexo de Jeceaba gerará 1,5 mil empregos diretos e 1,5 mil indiretos.

Distribuição atenta – A oferta local de tubos de aço com e sem costura será mais do que suficiente para atender à demanda brasileira pelos próximos anos. Porém, o mesmo não pode ser dito quanto à oferta de serviços de acabamento de tubos, como tratamento térmico, revestimentos, roscas e flangeamentos, por exemplo. “Pode ser até um campo interessante para investir”, comentou José Ribamar Bassi, diretor-comercial da Açotubo, distribuidora de tubos e aços fundada em 1974 e instalada em Guarulhos-SP. A empresa comprou a Artex, especializada em aço inox, em 2008, abrindo novas frentes de negócios nos setores de alimentos, bebidas e indústria química.

A distribuidora conta com suprimentos de tubos da V&M e da Tenaris Confab, com as quais mantém parceria. Bassi explica que o campo de atuação dos distribuidores está nas compras de pequenas quantidades, produtos mais commoditizados, porém com necessidade de entrega urgente. Isso obriga os distribuidores a contar com estoque próprio e uma estrutura logística muito ágil. “Operamos com a matriz e cinco filiais, estas muito versáteis”, comentou.

A Açotubo pode fazer roscas (em diâmetros até oito polegadas) e corte em bisel (até 140 polegadas) em suas instalações, além de contratar revestimentos especiais e pintura com prestadores de serviço especializados. A distribuidora mantém um departamento de engenharia para elaborar projetos para os clientes, garantindo que estes comprem os tubos mais adequados e nas medidas corretas para suas necessidades.

A área de engenharia também apóia as negociações com construtoras e terá papel importante nas licitações públicas. “Estamos entrando nesse segmento, mas há um problema com a lei que manda abrir as propostas para que as microempresas possam oferecer contrapropostas”, explicou.

Bassi observa que, atualmente, os investimentos em linhas de conformação podem ser considerados baixos, além de operar com equipamentos versáteis. Em parte, isso estimula algumas siderúrgicas a dar um passo adiante na cadeia produtiva, partindo para a produção própria de tubos e telhas metálicas. Isso se traduz em maior pressão contra os pequenos produtores.

“Acredito que essa visão de administração da cadeia produtiva será revertida no futuro”, avaliou Bassi. O movimento poderia ser preocupante para a distribuição, elo da cadeia que mais interage com os clientes, oferecendo atendimento qualificado e garantia de suprimento, mesmo em quantidades muito pequenas.

Além disso, ele considera fundamental manter uma estreita parceria com seus fornecedores. “Assumimos com eles uma série de obrigações, entre as quais um volume mínimo de retiradas mensais de produtos e a lealdade que nos impede de importar produtos similares aos produzidos por eles”, considerou.

Ferro fundido – Muito ligada ao transporte de água e de efluentes em saneamento básico, a Saint-Gobain Canalizações (SGC) começou a oferecer seus tubos de ferro fundido dúctil revestidos também para aplicações in­dustriais. Gustavo Siqueira, diretor-comercial da SGC, informou que a empresa fornece aproximadamente 105 mil t/ano de tubos de ferro no Brasil, das quais as linhas industriais representam 4,5% em média. “Há um potencial para elevar essa participação para 15%”, afirmou.

Sucessora da Companhia Metalúr­gica Barbará, atuando desde 1937 na produção de tubos para saneamento, a SGC opera com a marca comercial PAM (de Pont-à-Mousson), sendo líder mundial em canalizações de ferro fundido. Siqueira salienta a diferença entre o ferro fundido cinzento, no qual o carbono está presente na forma lamelar, gerando uma estrutura frágil, e o ferro dúctil, com o carbono cristalizado na forma de grafita esferoidal, sendo mais resistente à tração, alongamento e torção. A produção se apóia em duas fábricas, em Barra Mansa-RJ e Itaúna-MG, com altos-fornos próprios.

Química e Derivados, Gustavo Siqueira, diretor-comercial da Saint-Gobain Canalizações(SGC), Tubos - Produção nacional pode suprir à demanda, mesmo com o pré-sal, mas teme importação subsidiada
Gustavo oferece tubos de ferro fundido dúctil para aplicações na área indústrial

Aproveitando sua grande experiência com água e efluentes, a SGC ingressa na área industrial pelas linhas de captação de água bruta, água de reúso, rejeitos e misturas água-óleo, de 3 a 48 polegadas e nas classes de pressão k7 e k9. “A linha industrial tem três tipos principais, para água, esgoto e incêndio, mas estamos oferecendo tipos específicos para água de reúso, drenagem oleosa e para rejeitodutos, esta a ser lançada neste ano”, explicou.

