Tintas e Revestimentos – Solventes: Linhas commoditizadas sofrem mais com o avanço das importações

Química e Derivados, Tintas e Revestimentos - Solventes: Linhas commoditizadas sofrem mais com o avanço das importações
As vendas de solventes industriais sofrem com a inconstância dos movimentos da indústria de transformação no Brasil.

O acompanhamento da demanda em 2013 não permite traçar um planejamento claro para atender este mercado incerto, desautorizando o exercício de previsões de qualquer espécie.

“O primeiro semestre de 2013 foi absolutamente frustrante para a distribuição química, afetada por um mercado industrial anêmico, sem forças para crescer, inovar e mudar”, lamentou João Miguel Thomé Chamma, presidente da BandeiranteBrazmo.

Mesmo com incentivos oficiais para alguns setores, a exemplo dos eletrodomésticos e automóveis, a atividade de transformação não deslanchou.

Chamma analisa que os incentivos ajudaram a não derrubar a atividade produtiva, mas não houve estímulo para crescer.

João Miguel Chamma - Bandeirante Brazmo: insumos seguem o passo da indústria de transformação
Chamma: insumos seguem o passo da indústria de transformação

“Não diria que estamos em um ano negativo, pois não houve retrocesso em termos de volumes vendidos, mas não registramos nenhum avanço e não há sinais de melhora à vista”, avaliou.

Ele espera uma elevação na venda de solventes e de outros produtos químicos no segundo semestre, respeitando a tradicional sazonalidade do mercado, que concentra negócios entre julho e outubro. “Julho não está com vendas tão boas quanto esperávamos”, disse.

A grande preocupação do distribuidor reside no planejamento de compras para atender a uma possível demanda reprimida. Caso os compradores se animem e coloquem pedidos em peso para entrega concentrada em poucos meses, pode haver até uma escassez localizada. “A distribuição planeja suas compras e a formação de estoques com uma antecedência de dois a três meses; nós estamos estudando os cenários plausíveis para o segundo semestre, mas pode ser que a demanda se comporte diferente do que imaginamos”, considerou.

Antonio Leite, diretor global da unidade de negócios de solventes da Rhodia, empresa do grupo Solvay, corrobora essa avaliação de mercado. “Tivemos um primeiro semestre ruim, com uma retração de demanda da ordem de 3% a 5%, situação piorada pelo aumento das importações de solventes, especialmente oriundos dos Estados Unidos, produzidos com gás natural barato”, afirmou. No campo dos solventes oxigenados, a situação é pior no acetato de butila, pois o único fabricante nacional de butanol conseguiu impor sobretaxas contra a importação a título de antidumping e ainda foi beneficiado pela elevação da Tarifa Externa Comum (TEC, do Mercosul). “No acetato de etila, por exemplo, somos competitivos e até exportamos para os EUA, mas, no caso do butila, tivemos de nos esforçar muito para manter a produção e o suprimento aos clientes”, comentou.

No campo dos oxigenados, Leite comentou que os produtos mais tradicionais, commoditizados, como os acetatos de etila e butila, a acetona e o isopropanol, foram os mais atacados pela concorrência internacional. Os solventes de desenvolvimento recente, caso da linha Augeo, com conteúdo de origem renovável, registraram até crescimento de vendas. “São produtos premium, que ainda têm muito espaço para crescer”, justificou.

O mercado de solventes reflete diretamente as incertezas do setor industrial. Em um ambiente de alta competição, ampliada com a chegada de novos players globais, em especial nas linhas sintéticas (oxigenados), e com demanda débil, não se registrou grande interesse pela introdução de solventes mais amigáveis ao meio ambiente e à saúde humana. “Conseguimos avançar em algumas aplicações específicas com as vendas da linha Augeo, da Rhodia, produtos de origem renovável, mas o mercado em geral não apresentou modificações significativas de produtos”, comentou Chamma.

