“Para a indústria de transformação do plástico, o ano de 2023 será de grandes desafios.
As projeções de crescimento da economia não são muito animadoras, o que se refletirá em uma demanda não tão robusta para produtos transformados e reciclados”, resume José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).
O novo governo tem papel muito importante para estimular a economia, avalia o dirigente.
Uma das tarefas a ser enfrentada para atender o desejo do setor de transformação, quase uma obsessão para os dirigentes dos principais segmentos industriais, é aprovar a reforma tributária, novela postergada de maneira insistente há muitos anos e que surge agora como prioridade da equipe econômica.
“Há necessidade de distribuir melhor o peso dos tributos entre os setores produtivos, mas sem aumento da carga total”.
Roriz Coelho também defende o desenvolvimento de políticas capazes de estimular a produtividade e a inovação.
Para ele, o novo ministério da indústria deverá assumir o protagonismo e ter relevante papel na criação de uma política industrial moderna, focada na produtividade e agregação de valor.
Roriz Coelho: Abiplast reforça atuação na economia circular
“Além disso, espera-se que no próximo ano haja atenção para as demandas legítimas da sociedade com responsabilidade fiscal, para garantir ambiente estável de longo prazo capaz de atrair investimentos”.
Desde a pandemia, a indústria de transformados não vê em seu horizonte de médio e longo prazo um cenário de crescimento pujante, o que resultou em baixo índice de investimento no ano passado.
“Nossas sondagens captaram expectativas conservadoras por parte dos empresários em 2022”. Para esse ano, o cenário deve permanecer o mesmo.
“A expectativa é de menor desempenho econômico e perfil menos agressivo de investimentos por parte do setor”.
Estimativas à parte, o presidente fala sobre os resultados do setor no ano passado.
“O ano de 2022 foi marcado como período de recuperação frente ao fraco desempenho observado no segundo semestre de 2021, mas que no agregado registrou números similares aos do ano anterior”.
Não havia sido totalizado o desempenho do setor até o fechamento desta edição.
“Foi um ano difícil para a economia, o retorno das atividades pós-pandemia conviveu com a eclosão da guerra na Ucrânia, fator que freou o crescimento mundial”.
Houve alguma melhora nos indicadores de produção, vendas, emprego e até nas intenções de investimento.
“Dados de emprego acumulados até setembro mostram que o setor de transformação e reciclagem contratou 14,7 mil pessoas, totalizando 364,6 mil trabalhadores empregados nesse setor”.
Um fato apontado por Coelho como favorável em 2022 foi a redução de 35% do IPI para a grande maioria dos produtos plásticos.
Isso, apesar das dificuldades ocasionadas ao longo dos meses iniciais de vigência por insegurança jurídica provocada por liminares e pela indefinição de quais produtos poderiam se aproveitar de tal redução.
“Tal medida foi muito positiva para todo o setor industrial brasileiro, é importante ser mantida pelo novo governo”.
Entre os segmentos avaliados, de acordo com o presidente da Abiplast, em 2022 os produtores de laminados e embalagens plásticas apresentaram desempenho dentro do esperado, “até porque a indústria de alimentos e bebidas apresentou resultados positivos”.
Houve crescimento no acumulado de janeiro a novembro de 2022 (últimos dados disponíveis) de 2,4% e 3,5%, respectivamente.
O setor com resultado mais negativo registrado pela Abiplast foi o da construção civil, com queda de 10% na produção de produtos plásticos para aplicações na área.
“Observamos queda também na demanda da indústria de higiene pessoal, limpeza e perfumaria, que retraiu 3,8% no período, e uma estagnação/queda de 0,6% na atividade do varejo, o que impactou nas vendas de utilidades plásticas para o lar”.
Um grande foco da Abiplast para 2023 é o de continuar a investir no desenvolvimento da economia circular.
A associação promete trabalhar em projetos e frentes que possam efetivamente colocá-la em prática.
Em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), vai desenvolver sistemas de rastreabilidade, por meio dos quais já é possível constatar cases de sucesso.
“Nossa plataforma de rastreabilidade deverá ser lançada neste primeiro semestre de 2023”.
No ano passado, a entidade aprofundou as discussões em torno da economia circular com a Rede Pela Circularidade do Plástico, lançou o projeto piloto do programa Isopor Amigo e também da criação e implementação do programa Descarta Aí, que visa aumentar a taxa de reciclagem de baldes plásticos pós-consumo, provenientes da construção civil, entre outras iniciativas.
