Tratamento de água: Tecnologias controlam operações críticas em torres
Automação e novas alternativas para o controle microbiológico movimentam o mercado de sistemas de resfriamento de água
O mercado de tratamento de água industrial continua dinâmico. Liderado por grupos com know-how tecnológico internacional, e formado ainda por empresas e distribuidores de produtos com conhecimento adquirido na longa experiência prática, o setor não se ressente de ousadia comercial para manter o bom ritmo de novidades. É possível identificar tendências nas três frentes de atuação dos tratadores de sistemas de resfriamento e de vapor industrial – no controle microbiológico, de incrustação e corrosão –, mas também nos aspectos mais amplos do tratamento, em controle e monitoramento do processo.
Um exemplo significativo dessas tendências ocorre com a Nalco, grupo de origem norte-americana e um dos líderes na área. Em outubro, a empresa apresentou com grande alarde ao mercado brasileiro um novo programa de gerenciamento de situações críticas em sistemas de resfriamento, nomeado 3D Trasar, lançado em maio pela matriz nos Estados Unidos. A escolha inicial desse lançamento para sintetizar o momento do mercado tem fácil explicação. O sistema da Nalco inclui um pacote de tecnologias para combater corrosão, incrustação e microbiologia, ao mesmo tempo em que permite o controle e o monitoramento on-line desses parâmetros, visando a melhor operação das torres de resfriamento.

A denominação 3D do novo programa, aliás, é em razão do controle ser feito sobre esses três parâmetros da água, com muita relação entre si. Não custa lembrar, por exemplo, que muitas vezes a causa da corrosão é microbiológica ou de que o acúmulo de depósitos serve como alimentação de microrganismos. Já a inclusão da expressão Trasar na marca registrada tem a ver com o fato dessa tecnologia tradicional da Nalco, de traçantes fluorescentes, ser parte integrante do sistema de controle e monitoramento.
De acordo com o gerente de marketing para América Latina, Luis Cuetos, o 3D Trasar é fruto de US$ 10 milhões de investimentos e de dez anos de pesquisa do centro de P&D da Nalco em Naperville, Illinois, EUA. Para se tornar realidade, demandou desenvolvimentos não só químicos como de software e instrumentação.
“O objetivo básico perseguido, e que acreditamos ter alcançado, foi permitir aos sistemas de resfriamento operar com parâmetros críticos de maneira calma, sem necessidade de análises de água constantes obrigatórias para evitar stress no circuito”, afirma. “E o melhor dessa operação sob controle é permitir aos profissionais da água se aterem a outros trabalhos mais importantes de engenharia, como reuso e conservação, deixando o resfriamento praticamente automático”, completa Cuetos.
O 3D Trasar foi possível, em suma, pelo desenvolvimento de polímeros conjugados com seus respectivos sistemas de controle, tanto de origem química como instrumental. O antiincrustante é um dispersante acrílico fornecido com a tinta do traçante aderida à sua molécula, permitindo sua leitura em um controlador (3DT-5000). De modo contínuo, o equipamento especialmente concebido monitora o nível de polímero ativo no sistema. Havendo uma mudança de parâmetro operacional, o controlador “corrige” a dosagem.

Na corrosão, houve também a fusão entre nova tecnologia química e o controle instrumental pelo 3DT-5000. Aí foi desenvolvido um inibidor de corrosão mais resistente a halogênios, o PSO, oligômero fosfino succínico (phospino succinic oligomer), com desempenho bifuncional, agindo também no combate à incrustação. Essa dupla função do inibidor, monitorada on-line e isenta de zinco, em muitos casos ajuda na prevenção da deposição de carbonato de cálcio.
O terceiro ponto do programa, o de controle microbiológico, faz uso do chamado bio-reporter. Trata-se do aditivo fluorescente Trasar modificado, dosado no sistema de resfriamento para reagir, enzimaticamente, com os micróbios. Essa reação modifica a estrutura do aditivo fluorescente.
