Tratamento de superfície: Atento ao ritmo dos negócios, setor incorpora inovações em todas as etapas do processo


O tratamento de superfícies depende muito de setores duramente atingidos pela atual crises econômicas, como a construção civil, indústria automotiva e eletrodomésticos da linha branca. Por isso, mesmo já percebendo sinais de uma gradual retomada do ritmo de negócios, os provedores de soluções para tratamento de superfície instalados no Brasil seguem enfrentando uma conjuntura árdua, na qual buscam ampliar suas possibilidades comerciais diversificando e segmentando suas ofertas, consolidando um portfólio que abrange dos métodos mais tradicionais às soluções mais avançadas.
Na vertente das tecnologias modernas, dissemina-se cada dia mais a nanotecnologia, uma das bases da incursão da Atotech no mercado dos produtos que, nas atividades de pré-pintura, pretendem substituir as contestadas – porém ainda muito utilizadas – soluções à base de fosfato (nesse mercado a Atotech concorre com empresas como Henkel e Basf, esta última recentemente assumiu posição mais incisiva com a recente aquisição da Chemetall).
São produtos nanoparticulados destinados a promover a aderência das tintas os integrantes da linha Interlox, uma das armas da Atotech para disputar o mercado da pré-pintura. “Essa linha é fornecida em concentrações cinco vezes superiores às dos concorrentes, diminuindo custos logísticos, e reduz a formação de borra, minimizando a necessidade de filtragens de banhos”, afirma Maurício Bombonati, gerente da área de GMF/Eletrônicos da Atotech. “Também para pré-pintura estamos disponibilizando desengraxantes nos quais bactérias selecionadas se alimentam da sujeira das peças; com eles, o tempo de descarte, normalmente de um mês, sobe para três meses”, acrescenta.

O portfólio de soluções para tratamento de superfícies da Atotech abrange ainda, entre outros itens, produtos à base de zinco, níquel químico e cromo duro. Tem também soluções para tratamento de plásticos, como o condicionador de ABS livre de cromo Covertron, à base de permanganato. “A linha Covertron diminui em mais de 90% o impacto ambiental da cromação de plásticos e está em sua segunda geração, cujos produtos aumentam o tempo da janela de trabalho e conferem mais estabilidade do processo”, ressalta Bombonati.
Por sua vez, a Super Finsihing, parte de níquel químico e níquel duro químico (níquel químico endurecido por tratamento térmico) e desenvolve um leque continuamente ampliado de soluções para necessidades mais específicas. Uma delas é o níquel com partículas de teflon, que agrega à proteção contra a corrosão e abrasão a característica de antiaderência, possibilitando, ente outras coisas, desmoldagem mais fácil e limpeza mais rápida das máquinas. Outra é o Niquel-Lub, no qual partículas de dissulfeto de tungstênio conferem às peças tratadas baixíssimo coeficiente de atrito, indicada para aplicações em peças como bombas, rolamentos, moldes e elementos de fixação.

Agora, a Super Finishing anuncia também um produto de níquel cromo no qual a elevadíssima proteção contra corrosão e abrasão e a resistência a contato com produtos químicos e à ação da pulverização de sal se combinam com ação hidrofóbica. “Esse produto exigiu mais de três anos de pesquisa e desenvolvimento, e tem aplicação eficiente nas indústrias de óleo e gás, automotiva, de papel e celulose, alimentícia e farmacêutica, de transformação de plástico, usinas de açúcar e álcool e siderúrgicas, entre outras”, detalha Alberto Araújo da Silva, diretor comercial da Super Finishing.
Tratamentos com níquel-duro químico, relata Silva, já são comuns no setor de óleo e gás e ganham espaço crescente em outros segmentos industriais, nos quais permitem substituir, com custo mais vantajoso, o aço inox como material básico dos equipamentos. “A indústria de transformação de plástico hoje usa bastante o níquel duro-químico no revestimento de moldes e equipamentos de extrusão, como cabeçotes, roscas e canhões”, exemplifica. “Esse é o único material certificado pela FDA (Food and Drug Administration, dos EUA) para substituir o aço inoxidável nos equipamentos das indústrias alimentícia e farmacêutica”, prossegue o diretor da Super Finishing, empresa que fornece também pinturas especiais à base de PTFE, bissulfeto de molibdênio, epóxi e Ceram-Kote.

