Tintas Metalográficas – Demanda firme contribui para a evolução do setor
Tintas Metalográficas – Os fabricantes de tintas para aplicações industriais sobre superfícies metálicas, as chamadas linhas metalográficas, têm muitos motivos para exibir largos sorrisos nas festas de fim de ano.
Ambos os segmentos desse mercado, para embalagens (chamado can coating) e para peças industriais e itens de construção civil pré-pintados (coil coating), registraram crescimento de negócios em ritmo acelerado. E a inexorável marcha do tempo garante a ceia dos próximos natais: falta pouco tempo para a folhinha chegar aos anos de 2014 e 2016, durante os quais o Brasil sediará, respectivamente, a Copa do Mundo de futebol e a Olimpíada.
As estimativas para o mercado de coil coatings são as melhores possíveis. Nos últimos dez anos, a produção de material pintado em aço praticamente triplicou, passando de 72 mil t/ano em 2000 para perto de 250 mil t/ano em 2010. Números semelhantes também são verificados no setor de pintura de alumínio, cuja produção gira em torno das 50 mil t/ano, com tendência de crescimento acima de 30% no próximo triênio. Desempenhos substanciais, que poderiam ser ainda melhores se houvesse um maior dinamismo de todos os setores envolvidos e, principalmente, a conscientização do consumidor sobre as vantagens da construção metálica – que em outros países representa mais de 80% dos produtos tratados por coil coating.
Essa é a opinião de três especialistas ouvidos por QD, executivos que militam no mercado de coil coating há muitos anos e sabem que o Brasil tem um enorme espaço para crescer nesse segmento. Para Marcelo Amaral, responsável pelo coil coating da PPG – empresa norte-americana que ganhou ainda mais relevância no mercado nacional ao adquirir os negócios de tintas arquitetônicas e industriais da Renner Sayerlack, incluindo a unidade de Gravataí-RS –, esse mercado ainda pode ser considerado em desenvolvimento na região, mesmo com os progressos dos últimos anos. “Ainda há a predominância da tecnologia poliéster convencional, diferentemente de outras regiões do mundo, onde o uso de PVDF e superpoliéster está mais desenvolvido”, afirmou Amaral. “É preciso reconhecer que mercados como o do Chile, que está consolidando a cultura do pré-pintado, com projetos variados e interessantes, está muito à frente do mercado brasileiro”, completou o executivo da PPG.
Segundo Amaral, os países da América do Sul, onde há o predomínio do poliéster regular, não têm demandado inovações tecnológicas. A PPG, porém, lançou há algum tempo as tintas com efeito cool roofing (tetos frios), que estão se expandindo com enorme velocidade nos EUA, depois que o governo de lá praticamente obrigou, mediante incentivos fiscais, as empresas a implementar a tecnologia. O efeito cool roofing reduz a transferência de calor para dentro dos escritórios, reduzindo, portanto, a intensidade dos aparelhos de ventilação e de ar-condicionado, poupando energia e minimizando as emissões de gases de efeito estufa. “Nosso último lançamento da PPG em coil coating foi a linha Vari-Cool, tintas com uma gama enorme de cores vibrantes, metálicas e perolizadas e que promovem também esse efeito”, disse Amaral.

O mercado de coil coating no Brasil não dobrou de tamanho nos últimos seis anos por acaso. Mas esse número ainda é pequeno diante do potencial produtivo do Brasil. É o que pensa Airton Carrasco Rodrigues, diretor da Tekno S/A. Fundada em 1939, a Tekno é considerada a maior fornecedora brasileira de materiais pré-pintados, pioneira na introdução da tecnologia no país, quando, em 1976, adquiriu sua primeira linha de coil coating. Nos últimos anos, a Tekno, contrariando a tradicional letargia do setor, deu passos ousados. O maior deles, em 2007, foi a associação com a Valspar Corporation, gigante do setor que fatura mundialmente cerca de US$ 3 bilhões por ano. A Tekno ficou com 82% de participação acionária na joint venture, denominada Valspar Coil – 18% pertence à Valspar. De três anos para cá, a joint venture passou por solavancos, quando estourou a crise econômica mundial, em 2008-2009, e por momentos de farto otimismo, como o observado em 2010 e, provavelmente, em 2011.
As tintas para coil coatings são usadas no setor de construção civil e na produção de eletrodomésticos, como geladeiras, fogões, máquinas de lavar e fornos micro-ondas, justamente os setores que estão sendo mais beneficiados pelos programas habitacionais do Governo Federal e pelo aumento do consumo das classes C, D e E. Mas, por que o mercado de coil coating nãoacompanha o crescimento chinês desses segmentos? Segundo Rodrigues, a resposta está em uma mudança profunda e radical na cultura de utilização de materiais metálicos na construção civil. “É preciso um grande movimento entre os empresários para atualizar a forma como são vistos esses materiais”, comentou o diretor da Tekno.Rodrigues disse que a empresa tem feito sua parte, promovendo uma busca incessante por produtos diferentes e mais modernos para o mercado industrial, entre os quais laminados de filmes, laminados metal/metal, produtos de alta flexibilidade e com boas características de transformabilidade. “A indústria automobilística também tem sido foco para o desenvolvimento de novos produtos, entre os quais podemos citar a volta dos tanques metálicos para combustíveis, agora tratados com coil coating para permitir soldagem e estampagem posteriores”, afirmou Rodrigues.
