Tintas: Retomada dos setores imobiliário e automotivo

Perspectivas 2023: Volumes de vendas devem ser maiores com a retomada dos setores imobiliário e automotivo

Dados coletados pela Associação Brasileira da Indústria de Tintas (Abrafati) indicam que 2022 foi o segundo melhor dos últimos dez anos, em termos de produção volumétrica.

Ficou atrás apenas de 2021, quando a demanda pelos produtos da linha imobiliária registrou forte aumento.

A expectativa da associação para 2023 é de produzir volumes ainda maiores, considerando o ritmo da construção de imóveis e também a esperada recuperação da indústria automobilística que ainda sofreu com o suprimento irregular de componentes em 2022.

Ao todo, a indústria brasileira de tintas registrou volume de vendas 4% inferior ao de 2021.

A queda se explica pelo comportamento das linhas decorativas imobiliárias, com recuo de 5,2%.

Como esse segmento é de longe o maior do setor, mesmo com o desempenho positivo dos demais segmentos, o resultado global ficou no vermelho.

Tintas: Retomada dos setores imobiliário e automotivo ©QD Foto: iStockPhoto
Cornacchioni: sustentabilidade ganha força com programa setorial

“É preciso considerar que 2021 foi um ano fora da curva, a venda das tintas imobiliárias cresceu 5,8% sobre o volume de 2020, que já tinha sido bem melhor que o de 2019”, comentou Luiz Cornacchioni, presidente-executivo da Abrafati.

“Ninguém pinta a casa todos os anos, como houve um pico em 2021, é natural o aparecimento de um recuo no exercício seguinte.”

Ele também apontou que 2022 registrou vendas crescentes em novembro e dezembro, voltando ao ritmo histórico de vendas.

“Em 2021, houve uma queda sensível de vendas nos meses finais do ano, isso deixou o setor apreensivo”, informou.

Em outubro último, as vendas tiveram uma retração decorrente da agitação produzida pelas eleições e pela Copa do Mundo de futebol.

Historicamente, os brasileiros costumam pintar suas casas antes dos festejos de fim de ano.

O presidente da Abrafati considera que o isolamento obrigatório durante a pandemia melhorou a percepção dos consumidores sobre a importância de cuidar melhor das suas casas, buscando tintas de melhor qualidade e com o uso mais variado de cores.

Aliás, segundo a associação, aproximadamente 75% do mercado de tintas imobiliárias estão voltados para pintura de imóveis existentes.

E há um mercado latente nesse campo, pois estima-se que 25 milhões de unidades habitacionais precisam de pintura externa no Brasil.

Ao todo, segundo dados do Grupo Construção é +, que reúne todos os elos da cadeia produtiva da construção civil, das indústrias de materiais às empresas do comércio especializado e construtoras, existem 75 milhões de moradias em todo o Brasil, país com um déficit habitacional avaliado em 7 milhões de unidades.

“Em 2022, houve aumento na entrega de unidades habitacionais novas, número que deve crescer em 2023, podendo recuar ligeiramente em 2024 e 2025, com base no ritmo de lançamentos efetuados nos últimos anos”, comentou Cornacchioni.

Considerando os dois governos anteriores de Lula, é possível esperar investimentos mais robustos em programas habitacionais para a população de baixa renda, como o Minha Casa Minha Vida (MCMV) e o Cartão Reforma.

“Naquela época, esses programas trouxeram bons resultados para a venda de tintas; vamos ver se o resultado será o mesmo agora”, apontou Cornacchioni. Em média, uma unidade do MCMV consome 60 litros de tintas.

Tintas: Retomada dos setores imobiliário e automotivo ©QD Foto: iStockPhoto
LINHA IMOBILIÁRIA REGISTRA QUEDA NAS VENDAS

Demais segmentos – Os resultados setoriais de volumes vendidos foram mais animadores nos segmentos de pintura automotiva original e tintas para indústrias.

A repintura automotiva registrou aumento de 1% nas vendas, porém é necessário salientar que esse segmento registrou alta de 4% no ano anterior e agora mostra acomodação.

“A produção de automóveis no Brasil começou a se recuperar do tombo da pandemia, quando o suprimento de peças importadas foi interrompido, paralisando as fábricas”, comentou Cornacchioni.

Com a melhoria nos fornecimentos, foi possível produzir 2 milhões de unidades em 2022, puxando o consumo de tintas OEM para 33 milhões de litros (5,4% de aumento sobre 2021).

Porém, o presidente da Abrafati não espera que a produção automotiva nacional passe de 2,5 milhões a 3,0 milhões de unidades anuais.

“A produção de carros de luxo foi descontinuada, eles estão sendo importados; por aqui ficaram as linhas de carros pequenos e médios”, explicou.

