Tintas – Uso de madeira na construção pede mais proteção e acabamento

química e derivados, Tintas - Aplicação de verniz sobre chapa de madeira, na Renner SayerlackPerdem de um lado, ganham do outro. Se hoje encontram ambiente menos favorável no segmento da produção de móveis, os fornecedores de produtos para proteção e acabamento de madeira podem se beneficiar da contínua expansão do agribusiness no Brasil, e de um uso mais vasto dessa matéria-prima na construção civil, a ponto de exigir a definição de normas específicas (ver post).

E, obviamente, eles se valem também da crescente oferta de madeira de reflorestamento e dos painéis compostos, como aglomerados e compensados de sobras de madeira, que têm na indústria química uma aliada capaz de torná-los concorrentes mais adequados das chamadas madeiras nobres, mais raras, mais caras e mais submetidas à vigilância dos interessados na preservação ambiental.

Na indústria moveleira, porém, os negócios desse setor enfrentam uma conjuntura adversa, em parte, relacionada à complicada situação econômica dos países de economia mais desenvolvida, e seu impacto na exportação de móveis. Outros, decorrentes de um processo de substituição de tecnologias no qual, em detrimento das tintas e vernizes, películas e filmes ganham espaço crescente como alternativas de revestimento dos móveis (por enquanto, especialmente daqueles de menor valor).

Resultado: “No segmento moveleiro, a disputa é atualmente muito focada no preço”, observa Fábio Fortes, gerente de negócios da AkzoNobel Wood Finishes and Adhesives (unidade do grupo AkzoNobel responsável pelos negócios com produtos para madeira comercializados em escala industrial). Nesse mercado dos móveis, ele destaca, os negócios hoje se resumem basicamente a tecnologias já consolidadas, como o acabamento com poliuretano, algum uso de nitrocelulose (com a qual são formuladas as lacas), e a cura por radiação ultravioleta. “Mesmo a cura por ultravioleta, uma tecnologia ainda mais nova – relativamente às duas outras –, já é quase uma commodity”, enfatiza Fortes.

Até mesmo como consequência dessa conjuntura, não há atualmente grandes inovações na tecnologia de produtos para proteção e revestimento da madeira destinada a móveis, informa o gerente da AkzoNobel. “Há evolução nos aspectos decorativos; por exemplo, com o uso de pigmentos de efeito, como aqueles que mudam de cor conforme o ângulo de visão”, ressalta.

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Fortes: focado em preço, setor moveleiro tem pouca inovação

Mas, se a conjuntura lhes é pouco favorável na indústria moveleira, as empresas focadas na proteção da madeira veem com entusiasmo o atual momento de um cliente tradicional e extremamente relevante: o setor agropecuário, em aplicações como mourões e esticadores de cercas. E, paralelamente, apostam de maneira incisiva no mercado da construção civil, no qual cresce o uso da madeira não só no próprio processo construtivo, mas também como elemento estrutural e decorativo.

Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa, no Brasil não havia a cultura de utilização da madeira na construção civil, como observa Dulcidio Macedo, diretor técnico-industrial da Montana (empresa de capital brasileiro especializada em produtos para madeira). “Agora se usa mais esse material nas estruturas de telhado, ou nas vigas de imóveis comerciais e residenciais”, ele destaca. “Devidamente tratada, a madeira pode ser mais durável que os outros materiais usados em construção.”

 

Água na madeira – Apesar do aparente paradoxo – teoricamente, a água é grande inimiga da madeira –, consolidou-se nos últimos anos, na indústria de proteção e revestimento desse material, um processo de acentuada expansão mercadológica dos produtos elaborados em base aquosa. Por enquanto, esse mercado ainda é menor em relação ao dos produtos com base em hidrocarbonetos, mas cresce rapidamente.

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Campos: vernizes de base aquosa têm vantagens até na tributação

A marca Sparlack, com a qual a AkzoNobel disponibiliza vernizes e stains para madeira não destinados a aplicações industriais – utilizados, por exemplo, por marceneiros e no uso doméstico –, há cerca de três anos relaciona a base água em seu portfólio. “Esses produtos têm sido bem-aceitos, até porque conseguimos dotá-los da performance daqueles baseados em solventes”, afirma Tamara Góes, gerente da marca Sparlack. “E produtos com base água têm teor baixíssimo de VOC, baixa emissão de CO2 e de odor”, destaca a gerente da AkzoNobel (empresa que atua com a marca Coral no segmento das tintas para madeira).

