Tintas: Linha industrial aposta na venda de especialidades
Aplicações especiais, exigentes em qualidade e alta tecnologia, atraem mais os fabricantes de tintas que o disputado e nem sempre leal mercado de commodities

Sem alarde, o mercado brasileiro de tintas industriais mantém ritmo de crescimento superior ao do Produto Interno Bruto (PIB). Além da importância do segmento para a indústria de tintas – é superado apenas pelas linhas decorativas imobiliárias –, esse desempenho evidencia a produção de artigos de qualidade superior. Ao consumidor final, sobram benefícios como o melhor acabamento externo de utensílios domésticos, pisos mais resistentes e, ainda, com menos agressões ao ambiente.
Chama a atenção a disputa pelo fornecimento de tintas para chapas de aço galvanizado pré-pintado (coil coating). Vários fabricantes se engalfinham para oferecer produtos para a linha de produção que está sendo montada pela CSN Indústria de Aços Revestidos S.A. (Cisa), em Araucária-PR, que quase dobrará a demanda dessas tintas no Brasil.
O projeto paranaense, porém, sofreu atrasos na implantação, inicialmente prevista para este ano, e deve demorar ainda um ou dois anos para começar a produção.
Tintas industriais são definidas como as vendidas para a indústria de transformação. No entanto, é usual separar dessa classe os produtos destinados para a fabricação de automóveis, dadas a especialização técnica e de mercado desse segmento, que poderiam prejudicar a análise. Também conspira contra a adequada mensuração dos resultados a elevada participação de negócios informais no segmento, que pode chegar em alguns casos a representar 50% das vendas.

Muitas vezes apresentada como forma de sobrevivência em mercado competitivo, essa informalidade representa prejuízo social óbvio, pela queda de arrecadação fiscal. Para o setor de tintas, no entanto, o principal prejuízo pode ser a dificuldade para introduzir conceitos mais modernos e mais eficientes de proteção e acabamento de superfícies, preteridos pela existência de produtos de linha conservadora com preços reduzidos por meio de sonegação fiscal.
A partir de dados de mercado, a informalidade parece ser maior nas tintas em pó. “Pelas nossas contas, até 50% do mercado de tinta em pó no Brasil é informal”, calculou Eduardo Nowak Dantas, gerente administrativo financeiro da Protech do Brasil, empresa de origem canadense especializada em tintas em pó, com expressiva participação na América do Norte. A Protech ampliou sua participação local por meio da compra da unidade de tintas em pó da Renner-DuPont em novembro de 2000.
Não raro, fornecimentos informais deixam a desejar no item qualidade. “As tintas em pó viraram uma reedição daquilo que antigamente se chamava ‘mela-ferro’”, criticou Nilo Martire Neto, gerente técnico de revestimentos industriais da PPG Industrial do Basil.
Já o presidente do Sindicato da Indústria de Tintas e Vernizes do Estado de São Paulo, Roberto Ferraioulo, admite a existência de

algum grau de informalidade, como em qualquer setor econômico do País, mas em quantidade bem inferior à mencionada. “Pelo acompanhamento das vendas de matérias-primas, podemos ver que a diferença é muito menor, não chegando a 10% das vendas totais”, explicou.
Especificamente no segmento das tintas em pó, Ferraioulo aponta a ocorrência de um fenômeno diferente: a commoditização dos produtos. “Em dez anos, as tintas em pó caíram de um patamar de US$ 10/kg para mais ou menos US$ 3,40/kg, sem falar que o mercado brasileiro ainda é pequeno, por volta de 30 mil t/ano”, comentou.
Isso trouxe um certo desalento, principalmente pelo fato de as formulações em pó terem sido lançadas como a grande alternativa para a produção de eletrodomésticos. “Hoje, as chapas galvanizadas e pré-pintadas estão disputando esse mercado”, disse.
Nos últimos anos, o mercado brasileiro de produtos acabados substituiu a qualificação pela quantificação, tomando por paradigma o caso da indústria automobilística. “Hoje 76% da produção nacional de veículos é de modelos 1.0, ditos populares”, afirmou. Além disso, seguindo a tendência mundial, a abertura comercial do Brasil, iniciada em 1990, conjugada com a redução mundial de preços de produtos químicos, permitiu amplo acesso aos insumos, permitindo ampliar a concorrência e reduzir preços.
Apesar disso, a evolução das vendas de tintas industriais em volume pode ser classificada como lenta. “O segmento depende muito do desempenho das vendas de eletrodomésticos e da construção civil”, afirmou Ferraioulo. Com a queda da inflação e a recuperação do poder de compra das classes C e D, no início do Plano Real, as vendas de bens de consumo duráveis decolou. Oito anos depois, já se sente uma perda de poder de compra até na classe média. Agravam o quadro as elevadas taxas de juros ao consumidor (na ponta do varejo), próximas a 100% ao ano, que tornam proibitivos os financiamentos.
