Tratamento de Superfície – Montadoras e construtoras puxam a demanda
Tratamento de Superfície – Montadoras e construtoras
Dois setores de atividade econômica constituem atualmente a base dos negócios dos produtos para galvanoplastia: indústria automobilística e construção civil. Ambos tiveram desempenho satisfatório no decorrer deste ano, e assim mantiveram o nível de atividades dos fornecedores desses produtos em patamares satisfatórios.
“De maneira geral, 2010 foi um ano bom para o mercado de tratamentos de superfície”, avaliou Douglas Fortunato de Souza, da Itamarati.
Essa empresa deve obter neste ano faturamento similar ao registrado em 2009. “Nas proximidades das eleições houve alguma contenção nos investimentos das empresas, e na segunda metade do ano passado já havíamos obtido bom volume de negócios”, justificou.
No início do ano, a Itamarati formalizou uma parceria com a qual passa a ter, como único parceiro internacional, a norte-americana Haviland. “Antes, trabalhávamos com várias empresas no exterior, mas esse modelo estava dificultando o acompanhamento da atual velocidade de evolução da tecnologia, que hoje requer uma parceria mais estreita com uma empresa com presença forte global”, explicou Souza.
Airi Zanini, da Anion MacDermid, não crê que tenha havido acentuada expansão do mercado brasileiro de superfícies no decorrer de 2010. Segundo ele, houve algum crescimento nos negócios realizados com o setor automobilístico, mas a expansão das vendas das montadoras decorreu basicamente do mercado interno, e são os veículos destinados à exportação aqueles que mais requerem acabamento. Já a construção civil cresceu especialmente com imóveis de menor valor, nos quais também é pequena a presença de serviços do setor.
Mas na Anion MacDermid, afirmou Zanini, o crescimento de negócios no decorrer deste ano deve chegar a 15% em relação a 2009. “Tivemos bom crescimento na cromação de plásticos ABS e na área de zinco em ligas, ambas no setor automobilístico, e estamos trabalhando mais com as usinas siderúrgicas, que a cada dia requisitam novas tecnologias e mais qualidade”, explicou. Além disso, começa a ressurgir um segmento até há pouco quase extinto: o mercado das placas de circuitos para a indústria de eletrônicos, novamente aquecido em decorrência do surgimento de novas tecnologias no mercado de televisores.
José Carlos D’Amaro, da Tecnorevest, nota recuperação nos negócios de cromação de peças de plástico, destinadas principalmente a toques decorativos de automóveis, como logomarcas das montadoras e símbolos correspondentes aos modelos de veículos. Por que a volta da cromação de plásticos? “Com peças cromadas o carro fica visualmente mais nobre, e isso aumenta o lucro da indústria automobilística”, argumentou.
Outras indústrias, segundo D’Amaro, também voltam a apostar na cromação de plásticos para valorização de seus produtos. Entre elas, aparecem os fabricantes de eletrodomésticos de menor porte, como os liquidificadores.
Situação ambígua – Este ano, o faturamento obtido pelo Tecnoplast no mercado da galvanoplastia deve ser 50% superior ao registrado em 2009, segundo Silvia Pereira. Considerando também a atuação da empresa em outros mercados, esse índice decresce para algo entre 30% e 35%. Além de soluções próprias, a Tecnorevest comercializa também tecnologia de parceiros internacionais, como Pavco e LVH, entre outros. As primeiras, explica Silvia, constituem diferenciais mercadológicos, e enfocam nichos aos quais as grandes multinacionais do setor ainda não dão muita atenção, por exemplo, o cobre sem cianeto.
Na Atotech, como informou Maurício Bombonati, comparando-se o período de doze meses encerrado em setembro último com os doze meses imediatamente anteriores, os negócios relacionados a tratamento de superfície terão crescimento de aproximadamente 15%. Ele também constatou maior potencial de geração de negócios no mercado da exploração petrolífera e o incremento de receita via galvanoplastia em plásticos (especialmente em itens destinados a automóveis). “Hoje há acabamento em plástico cromado, como um emblema ou friso, mesmo em carros populares, e isso não existia antes”, destacou. Nesse segmento, denominado internamente como POP (Plating on Plastic), os negócios da Atotech devem registrar incremento de 100%.

Mas, de acordo com Bombonati, assim como amplia as margens com as quais trabalham as empresas do setor, cujos insumos são majoritariamente importados, a valorização do real perante o dólar também preocupa, pois diminui a competitividade de seus clientes, por exemplo, ante os similares importados da China, participação hoje intensa em mercados como parafusos e peças de reposição para motocicletas. “Dizem que uma engrenagem para motocicleta feita na China chega aqui, já tratada e embalada, pelo mesmo preço necessário somente para pagar o aço utilizado na produção dessa peça no Brasil”, afirmou.
Essa concorrência internacional realmente constitui um grave problema para empresas dedicadas à galvanoplastia de determinados gêneros de peças, como relatou Marco Antonio Barbieri, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Proteção, Tratamento e Transformação de Superfícies do Estado de São Paulo (Sindisuper), e diretor da Wadyclor (empresa dedicada à cromação em plásticos, especialmente na área hidrometalúrgica). “Em mercados como construção civil e indústria automotiva, o setor evoluiu bem este ano; em outros, como a indústria eletroeletrônica, a situação está difícil”, avaliou.Segundo Barbieri, assim como os fornecedores do setor, também as empresas dedicadas à aplicação das técnicas da galvanoplastia buscam hoje uma atuação mais sustentável, por exemplo, substituindo cromo hexavalente pela trivalente em aplicações como chuveiros e torneiras. Mas o investimento dessas empresas em sua própria estrutura produtiva foi bastante reduzido: “Antes da crise, elas estavam destinando recursos a equipamentos de automação, mas no atual momento seus investimentos diminuíram a um patamar muito baixo”, lamentou.
Dados de 2005, apontados por Barbieri, revelavam a existência no Brasil de aproximadamente 4,6 mil empresas no ramo, nas quais trabalhavam mais de 52 mil pessoas. Segundo ele, há muitas empresas que atuam às margens da legislação ambiental. Elas se valem de práticas comerciais pouco éticas, assim como clientes interessados em trabalhar com elas para obterem preços mais baixos. “Mas a tendência é o cliente aumentar as exigências relativas a processos com tecnologias mais sustentáveis, buscar fornecedores que atendam às normas ISO 9000 e ISO 14000, e tenham preços mais baixos. No atual cenário, é uma equação bastante desafiadora”, finalizou o vice-presidente do Sindisuper.