Tijolo a tijolo – O desempenho de segmentos da economia fortes consumidores de peças plásticas é importante para orientar os passos a serem dados pela indústria do plástico.
Dados da Abiplast informam que o maior cliente das transformadoras é a construção civil.
A construção respondeu por 23,9% do total em valor de consumo da indústria plástica em 2019, último levantamento do gênero divulgado pela associação.
Estefan: reforma tributária pode acabar elevando custos
“Em 2023, o PIB da indústria da construção deverá crescer 2,4%, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV)”, revela Yorki Estefan, presidente do Sinduscon-SP.
O número é estimado a partir da média entre os crescimentos projetados de 5% para o setor de edificações, 1% para as obras de infraestrutura, 4% para os serviços especializados e 1% para outros segmentos. A construção apresentou período positivo nos últimos dois anos. A estimativa do Sinduscon-SP é de que o setor cresceu 7% em 2022. Em 2021, a taxa ficou nos 10%.
Para Estefan, esta estimativa pode sofrer revisões para cima ou para baixo.
Algumas perspectivas são positivas.
“Muitas obras irão se iniciar em 2023, resultantes de contratos firmados no ano passado. Também há a correta determinação do governo federal de retomar investimentos para construir moradias dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, além dos recursos já assegurados do FGTS para o financiamento da habitação”.
Outros aspectos favoráveis são apontados pelo dirigente.
Há sinalização de que as concessões vão prosseguir, gerando obras de infraestrutura.
No Estado de São Paulo, os investimentos privados em habitação e infraestrutura devem avançar, ante a determinação do novo governo estadual de estimular a construção habitacional e incrementar privatizações, concessões e parcerias público-privadas.
“No município de São Paulo, deveremos ter a revisão do Plano Diretor e investimentos da Prefeitura em habitação popular”.
Nem tudo é um mar de rosas, ressalta Estefan.
“A persistência de juros altos e o aumento do endividamento das famílias tendem a diminuir o ritmo da atividade. Some-se a isso a perspectiva de suspensão das privatizações federais, que, se concretizada, afastará investimentos privados na infraestrutura”.
O cenário internacional não ajuda. “Inflação elevada em vários países, alta de juros nos EUA e guerra entre Rússia e Ucrânia colaboram para a persistência da retração econômica”.
O presidente do Sinduscon-SP acredita que nos próximos meses terá avaliação mais clara sobre as primeiras ações do novo governo.
“Ele se inicia com recursos que não estavam previstos originalmente no orçamento e que devem gerar investimentos em obras de habitação e infraestrutura. Mas, ao mesmo tempo, precisará enfrentar déficit crescente nas contas públicas e criar um arcabouço fiscal em substituição ao teto de gastos. Deve ainda estabelecer uma relação com o Congresso e com os governadores que lhe permita aprovar as medidas necessárias nesta direção”.
Uma das principais medidas desejadas pelo setor é a concretização da reforma tributária.
“Aqui temos uma oportunidade, mas ao mesmo tempo um risco. Nossa expectativa é que a reforma simplifique o sistema tributário e estimule a atividade produtiva, contribuindo para o desenvolvimento e a geração de empregos”.
O dirigente analisa que as propostas em tramitação no Congresso têm viés arrecadatório e prejudicam o setor de serviços – no qual se insere a indústria da construção e imobiliária.
“Se essas propostas prosperarem, o custo da construção se elevará, prejudicando os consumidores e o próprio governo, que precisará pagar mais pelas obras de habitação e infraestrutura”.
Fome de crescimento – O setor de alimentação é o segundo maior consumidor de peças plásticas. Respondeu, em 2019, por 21,6% do valor em consumo das transformadoras.
De acordo com informações prestadas pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), a expectativa é de que a indústria de alimentos tenha encerrado o ano de 2022 com aumento no volume de vendas no patamar de 2,5%.
Foi um ano difícil.
Ele se iniciou com expectativas positivas, de que seria um período de acomodação de preços de matérias-primas.
Porém, o cenário mudou completamente ainda no primeiro trimestre, com o início do conflito entre Rússia e Ucrânia.
A guerra trouxe impacto direto para os preços internacionais das commodities, tanto de alimentos quanto de energia, afetando diretamente o setor.
Com isso, a indústria precisou enfrentar a alta dos preços de insumos, que já estava em patamares elevados desde a pandemia.
Para esse ano, ainda há muita incerteza.
