Transportes – Etanol para plástico verde viaja pelo rio

Em 2007, quando a Braskem iniciou a consolidação dos principais ativos do Polo Petroquímico de Triunfo-RS (ver QD-459) adquiriu por tabela uma das mais bem boladas operações de transporte e armazenamento de produtos petroquímicos do país, o terminal hidrofluvial Santa Clara. Por conta desse importante ativo, a empresa terá condições de descarregar em solo gaúcho os 470 milhões de litros de etanol/ano necessários ao abastecimento da primeira planta do mundo de polietileno linear e de alta densidade pela rota alcoolquímica, em fase inicial de construção.

Química e Derivados, Unidade da Braskem em Triunfo, Transportes
Unidade da Braskem em Triunfo fica próxima do terminal

O terminal Santa Clara foi construído nos anos 80 pela Copesul, a central de matérias-primas de Triunfo, hoje controlada pela Braskem, em um canal artificial de sete quilômetros de extensão, para interligar as instalações às margens do Rio Jacuí. Com isso, é possível o acesso ao estuário do Guaíba e à Lagoa dos Patos, que deságua no porto de Rio Grande, onde a empresa mantém um terminal marítimo com capacidade para estocar 20 mil toneladas. O sistema inclui uma pequena frota cativa de navios capazes de transportar eteno, GLP, benzeno, entre outros petroquímicos básicos (ver QD-429).

A estratégia de transporte da matéria-prima foi antecipada pelo presidente da Braskem, Bernardo Gradin, em maio, por ocasião do lançamento da pedra fundamental do empreendimento. “A implantação desse projeto confirma o compromisso assumido pela Braskem de contribuir para o desenvolvimento do setor petroquímico brasileiro e do Rio Grande do Sul”, afirmou Gradin. “Esse investimento é parte da nossa estratégia de crescimento com criação de valor agregado, alinhado ao objetivo de tornar a companhia uma referência internacional no desenvolvimento de polímeros verdes.”

Gradin complementou dizendo que está resolvida a equação de abastecimento de etanol numa região do país com clima inadequado para o plantio de cana-de-açúcar e sem projetos consistentes de usinas de álcool. Entretanto, adiantou que se a matriz de insumos químicos gaúcha sinalizar com a possibilidade de construir usinas, com capacidade suficiente para atender à demanda, a Braskem está disposta a estimular parcerias.

O projeto de polímeros verdes da Braskem se insere na estratégia de acesso às novas fontes competitivas de matérias-primas, em linha com a visão de sustentabilidade da companhia. Além disso, contribui para o desenvolvimento sustentável da sociedade, já que o plástico verde retira mais carbono da atmosfera do que emite ao longo de todo o seu ciclo de vida, do cultivo da cana à reciclagem pós-consumo.

Para Gradin, os aspectos ambientais funcionam como um estímulo adicional em favor da implantação do polímero verde na matriz petroquímica, por apresentar características de aplicação e propriedades idênticas às do plástico tradicional. Tais propriedades permitem aos transformadores aproveitar o parque fabril atual para processar a resina. O PE verde tem aplicação em mercados como o automobilístico, indústria de brinquedos, embalagens sopradas para alimentos e produtos de higiene e embalagens injetadas para utilidades domésticas.

Ele explicou que a Braskem vem estabelecendo, desde o ano passado, uma série de parcerias com renomados clientes nacionais e internacionais, principalmente da Europa, Estados Unidos e Japão, interessados em reforçar a associação de suas marcas ao conceito de sustentabilidade. Cabe ressaltar os acordos firmados com a Toyota Tsusho, trading company do grupo Toyota, e Shiseido, renomado fabricante de cosméticos voltados ao segmento de alto padrão. A demanda potencial já identificada para o PE verde é ao redor de 600 mil toneladas/ano, três vezes maior do que a capacidade da nova planta.

Gradin destacou o pioneirismo do projeto, resultante da prioridade atribuída pela empresa à inovação e autonomia tecnológica, direcionadores importantes da sua estratégia de crescimento e de desenvolvimento da cadeia produtiva. “Essa primazia é resultado da dedicação e das competências combinadas de brasileiros talentosos, que por meio de sua atuação no Centro de Tecnologia e Inovação Braskem e na Unidade de Petroquímicos Básicos da companhia colocaram o Brasil na dianteira da produção de PE verde no mundo”, assinalou.

A relevância do projeto tem sido reconhecida internacionalmente, co­mo demonstra o Prêmio de Gestão Ambiental da Conferência Ambiental do Plástico, entregue nos Estados Unidos no início deste ano. A Braskem já prevê a construção de uma segunda planta de polietileno via etanol para o polo petroquímico de Camaçari, na Bahia. A corporação prossegue as pesquisas para obtenção do chamado polipropileno verde, que exige reações mais complexas por meio de reatores de fermentação.

A partida da planta de eteno rota etanol está prevista para o quarto trimestre de 2010, com início da operação comercial para o começo de 2011. No total, a Braskem responde por aproximadamente três milhões de toneladas por ano de petroquímicos de primeira geração em Triunfo. O investimento total da nova planta foi orçado em R$ 500 milhões. O projeto prevê a construção de reatores para obtenção de eteno de etanol, englobando uma unidade de segunda geração para 200 mil toneladas/ano de polietilenos.

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