A leitura dos bio-reporters reagidos e dos não-reagidos, realizada pelo equipamento de controle 3DT-5000, permite os ajustes de dosagem de biocidas on-line, conforme as mudanças freqüentes que ocorrem na bioatividade da água. Seu espectro de atuação possibilita o controle contínuo, tanto das bactérias planctônicas (sobrenadantes) como das sésseis (presentes nos depósitos dos biofilmes).
Segundo Luis Cuetos, o 3DT-5000 é fundamental na operação, por sua característica multifuncional, responsável por medir desde os polímeros ativos, os traçadores e os bio-reporters até a turbidez, o pH, a condutividade e a taxa de corrosão. “Seu diferencial importante é saber o quanto de polímeros está sendo consumido efetivamente, permitindo ajustes de dosagens mais exatos”, diz Cuetos. Isso porque todo o tratamento se baseia em uma definição anteriormente realizada pelo software Optimizer. Se o consumo dos polímeros está maior ou menor do que o previsto, e se foge das variáveis do tratamento predeterminado, o sistema gera um alarme por cor e grau de perigo, faz a modificação necessária e avisa aos responsáveis, por e-mail ou no controle da operação (feita pelo software operacional, o Configurator).

A previsão da Nalco é vender o sistema para qualquer aplicação. Em uma primeira fase, porém, deve ser mais comprado por torres grandes de centrais petroquímicas, de siderurgia e de geração elétrica. Isso porque esses mercados possuem criticidade maior no tratamento. Além disso, esses setores buscam atingir ciclos altos em suas torres, para evitar gastos e perder tempo com manutenção. Apesar disso não significar que setores menores não sejam também foco da tecnologia (nos EUA, a Nalco já vende para aplicações em prédios), há caso de aplicação em refinaria nos Estados Unidos que, de acordo com a Nalco, a empresa conseguiu rapidamente o retorno sobre o investimento, evitando paradas para limpezas e mantendo ciclos altos, com ganhos de US$ 2,2 mil por dia. No Brasil, uma termoelétrica já comprou um pacote 3D Trasar.
Mais automação – A meta de ter o máximo de controle sobre os sistemas de resfriamento não é exclusiva da Nalco. Os fornecedores acostumados a trabalhar com grandes contas, em indústrias pesadas, preocupam-se em ofertar pacotes de automação e de controle e de monitoramento on-line para otimização do tratamento.
Essa movimentação é percebida nas outras empresas importantes do setor, como a Kurita e a GE Water Technologies, controladora da GE Betz. Vale a pena começar pelo exemplo da Kurita, que oferece um sistema de automação total e de monitoramento de corrosão. O sistema de automação é o Jusnavi, voltado para controle automático de purga e de injeção de produtos químicos em ambientes de alta criticidade.
Segundo o superintendente de operações da Kurita, José Aguiar Jr., o Jusnavi opera com vários analisadores on-line, de diversos parâmetros de monitoramentos, cujos resultados são enviados via sinal para um controlador, responsável tanto pelo ajuste da dosagem quanto pelo blowdown do sistema de resfriamento. “Um sistema duplo de injeção permite ajustes finos de dosagem”, explica Aguiar.

Para o superintendente da Kurita, a opção da empresa é operar com controle por meio de análise on-line dos ingredientes ativos dosados nas torres. Isso significa que a empresa não emprega traçadores, por acreditar que os dispersantes e outros aditivos e inibidores sofrem degradação na água, sem serem consumidos como ingredientes ativos. Isso pode gerar descompasso entre o percentual de traçante lido e os respectivos polímeros representados. No caso da Kurita, o controle se dá por meio da passagem da água em equipamentos que dosam reagentes para um feixe de luz realizar a leitura e dar a quantidade do ingrediente na água. Esse valor é enviado por sinais de 4 a 20 mA ao controlador, para posteriormente realizar ou não a alteração da dosagem requerida pelo tratamento.