A questão da sustentabilidade, segundo Rodrigues, também pode contribuir para a mudança de mentalidade do empresariado. A cada dia mais empresas adquirem e reforçam a consciência ambiental, favorecendo a reciclagem de produtos e a aplicação de materiais ecocompatíveis. “Essa nova postura, que olha para o uso responsável dos recursos, fortalece cada vez mais o processo de coil coating, que é limpo, ecologicamente correto e produtor de materiais totalmente recicláveis”, disse Rodrigues.
O grupo Tekno, que mantinha duas linhas de coil coating, está, neste momento, em fase de instalação da terceira linha, que deverá atender o mercado de aço pré-pintado para a construção civil. Trata-se de um equipamento, produzido por uma empresa australiana, que aumentará a capacidade de pintura da Tekno em 150%. Para se ter uma ideia do alto desempenho da linha III, basta compará-la com a atual linha de aço do grupo, capaz de pintar com uma velocidade de 55 m/min – a terceira linha deverá pintar com uma velocidade de 80 m/min. A Tekno investirá cerca de US$ 25 milhões em sua terceira linha, que deve ser inaugurada no primeiro semestre de 2012.
A AkzoNobel, gigante do setor químico, com faturamento na casa dos 14 bilhões de euros em 2009, líder mundial no desenvolvimento e fornecimento de tintas para pré-pintura de bobinas de aço ou alumínio, também vê com bons olhos o potencial do mercado local de coil coating, até então tímido diante das pretensões econômicas do país, que espera se tornar em breve a quinta economia do mundo. Em visita ao Brasil no ano passado, o CEO Hans Wijers deixou o país entusiasmado com o que viu: estádios e estruturas ávidos por reparos e pinturas – o Brasil será sede da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, ou seja, terá de ser pintado de cabo a rabo.

“A principal conquista em 2010 foi conseguir superar a crise que abateu o mercado em 2009”, disse Flávio Jaconis, gerente de negócios de coil coatings da AkzoNobel. “Em relação a 2011, acreditamos que seja um ano muito próximo a 2010, apresentando uma situação de estabilidade, aguardando um crescimento para os anos de 2012 a 2016, alavancado pelos eventos esportivos.”
Para Jaconis, ao mesmo tempo em que a AkzoNobel estará atenta às novas demandas do Brasil, contribuindo para o seu fortalecimento industrial, o grupo unirá esforços para cumprir o seu programa de sustentabilidade. A empresa assumiu o compromisso de reduzir a emissão de carbono cradle-to-gate (para matérias-primas, antes do portão da empresa) por tonelada de produto em até 10% até 2015. Cerca de 18% da receita da AkzoNobel provém de produtos eco-premium, com meta de aumentar esse número para 30% até 2015. Para chegar lá, o grupo investirá fortemente em pesquisa. “A Akzo sempre mantém os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Neste momento, o foco está sendo em produtos “eco-premium”, ou seja, amigáveis ao meio ambiente, segundo o alinhamento de atividades globais da empresa”, afirmou Jaconis.
O gerente de negócios coil coatings da AkzoNobel e os executivos da PPG e da Tekno estão otimistas com o aumento do poder de compra das classes menos favorecidas e também acredita que, a despeito de toda essa euforia, o mercado de coil coating no Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. “Na minha opinião, o segmento de linha branca foi o mais beneficiado e o acesso das classes C e D a este tipo de produto foi a principal razão”, disse. “Mas precisamos ainda fazer a lição de casa, e o primeiro passo seria a entrada de material pré-pintado no Brasil.”
