Tintas UV – Insumos evoluem e fixam a tecnologia em substratos difíceis e novas aplicações

Química e Derivados, Tintas UV, indústria gráficaO uso da tecnologia de tintas e vernizes curáveis por radiação ultravioleta (UV) está em pleno crescimento no país em vários tipos de aplicação, como nas indústrias moveleira, gráfica, de embalagens de papel, metálicas, de materiais plásticos e vidro. “Estima-se que haja um crescimento anual da ordem de 10% em volume de uso de tintas e vernizes UV”, observa Alberto Matera, diretor da Cytec na América do Sul.

Rafael de Moraes Santos, da área de suporte técnico comercial da Quiminutri, trabalha com números ainda mais otimistas: “O mercado brasileiro apresenta um aumento de 15% no consumo ano a ano.” Em 2006, o mercado mundial de coatings UV representava 1,8% do total. Em 2010, apesar dos grandes avanços e melhorias no sistema, esse segmento de mercado subiu para apenas 2% do total mundial. Espera-se que em 2014 ele atinja 2,2% do mercado global. “A tendência é aprimorar e criar novos produtos que possibilitem difundir a tecnologia UV a novas aplicações”, completa.

Maria Cristina Kobal Campos de Carvalho, diretora presidente da RadTech South America, avalia que o desempenho dessa tecnologia “é muito satisfatório e as perspectivas são de crescimento, principalmente nas áreas que necessitam de alta produtividade, alto desempenho quanto às resistências físicas e químicas, e onde exista a preocupação com o meio ambiente”.

Embora seja evidente o crescimento desse mercado em inúmeras aplicações – “quase que diariamente surgem possibilidades de novas aplicações em segmentos variados; é uma tecnologia viva e estudada com muito interesse por cientistas e especialistas ao redor do mundo” –, há rumores de que algumas empresas saíram da área. Maria Cristina expõe a seguinte opinião: “O fato de empresas aparentemente saírem do nosso mercado se deve a um processo de globalização, pelo qual as empresas otimizam a estratégia de atuação em alguns países. Isso implica, algumas vezes, não estarem localizadas fisicamente no país, mas continuarem exercendo as suas atividades por meio de distribuidores especializados.”

Santos considera que o Brasil está “um pouco atrasado” no quesito sustentabilidade e o volume de coatings UV no mercado deve ter índices menores do que os apresentados em escala mundial. “O preço ainda é uma grande barreira para que as tecnologias convencionais sejam substituídas por tecnologias amigáveis ao meio ambiente, como a do UV.” Por outro lado, ele salienta que a ausência de legislações específicas contra tecnologias agressivas ao meio ambiente e toxicidade tem deixado muitos produtores de tintas e vernizes estacionados, não favorecendo a migração para a nova tecnologia.

Ressalva se faz a algumas aplicações, como nos mercados automotivo e imobiliário, em que imperam fatores de ordem técnica: nessas áreas, a tecnologia UV ainda não está totalmente pronta para substituir o convencional. Também diretora técnica da Renner Sayerlack S/A, Maria Cristina pondera que a tendência é de aumento de uso na indústria automobilística, na qual atualmente se aplica a cura por radiação em refletores, lentes de faróis, circuitos impressos e painéis de instrumentos de medição, entre outros. Santos acredita que o segmento de tintas automobilísticas terá uma alternativa UV nos próximos anos.

A Cytec aposta no crescimento contínuo desse mercado, principalmente por causa da busca por sistemas de alta produtividade sustentáveis, e também vê novos horizontes: “Há perspectivas de uso dessa tecnologia em novas aplicações, em novos substratos ainda em desenvolvimento, como nas indústrias alimentícia e automotiva”, afirma Matera.

“Substratos como aço, alumínio e vidro já têm materiais adequados para a formulação de tintas e vernizes curáveis por UV. Isso é fruto de extenso trabalho de pesquisa e desenvolvimento realizado pela Cytec. A nova geração de matérias-primas atende diretamente aos princípios da sustentabilidade: são produtos desenvolvidos de fontes renováveis, fora da cadeia petroquímica, como resinas vegetais. Para a Cytec, a sustentabilidade orienta os investimentos em novos desenvolvimentos”, garante o executivo.

Em síntese, a Cytec aposta nas seguintes tendências de mercado: oligômeros e monômeros especiais para aplicação em vidros e metais; produtos de alta adesão e flexibilidade para plásticos; produtos desodorizados e de contato indireto para embalagens alimentícias e fármacos; e produtos desenvolvidos provenientes de fontes renováveis.