Além da possibilidade de automação completa, a Kurita está lançando no mercado um sistema de monitoramento de corrosão por pitting (considerado o pior tipo de corrosão por provocar furos nas torres e tubulações). Trata-se de equipamento em linha que opera com um conjunto de eletrodos padrão, com peças internas contendo um pitting, cuja função é servir como referência de comparação para a água da torre. A passagem da água no eletrodo gera uma corrente, que será transformada, via cálculo matemático, pelo software do sistema em uma profundidade de corrosão. Esse cálculo gera uma tabela de monitoramento da água ou pode ser fornecido para o Jusnavi para gerar modificação de dosagem.
Apesar da automação de um sistema de resfriamento poder ser feita por qualquer empresa especializada, o fato de um tratador de água possuir um sistema próprio facilita a vida do usuário, segundo Aguiar. “A lógica do sistema será mais apropriada ao tratamento, por incluir o conhecimento químico e as necessidades da operação”, afirma. Aliás, a outra concorrente, a GE Water Technologies, conseguiu unir esses dois casos: por pertencer ao grupo General Electric, a empresa aproveita as sinergias com o braço específico de automação do grupo americano, a GE Fanuc Automation. Em processo de aperfeiçoamento de sistemas oriundos da Betz, como o Pacesetter Platinum, de controle de dosagem, e com softwares, como o Insight, de supervisão de operação à distância, a empresa pretende intensificar a “automação da água”.

De acordo com o gerente de marketing para América do Sul, Eduardo Pavani, o Insight, com uso tanto para o controle da área de utilidades como para processos industriais, é um sistema de monitoramento remoto e de diagnose criado para proteger os ativos, combinando monitoramento via web, pacotes de automação padrão, de tratamento químico e o programa de serviço da GE no site.
Já o PaceSetter Platinum funciona como um sistema de automação e gerenciamento de dados que otimiza a dosagem de produtos químicos, controla o processo e comunica-se diretamente ao sistema de controle da planta. Havendo alteração na água, as dosagens são alteradas. O sistema VerifeedTM, também parte do pacote, verifica continuamente o tratamento, para evitar a subdosagem ou sobredosagem de produtos químicos. “Estamos implementando essas ferramentas no Brasil, fazendo os ajustes para operar com as variáveis da água local”, diz.
Dióxido de cloro? – Os aperfeiçoamentos no tratamento de água para torres de resfriamento não se resumem ao campo do controle e automação. Na parte química do processo, ainda o coração do tratamento, também há movimentações interessantes no mercado.
Uma delas, e com potencial para provocar discussão técnica, é o uso de opções desinfetantes para combater o crescimento microbiológico na água. Aplicação usual do gás cloro ou do hipoclorito de sódio, as experiências pontuais no Brasil com o dióxido de cloro em torres de resfriamento têm despertado o interesse em novos negócios por parte dos fornecedores da tecnologia, mas também o ceticismo de alguns tratadores.
O apelo principal do dióxido de cloro é o seu alto poder de desinfecção oxidante, com capacidade de controlar além de algas e microrganismos, também nitrogênio amoniacal, ferro, manganês e fenol, entre outros contaminantes. Também pesa a seu favor o fato de ele agir de forma estável independente de pH, reduzindo o consumo de insumos para correção. E isso somado a outra característica importante: ele não reage com a água, como o cloro ou o hipoclorito, permanecendo como um gás dissolvido. Já os outros dois desinfetantes formam o ácido hipocloroso (HClO), que apesar de ser o agente de desinfecção pode ser dissociado em íon hipoclorito (não desinfetante) e ainda reagir com compostos orgânicos, amônia e fenol, formando subprodutos indesejáveis, como organoclorados em geral, clorofenóis, trialometanos ou as cloroaminas, além de também gerar mau odor e variação de cor.