Na construção civil, ramo no qual as tintas industriais revestem caixilharia e telhas metálicas, por exemplo, há redução no número de lançamentos e, mesmo assim, concentrados em produtos de baixo valor agregado.
Ferraioulo cita o exemplo das tintas gráficas, muito sensíveis à demanda de embalagens de produtos acabados. No ano 2000, as vendas cresceram, passando de 22 milhões de galões. Já no ano passado, as vendas caíram para menos de 20 milhões de galões.

Em 2001 foi preciso enfrentar a crise de energia elétrica. “Toda a indústria foi prejudicada duas vezes: pelo aumento do preço da eletricidade e pela necessidade de reduzir o consumo de energia, diminuindo a produção”, lamentou o líder setorial. Ele informou, porém, que as fábricas de tintas tornaram mais racional o consumo de eletricidade, sem prejudicar a produção. Esta caiu um pouco, por causa da retração da demanda de seus clientes. “Energia mais cara significa menor capacidade de consumo, ou seja menor demanda por tintas e por produtos pintados.”
Para 2002, a expectativa é favorável. “O primeiro semestre está acompanhando o desempenho do ano passado, que foi bom até o mês de maio, e esperamos crescimento de demanda maior no segundo semestre”, afirmou. Ele justifica a previsão pela excelente safra de grãos que está sendo colhida neste ano, que deve apresentar reflexos na venda de vários produtos. Pesa no lado contrário a instabilidade gerada em torno das eleições deste ano, que tende à acomodação. “O PIB deve crescer de 2,5% a 3%, e o setor de tintas pode chegar a 4%”, afirmou.
A evolução dos custos para a indústria de tintas no Brasil pode ser considerada normal. Pressionam esse item os preços internacionais do petróleo, instáveis por causa dos conflitos no Oriente Médio, e pelas seguidas flutuações do dólar frente ao real. “Boa parte dos insumos usados na produção de tintas é importada ou cotada em moeda forte”, comentou. Quanto à pesada carga tributária, Ferraioulo não espera mudanças em menos de dois ou três anos. “Salvo algum acontecimento extraordinário que melhore a economia mundial, não deve haver grande mudança nos resultados do setor nos próximos anos.”
Concorrência acirrada – A lenta evolução do segmento industrial provocou profunda revisão da estratégia de negócios da Basf, divisão de tintas. “Decidimos nos concentrar nas aplicações com as quais temos mais afinidades”, explicou Francisco Paschoal, diretor de tintas para repintura, industrial e automobilística da companhia para a América do Sul.
O primeiro reflexo das mudanças foi a retirada das linhas para madeira em toda a região, área, aliás, na qual a empresa nunca teve grande participação de mercado. “Trata-se de negócio que exige enfoque muito específico e que ainda usa muita nitrocelulose, um produto para nós indesejável, por razões de segurança”, explicou.

No segmento madeira, a única atividade remanescente será a produção de papel para transferir estampas imitando veios de madeira nobre para aplicação em aglomerados e placas MDF (medium density fiberboard). Também serão fornecidos vernizes adequados para a proteção desses acabamentos. “É um mercado ainda incipiente no Brasil, mas queremos ver onde vai dar”, explicou. Também a Akzo Nobel e a Sayerlack disputam esse nicho de aplicação.
As tintas industriais da Basf compreendem produtos para a pintura de autopeças e de veículos comerciais (caminhões e ônibus), que respondem por 81% das vendas. A chamada indústria geral representa 19% dos negócios, com predomínio da linha branca. “Nossa meta é ficar nos negócios ou com o conceito da linha automobilística, de altíssima especialização, ou nos produtos de grande volume, como a linha branca, ou ainda solicitações de desempenho especial”, disse Paschoal. Os motivos para essa definição estratégica foram a elevada competitividade de mercado, nem sempre leal, e a estagnação dos mercados industriais desde 1997. “De lá para cá, as vendas desses produtos só caíram”, disse.
Coil coating em alta – A expectativa em torno da definição do fornecedor de tintas para a linha de 110 mil t/ano de aço galvanizado pré-pintado da Cisa pôs em ebulição os fabricantes de tintas industriais. Trata-se de tecnologia específica, capaz de tornar viável um verdadeiro “ovo de Colombo”. Usualmente, chapas de aço (ou de outro metal) são conformadas e depois pintadas para a fabricação de diversos utensílios.

A intenção dos sistemas de coil coating é fornecer as chapas já pintadas, em bobinas. A tinta deve ser flexível o suficiente para acompanhar a deformação da chapa na estampagem, sem romper-se, nem perder a cor e o brilho. Também precisa resistir pelo tempo estipulado como vida útil do bem durável a ser confeccionado, suportando riscos e as agressões freqüentes, perpetradas no âmbito doméstico, aí incluído o costumeiro golpe de quadril para fechar a porta da geladeira, uma das aplicações da técnica.