Além da pesquisa e desenvolvimento de novas matérias-primas obtidas de fontes renováveis, Maria Cristina destaca a tendência de aplicação para uso em exterior, como em outdoors, por exemplo. “Também são uma tendência as tintas em pó UV, pois agregam as vantagens das duas tecnologias, a em pó e a produtividade proporcionada pela tecnologia UV, assim como a tecnologia do UV base água”, comenta.

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Santos: mercado pede insumos de origem natural e renovável

A tendência de produto sustentável é o assunto do dia em comitês e reuniões envolvendo o UV. “Apesar de ser a tecnologia mais amigável ao meio ambiente e ter solucionado pontos como VOC e solventes, 95% das matérias-primas ainda provêm do petróleo”, declara Santos. Diante disso, “existem diversos movimentos para que sejam desenvolvidos produtos à base de fontes renováveis. A Quiminutri, como um agente promotor desta mentalidade, hoje já trabalha com produtos com alto percentual de ácidos graxos, como alguns poliésteres, epóxis e monômeros. O destaque, porém, fica por conta da resina epóxi acrilada AgiSyn SAU-4. Esta resina tem por base o óleo de soja (contém em torno de 65% de óleo de soja no produto final) e ainda apresenta vantagens econômicas em relação à epóxi convencional”.

O mercado de matérias-primas UV é o grande foco da Quiminutri. “O desempenho do mercado tem sido muito satisfatório para a empresa e a expectativa é a de que essa tendência se mantenha ou cresça ainda mais nos próximos anos”, revela Santos. “Com a constante renovação das matérias-primas e os atributos de novas tecnologias, mês a mês conquistamos novas aplicações sempre com a vantagem de ser uma tecnologia de cura instantânea e de excelente acabamento.”

O fato de a Quiminutri ser uma empresa completa no ramo de coatings UV – dispõe de produtos em todas as áreas, como oligômeros, monômeros, fotoiniciadores, aditivos e pigmentos – é, segundo Santos, “um grande diferencial no mercado”. Ele explica: “A possibilidade de comprar um pacote de produtos para UV em uma única empresa e com preços competitivos faz da Quiminutri um referencial tanto para usuários consolidados como para novos usuários que pretendem entrar no mercado. Podemos sugerir e fornecer todas as matérias-primas para se formular desde as aplicações básicas até as de alta tecnologia.”

Há, no entanto, barreiras a serem superadas. Se for verdade que há “grandes oportunidades” na substituição do sistema convencional para o UV, “em muitos casos não se tem ainda um produto que atenda às expectativas no quesito adesão”, comenta Santos. “Existe um grande movimento por parte dos principais fabricantes para o desenvolvimento de promotores de adesão. A superação dessa barreira possibilitará que a tecnologia continue a crescer exponencialmente em volume.”

Outra “grande tendência”, na avaliação de Santos, é a onda digital. O mercado de Ink Jet UV tem crescido e se firmado tecnicamente. Grandes gráficas apostam nisso. O diferencial novamente fica por conta da velocidade do sistema. “A impressão digital UV pode ser aplicada em vários substratos como madeira, tecido, papel, metal etc.”, ressalta Maria Cristina.

Há, no entanto, uma barreira no quesito pigmentos, que passa por evoluções constantes. Nos primeiros anos da década de 80, quando foram apresentadas as primeiras aplicações gráficas, havia diversas limitações nos pigmentos e na espessura da camada. A grande barreira proporcionada pelos pigmentos é que eles possuem um range de absorção de luz para funcionamento ideal e o agente que proporciona a cura na tecnologia, isto é, o fotoiniciador, também possui uma absorção de luz. “Deve-se atentar a ambas as faixas de absorção e escolher criteriosamente tanto o pigmento quanto o fotoiniciador, pois eles devem ser trabalhados e explorados em diferentes faixas para que um não anule ou prejudique a ação do outro. Quando se fala em limitação de cores em UV é justamente este o ponto a ser acertado, o pigmento correto para não afetar a performance do fotoiniciador e, consequentemente, prejudicar a cura da tinta”, explica Santos.

Ele informa ainda que, além do ponto de escolha, é comum a dificuldade em se obter uma excelente performance em questão de umectação de pigmento. “Para isso, porém, já existem resinas, preferencialmente poliésteres acriladas, como as AgiSyn 705, AgiSyn 706, AgiSyn 720, AgiSyn 721 e AgiSyn 722, todas da Quiminutri. A sua ação pode ser melhorada e intensificada com o uso de aditivos dispersantes e monômeros exclusivos para reduzir a viscosidade e não afetar significativamente o poder de umectação.”

Outro desafio (como o das cores) era a barreira de camadas classificadas como altas. Como o sistema consiste na incidência de um raio de UV no coating, quanto maior o caminho a ser percorrido por este raio maior será a dificuldade de ele ter uma performance ideal. “Hoje, a tecnologia já proporciona soluções para que o raio encontre um fotoiniciador específico e tenha a performance desejada. Exemplo disso é o fotoiniciador Omnirad 808 para cura em altas espessuras”, declara Santos.