Esses atrativos fizeram algumas indústrias importantes passarem a empregar a tecnologia em seus sistemas de resfriamento. O caso mais emblemático ocorre na Petroquímica União (PqU), em Mauá-SP, que utiliza há cerca de três anos, com tecnologia a partir do clorito de sódio, dois geradores de dióxido de cloro, um de 1,5 mil g/hora e outro de 6 mil g/h, para duas torres de resfriamento. Um outro caso ocorre na refinaria vizinha Recap, que passou a empregar o dióxido de cloro em sua ETA 1, responsável pelo abastecimento de suas torres de resfriamento. O fato de serem empresas vizinhas não é coincidência: ambas utilizam a poluídissima água do Rio Tamanduateí, com grande concentração de contaminantes orgânicos (ver QD-426, pág. 22). A PqU usa o sistema porque recebe água da ETA 2 da Recap, não coberta pelo dióxido de cloro na refinaria.

O dióxido de cloro é obtido por várias rotas químicas, mas duas delas são mais importantes, abundantes e viáveis comercialmente: a partir da reação do clorito de sódio com ácido clorídrico ou, então, por meio do ácido sulfúrico com uma solução de clorato de sódio e peróxido de hidrogênio, esta última tecnologia exclusiva da EKA Chemicals. Por ser um gás verde e amarelo muito instável, solúvel em água mas nesse ambiente estável por poucos dias, ele não pode ser armazenado ou comprimido e precisa ser gerado no local da aplicação por geradores específicos. Em concentrações acima de 300 g/m3 corre risco de explosão.
A tecnologia do clorito de sódio é dominada e fornecida principalmente pela Clariant, produtora do insumo principal em Suzano-SP. É inclusive a empresa que fornece para os dois casos citados: na PqU em contrato com a GE Betz, responsável pelo tratamento da torre, e na Recap, de forma direta, tendo em vista que há cerca de dois anos a Clariant também passou a ser fornecedora de tratamento e serviços para água industrial, por meio de divisão própria.
Aliás, na Recap, segundo o gerente da área na Clariant, Magno Meliauskas, em breve o dióxido de cloro será empregado, em conjunto com o gás cloro, também para tratar a água da torre K318, de 8 mil m3 de recirculação. “Queremos elevar o ciclo de concentração da torre de seis para oito, em um primeiro estágio, e depois para dez”, diz. Segundo ele, o ciclo alto será possível em virtude da desinfecção mais enérgica do dióxido de cloro e ao fato de a tecnologia ser menos agressiva corrosivamente na metalurgia da torre. É bom lembrar que os seis ciclos de concentração se tornaram viáveis depois que o dióxido foi empregado na ETA, juntamente com o coagulante PAC, o que também gerou economia de 20 mil m3 por mês à refinaria, segundo Meliauskas.

Mesmo ainda com esses poucos exemplos em torres, os “vendedores” de dióxido de cloro acreditam na expansão do mercado. Fornecedores principalmente para branqueamento de celulose, aplicação responsável pelos grandes volumes de consumo, e também para desinfecção de água de bebidas (principalmente cervejas), as empresas do ramo confiam no mercado de saneamento em geral, e no de torres de resfriamento em específico, como futuros bons compradores.
Além da Clariant, que pretende aos poucos expandir sua tecnologia de clorito de sódio a seus novos clientes em água, a Eka Chemicals, detentora da tecnologia Purate, e a Prominent, fornecedora de geradores para os dois tipos de dióxido de cloro, são os maiores exemplos dessa confiança. No entendimento de Gilmar Avelino Pires, gerente geral da alemã Prominent, com subsidiária em São Bernardo do Campo-SP, nos próximos três anos haverá um boom do uso em torres de resfriamento.
Fornecedor principal dos geradores, inclusive responsável pelos três em operação em Mauá-SP e por mais de 140 unidades em outras aplicações pelo Brasil (50% em indústria de bebidas e o restante em frigoríficos e saneamento), o gerente da Prominent acredita que é uma questão de tempo para o mercado compreender as vantagens em comparação ao cloro, principalmente em grandes consumidores de gás cloro, como indústrias petroquímicas.