O valor dos aditivos – A indústria brasileira de tratamento de superfícies se situa atualmente em padrão de qualidade similar ao encontrado nos países de economia mais desenvolvida. Não apenas pela presença de grandes players internacionais desse setor, mas também porque as montadoras de automóveis – sempre entre as principais impulsoras do desenvolvimento das tecnologias desse setor – buscam homologar globalmente produtos e processos, entre eles os tratamentos de superfícies, que devem seguir os parâmetros definidos pelas matrizes.
Airi Zanini, presidente da ABTS (Associação Brasileira de Tratamentos de Superfície), e diretor-geral para a América do Sul da MacDermidEnthone, diz já haver algumas homologações globais de fabricantes de automóveis relacionadas a atividades de tratamento. “São, principalmente, para elementos de fixação, parafusos, por exemplo, e componentes de motores”, detalha.
De acordo com Zanini, a evolução da tecnologia que fundamenta essas homologações está muito associada ao avanço dos tratamentos com ligas de zinco e zinco/níquel. “Com essas ligas, algumas peças podem adquirir resistência de 500 a 1.000 horas nos testes de névoa salina, índice muito superior ao de alguns anos atrás”, relata Zanini. Mas há também, ele complementa, relação direta com o uso de aditivos, que ajudam a promover deposição mais rápida e mais uniforme das camadas. “Muitos processos atuais usam dois ou mais aditivos, que em alguns casos aumentam em até 33% a produtividade do processo, relativamente ao que acontecia há cerca de cinco anos”, destaca Zanini.
Maria Aparecida Silva, gerente comercial da IQBC, também destaca a crescente importância dos aditivos. Do portfólio de sua empresa, consta um aditivo promotor de eficiência em banhos de cromo isento de flúor (nome comercial Omicron), capaz de agregar diversos benefícios; por exemplo: resistência à corrosão de 25 a 35 horas em testes de névoa salina – contra 2 a 8 horas no banho convencional –, eficiência do depósito e taxa de deposição quase duas vezes superior, além de maior dureza, mais brilho e maior resistência a impurezas, entre outros (sempre em compração com banhos sem o aditivo).

Além de aditivo catalisador isento de flúor, o portfólio da IQBC inclui ainda, entre outros itens, produtos à base de cromo hexavalente. Bastante questionado – e descontinuado em alguns setores –, o cromo hexavalente, como explica Maria Aparecida, ainda é muito utilizado no Brasil, tanto por ser muito eficiente, quanto pela necessidade de tempo para conferir maior escala ao cromo trivalente (opção hoje mais viável para a substituição). “O cromo trivalente é uma evolução sobre o hexavalente, mas exige mudança completa nas instalações fabris, começando com o descarte dos banhos originais hexavalentes, passando por troca dos anodos, investimento em melhor e efetivo controle de temperatura e controle operacional sobre o processo”, detalha Maria Aparecida.
Também é intenso, ela prossegue, o emprego de soluções à base de solventes clorados no desengraxe das peças que serão tratadas; há alguns anos, lembra a profissional da IQBC, esses sistemas haviam perdido espaço devido a uma “interpretação inadequada” do Protocolo de Montreal (tratado internacional que regulamenta o uso de substâncias que agridem a camada de ozônio). “Percebemos que os consumidores que haviam migrado para sistemas de desengraxe alternativos nos últimos anos retornaram para os sistemas clorados, cuja capacidade de limpeza é excepcional”, aponta. “Há, porém, acentuada migração dos desengraxantes alcalinos baseados em cianeto de sódio para sucedâneos isentos dessa substância”, destaca.