Existe a expectativa de desaceleração do crescimento da economia brasileira e mundial, diante do ciclo de juros elevados para o controle da inflação pelos bancos centrais dos principais países.
Importante citar os custos da produção industrial, que continuam pressionados no mercado internacional, pela restrição na oferta de insumos, entre os quais os materiais de embalagens, e pelos preços da energia.
Em relação ao novo governo, a torcida é para a aprovação da reforma tributária, considerada essencial para reduzir os custos de produção da indústria.
A reforma tributária também é apontada como muito importante por um dos segmentos da indústria do plástico com forte participação na indústria de alimentos, o de embalagens flexíveis.
Não só isso, a redução dos juros também seria muito positiva.
Mani: estoque menor no cliente requer agilidade da indústria
“Temos a perspectiva de inflação um pouco domada e a taxa de juros limita o crescimento”, explica Rogério Mani, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief).
Ele cobra responsabilidade fiscal do novo governo, necessária para limitar o que chama de “gastança da máquina pública”.
Por outro lado, vê com bons olhos a volta do Bolsa Família, medida que incentiva o consumo de alimentos por parte da parcela de menor poder aquisitivo da população.
De acordo com Mani, a demanda no ano passado se manteve em patamar razoável.
A Abief não chegou aos resultados finais do desempenho do setor até o fechamento dessa edição.
“Acredito que houve crescimento, nada muito expressivo”.
Uma das prioridades das indústrias do setor, para o dirigente, é a de agilizar as linhas de produção. “Manter estoques está custando caro, os clientes procuram trabalhar com estoques cada vez menores e precisamos estar prontos para atender demandas rápidas”.
Velocidade moderada – O segmento automobilístico é para lá de importante para os transformadores.
De acordo com a Abiplast, em 2019 representou 8,1% do total em valor de transformados.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prevê para 2023 um crescimento de 2,2% na produção em relação ao ano passado.
Em 2022 foram produzidos 2,37 milhões de autoveículos leves, com crescimento de 5,4% em relação aos números de 2021.
Um aspecto positivo foi o bom resultado obtido com as exportações, que chegaram ao número de 481 mil unidades, melhor valor desde 2019. Para 2023, a expectativa das exportações não é tão positiva, espera-se que o número caia 2,9%.
As vendas para a Argentina explicam o pessimismo.
No ano passado, o número de veículos emplacados caiu 1% em relação a 2021.
“Esse número representa uma estabilidade”, avalia Márcio de Lima Leite, presidente da associação.
Ele explica que alguns fatores, como a realização das eleições e da Copa do Mundo no final do ano, por exemplo, influenciaram no resultado final.
A previsão para esse ano dos emplacamentos é de crescimento de 3%.
O presidente da Anfavea diz que a estimativa de crescimento feita pela associação para esse ano é conservadora.
“Há potencial para que alcancemos o patamar dos 2,8 milhões de unidades que produzimos em 2019, antes da pandemia”.
Uma boa notícia é a de que a crise de falta dos semicondutores, que nos últimos tempos afetou muito a capacidade de produção, se encontra em boa parcela contornada.
“Apesar do problema ainda persistir, o auge da crise foi ultrapassado”.
Para Leite, ainda é cedo para se ter uma ideia de como será o relacionamento entre o novo governo e o setor. É importante que decisões sejam tomadas de forma a mais rápida possível.
“Esse é o momento em que as matrizes das montadoras tomam decisões sobre para onde vão os investimentos e o ambiente de negócios precisa se mostrar favorável para que o país obtenha recursos”.
O presidente da Anfavea está no time dos que consideram a reforma tributária essencial.
Ele apresenta pautas específicas para o setor, como o estímulo a pesquisa, desenvolvimento e inovação e a descarbonização dos veículos a partir do uso da energia elétrica e biocombustíveis, entre outras.
De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), as vendas para as montadoras representam 66,1% do setor.
Outros 19,4% são direcionados para o mercado de reposição, 10,1% para exportações e 4,5% para transações intersetoriais.
A estimativa de faturamento do setor de autopeças em 2022, número não calculado definitivamente até o momento, está na casa dos R$ 191 bilhões, com crescimento de 8,8% em relação a 2021. A projeção de faturamento para 2023 é R$ 202,7 bilhões, com crescimento de 6,1%.
Carga estável – Para 2023, os empresários do setor eletroeletrônico, forte usuário de peças plásticas, muitas delas com grau de sofisticação elevado, têm expectativas cautelosas.