Além da segurança de manipulação, motivo que levou a Sanepar, companhia de saneamento do Paraná, a fazer a troca do gás cloro em regiões de alta densidade populacional, Avelino cita como atrativos a eliminação de uso de barrilha para controlar o pH, como ocorre com o concorrente tradicional, e da redução de consumo de outros produtos, como biocidas. “Quando há variação de pH, com o cloro é necessário dosar mais biocidas”, diz. Segundo ele, a Prominent já vende muito para uso em torres de petroquímicas e em usinas térmicas, em países europeus, sobretudo na Itália.
No Brasil, um fornecimento novo é para a GE Water Technologies, um gerador de 6 mil g/hora a partir de clorito de sódio para ser empregado na usina termoelétrica Eletrobolt no Rio de Janeiro.
Também confia na expansão em torres de resfriamento, mas com um pouco mais de cautela, o gerente de vendas da tecnologia Purate, da Eka Chemicals, empresa do grupo Akzo Novel com unidade fabril em Jundiaí-SP, José Eduardo Gobbi. O tom mais moderado, segundo ele, é por haver ainda alguns obstáculos a serem ultrapassados para a tecnologia deslanchar. Em primeiro lugar, a questão do preço, pois por ser mais caro que o cloro, o investimento no oxidante demora até um ano para se pagar.
A outra questão fundamental para Gobbi é técnica, ou seja, há aplicações não recomendadas para o dióxido de cloro. “Ele não é um salvador da pátria”, diz. O gerente cita como exemplo águas sem muita contaminação orgânica ou sem os precursores de alguns subprodutos do cloro, como os clorofenóis, os trialometanos (THMs) ou os ácidos haloacéticos (HAA, organoclorados em processo de perseguição ambientalista na Europa e EUA). Há casos até em que a Eka recomenda sinergia com o hipoclorito ou o gás cloro.
Em resumo, a posição de Gobbi contra o cloro é diplomática. Para ele, o eficiente desinfetante é necessário mas possui limitações. Uma delas é não ser efetivo contra bactérias anaeróbicas responsáveis pelo biofouling, o filme microbiológico depositado na superfície metálica e causadora de incrustação. Nesse caso, segundo o gerente, o dióxido de cloro é muito mais eficiente. Na fábrica da Eka, cuja torre é tratada com o produto cativo, foi possível eliminar da torre o uso de antiincrustantes. “Isso sem falar que ele não ataca a metalurgia dos equipamentos, tornando as manutenções apenas visuais, sem paradas constantes para limpeza”, explica Gobbi ainda se referindo ao uso interno da tecnologia na torre da Eka.
A tecnologia da Eka Chemicals foi originalmente desenvolvida para branqueamento de celulose, sua grande consumidora em seqüências ECF (elementar chlorine free). A idéia foi partir a produção do clorato (fornecido pelo grupo) e obter um branqueador mais barato. O resultado, por meio da reação entre ácido sulfúrico e a solução patenteada Purate (de clorato de sódio, peróxido de hidrogênio e estabilizadores), foi um dióxido de cloro até 50% mais barato que o obtido a partir do clorito, como o da Clariant.

O outro passo da tecnologia foi desenvolver o gerador, produzido pela Eka nos Estados Unidos e no Brasil, sob licença, apenas pela Prominent. O gerador SVP-Pure, com um sistema de bombas dosadoras e reator, gera conversão química superior a 95%, sendo o clorato de sódio reduzido pelo peróxido de hidrogênio e o ácido sulfúrico para produzir o dióxido de cloro. Há quatro anos vendendo para saneamento no Brasil, a Eka possui oito desses geradores em operação, com consumo de 25 t/mês de dióxido de cloro, contra 40 t/mês na Europa. Ainda é pouco se comparado com aplicação em celulose (a Eka constrói uma fábrica apenas para fornecer à Veracell, de Eunápolis-BA), mas segundo Gobbi pode crescer na medida em que aplicações em torres, em controle de odor, em pré-tratamento de osmose reversa (precipita Fe e Mg, que atacam as membranas) e saneamento básico se tornarem mais comuns.
