Tubos: Condições mais agressivas em e&p exigem novos materiais

Química e Derivados, Tubos: Condições mais agressivas em e&p exigem novos materiais

A economia nacional segue sem acelerar, cresce a concorrência da importação, e setores fundamentais, como a indústria petrolífera, anunciam projetos portentosos nem sempre concretizados de imediato: mesmo assim, os fabricantes de tubos em operação no Brasil continuam investindo no desenvolvimento de tecnologia e de produtos, seja por disporem de matérias-primas melhores (ver box), ou pelo fato de eles próprios serem obrigados a atender às necessidades que lhes impõem desafios mais complexos.

Química e Derivados, Marcelo Bueno: tubo monometálico com 9% de níquel suporta pressões até 550 bar
Bueno: tubo monometálico com 9% de níquel suporta pressões até 550 bar

Entre os mais recentes desenvolvimentos dessa indústria, pode-se citar a aplicação do chamado aço grau 8 – liga de aço-carbono com 9% de níquel -, em tubos monometálicos destinados a condições bastante severas de processamento do sistema de CO2 (dióxido de carbono) das unidades replicantes para o pré-sal, para as quais ainda não havia materiais adequados; entre elas, elevadas pressões (até 550 bar), e possibilidade de ocorrência de baixa temperatura numa eventual descompressão do gás (cerca de -70oC). “Esse é um desenvolvimento genuinamente brasileiro”, destaca Marcelo Bueno, diretor presidente da multinacional de origem alemã Schulz.

A Schulz, afirma Bueno, com a Petrobras e seu aparato de pesquisa, e com outros produtores de tubos e de matérias-primas, participa desses estudos relativos ao uso do aço grau 8. E, sozinha, desenvolveu um tubo bimetálico coextrudado, já utilizado em fornos da Petrobras: “Agora, estudamos esses tubos também para aplicações submarinas”, complementa.

Há investimentos não apenas nas pesquisas de aplicações e novas tecnologias, mas também em instalações para realizá-las: em julho, a V&M do Brasil inaugurará um centro de pesquisas integrado à chamada Ilha do Petróleo (o Parque Tecnológico mantido na Ilha do Fundão pela Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ele terá como principal foco as pesquisas relacionadas ao pré-sal, mas considerará também o desenvolvimento do uso de tubos e de produtos tubulares com fins estruturais, em produtos automobilísticos, de transportes e na robótica.

Esses mesmos setores e outros, como a energia nuclear, constituirão os objetos de atenção do centro de P&D que a Tenaris constrói na mesma Ilha do Fundão. Será o primeiro centro de pesquisas dessa empresa no Brasil, que exigirá investimentos iniciais de aproximadamente US$ 39 milhões. A inauguração, anuncia a Tenaris, deverá ocorrer em dezembro.

Desafios e oportunidades – Mantendo seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos, a indústria de tubos atinge marcas cada dia mais significativas: a Schulz, por exemplo, em maio, bateu seu próprio recorde ao fornecer, para uma planta de papel e celulose, tubos com diâmetro até então inédito no portfólio fabricado pela sua unidade brasileira: 84 polegadas.

No Brasil, a Schulz atualmente produz tubos soldados de aço com diâmetro mínimo de oito polegadas, utilizados na indústria de óleo e gás nas refinarias e unidades de processo do topside das plantas de exploração. Esses tubos não são aproveitados na “parte molhada” da exploração de petróleo. Por isso, a Schulz quer fabricar, na unidade de Campos dos Goytacazes-RJ, os tubos bimetálicos destinados às aplicações submarinas.

Tal projeto, conta Bueno, deveria começar no segundo semestre, mas a atual conjuntura mercadológica o postergou, provavelmente para o início de 2014. “Já foram aprovados os R$ 52 milhões necessários para esse projeto de produção dos tubos para exploração submarina”, conta o presidente da Schulz.

No ano passado, a V&M inaugurou, na cidade de Rio das Ostras-RJ, uma fábrica de acessórios para completação de poços petrolíferos. Nessa planta estão sendo fabricados e reparados os diversos tipos de produtos de sua linha Premium VAM: conexões especiais para o acoplamento de tubos e acessórios por um sistema integrado de roscas, selos e ombros de torque.

E em janeiro último a V&M renovou seu principal contrato com a Petrobras: por mais cinco anos, garante o fornecimento à petroleira de tubos para exploração de óleo e gás, incluindo tubos sem costura, graus especiais de aço e conexões.

Essa empresa também fornece tubos estruturais para os estádios que receberão os jogos da Copa do Mundo de 2014 nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Cuiabá e no Distrito Federal, bem como outros locais relacionados como centros de treinamento. Ao todo, dez estádios associados à Copa receberão mais de 9 mil t de tubos sem costura da V&M.