Em volume, o grosso das vendas se encontra na área de construção civil, especialmente na confecção de telhas e fechamentos de fachadas. Nesses casos fica ainda mais evidente a vantagem econômica de usar chapas pré-pintadas sobre a pintura pós-instalação. “A tinta pode ser mais cara, mas o custo total da aplicação e da fabricação das peças pode ser de 15% a 65% mais baixo”, afirmou Guilherme Luiz do Val, vice-presidente da Tekno S.A. Construções, Indústria e Comércio, maior fabricante de chapas pré-pintadas no Brasil, o único com instalações de grande porte, localizadas em Guaratinguetá-SP (divisão Kroma), onde também fabrica telhas metálicas (divisão Perkrom) e tintas (divisão Tintas Kroma).
Paulo Norcia, gerente de negócios da tintas Kroma comenta que a técnica de coil coating apareceu na década de 1930, nos Estados Unidos, para a fabricação de lâminas para persianas. De lá para cá, os revestimentos foram aprimorados, a largura das chapas e a produtividade dos equipamentos aumentaram. “Há mais de 180 máquinas para coil coating nos EUA e outras 60 no Japão”, disse. O Brasil consome 130 mil litros por mês de tintas para essa aplicação, 70% absorvidos pelo grupo Tekno.
A experiência da Tekno em chapas pré-pintadas começou em 1975, usando tintas fornecidas pela Basf e Coral. “Como eles só nos ofereciam tintas para construção civil, fomos obrigados a desenvolver tecnologia própria, a partir de 1985”, explicou Guilherme do Val. A empresa demorou um ano para lançar suas tintas para construção civil e outros dois para desenvolver produtos para indústria geral, principalmente para os bens duráveis da chamada linha branca (geladeiras, fogões e lavadoras de roupa). A partir de 1991, a Tintas Kroma passou a vender excedentes de produção para o mercado.
O grupo Tekno opera duas linhas de coil coating. A menor, para bobinas de 1,2 m de largura, capaz de tratar 45 metros de chapa por minuto, responde pela maioria das aplicações. A maior, arrendada para terceiros, para largura de 1,5 m e velocidade até 100 m/min opera só com chapa de alumínio, para estampar tampas de latas. A alta produtividade é devida ao uso de sistemas de cura rápida, em dez segundos. Cada linha nova de coil coating, desse porte, representa investimento da ordem de US$ 15 milhões.
“Podemos revestir qualquer tipo de chapa metálica, desenvolvendo produtos adequados para cada aplicação”, disse do Val. No caso das chapas de aço, elas geralmente chegam galvanizadas, na forma de bobinas. O equipamento, contínuo, realiza tratamento em três etapas: uma fosfatização seguida de aplicação de primer epóxi/cromato de zinco, recoberto por uma tinta de resina poliéster. Antes de reboninar a chapa, ainda pode ser aplicada uma camada de adesivo para colar filme decorado, de modo a ofercer acabamento diferenciado ao produto. “Isso é usado em portas de geladeiras mais nobres, cabines de elevadores ou para fazer gabinetes de fornos de microondas imitando madeira”, explicou. Nesse caso, a empresa usa filmes vinílicos especiais, fornecidos pela coreana LG.
A tinta de cobertura geralmente é um poliéster, mas pode mudar, dependendo da transformação futura da chapa. “O poliéster é limitado para os casos de repuxo alto em estampagem”, afirmou. Nesse caso, tintas de base vinílica são preferidas. A camada de revestimento fica com espessura final média de 25 micrômetros, menos da metade dos 60 micrômetros das linhas de pintura pó ou líquida convencional, oferecendo proteção igual ou até superior.
As chapas para a linha branca podem sofrer furações posteriores, além das dobraduras. Nesse caso, é recomendado usar chapas zincadas, tratamento que protege melhor esses pontos contra corrosão. “Hoje, quase 80% da linha branca parte de aço zincado”, comentou. As chapas pré-pintadas não aceitam soldagem, devendo as peças ser acabadas por métodos de recravamento ou com o uso de adesivos.
Apesar disso, o método permite estampar peças complexas, como copos de filtros de ar para carros. “A idéia é estampar peças a frio, economizando energia, mas isso depende da temperatura de transição vítrea de cada resina”, afirmou.

A entrada em operação da Cisa é aguardada com alguma ansiedade pelo grupo Tekno, que também se candidatou a fornecer a tinta, além de oferecer tecnologia de aplicação “tropicalizada”. “Compramos chapas de aço da CSN e também já estamos fornecendo chapas pintadas para que eles façam o pré-marketing”, disse do Val, sem medo de perder clientes.
“A entrada de mais um player nesse mercado vai nos ajudar a difundir o uso da técnica e abrir mercados”, explicou. Só o potencial de demanda das telhas metálicas seria suficiente para ocupar mais dez linhas de coil coating, segundo o vice-presidente. Ele salienta que o Brasil já anunciou o encerramento da produção de telhas de fibrocimento até 2005, forçando a substituição do material. “Por isso, as siderúrgicas todas estão ampliando a produção de galvanizados”, disse.