Cloro estável – Mesmo com as perspectivas animadoras, há também questionamentos quanto ao uso do dióxido de cloro em torres de resfriamento. Um deles diz respeito a uma característica aparentemente positiva do oxidante: a sua ação rápida contra matérias orgânicas. Conforme explica o superintendente da Kurita, José Aguiar Jr., essa alta reatividade limita a desinfecção às chamadas bactérias planctônicas, as sobrenadantes na água. “Por reagir muito rapidamente, o dióxido de cloro não possui tempo de residência suficiente para atacar as bactérias sésseis, aquelas que ficam nos depósitos, responsáveis pelo biofilme impregnado na superfície metálica”, diz.
A característica de efetividade baixa contra as bactérias sésseis, aliás, não é exclusividade do dióxido de cloro. Outro oxidante considerado enérgico, o ozônio, tem essa propriedade de rapidez bactericida. Da mesma forma, o mais utilizado de todos os agentes desinfetantes, o hipoclorito de sódio, por não reagir com algumas bactérias anaeróbicas específicas, também não é efetivo contra a formação do biofilme.
Foi por causa da limitação do cloro para combater as bactérias sésseis que a Kurita, segundo José Aguiar Jr, colocou no mercado recentemente uma tecnologia chamada Optimax. Trata-se de formulação patenteada de estabilizantes do cloro como biocida, cujo objetivo principal é estender a capacidade de desinfecção do hipoclorito de sódio para além das bactérias planctônicas. Com os estabilizantes, a reatividade do oxidante com a matéria orgânica torna-se baixa, mantendo-se na água o suficiente para penetrar no biofilme e remover também as algas. Tecnologia em fase de registro de patente, vai ser fornecida ou já formulada com o hipoclorito, para aplicações menores, ou fornecida separadamente para dosagens maiores efetuadas pelo próprio cliente.
A lembrança do lançamento da Kurita é interessante para compreender que as peculiaridades de cada tratamento são determinantes para a escolha do agente de desinfecção. Isso porque, por tornar a reatividade do cloro mais baixa (e portanto da mesma forma o seu poder de desinfecção) para prolongar o tempo da ação, a solução estabilizante do Optimax não se torna a mais indicada para águas onde o pior problema é a contaminação orgânica elevada. “Ele é uma saída para problemas de biofilme e algas, que por sinal são de difícil solução, e não específico para matar excesso de bactérias”, explica o superintendente da Kurita.

O irônico, por outro lado, é saber que a solução do dióxido de cloro, com mais reatividade para combater as altas contaminações orgânicas, é vista por Aguiar também com um pouco de ceticismo nas aplicações em torres de resfriamento. “Não podemos esquecer que estequiometricamente o dióxido de cloro requer três vezes mais ácido para ser gerado, gerando cloretos e por essa razão um ambiente corrosivo perigoso para o tratamento”, afirma Aguiar. Conforme explica, isso gera ciclo vicioso, com queda do pH e elevação da condutividade, responsável pelo incremento do potencial corrosivo natural e de formação de biofilme.
A posição da Kurita com o dióxido de cloro não chega a ser radical. Com o respaldo de ter experiência técnica em várias grandes contas em resfriamento no País (inclusive ganhou as recentes concorrências para tratar água e efluentes da Rio Polímeros), nas quais tem tido o hábito de fechar contratos com divisão de ganhos, a Kurita considera o dióxido de cloro mais indicado para melhorar águas de make-up de baixa qualidade, como foi feito na ETA da Recap. Isso ainda porque os chamados desinfetantes enérgicos, como o O3 e o ClO2, correm o risco também de atacar os dispersantes do tratamento.