Processos e possibilidades – Em sua estratégia de ampliação das possibilidades de geração de negócios, a Super Finishing hoje inclui também a oferta, em parceria com a empresa norte-americana Sifco, do serviço de brush plating (reparos localizados), que permite reparar o tratamento de peças apenas nas partes danificadas (o reparo pode até ser feito na planta do usuário do equipamento). Também ganha espaço nos negócios dessa empresa o processo da anodização dura (que, diferentemente da anodização convencional, agrega dura dureza e resistência ao alumínio). “A anodização dura permite fazer do alumínio matéria-prima de peças estruturais de automóveis e de máquinas, como pistões, buchas, cabeçotes e calibradores de extrusoras”, detalha Silva.

Bombonati, da Atotech, fala em desenvolvimento de novas ligas – sempre a partir do zinco –, que reduzem a possibilidade de fragilização das peças pelo processo de hidrogenização que pode ocorrer em processos sujeitos à decapagem, e nos processos alcalinos de zinco puro, como conseqüência da inclusão de hidrogênio no substrato.

As ligas de zinco, relata o profissional da Atotech, são hoje as mais demandas pela indústria automobilística em sua busca por peças cada dia mais resistentes e ao mesmo tempo mais leves. Entre elas, destaca-se a liga de zinco e níquel, a mais utilizada nesse setor. “No Brasil, o mercado das ligas de zinco e níquel está bastante maduro, no mesmo nível daquele existente em outros países; ao menos no quesito produtos, pois nos processos dos aplicadores ele ainda pode evoluir bastante”, diz Bombonati.
Mas também os processos dos aplicadores vêm evoluindo, afirma Maria Aparecida, da IQBC. Por exemplo, com o uso em maior escala de tecnologias como banhos rotativos e retificadores inteligentes (o retificador controla o envio da energia elétrica para o tanque e sua versão ‘inteligente”, além de economizar energia, promove depósito mais uniforme e reduz o tempo do processo, podendo inclusive ser controlado por um CLP em uma linha automática de produção). “Os tanques, que antigamente eram feitos de ferro e revestidos com PVC, têm sido trocados por tanques de aço inox, mais resistentes”, acrescenta Maria Aparecida.

Segundo ela, para proteger o meio ambiente e os trabalhadores, também cresce nos processadores a implantação de sistemas de lavagem de gases, ou de outros métodos de exaustão.“E há tratamento e reúso de água por meio de troca iônica; além da economia primária com esse componente de grande peso no custo de produção, isso reduz os custos com tratamento de efluentes e minimiza o descarte de substâncias nocivas no meio ambiente”, complementa a profissional da IQBC.
No segmento do tratamento de plásticos – dominado pela resina ABS, geralmente tratada com cromo trivalente –, a evolução, relata Zanini, da ABTS, permite não apenas a presença de mais plásticos em veículos, mas também de peças plásticas com acabamentos diferenciados: aveludado, ou fumê, entre outros. A mesma indústria automobilística, concedendo mais atenção aos carros elétricos, começa a exigir novas tecnologias de tratamento, especialmente para as baterias, um dos principais gargalos do processo de desenvolvimento desses veículos. “Na área das baterias, as pesquisas já indicam a consolidação de tecnologias como a deposição química de prata”, exemplifica Zanini.
Mesmo com tanta tecnologia o segmento de Galvanoplastia na ultima decada sofreu um encolhimento muito grande, isso em virtude da facilidade das importações de produtos ja acabados a preços muito muito baixos frente ao custo Brasil, sem contar com a substituição dos processos eletrolitos por pintura e plasticos ja pigmentados, agora tambem surge com muita ferocidade o PVD que muitas empresas estao começando a usar.