A venda de tintas OEM em 2022 cresceu, mas ainda ficou abaixo dos volumes comercializados em 2019, antes da Covid.

É preciso salientar que o preço dos carros subiu muito durante a pandemia e não há sinais de retração, afugentando compradores. “Olhando nas ruas, percebemos que a frota nacional está envelhecida.”

As tintas de aplicação industrial voltaram a apresentar crescimento de vendas em 2022, de 2%, depois de uma alta expressiva em 2021, de 4%.

“A demanda nos segmentos de agropecuária, óleo e gás, e infraestrutura (saneamento, energia, transportes e outros) segue forte e ainda há oportunidades despontando”, considerou o presidente-executivo.

Ele também apontou o bom desempenho dos produtos para casa, como eletrodomésticos, entre os puxadores de vendas.

“O segmento industrial é muito diversificado, há aplicações como vernizes sanitários para embalagens que estão bombando, assim como o consumo de tintas para demarcação viária, muito demandadas pelas concessionárias de rodovias”, comentou.

Até o ramo de tintas em pó, que enfrenta feroz concorrência asiática, registra bons resultados. “Houve uma depuração nesse mercado e quem permaneceu nele conta com tecnologia avançada.”

No entanto, a desindustrialização acelerada do país é motivo de preocupação. Produtos finais importados já vêm pintados e isso significa perda de mercado para os fabricantes locais de tintas.

Considerando esse quadro, a Abrafati prevê um aumento entre 2% e 2,5% no volume de vendas de tintas em 2023, justificado pelo comportamento das linhas imobiliárias, principalmente, mas com a participação dos setores automotivo e industrial.

“Temos uma visão otimista, que deve contar também com o estímulo da Abrafati 2023, com exposição e congresso internacional do setor, marcada para 21 a 23 de novembro no São Paulo Expo”, disse Cornacchioni.

A realização deste encontro setorial marcará retorno à periodicidade normal (bienal), pois depois dele o próximo encontro será realizado apenas em 2025, voltando ao mês de setembro, sua época tradicional.

“A pandemia provocou o adiamento de duas edições, realizamos uma no ano passado e faremos agora outra, assim acertaremos o passo com um intervalo mais compatível, até em relação às feiras de outros países, esse é um desejo do setor”, explicou.

Melhoria contínua – A evolução tecnológica do setor de tintas toma por base os programas de qualidade e de sustentabilidade desenvolvidos pela Abrafati.

Mais conhecido do mercado, o Programa Setorial da Qualidade (PSQ) registra aumento constante de adesões de indústrias participantes, além de prosseguir alargando o leque de produtos avaliados.

“Os consumidores saem ganhando com a garantia de adquirir tintas com maior durabilidade e mais seguras”, afirmou.

No campo da sustentabilidade, a Abrafati consolida seu programa que segue as diretrizes globais de ESG (ambiente, social e governança), contando com uma plataforma para coleta de informações dos participantes em 44 indicadores, elaborados mediante ampla discussão dentro do setor.

“Estamos recebendo até a primeira quinzena de fevereiro os dados dos indicadores enviados pelas empresas para elaborar uma auditoria setorial, a segunda deste programa”, comentou.

Os dados são coletados e tratados pelo Instituto Akatu, com metodologia adequada. Cada empresa recebe um boletim contendo seus próprios dados, cotejados com as médias do setor.

“Nós, da Abrafati, recebemos apenas as médias setoriais e, com base nos resultados, poderemos estabelecer planos de ação para melhoria, enfocando os pontos críticos”, ressaltou.

Cada empresa, com base nas informações recebidas, deve verificar quais os aspectos que precisa aprimorar.

Ao longo de 2023, serão promovidos seminários para facilitar o intercâmbio de experiências com o objetivo de elevar as médias dos indicadores.

No fim do ano, será iniciado um novo ciclo, com a coleta de dados para avaliação setorial.

“Os indicadores nacionais são coerentes com os usados pelas entidades internacionais; por exemplo, haverá uma reunião do Conselho Mundial de Tintas (WCC), em março, na Turquia, onde poderemos mostrar nossos indicadores e comparar com os demais, embora o WCC tenha fechado seu primeiro relatório em 2022 sem números”, disse.

Com base nas observações dos programas de qualidade e sustentabilidade, a Abrafati promove discussões entre fabricantes e fornecedores, no conceito de hub de inovação.

“Há questões comuns a todas as empresas, não se trata de segredo industrial, mas de indicar diretrizes; nosso papel é estimular os fornecedores a desenvolver novos insumos dentro desses critérios”, explicou.

“Há muita coisa para fazer em tintas, a evolução é forte.”

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