Além disso, ressalta Nelson Junior Pinto de Campos, gerente nacional de vendas da Renner Sayerlack, produtos confeccionados com base água destinados ao varejo receberam alguns benefícios fiscais, e isso favoreceu sua comercialização. A Renner Sayerlack disponibiliza uma linha completa de vernizes e stains com base água, denominada Aquaris. Por enquanto, a base água gera cerca de 10% dos negócios realizados no Brasil pela Renner Sayerlack. Na Itália, porém, essa empresa mantém desde 2004 uma planta exclusivamente dedicada a esses produtos.

Mas a busca por produtos para madeira ambientalmente mais saudáveis não gera apenas produtos com base água: a AkzoNobel, afirma Fortes, desde o final do ano passado não usa mais nenhum pigmento à base de metais pesados. “E esse mercado usa bastante tais pigmentos, especialmente cromatos de chumbo e molibidatos, que nós substituímos por pigmentos orgânicos”, ele detalha.

Além disso, prossegue Fortes, sua empresa realiza estudos para a substituição de outros componentes, como estireno e plastificantes derivados de ftalatos. “Os produtos com base água, por sua vez, respondem atualmente por mais de 40% de nosso volume de vendas”, informa.

A Montana, conta Macedo, ainda este ano lançará linha de produtos destinada ao mercado da construção civil totalmente fundamentada na base água. Ela será produzida em um espaço a ser construído no local onde hoje está a área de expedição da empresa, que em meados do ano será transferida para uma instalação em um terreno anexo à fábrica, na zona sul da cidade de São Paulo.

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Macedo: setor deve oferecer alternativas de smart coating, com funções específicas

Renovável e inteligente – Ao lado do maior uso da base água, pode ser percebido o início do aproveitamento de insumos de fonte renovável na indústria dos produtos para proteção e acabamento da madeira. A Montana, revela Macedo, trabalha no desenvolvimento de ácidos graxos dotados de propriedades fungicidas e bactericidas obtidos de óleos vegetais. “Já temos resinas formuladas com ácidos graxos provenientes de óleo de soja e de babaçu. E já se produzem resinas para sistemas poliuretânicos com óleo de mamona”, acrescenta Macedo.

Na opinião do diretor da Montana, além de atender às demandas próprias da sustentabilidade, esse setor deve trabalhar de maneira mais decidida com o conceito do smart coating (proteção inteligente), destinado a atender, com produtos específicos, demandas também muito específicas, utilizando revestimentos capazes, por exemplo, de responder aos estímulos ambientais de variações de luz, temperatura, umidade e pressão, entre outros. Exemplo de um smart coating “pode ser um revestimento para móveis de cozinha com resistência química a produtos de limpeza, ou a café, vinho, vinagre”, especifica Macedo.

Mas parece haver também maior demanda por produtos já consagrados em outros países, e ainda pouco utilizados no Brasil; caso dos retardantes de chama, que a AkzoNobel começa a oferecer com maior intensidade no mercado nacional (por enquanto, eles são produzidos em uma planta italiana da empresa). “Temos hoje duas tecnologias de retardantes, ambas para poliuretanos, à base de água e com solvente”, conta Fortes.

Segundo ele, a demanda por retardantes de chamas cresce no Brasil porque se amplia o uso das portas prontas, um dos maiores segmentos consumidores desse gênero de produtos, e porque a legislação de alguns municípios do país impõe sua aplicação por parte das construtoras.

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Madeira aparente precisa de proteção contra o sol, fungos, algas e insetos

Recentemente, prossegue Fortes, a AkzoNobel lançou uma linha de tintas para móveis infantis, entre outras aplicações, com funções bactericidas e fungicidas. No mercado da construção civil, Fortes projeta o crescimento dos negócios relacionados a itens como portas, janelas e vigas. “Não vejo crescimento em pisos, até porque, nesse caso, há a concorrência de materiais que imitam madeira, como pisos cerâmicos, plásticos”, pondera o gerente da AkzoNobel, que prevê para este ano um incremento de 10% nos negócios realizados pela empresa com produtos para madeira utilizados em escala industrial.

 

Por sua vez, a Thor atua no mercado da proteção da madeira basicamente pelo fornecimento do ativo IPBC, fungicida passível de utilização tanto na preservação quanto em formulações de tintas e vernizes para acabamento de madeira. “A forma como nossos produtos são apresentados ao mercado é que nos difere da concorrência, pois é baseada na tecnologia Advanced Micro Matrix Embedding”, destaca Ridnei Brenna, diretor-geral da Thor Brasil. “Trata-se de um método de produção de fungicidas e algicidas por encapsulamento de ativos em microcápsulas que promovem benefícios técnicos e menores riscos relacionados à utilização de biocidas em formulação de tintas e vernizes, principalmente em base água”, descreve.