Entre os acabamentos disponíveis para aplicação pela Tekno constam o filme de Lamikrom, de poliéster transparente, capaz de aumentar o brilho e a resistência à abrasão de chapas de aço inox usadas em eletrodomésticos como geladeiras. Além disso, o filme evita que as peças exibam marcas de dedos (efeito fingerprint). “É um produto nobre, pouco usado no Brasil”, disse do Val.
Melhor potencial apresenta a resina Kynar, patenteada e fabricada pela Atofina, da qual a Kroma é a única aplicadora licenciada na América do Sul. Trata-se de tinta com base em polivinilideno fluorado (PVDF), usada para revestir placas de alumínio colocadas nas fachadas de prédios comerciais. A pintura é feita em três camadas: um primer especial, verniz metálico e verniz de superfície, resultando em película com elevada resistência química e contra radiação ultravioleta, permitindo garantir cor e brilho por ao menos 15 anos.
Prós e contras – Tintas para coil coating não são novidade para Nilo Martire Neto, da PPG. “Já as produzíamos na década de 1970 na Ideal Tintas, com tecnologia de PTFE licenciada pela PPG”, afirmou. Ele lamenta que a técnica tenha sido tão pouco difundida no Brasil. “O mercado local era dominado pelas linhas alquídica e melamínica, e o coil ficou restrito a um só aplicador”, lamentou. “O Brasil precisa criar mercado para o coil coating; estamos atrás da Argentina e do Chile, por exemplo”, disse Mauro Eiras, diretor da área de tintas industriais para a América do Sul da PPG.

A companhia, uma das líderes mundiais, disputa as encomendas futuras da Cisa. Ele verificou que falta às industrias locais desenvolver projetos de divulgação de produtos de construção civil – o maior mercado potencial – junto a formadores de opinião, como arquitetos e engenheiros, como já foi feito com sucesso nos Estados Unidos. “Por aqui ainda se usa muito ferro e cimento, quando a chapa pré-pintada poderia reduzir o custo de construção”, afirmou Eiras.
Já o uso de pré-pintados em eletrodomésticos não é visto como unanimidade na PPG. “Temos todas as tecnologias disponíveis e somos responsáveis por orientar melhor os usuários sobre as vantagens e desvantagens de cada uma”, comentou o diretor. No caso dos eletrodomésticos, a falta de cuidado no manuseio e transporte das chapas pintadas antes e depois da estampagem pode provocar riscos na superfície, exigindo uma operação adicional de retoque com tinta líquida.
A Tekno reconhece o problema e aplica um filme plástico protetivo sobre a superfície pintada, que só é removido pelo cliente final. “Aos poucos vai havendo uma conscientização dos trabalhadores e a camada poderá ser removida”, afirmou do Val.
Já Eiras e Martire tem dúvidas se, nesses casos, as tintas em pó e as eletroforéticas não seriam as mais indicadas. “Lançamos uma tinta em pó altamente resistente a riscos, formada por uma resina com modificador de superfície que seria mais vantajosa nesses casos, e em qualquer outro que tenha transporte e manipulação das peças pintadas”, salientou Eiras, sem oferecer mais detalhes sobre a novidade, ainda em processo de reconhecimento de patente no Brasil. As peças sujeitas a operações de transporte exigem embalagens resistentes para proteção. Elas poderiam ser dispensadas, se a resistência da tinta for elevada. A amostra apresentada suportou a aplicação vigorosa de palha de aço, sem apresentar riscos, que apareceram na peça de controle, pintada com tinta convencional.
“O coil coating já é bem conhecido no exterior, mas lá também há algumas críticas”, explicou Francsico Paschoal, diretor da Basf. A maior objeção consiste nos ajustes necessários ao processo de fabricação para evitar a ocorrência de riscos na superície das peças pintadas. Além disso, as chapas metálicas exigem pré-tratamento mais intensivo, a fim de evitar problemas de corrosão. “A confiança no método não é total, a não ser no caso das esquadrias e telhas, com dobras mais simples e sem furação”, afirmou.
A Basf entrou na concorrência da Cisa, podendo oferecer tintas para cada aplicação das chapas. “Temos mais produtos nas linhas de poliéster com plastificantes e em acrílicos, com tecnologia de origem alemã”, afirmou.
Por sua vez, a divisão de tintas industriais da Akzo Nobel espera contar com as encomendas da Cisa já a partir de meados de 2003. “Já estamos investindo na ampliação da fábrica de Guarulhos-SP para fazer os poliésteres necessários para formular tintas para lá”, afirmou o diretor José Manoel Sardo. A empresa também construiu um laboratório específico para coil coating, de modo a garantir a qualidade das tintas, nos padrões exigidos pela central de tecnologia da companhia, em Columbus, nos EUA. “Estamos há quatro anos trabalhando nesse projeto”, informou.