A mais recente sondagem realizada com os associados da entidade setorial indicou que 58% das empresas projetam crescimento nas vendas/encomendas no próximo ano, 33% estimam trabalhar em regime de estabilidade e apenas 9% apostam na queda.
“Esperamos crescimento nominal de 5% no faturamento, que deve alcançar R$ 231 bilhões em 2023. Descontada a inflação, o setor espera registar estabilidade”, avalia Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
Há expectativa de elevação de 1% na produção e aumento de 2% no nível de emprego, que deve passar de 270 mil para 275 mil trabalhadores. As exportações (US$ 6,8 bilhões) devem crescer 2% e as importações (US$ 47,3 bilhões), 3%.
Barbato se mostra satisfeito com a indicação do titular para o recriado MDIC.
“O nome foi uma boa escolha, Alckmin é gentil e de bom diálogo com o setor produtivo. Teremos ainda o fato de o ministro ser vice-presidente da República, o que dá um peso maior em sua colocações. É importante não termos um MDIC fraco”.
A indústria eletroeletrônica encerrou 2022 com faturamento de R$ 220,4 bilhões, valor que representa crescimento nominal de 4% na comparação com 2021.
Descontada a inflação, houve queda de 2% no faturamento, dizem informações prestadas pela associação. A produção física do setor apresentou queda de 4% em 2022 em relação ao ano passado.
Em 2021 o setor havia apresentado crescimento de 7%.
O resultado pouco entusiasmante verificado em 2022 é analisado por Barbato.
“O ano apresentou fortes oscilações de expectativas, impactos externos e incertezas político-econômicas que se refletiram no desempenho”.
Entre os principais problemas ocorridos se encontram as dificuldades na aquisição de semicondutores, em razão de lockdowns na China e da guerra da Ucrânia.
“O desempenho do setor foi marcado por diferentes movimentos entre as áreas de bens de consumo e bens de capital”.
O segmento de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica apresentou bom desempenho, com crescimento de 13%.
Também se deram bem automação industrial (12%) e equipamentos industriais (10%).
Os segmentos de informática, celulares e utilidades domésticas, por sua vez, apresentaram quedas de 6%, 2% e 11%, respectivamente.
“Nos anos de 2020 e 2021, a venda de produtos como celulares e computadores, entre outros bens de consumo eletrônicos, tiveram aumento acima da média em razão do home office e do ensino à distância. Houve antecipação de compras”.
As exportações do setor cresceram 16% em 2022, passando de US$ 5,7 bilhões para US$ 6,6 bilhões.
Já as importações aumentaram 14%, de US$ 40,2 bilhões, em 2021, para US$ 45,9 bilhões no ano passado.
Com isso, o déficit da balança comercial atingiu US$ 39,3 bilhões, total 14% superior ao apresentado em 2021.
De canudo e canequinha – Muitos motivos de alegria para os fabricantes de brinquedos. No ano passado eles movimentaram algo em torno de R$ 12 bilhões, com crescimento de 11% em relação a 2021 e.
O resultado pode ser considerado ainda mais positivo se lembrarmos dos crescimentos de 14% ocorrido em 2021 e de 21% em 2020. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos (Abrinq).
Para esse ano, a expectativa se mantém positiva.
Costa: brinquedo nacional fica mais resistente à concorrência
“Não trabalhamos com a perspectiva de crescer menos de 11%”, revela Synesio Batista da Costa, presidente da associação.
O bom momento tem explicações que remontam ao tempo da chegada do coronavírus e que prejudicaram as importações. Um deles foi a crise mundial de logística.
Houve também a valorização do dólar e a pandemia fez a China adotar medidas de proteção que prejudicaram o funcionamento das fábricas daquele país.
De acordo com Costa, a indústria brasileira estava preparada para ocupar o espaço. E continua investindo.
“Em 2023 vamos lançar mais de seiscentos novos brinquedos, que serão apresentados na edição da feira Abrin, que ocorre em março. Na semana da criança e no Natal já havíamos lançado quatrocentos novos brinquedos”.
Em relação à troca de comando no país, a expectativa do dirigente é positiva.
“O novo governo está mais focado em investir no social e na preservação do meio ambiente. Não tenho muita preocupação, há estímulo para produção, cabe a nós fabricar e vender”.
Havia o temor no setor de que as alíquotas do IPI reduzidas no final do governo anterior fossem restauradas, o que até agora não ocorreu.
A expectativa é pela rápida aprovação da reforma tributária.