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Mesmo assim, ele informou que os clientes não voltaram atrás na tendência de substituição de solventes aromáticos pelos oxigenados. O tolueno, com alto poder de dissolução, é a principal estrela dos hidrocarbônicos. “Como a petroquímica mundial hoje se apoia mais no gás natural do que na nafta, a produção de aromáticos está em queda, justificando a elevação de preços, especialmente do tolueno, a patamares bem próximos dos oxigenados, como o acetato de etila”, explicou. Isso tem motivado a aumentar a substituição de aromáticos pelos solventes mais amigáveis.

Leite confirma que a evolução dos preços do tolueno fez com que ele se aproximasse dos solventes sintéticos substitutos. Mas, como o comportamento dos mercados está muito volátil, os clientes temem introduzir modificações na sua linha de produtos. Isso acontece, segundo ele, no mercado de adesivos, ainda muito dependente dos aromáticos. “Esse mercado tem sofrido mais nos últimos meses”, identificou Leite.

Os hidrocarbonetos alifáticos, menos agressivos ao ambiente, já conquistaram todo o espaço de mercado possível. “Os alifáticos hidrogenados obtiveram um crescimento notável de alguns anos para cá, mas não conseguem crescer mais por falta de oferta”, afirmou.

As estatísticas da ANP registram o fenômeno da redução de demanda dos solventes hidrocarbonetos. As vendas internas totais de 2010 registraram 1.604.841 m³, passando a 1.213.474 m³ em 2011, e para 1.604.841 m³ no ano passado, porém esses números incluem o benzeno, usado como insumo industrial, que teve um aumento significativo de volume comercializado em 2012, pulando de 327.386 m³ em 2010 para 782.050 m³. Sem o benzeno, a venda de solventes em 2012 foi de 822.139 m³, contra 891.727 m³ de 2010. Ressalte-se que 2011 foi um ano atípico, marcado por paradas não programadas em unidades petroquímicas.

Entre os oxigenados, o Brasil conta com uma grande participação do etanol anidro em aplicações industriais. Houve dificuldades de suprimento no começo do primeiro semestre, mas a entrada da safra deste ano, em abril, reduziu as instabilidades. “O etanol tem um mercado muito volátil, ele é antes de tudo um combustível automotivo, o uso industrial é considerado secundário, não dá para prever o comportamento dos preços”, explicou Chamma.

O cenário global apresenta uma oferta folgada de solventes industriais, em todas as linhas de produtos. A baixa atividade europeia e a lenta recuperação americana, somada ao fraco desempenho chinês, são suficientes para conter os preços. “Porém os custos estão subindo, isso quer dizer que as nossas margens estão cada vez mais apertadas”, lamentou Chamma. Essa situação restringe os investimentos da distribuidora às atividades de manutenção e à adaptação aos aspectos regulatórios, deixando na gaveta projetos de ampliação.

A Rhodia/Solvay lista entre seus principais clientes de solventes os setores automotivo, de embalagem e o industrial. A indústria automobilística, incluindo as tintas originais e de repintura, é uma forte consumidora de acetato de butila; e conseguiu manter seus níveis de produção ao longo do primeiro semestre de 2013. Nesse campo, porém, houve uma penetração significativa de solventes importados.

O setor de embalagem, um cliente tradicional que vinha registrando bons resultados nos últimos anos, apresentou queda de demanda neste ano. “É um ramo muito diversificado, talvez tenha aumentado a importação de produtos finais já embalados, ou houve uma retração do consumo por parte da população”, considerou Leite.

Para o segundo semestre, o diretor da Rhodia/Solvay considera que a desvalorização do real, ocorrida a partir de junho, somada aos incentivos à produção industrial começarão a gerar efeitos positivos. “A indústria química está no começo das cadeias produtivas, ela depende da reativação dos elos a jusante para recuperar seu fôlego”, comentou. Por enquanto, Leite não vê sinais de uma demanda tão firme capaz de reverter até o final do ano o mau desempenho do primeiro semestre. “Vai ser um ano difícil”, prevê.

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