A geração de cloretos, alertada por Aguiar, é no ClO2 do processo por clorito, que demanda 1,5 kg de ácido clorídrico por quilo de dióxido de cloro produzido, e não do processo Purate, que gera sulfatos, gerados pelo ácido sulfúrico da reação, com potencial corrosivo menor. Mas Magno Meliauskas, da Clariant, detentora da tecnologia por clorito de sódio, afirma que a geração de cloretos do processo é menor do que a do gás cloro.
“Fizemos testes de campo e comprovamos”, diz. Além disso, segundo afirma, a aplicação do dióxido de cloro por clorito mantém o pH estável por gerar molécula de cloreto de sódio (NaCl), ao contrário do cloro gás que reduz o pH da água por formar ácido clorídrico (HCl) e do hipoclorito que aumenta o pH por causa da soda cáustica (NaOH).
É bom acrescentar, porém, que a própria Clariant só recomenda o dióxido de cloro em casos de microbiologia muito alta. Tanto é assim que em uma concorrência recém-vencida pela empresa para tratar água de resfriamento e de caldeiras nas unidades da Fosfértil, de Uberaba-MG e Catalão-GO, a opção não foi pelo oxidante. “A água lá é de boa qualidade e não justificaria o investimento”, diz Meliauskas. Uma prova de que tecnologia boa também precisa ser economicamente viável.
Fornecedores de insumos investem em fábricas e novas representações

Mesmo que algumas empresas especializadas considerem o consumo de produtos químicos como parte menor do custo total do tratamento de água industrial, a verdade é que a venda de insumos voltados ao mercado atrai o interesse de produtores e distribuidores no Brasil. Basta ver o movimento do setor: há fábricas novas de polímeros, tanto de grandes produtores internacionais, caso da Degussa (ver QD-409, pág. 11), em Americana-SP, como de grupos locais, caso da Logos, em Leme-SP, e distribuidores com linhas específicas para água mantêm uma rota de crescimento de vendas e de lançamento de novos insumos.
A fábrica da Logos no interior paulista reflete bem esse cenário. Entrando em seu quarto ano, com 50% de ocupação, operando em dois turnos e com possibilidade de chegar a 2.500 t/mês, a unidade multipropósito concebida para atender vários setores, mas principalmente o de celulose (70% do total), se diversifica e amplia para fornecer mais a sua divisão de tratamento de água, a Logos Aqua.
A idéia, segundo explica o diretor da empresa, Renato Araújo Silva, é até mesmo mudar a estratégia da divisão. Isso porque quando foi criada, a Logos Aqua tinha a intenção de ser uma fornecedora de soluções completas para tratamento de água, com produtos, formulação e serviços operacionais. “Com o tempo e com a entrada em operação da fábrica, percebemos que era mais viável passar a ser um fornecedor de polímeros e antiespumantes para o mercado, e isso incluindo os chamados “tratadores”, ou seja, os até então concorrentes”, diz.
O propósito da Logos Aqua, em suma, é deixar de concorrer com os clientes e aproveitar um mercado de tratamento de água que, além das grandes do ramo (Kurita, Nalco, GE Betz, Buckman), responsáveis por cerca de 70% do setor, ainda conta com mais cerca de cem empresas pequenas em todo o País. Dentro dessa nova estratégia, aliás, surgiu até a hipótese de abandonar o “Aqua” do nome, para ficar bem clara a nova posição.
Produzindo basicamente polímeros acrílicos e fosfonatos, a Logos tem como princípio procurar novas alternativas, com esforço de pesquisa e desenvolvimento que inclui intercâmbio com universidades locais. Uma dessas iniciativas deu origem a um coagulante de baixo peso molecular, produzido a partir da síntese de quaternização do tanino, em Leme-SP, e já bastante empregado em efluentes de siderurgia.