Na opinião do diretor, o mercado brasileiro é fechado pela falta de opções tecnológicas para os usuários. “Existem coisas melhores para oferecer com o custo adequado à resistência que se pretende obter”, disse. Como exemplo, ele citou as embalagens para pescados, que exigem plastissóis ainda não disponíveis no mercado local. Mesmo as portas de garagem são feitas com chapas pré-pintadas nos EUA. “Fornecemos tintas para coil coating na Argentina com exigências de qualidade bem mais altas”, comentou.
Para oferecer 110 mil t/ano de chapas pintadas, a Cisa vai consumir o equivalente a mil t/ano de tintas. A fabricação de produtos para construção civil será o grande alvo, mas exigirá um trabalho de conscientização dos profissionais desse setor. Segundo Sardo, a laminadora deverá contratar dois grandes fornecedores de tintas, por opção estratégica.
A formulação das tintas para coil coating exigem produtos especiais. “Geralmente, são usados poliésteres curados com isocianatos ou com aminas”, comentou Ralph Ahlemeyer, gerente de negócios em tintas e resinas da Degussa, empresa com portfólio ampliado pelas incorporações das linhas antes oferecidas pela Hüls e Goldschmidt.
Além dos reticulantes, a empresa oferece também sílica pirogênica e aditivos da linha Tego (siloxanos e acrílicos), além de poliésteres. Diferente do mercado mundial, os fabricantes de tintas preferem produzir suas próprias resinas, em vez de comprar dos fornecedores especializados. “Só conseguimos fazer negócios com eles nos casos de poliésteres especiais, usados em nichos de mercado”, disse. Essas oportunidades são mais freqüentes nas linhas de pintura de latas para embalagem (can coating).
Tintas para coil coating podem ser formuladas com sistemas poliuretânicos, usando diisocianatos alifáticos à base de IPDI (isoforona diisocianato) bloqueado como agente de cura. “É uma especialidade química, com poucos concorrentes mundiais, inclusive por se tratar de produto controlado pelo Mnistério do Exército”, comentou Ahlemeyer.
Pó competitivo – Apesar do baixo preço praticado no mercado local, fabricantes consideram que esse segmento está longe do ponto de maturação. “O Brasil ainda está substituindo tintas líquidas pelas formulações em pó, pode-se considerar como atrasado em relação ao resto do mundo”, afirmou Eduardo Nowak Dantas, da Protech. A empresa canadense chegou ao País em 1999, adquirindo os equipamentos que foram comprados pela Eucatex para montar sua linha de preparações em pó. “Eram linhas novas, ainda nos caixotes”, disse.
Em seguida, foi absorvida a divisão de pó da Paumar, incluindo instalações e carteira de clientes, avaliada em 35 t/mês. O grande negócio foi feito com a Renner-DuPont, em outubro de 2000, pelo qual a capacidade anterior de 80 t/mês foi incrementada em 200 t/mês. A transferência dessas instalações para a sede em Guarulhos-SP só terminou em junho de 2001. “E ainda temos equipamentos encaixotados no estoque”, comentou Dantas.
Com as instalações completas, foi preciso enfrentar a má situação de mercado. Segundo o gerente, 2001 foi péssimo para vendas, tendo operado na média de 200 t/mês. Já em 2002, os negócios foram reativados. “Do final de janeiro até maio, as vendas estão muito boas, embora tenham caído um pouco em abril”, informou. A operação durante os primeiros cinco meses do ano ocupou a fábrica em média com 300 t/mês, dado que a coloca entre o 3º e o 4º lugar na classificação dos produtores desse segmento, com quase 20% de participação do mercado formal.
“Identificamos migração de usuários de tintas líquidas para pós, ampliando o mercado”, comentou. Segundo ele, sempre há novos usuários para tintas em pó, por causa das vantagens ambientais, facilidade de aplicação, entre outros motivos. A meta da Protech do Brasil é chegar a 400 t/mês no prazo de 18 meses, incluindo exportações para o México e Argentina.
A produção se concentra nas linhas híbridas, de poliéster com epóxi, atendendo a mais de 70% dos pedidos. Os poliésteres puros representam 25%, enquanto os epóxis ficam com apenas 5% da demanda. “Recentemente, notamos uma pequena migração dos híbridos para os poliésteres puros”, disse Dantas. Os híbridos são resistentes a riscos, mas não aos ataques das intempéries, melhor suportados por alguns poliésteres, embora sejam um pouco mais caros. As aplicações em armários e nos bens de consumo da linha branca aceitam bem os híbridos, assim como peças para o interior de automóveis. Molas para suspensão exigem poliésteres especiais.
Diferente dos concorrentes, a Protech não produz poliésteres, nem epóxis, preferindo comprá-los de fornecedores de porte mundial, como Reichhold, Solutia, Vantico, UCB e DSM. “Formulamos nossos híbridos com as resinas que eles nos fornecem”, explicou Dantas.