Latinhas em alta – Para o mercado de can coating a crise mundial de 2008, que teve sérios desdobramentos em 2009, não passou, de fato, de uma “marolinha”. O setor mantém um crescimento constante, impulsionado, principalmente, pelo segmento de latinhas de bebidas (refrigerantes, chás, bebidas alcoólicas) e de construção civil (tintas e outros materiais). Os números desses dois setores explicam o otimismo dos empresários envolvidos em toda a cadeia produtiva. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir) – que, como o nome diz, não contabiliza a venda de latinhas de cerveja –, o mercado de bebidas deve superar o desempenho alcançado em 2009, quando, ignorando por completo a crise mundial, cresceu cerca de 7%, enquanto a indústria nacional em geral caminhou em ritmo contrário, tombando 7%. Para 2010, o setor espera crescer mais de 10%. Já a construção civil, que foi, sim, abalada pela recessão internacional, crescendo apenas 1% em 2009 (uma retração de 6% comparada ao ano anterior), já retomou o fôlego habitual e deve fechar o ano com crescimento na casa dos 9%.“Sem dúvida, o segmento de bebidas – especialmente o de latinhas – vem se destacando com o advento da nova classe média brasileira, em que os hábitos de conveniência (mais viagens, mais lazer) levam as pessoas a consumir mais bebidas em doses individuais”, afirmou Maurício Gasperini, diretor de marketing da AkzoNobel Packaging Coatings. “O segmento da construção também teve forte impacto, com destaque para o mercado de tintas. O Brasil vem correndo contra o déficit habitacional, com programas como o ‘Minha Casa, Minha Vida’, que deve manter o crescimento elevado do setor até o fim da década”, disse o executivo. Para Gasperini, aerossóis crescem a taxas recordes também em virtude da conveniência e do maior poder de renda dos consumidores brasileiros, que antes, por exemplo, não podiam consumir produtos básicos, como desodorantes. O executivo da AkzoNobel acredita que nem a concorrência de outros tipos de embalagens será capaz de abalar o crescimento do mercado de latinhas, ainda mais com o aumento da conscientização ambiental – produtos em lata são menos agressivos ao meio ambiente do que, por exemplo, embalagens plásticas. Por todos esses fatores, a AkzoNobel espera crescer, no mercado de packaging coatings, cerca de 16% em volume.
Gasperini confirma ter a AkzoNobel um foco de trabalho dirigido para o investimento em soluções que sejam ao mesmo tempo ideais para os seus clientes e de caráter eco-premium, ou seja, amigáveis ao meio ambiente. Atualmente, os produtos eco-premium respondem por 20% da receita global da empresa. A meta é de que, até 2015, esse percentual alcance os 30%. “Este trabalho já é reconhecido por importantes rankings internacionais, como o renomado Índice de Sustentabilidade da Dow Jones, do qual a AkzoNobel participa desde 2004, na categoria ‘Química’”, afirmou Gasperini.

O mercado de can coating opera sob duas fortes pressões: aumentar a eficiência produtiva, sem agredir o meio ambiente, e cumprir com as exigências sanitárias mais rigorosas, a maioria vinda da Europa. Nos últimos anos as empresas do setor têm sido pressionadas para que se elimine do processo produtivo a utilização do bisfenol-A. O composto químico virou o vilão da vez, depois que um estudo publicado em 2007, pelo Environment California Research and Policy Center, revelou que, mesmo em pequenas quantidades, o bisfenol-A pode provocar doenças como câncer da mama, obesidade, diabetes, hiperatividade e alterações no sistema imunológico. A União Europeia já anunciou que, a partir de 2011, será proibida a comercialização e a importação de mamadeiras que apresentem o composto químico.
Gasperini acredita ser pouco provável a eliminação a curto prazo do bisfenol-A, mas a empresa, por meio de pesquisas, tem feito o possível para reduzir a aplicação da substância, insumo importante para a produção de epóxis. A divisão de Packaging Coatings da AkzoNobel possui mais de 70 profissionais em todo o mundo dedicados exclusivamente à pesquisa e desenvolvimento, o que representa quase 10% de toda a sua força de trabalho e um esforço significativo para se antecipar às necessidades dos clientes. “Sobre o bisfenol-A, especificamente, a empresa realiza um intenso trabalho. Apesar de não haver estudos conclusivos ao redor do mundo no que se refere a embalagens metálicas, os produtos da AkzoNobel que contêm bisfenol apresentam um porcentual do produto bem abaixo dos limites estabelecidos internacionalmente”, afirmou Gasperini.
Em relação a novos produtos da AkzoNobel para o segmento de can coating, Gasperini aponta dois lançamentos importantes para a empresa e para o mercado em 2010. O primeiro foi o Vitalure 740, um esmalte que pode ser aplicado no interior de latas de tintas, que evita a oxidação. O resultado é um aumento da vida útil do produto na prateleira em até 50%. “Além disso, tivemos também um verniz de cura por ultravioleta mais rápido, que economiza tempo e energia elétrica”, afirmou Gasperini. Segundo o executivo, ambos os produtos estão de acordo com a política global da AkzoNobel de desenvolver materiais amigáveis ao meio ambiente e acompanham as renovações de equipamentos dos fabricantes de latas.
Para Gasperini, nos próximos anos, a Akzo Nobel e o mercado em geral devem apresentar uma tendência de inovação nas aplicações ao exterior das latas, resultado de estudos que já estão acontecendo. “Produtos como latinhas que brilham no escuro, com efeitos tácteis (textura na lata), com valorização do acabamento (efeito fosco e cores especiais e diferenciadas), além de tamanhos diferenciados, devem aparecer”, afirmou.