Química e Derivados, Maria Cristina Kobal Campos de Carvalho, RadTech South America, tintas em pó UV
Maria Cristina: tintas em pó e base água têm versões UV

Matera assinala que não há limitações de cores e alerta: “Há que se formular corretamente, dependendo da cor a ser curada, com a correta definição do fotoiniciador, que tem desempenho distinto, de acordo com a cor. A diferença ocorre por causa da penetração da radiação UV na camada do revestimento, de acordo com a pigmentação”, adverte. Maria Cristina explica que “com o desenvolvimento de fotoiniciadores especiais, que conseguem absorver a radiação ultravioleta além das faixas em que os pigmentos absorvem, atualmente é possível fazer praticamente qualquer cor. O que pode limitar a aplicação são as espessuras e a cobertura, quando se trata de cores como os brancos, os cinzas, os verdes e os amarelos”.

De maneira geral, 98% das matérias-primas utilizadas em sistemas UV são importadas atualmente, calcula Santos. Maria Cristina se arrisca a dizer que “pelo menos 85% dos insumos ainda são importados”. Matera diz que “a maior parte dos produtos fornecidos pela Cytec ainda é importada, principalmente monômeros e oligômeros especiais. Mas, com a demanda crescente do mercado sul-americano, cada vez mais produtos estão sendo fabricados no Brasil”.

Santos afirma que “o grande problema” da produção local é a qualidade dos insumos: “Mercados como o de tintas gráficas necessitam de produtos de maior qualidade como, por exemplo, menor índice de acidez, maior pureza, menor cheiro e cor. Os produtores locais ainda não possuem estrutura e tecnologia para atender a tais expectativas.” O segmento de mercado de madeira é um pouco menos exigente e, neste caso, os principais usuários produzem as suas próprias resinas.

O ponto crucial para se ter um produto de qualidade é a pureza e o índice de acidez. Ambos estão relacionados à lavagem do produto para purificá-lo. O desafio, continua o executivo da Quiminutri, é o destino do líquido residual da lavagem, o qual é extremamente tóxico e precisa de alta tecnologia para tratamento e descarte. “Possivelmente, alguns produtores poderiam purificar os produtos, Este custo, porém, é tão alto que o processo se tornaria inviável e justificaria a importação”, avalia.

Santos aprofunda a questão: “Infe­lizmente ainda não vemos movimentação dos grandes fabricantes para se montar uma fábrica no Brasil. A maior parte dessas empresas pertence a grupos internacionais que possuem fábricas na Ásia. Existe, sim, uma perspectiva e um desejo de se ter um produtor local de qualidade e que possa atender o mercado com o material exigido, porém isso ainda não é transmitido pelos detentores de tecnologia. Em muitos casos, importar ainda é muito mais vantajoso do que produzir localmente e a barreira de preço é o que pesa nesta balança.”

Química e Derivados, Alberto Matera, Cytec América do Sul, formulação sem limitação de cores
Matera: formulando direito, não há limitação de cores

A valorização do real em relação ao dólar é um fator que favorece as importações. Enquanto Matera ressalta que “já existe considerável produção de algumas matérias-primas no Brasil”, Santos destaca que, para o distribuidor, a estabilidade cambial é desejável, “pois nem sempre se importa e se vende de imediato e, em alguns casos, certos produtos permanecem em estoque por um longo período, o que ocasiona perdas financeiras consideráveis”. O ambiente ideal, acrescenta, “seria o de completa estabilidade. O câmbio aumentando para o distribuidor não é ruim pelo fato de o estoque não se desvalorizar, porém não é favorável para os clientes, tendo em vista que os seus custos em moeda local aumentam proporcionalmente”.

A Quiminutri vem investindo forte em pesquisa e desenvolvimento em busca de novas aplicações com a tecnologia UV. “Dentro de dez ou vinte anos, o UV deverá se tornar uma das tecnologias mais populares no mercado de coatings. Há muito a se trabalhar, mas grandes projetos estão sendo aprovados constantemente, o que motiva e financia novos desenvolvimentos por parte dos fabricantes”, comenta Santos.

Matera conclui que a Cytec é uma empresa que foca os seus esforços em tecnologias sustentáveis, concentrando investimentos em pesquisas para a obtenção de sistemas de alto desempenho que utilizam fontes naturais renováveis de matéria-prima e também em processos ecologicamente corretos. “Para a Cytec, não basta oferecer os melhores produtos. Queremos também que nossos clientes produzam de forma responsável e sustentável. Por isso, oferecemos cursos, palestras e treinamentos sobre a aplicação de alguns produtos.”

 

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