As resinas representam a maior parte dos custos das tintas em pó. “Fabricá-las, porém, não significa necessariamente redução de custos”, afirmou. Além da avaliação econômica, ele considerou motivos técnicos para buscar suprimento de fornecedores confiáveis. “É muito difícil produzir poliésteres com qualidade constante, sem falar na questão da compatibilidade de lotes”, disse. Cada lote de poliéster precisa ser avaliado em relação aos demais para verificar a ocorrência de incompatibilidades. Negligenciada a avaliação, a tinta pode ficar fosca.
Além da competição com fornecedores informais, Dantas destaca a importância de aspectos regionais nas vendas de tintas em pó. As indústrias gaúchas preferem fornecedores localizados naquele Estado, opção justificada por problemas de suprimento ocorridos no passado.
Trata-se de mercado concentrado em móveis tubulares, pouco exigente em qualidade. O mercado do Nordeste também se destina a artigos menos técnicos, com predominância de pedidos de cores variadas, incomuns nas demais regiões. “O mercado paulista faz mais exigências técnicas, mas é forte a preferência pela cor preta”, disse.
A maior dificuldade local está nos preços, que não permitem remuneração compatível com desenvolvimento de produtos avançados. “Isso, felizmente, está mudando”, afirmou Dantas. Segundo ele, os fabricantes de tintas já se conscientizaram sobre a importância de valorizar tecnicamente os produtos, para oferecer mais qualidade, produtividade e características específicas. É o caso das tintas capazes de recobrir frente e verso de peças, ainda que a aplicação seja feita de um só lado. Outro ponto importante é oferecer produtos para diferentes temperaturas e velocidades de cura. “Essas linhas sempre terão um diferencial de preço, e nem todos os produtores têm tecnologia para fazê-las”, explicou.
Além de oferecer tintas mais adequadas aos processos dos clientes, é preciso identificar e resolver problemas de aplicação. “Até oferecemos cursos para os aplicadores do cliente, para ensiná-los a usar o pó com qualidade e gerar economia”, disse Mauro Eiras, da PPG. “Na pintura a pó não vale o quanto mais, melhor, pois pode ser até pior para a aderência e a cura da película”, explicou o gerente técnico Nilo Martire Neto.
Eles destacaram a importância da produção correta dessas tintas. A mistura das resinas e outros ingredientes é feita na entrada de uma extrusora, de onde sai uma pasta grossa, imediatamente resfriada e conduzida a um micronizador, para posterior acondicionamento. “As reações após a extrusão são totalmente bloqueadas pelo resfriamento”, disse Martire. O processo é conduzido com extremo cuidado, principalmente para evitar contaminação de produtos de linhas contíguas. “Assim, conseguimos atender rigidamente as especificações dos clientes, com elevada constância de qualidade”, afirmou Eiras.
A PPG lançou uma formulação poliéster em pó sem TGIC (triglicidil isocianato), produto tido como cancerígeno e já rejeitado por alguns países. “É uma tinta para acabamento (top coat) indicada para transportes comerciais (caminhões), perfis extrudados e cilindros de gás para exportação. Também nova é a tinta altamente resistente a riscos, já mencionada, indicada para eletrodomésticos, prateleiras metálicas e produtos sujeitos a manuseio e transporte.
Outra novidade em tintas em pó da PPG consiste de produtos para cura em temperaturas mais baixas, dos 200ºC usuais para 165ºC. “Com isso, obtém-se uma redução média de 5ºC na temperatura ambiente de trabalho, economizando energia e proporcionando mais conforto para os trabalhadores”, explicou Martire. Há um benefício adicional na redução do número de peças com defeitos provocados por queima superficial.
“Nossa proposta não é vender tinta barata, mas oferecer tecnologia avançada, aprovada pelas leis ambientais e adequadas para reduzir o custo total aplicado dos clientes”, afirmou Eiras. Forte na pintura original de automóveis no Brasil, a área de tintas industriais da PPG ganhou um reforço em 1999, pela compra mundial da divisão análoga operada pela ICI Paints (mais conhecida no Brasil como Tintas Coral). “Tínhamos um plano de crescimento, mas com essa negociação, já começamos com um porcentual expressivo de mercado”, comentou. Contando as vendas de todas as linhas de produtos (pó, líquida e eletroforese), ele estima deter 10,7% do mercado de US$ 200 milhões por ano, sem incluir tintas para automóveis e autopeças.
Nas contas de Eiras, o mercado industrial apresenta crescimento da ordem de 5% ao ano, dependendo da variação do PIB. “Ocorre uma substituição tecnológica das linhas de pintura convencionais para sistemas ambientalmente , amigáveis, como pó e altos sólidos”, informou.