Essas linhas se diferenciam pelos revestimentos e pelas juntas elásticas. Os revestimentos internos podem usar argamassa de cimento de alto-forno ou de cimento aluminoso, com tratamento externo com zinco metálico e pintura epoxídica ou betuminosa. As juntas elásticas podem ser feitas de borracha estireno-butadieno, nitrílica ou EPDM, conforme a necessidade dos clientes. “Na Europa, a companhia tem grande experiência com outros tipos de revestimentos, que poderemos trazer para o Brasil se houver demanda”, afirmou.

Os tubos são produzidos com ponta e bolsa, com montagem facilitada pela junta elástica, que admite alguma deflexão sem vazamento. Os tubos também admitem a opção de travamento interno e externo das juntas, dispensando blocos de ancoragem. Siqueira comentou que as maiores vantagens dos tubos de ferro estão na facilidade e rapidez de montagem da tubulação e sua grande durabilidade. “Recentemente, uma tubulação de água de 90 anos feita de ferro fundido no Rio Grande do Sul foi analisada e mostrou-se em perfeitas condições”, disse. Essas características reduzem o custo total da canalização.

A entrada no setor industrial precisa vencer uma barreira conceitual. “Em geral, esse segmento está habituado a usar tubos de aço até para água”, disse. A SGC também está se adaptando a esse mercado, mais pulverizado que o de saneamento, e com encomendas de menor porte. “Porém, as negociações na área industrial são mais rápidas”, elogiou. A SGC fornecerá tubos de ferro para a Usina Hidrelétrica de Jirau, disputa o fornecimento de adutoras para água de reúso no polo petroquímico de São Paulo e pretende entrar no segmento sucroalcooleiro ainda neste ano.

Poliolefínicos – Grande concorrente dos tubos de ferro na distribuição de água, os tubos feitos de resinas termoplásticas mostram capacidade para ampliar seu mercado. Os tubos de polietileno de alta densidade (PEAD) dominam nas redes de distribuição de gás natural de baixa pressão, apoiados no baixo custo, facilidade de instalação e inércia química, além da alta durabilidade. No entanto, ainda faltam dados seguros sobre o mercado brasileiro de tubos poliolefínicos.

“Estamos iniciando um levantamento de dados com os principais players para identificar o tamanho do mercado nacional, as resinas usadas, os nichos atendidos e a região de atuação”, afirmou Adriano Meirelles, presidente da Associação Brasileira de Tubos Poliolefínicos e Sistemas (ABPE).

Química e Derivados, Tubos - Produção nacional pode suprir à demanda, mesmo com o pré-sal, mas teme importação subsidiada
Soldagem de tubos de PA 12 é idêntica à do PEAD

Meirelles estima que o mercado nacional de tubos de PEAD não passe de 30 mil t/ano, com tendência a crescer. “Vamos acompanhar o crescimento do saneamento básico e a expansão da malha de gás natural, ambos com muitos projetos de investimentos anunciados”, explicou.

Ele também salientou que o uso de tubos plásticos nessas aplicações é uma tendência mundial e deve se intensificar no Brasil. Outra resina usada no Brasil é o polipropileno, porém com demanda mais restrita, sem mencionar o PVC, que domina as redes prediais internas de água e esgoto.

Meirelles comenta que os grades de PEAD estão em permanente evolução, na direção da maior resistência à pressão. Atualmente, o Brasil usa o PE 80 e o PE 100, com resistências mínimas respectivas para oito e dez megapascais (MPa) de pressão circunferencial, determinadas em estudos de regressão para durabilidade de cinquenta anos a 20ºC de operação.

“No exterior já se usa o PE 125, mais resistente”, comentou. Ele explicou que essa resistência maior da resina permite produzir tubos com paredes menos espessas para a mesma classe de pressão de serviço, resultando em economia de material.

No Brasil, esses grades foram desenvolvidos pela Ipiranga Petroquímica, atualmente pertencente à Braskem. A consolidação petroquímica não é vista como uma dificuldade pela presidente da ABPE. “O preço desses grades é mais alto que o do PEAD commodity, mas segue a cotação internacional, e sempre é possível importar”, disse.

A falta de concorrência local poderá ser prejudicial caso o fornecedor deixe de desenvolver novas soluções. Meirelles comentou que há tipos específicos para evitar o “escorrimento da resina” quando do esfriamento do tubo, o que provoca uma diferença da espessura da parede entre a parte alta e a baixa do tubo. É possível também encontrar tipos de PEAD com elevada resistência mecânica ao atrito com agentes externos, caso dos dutos apoiados diretamente sobre rochas.

Também diretor da divisão de plástico e exportação da Brastubo, Meirelles comentou que a empresa em que trabalha conta com dez fornecedores internacionais de PEAD, tanto para contar com tipos especiais de resinas quanto para ter vantagens de preço.

“A Braskem é uma grande parceira, tanto que está estudando a possibilidade de desenvolver tecnologia para fazer o PE 125”, afirmou.Meirelles comentou que a empresa em que trabalha conta com dez fornecedores internacionais de PEAD, tanto para contar com tipos especiais de resinas quanto para ter vantagens de preço. “A Braskem é uma grande parceira, tanto que está estudando a possibilidade de desenvolver tecnologia para fazer o PE 125”, afirmou.