Outro desenvolvimento recente foi o de um inibidor de corrosão orgânico para sistemas de resfriamento fechados e semi-abertos. Trata-se de um poliacrilato fosfonado que visa substituir os inibidores tradicionais metálicos, principalmente os de zinco e de molibdênio, com tendência de desuso por questões ambientais. Também foi relevante a formulação de um polímero bifuncional, inibidor de corrosão e antiincrustante, baseado em poliálcoois reagidos com fosfonatos acrilados.

Além desses desenvolvimentos, também deve contar a favor das vendas para água da Logos uma nova unidade em Leme para produzir carbamatos, utilizados como biocidas e seqüestrantes de ferro. Com produção para 500 t/mês – a fábrica fica pronta até o final do ano –, a partir da reação entre sulfeto de carbono e uma amina. Segundo Araújo Silva, o primeiro grade será o dimetilditiocarbamato de sódio, empregado também como fungicida na agricultura. A confiança da Logos é usá-lo como substituto do isotiazolona, biocida eficiente e de largo uso, mas com problema de agressividade à pele na manipulação.
Ampliar o portfólio de produtos, assim como os canais de distribuição pelo País, não são as únicas frentes de atuação da Logos para firmar-se como fornecedora completa de insumos químicos para água. Outra alternativa, segundo o diretor, foi fechar parcerias de representação. Da Ciba Specialties passou a comercializar poliacrilamidas em pó; da Arch Chemicals, hidrazinas; e da Dow, resinas de troca iônica.
Carbamato importado – Recorrer a representações internacionais para suprir a demanda química da água é comum. Tanto porque a produção local não atende todas as necessidades, como também a grande disponiblidade de tecnologias ainda com consumo a ser explorado no País. Uma prova disso não são apenas as novas representadas da Logos. Outras empresas, especializadas em distribuição química, trilham muito bem esse caminho.
A Dermet Agekem, de São Paulo, subsidária da mexicana Dermet, e representante exclusiva da Biolab, produtora de linha extensa de insumos para água, desde biocidas base bromo até antiincrustantes inorgânicos e dispersantes orgânicos, é um exemplo de empresa que aproveita os negócios em água. Desde a fundação em 1999, e a partir do momento em que diversificou seus negócios com a aquisição da Agekem portadora de nova carteira de representações (incluindo aí a Biolab), a empresa tem aumentado os negócios em tratamento de água. Segundo o gerente da área, Mauro Ramires, em dois anos as vendas dos insumos da Biolab subiram 150%.
Embora a linha da Biolab seja extensa, esse bom desempenho na área rapidamente demandou a busca por novas representações. Em julho, foi firmado acordo com a Alco Chemicals, do grupo inglês ICI, de quem a empresa passa a comercializar no Brasil sua linha de biocidas. A primeira intenção, segundo Mauro Ramires, será ofertar a linha Aquatreat de biocidas de carbamato. Sua idéia também é sugeri-lo como substituto da isotiazolona.
O grade ofertado inicialmente é o Aquatreat DNM-30, uma blenda de de 15% de dimetilditiocarbamato de sódio (DIBAM) e de 15% de etileno-bis-ditiocarbamato de sódio (NABAM). Com alto poder de combate a bactérias, fungos e algas, o produto será vendido não só para torres de resfriamento, mas também para processos de açúcar e álcool e de papel e celulose. Segundo Ramires, o biocida é eficaz contra microrganismos sésseis e planctônicos, podendo ser ótima opção para controle de biofilmes.
Mesmo no momento, limitada à linha Aquatreat, Ramires acredita na possibilidade de estender a representação para outros produtos da Alco, também produtora de poliacrilatos. O cuidado será apenas o de não oferecer insumos com conflito de negócios com a Biolab. Outra convicção do gerente é em breve ampliar o leque de representadas. Não por acaso, aliás, Ramires anda freqüentando feiras internacionais de tratamento de água em busca de novos parceiros e de novos negócios em um mercado com oportunidades inexploradas.
OI GILMAR PRECISO FALAR COM VC, NEGÃO É SERIO ME AJUDA.
O produto da Clariant pode ser usado em alimentos?