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Brenna: microencapsulamento aproveita melhor os biocidas

“Verdes e impregnados” – Este ano, a Montana deve registrar incremento de negócios similar àquele previsto para o PIB do país: algo entre 4% e 5%, estima Rafael Ferreira, gerente de marketing e comunicação da empresa. Para ele, pode haver crescimento de negócios até mesmo na indústria moveleira, especialmente naquela focada nos consumidores de alto padrão, e no mobiliário para escritórios. “Um móvel de madeira é personalizado. Em Milão, cidade italiana que puxa as tendências nessa indústria, percebe-se a tendência de uso maior de madeira em móveis”, justifica Ferreira. “Mas os negócios crescem especialmente na construção civil e nas madeireiras fornecedoras do agribusiness”, complementa.

No caso de produtos destinados ao agribusiness e também à proteção de postes, parecem ainda predominar soluções bastante tradicionais, como aquelas à base de CCA (arseniato de cobre cromatado), aplicadas por sistemas de vácuo-pressão. Na Montana, esse produto é comercializado com a marca Osmose K33: “Ele possui alto poder de fixação e protege a madeira dos ataques de organismos xilófogos (deterioradores da madeira), como insetos, fungos apodrecedores e perfuradores marinhos, e a madeira tratada com ele é utilizada em segmentos como construção civil, rural, marítimo-fluvial, transportes, eletrificação, telefonia e indústrias”, detalha Macedo.

Para ele, em diversos segmentos haverá uso mais intenso de produtos capazes de associar a proteção conferida por um revestimento – geralmente, contra intempéries e outros fatores ambientais –, com uma impregnação pela qual o substrato é resguardado também da ação de outros agressores, como os fungos. Nesse quesito, destaca-se o stain, já muito empregado na proteção de portas, janelas, vigas, estruturas roliças para construções e decks. “O stain tem vantagem também na manutenção: para haver maior aderência, o verniz e a tinta velhos precisam ser removidos antes da manutenção, e com o stain basta uma limpeza”, compara Macedo.

Segundo ele, o stain Osmocolor, da Montana, também confere efeito decorativo, pois possui dezenove cores diferentes. E é registrado como stain preservativo no Ibama (registro necessário para os produtos preservativos da madeira). “O Osmocolor protege a madeira das intempéries, possui fungicida, filtro solar e resinas hidrorrepelentes”, destaca.

Na Renner Sayerlack, alguns produtos – tanto base água quanto base solvente – têm entre seus diferenciais a combinação de ultrabloqueador, triplo filtro solar e uma tecnologia exclusiva de proteção antibacteriana denominada Microban.

Recentemente, a Renner Sayerlack lançou o stain Polisten Acqua (versão base água de um produto antes comercializado apenas com solventes). “Ele é indicado para uso em áreas internas e externas, como decks, e tem durabilidade garantida de três anos”, destaca Campos.

Ele considera “bastante razoável” a obtenção, no decorrer deste ano, de um crescimento entre 6% e 8% nos negócios da sua empresa. “Por ser ela a única matéria-prima realmente renovável, pela sua facilidade de uso e pela durabilidade e beleza que confere aos diversos projetos, deve crescer substancialmente nos próximos anos o uso de madeira na construção civil”, avalia o gerente da Renner Sayerlack.

Para ele, também crescerá muito o uso de madeira certificada, originária de áreas de replantio sustentável; e essa demanda deverá ser acompanhada por produtos de proteção e acabamento capazes de aliar alta performance ao cuidado com o meio ambiente. “Os produtos base água têm respondido a essa necessidade”, especifica Campos.

Como explicou, é possível formular tintas e vernizes base água com resinas especiais usadas habitualmente pela indústria: acrílicas, alquídicas, poliuretânicas, melamínicas e mesmo as fotocuráveis, desde que essas resinas também sejam solúveis em água, neste caso, apre-sentadas na forma de soluções, emulsões ou dispersões, dependendo do processo produtivo. “Os produtos base água têm resistência química, física e durabilidade similares ou até melhores, porém o único limitante que ainda encontramos é a obtenção de alto brilho, como obtemos com produtos base solvente”, avaliou.

 

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