A Degussa oferece aos fabricantes de tintas em pó uma alternativa para substituir o TGIC como endurecedor e fosqueante em sistemas híbridos, epóxis e poliuretânicos. Trata-se da hidroxialquilamida, produto um pouco mais caro, mas sem as limitações de segurança ocupacional e ambiental do isocianato. “O mercado precisa se conscientizar e bancar a mudança”, afirmou Ralph Ahlemeyer.
A companhia alemã apresenta extenso portfólio de produtos para tintas em pó, embora esteja de fora da principal resina, o poliéster saturado. “Mas temos reticulantes, os sais de imidazol, que também podem ser fosqueantes”, disse. Esses produtos pertenciam à linha da Hüls, e tem produção sediada na Alemanha, a custo competitivo, mesmo contra aguerridos concorrentes asiáticos. Também oferece pigmentos e sílicas (agentes fluidizantes).
Nas resinas, destaca o fornecimento de sistemas poliuretânicos para tintas em pó, capazes de formar películas de alta resistência. “Contamos com um isocianato alifático bloqueado que não reticula durante a extrusão, mas apenas após a aplicação”, afirmou.
Sempre visando grandes consumidores ou mercados estratégicos, a Basf aposta no revestimento, com epóxis em pó, de tubos metálicos de grandes diâmetros, usados principalmente para conduzir gás natural. “Já temos projetos no Equador e no Peru, e estamos esperando os investimentos do Brasil nas termoelétricas a gás natural para ampliar negócios”, disse o diretor Francisco Paschoal. Segundo informou, a técnica já superou a resistência inicial dos clientes em investir em cabines e estufas adequadas, superando a eficiência das líquidas, embora ainda enfrente dificuldades para cobrir peças de geometria complexa.

Eletroforese especial – As linhas industrias de eletroforese geralmente aproveitam primers automotivos como se fossem acabamentos. “A PPG desenvolveu linhas de eletroforese próprias para aplicações industriais, capazes de atender qualquer solicitação de cor, brilho e resistência”, disse Martire. A demanda industrial difere da pintura de veículos, pois esta apenas se preocupa em proteger as chapas contra a corrosão e ancorar as camadas de tinta subseqüentes. Para as indústrias interessa obter um excelente acabamento, com efeito estético diferenciado, aliado à alta resistência ao intemperismo e que possa ser aplicado em uma só camada.
Comparada com a linha de eletroforese automotiva, as tintas apresentam composição química muito diferente, mas os processos de aplicação guardam forte semelhança. A PPG formula tinta industrial com epóxis, acrílicos e uretânicos, geralmente em associações de duas dessas famílias, ou até das três, conforme a necessidade.“Na verdade, a linha industrial é mais robusta, capaz de suportar variações de aplicação sem comprometer o resultado final”, explicou. Segundo ele, nas montadoras de carros existem técnicos especializados e dedicados em tempo integral ao acompanhamento dos banhos. Nas indústrias, os banhos precisam funcionar sem tantos melindres.
Líquidas permanecem – As fortes pressões ambientalistas não tiraram, como se previa, as tintas líquidas de mercado. “Houve grande avanço tecnológico, principalmente nas formulações base água”, afirmou Joachim Rudolf, diretor comercial de coatings da Rohm and Haas do Brasil. Ele afirmou obter crescimento significativo na venda de acrílicos base aquosa para formuladores de tintas para pintura de tanques, tubos e equipamentos industriais. “O apelo é ambiental, mas a questão do desempenho é fundamental, e já conseguimos durabilidade até maior que os sistemas alquídicos”, comentou. Para aplicações exigentes em resistência, são recomendados sistemas híbridos de acrílicos com poliuretanos ou epóxis.

No entanto, a própria Rohm and Haas mudou sua estratégia de negócios, ao verificar a permanência de mercado das linhas base solvente. “Esperávamos uma substituição mais forte desses produtos, que não aconteceu em âmbito mundial”, explicou, salientando ser a eliminação de solventes uma tendência, porém para efetivação em prazo mais dilatado. Avançam as linhas de baixo odor e baixo teor de orgânicos voláteis. Por isso, a empresa investiu US$ 22 milhões nos EUA para produzir mais resinas de base solvente para repintura automotiva e can coating, incluindo produtos aprovados para embalagem de alimentos (interna e externa) e indústria geral.
As tintas líquidas mantém forte participação na indústria geral, embora tenham de cumprir exigências ambientais. “Estamos falando de vernizes base solvente com teor de sólidos acima de 70%”, comentou Mauro Eiras, da PPG. Além disso a empresa desenvolveu formulações líquidas de alto desempenho para cura forçada a baixa temperatura. “Alguns substratos são sensíveis ao calor”, explicou Nilo Martire Neto. Em geral, as linhas líquidas apresentam maior conteúdo nacional, por volta de 60% em valor, exigindo importação de pigmentos e resinas especiais. Já nas formulações em pó, a participação de ingredientes importados chega a 80%.