A Brastubo se associou à chilena Tehmco para produzir o maior projeto de tubo de PEAD, que será entregue para formar um emissor submarino em Porto Alegre-RS. Serão 10.340 metros de um tubo de 1,6 metro de diâmetro, dividido em 20 tramos de 517 metros extrudados continuamente. A fábrica da Brastubo em Cubatão lançará os tramos no canal de acesso ao mar, para que eles possam ser rebocados até o ponto de lançamento. Os tramos serão unidos por flanges.

“Nossa associação com a Tehmco tem por objetivo disputar projetos grandes no Brasil e no Chile, mas poderemos ir mais além”, comentou, salientando a boa relação com as grandes empreiteiras brasileiras, que atuam em vários países. A empresa também tem um contrato para fornecimento de tubos de grande diâmetro para o Rio de Janeiro.

A divisão de tubos poliolefínicos da Brastubo iniciou 2009 com uma grande carteira de pedidos, formada antes da crise de outubro de 2008. “Tínhamos pedidos para manter a fábrica cheia durante o primeiro quadrimestre do ano”, disse. Mas as vendas davam sinais de enfraquecimento, que persistiu durante boa parte de 2009.

Meirelles ressalta que os tubos de PEAD com diâmetros de 20 a 32 milímetros podem ser considerados commodities, com forte disputa de mercado. “Eles já são o padrão para ligações prediais, entre as adutoras de água e os cavaletes, em várias companhias de saneamento”, afirmou. Esses tubos de água podem suportar pressões até 20-25 bar. A chegada do PE 125, segundo ele, permitirá suportar até 30 bar, abrindo terreno para brigar pelas adutoras de distribuição.

Aplicações industriais também estão no radar da Brastubo, motivadas pelo fato de o PEAD ter alta resistência a vários produtos químicos e a ambientes agressivos. Porém o PEAD não resiste a altas temperaturas, nem à presença de hidrocarbonetos líquidos, como os solventes. “A menos que o tubo receba um revestimento interno de poliamida, por exemplo”, explicou.

Opção avançada – A Evonik apresenta ao mercado nacional uma alternativa mais sofisticada para confeccionar tubos plásticos, porém com a possibilidade de disputar aplicações com o aço. Trata-se da poliamida 12 (PA 12), já conhecida pelos fabricantes de risers em plataformas de petróleo offshore e nos cordões umbilicais dessas instalações. Também é usada em alguns tubos de alimentação de combustível de automóveis e em circuitos de freios de caminhões.

Química e Derivados, Haroldo Paganini Rodrigues, chefe de produtos da linha de polímeros de alta performance da Evonik na América do Sul, Tubos - Produção nacional pode suprir à demanda, mesmo com o pré-sal, mas teme importação subsidiada
Rodrigues: PA 12 alcança alta resistência com paredes finas

“A meta é colocar o tubo de PA 12 nas linhas primárias de distribuição de gás natural no Brasil, para até 20 bar de pressão, segmento hoje atendido por tubos de aço”, comentou Haroldo Paganini Rodrigues, chefe de produtos da linha de polímeros de alta performance da Evonik na América do Sul, sendo responsável pelo suporte técnico, comercial e desenvolvimento de novos produtos e mercados.

A empresa divulga o Vestamid LX-9030, grade de PA 12 mais indicado para gás natural, para as distribuidoras estaduais de gás. O material já é muito usado nos Estados Unidos, onde pode ser usado até nas estações reguladoras de pressão e vazão (city gates), embora seja fabricado na Alemanha, como especialidade. Segundo o especialista, o material já é aprovado por normas internacionais, que estão sendo avaliadas no Brasil.

“Ainda não sabemos qual o mercado potencial que poderemos disputar no Brasil, porque não há um mapeamento completo da distribuição de gás por classes de pressão”, explicou. Ele informou que a malha de distribuição total no Brasil chegava a 19 mil km em 2009.

Rodrigues explica que as mesmas extrusoras hoje usadas para fazer tubos de PEAD podem processar a PA 12, sem problemas. Os mesmos equipamentos de termosoldagem do PEAD podem ser usados com a PA 12, aliás, admitindo a solda entre ambas.

Os tubos dessa resina têm paredes mais delgadas que as de polietileno, com a vantagem de não apresentar colapsamento no final do processo. Os tubos de PA 12 são mais leves, mais fáceis de instalar e mais resistentes à corrosão do que os feitos de aço, e suportam temperaturas mais altas que as toleradas pelo PEAD.

“A receptividade das distribuidoras de gás tem sido boa”, avaliou Rodrigues. A divulgação da resina começou a ser feita no ano passado e deverá apresentar frutos quando surgirem projetos de extensão da malha ou de substituição de segmentos já obsoletos.

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