Novas plantas – Também os fabricantes de tubos plásticos investem em sua estrutura industrial e em desenvolvimento de produtos. A Kanaflex, por exemplo, inaugurará em setembro uma fábrica no município paulista de Itu, onde concentrará sua produção de tubos lisos e de tubos corrugados de diâmetros maiores. Com essa nova unidade, desativará a fábrica localizada em Cotia-SP, onde produz grande parte de seus tubos, sem afetar, no entanto, a unidade de Embu das Artes-SP, produtora de mangueiras e tubos corrugados de diâmetros menores.

A planta de Itu consolidará o ingresso da Kanaflex em outro segmento de mercado: os tubos corrugados de polietileno de alta densidade com diâmetros de até 1.200 mm (até agora, disponibilizava tubos corrugados com diâmetro máximo de 236 mm). Com essas novidades, a empresa espera fortalecer sua presença no mercado, hoje mais intensa nos sistemas de energia e em atividades como saneamento e drenagem. “Todo o sistema de drenagem da refinaria Premium I foi montado com nossos tubos corrugados; essa aplicação normalmente utilizaria concreto”, informa Paulo Lima, supervisor de vendas da Kanaflex.

Já a Tecniplas, fabricante de tubos e tanques feitos de plásticos reforçados com fibra de vidro (PRFV), inaugurou fábrica em meados do ano passado. Localizada na mesma cidade de Cabreúva-SP, onde a empresa já operava anteriormente, ela tem área mais de duas vezes superior aos antigos 14 mil metros quadrados e consumiu investimentos de aproximadamente R$ 3 milhões. “Contar com área adicional é importante porque estamos produzindo tanques cada vez maiores, nosso maior negócio, e conseguimos condições melhores de manuseio e armazenamento”, destaca Luiz Corrêa, gerente comercial da Tecniplas.

Atualmente, diz Corrêa, sua empresa se dedica apenas às aplicações industriais e abandonou o mercado do saneamento, no qual “hoje há produtos muito commoditizados”. Entre os principais segmentos atendidos pela Tecniplas, o gerente comercial lista a indústria química, petróleo e gás, cloro-soda, papel e celulose, e açúcar e álcool. Em todos esses segmentos, ele lembra, tubos de PRFV são usados na condução de produtos quimicamente mais agressivos.

Novos usos do plástico – A tecnologia de produção de tubos de polietileno evolui no seu processo de extrusão, o que, de acordo com Adriano Meirelles Cunha, vice-presidente da ABPE (Associação Brasileira de Tubos Poliolefínicos e Sistemas), reduz continuamente o consumo de energia, e permite ainda melhor controle dos parâmetros de trabalho, reduzindo assim as perdas e aumentando a produtividade.

Paralelamente, enfatiza Cláudia Regina Arruda, presidenta da ABPE, “a indústria petroquímica aprimora as resinas, possibilitando fabricar tubos mais leves e mais resistentes, oferecendo mais vantagens no processo de instalação”.

Atualmente, ressalta Cunha, existem tubos de polietileno revestidos com fios especiais capazes de suportar altas pressões, para as quais normalmente são utilizados tubos de aço-carbono. “Com esse desenvolvimento, acreditamos que no futuro teremos tubos de polietileno em aplicações como gasodutos”, acrescenta o vice-presidente da ABPE.

E no saneamento, especifica Lima, da Kanaflex, o polietileno vem ganhando espaço como substituto dos materiais tradicionalmente mais utilizados nesse mercado, como concreto e PVC. Apesar do custo inicial maior, relativamente às demais opções, o polietileno propicia tubos para sistemas de saneamento e drenagem com diferenciais favoráveis: “Gera produtos mais confiáveis e com custos de manutenção muito inferiores”, comparou.

Já os tubos de PRFV, diz Corrêa, da Tecniplas, ainda são relativamente pouco conhecidos pelos clientes, que só recorrem a essa opção quando alguma característica da química envolvida no processo impede a utilização do aço. Mas o material tem outras características bastante interessantes, além da elevada resistência química, entre elas, o peso menor que o do aço, aspecto relevante em casos como plataformas de exploração de petróleo.

Fundamentado nesses diferenciais, Corrêa observa a existência de grande espaço para a expansão do PRFV na indústria do petróleo, na qual ele já é usado em algumas áreas de refinarias e, no segmento offshore, em aplicações como os sistemas de água de combate a incêndios. “Mas esse material pode ser usado, por exemplo, também em sistemas de armazenamento de produtos e em lavadores das plantas offshore, pois, além de apresentar maior resistência química e peso menor, é mais resistente à salinidade”, justifica o gerente da Tecniplas.

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