A Akzo Nobel desenvolveu tintas curáveis em baixas temperaturas para pintar peças plásticas usadas em veículos automotores. “O difícil é alcançar a cor exata do resto do veículo, o que exige trabalhar com alta tecnologia”, disse José Manoel Sardo.
Nascida há onze anos,a Tintas Kroma possui linha própria de tintas industriais, formada a partir de um antiga parceria com empresa sueca. “Tínhamos que mexer tanto nas formulações para tropicalizá-las, que acabou sendo melhor desenvolver nossas próprias tintas”, explicou o gerente de negócios Paulo Norcia. Segundo comentou, a linha de produtos visa segmentos específicos, como formulações base água, tintas para plásticos de engenharia e autopeças, com ênfase em poliésteres e acrílicos. “Nossa grande vantagem foi já ter começado com estrutura enxuta e focada em especialidades”, disse, revelando crescimentos anuais médios da ordem de 5% a 8% nos últimos cinco anos.
A Tintas Kroma foi pioneira no desenvolvimento de tintas solúveis em água para plásticos. Formulada com acrílicos, é indicada para a produção de conchas para espelhos retrovisores de carros, feitos de resina ABS. “Geralmente nos pedem a tinta na cor preta, mas podemos fazer qualquer cor sólida”, afirmou. Esses produtos chegam a ser quase 30% mais caros que tintas convencionais com solventes orgânicos, mas Norcia alerta para o fato de a conta não considerar o peso em solvente contido na tinta, que será evaporado. “Descontando o solvente evaporado, a diferença fica bem menor”, afirmou. Ele admite que a tinta ambientalmente correta perca um pouco em resistência química, resistindo a 30 ciclos de fricção com etanol. “Já houve grande melhora, pois antes não se passava de 10 ciclos”, explicou. O segmento enfrentou forte retração de negócios em 2001, mas 2002 começou bem, puxado pela demanda da indústria eletroeletrônica.
A Akzo Nobel também produz tintas para plásticos, mas se concentra em nichos especiais, como o acabamento de embalagens de cosméticos e de acessórios para móveis, oferecendo cores e texturas diferenciadas. “É preciso desenvolver sempre novas tecnologias para fugir da commoditização”, explicou José Manoel Sardo.
Outra especialidade atendida pela Akzo Nobel são as tintas para proteção de fundos de espelhos, formuladas com esmaltes alquídicos especiais. “A camada refletiva é formada pela deposição de cobre em placas de vidro, mas já existem linhas isentas de cobre, seguindo a tendência mundial”, afirmou. A América do Sul é competitiva na fabricação de espelhos, disputando com outras regiões do mundo.

Madeira valorizada – A oferta de novas tecnologias para revestimento de peças de madeira em linhas industriais está em franco crescimento. As tintas curáveis por radiação ultravioleta (UV) se destacam, junto com as formulações de base aquosa, mas já são sensíveis os avanços nas linhas poliuretânicas de secagem rápida, enquanto as tintas em pó prometem ganhar mercado no futuro.
As linhas de UV no Brasil tomaram o rumo das grandes produções, em geral nos móveis populares, valendo-se das vantagens econômicas da técnica, sobretudo da alta velocidade de aplicação e alta resistência do revestimento. “A concorrência em UV no Brasil já é mais acirrada que na Itália”, afirmou o diretor-superintendente da divisão Sayerlack, da Renner Sayerlack S.A., Marcelo Cenacchi. Ele observa que os mercados dos dois países são muito diferentes. A Itália aplica camadas de tinta de gramatura duas vezes superior às usadas no Brasil, preferindo aplicadores a pistola, contra os roletes usados por aqui. Na Europa, a técnica de cura já é usada para acabamentos mais nobres, enquanto o Brasil permanece no verniz final.
Os avanços nacionais, porém, são notáveis. “Os equipamentos de aplicação já estão na faixa de 25 metros por minuto, alguns até nos 30 m/min”, explicou a diretora da divisão Sayerlack, Maria Cristina Kobal de Carvalho. A média dos aplicadores nacionais está na faixa de 15 a 20 m/min, mas os acabamentos mais complexos são realizados em velocidade mais baixa, ao redor de 8 m/min.
O País também está desenvolvendo exportações de produtos de madeira para vários países, geralmente com base em Pinus, com design feito no exterior. É possível esperar incremento nas exportações, com base nos investimentos recentes nos painéis MDF e aglomerados, considerados de boa qualidade.
Nem a crise de eletricidade afetou a venda de tintas para madeiras. “O UV economiza energia, dispensando as estufas de secagem”, disse a diretora. Além disso, a indústria moveleria é, por si mesma, grande consumidora de energia em seus processos.
A diretora da Sayerlack alerta para a qualidade das tintas usadas no processo de cura por UV. “É preciso formular com monômeros adequados, com baixo teor de acrílico livre, para proteger a saúde dos trabalhadores e até dos usuários finais”, explicou. A Sayerlack fabrica seus monômeros acrílicos, por não ter conseguido desenvolver um fornecedor adequado às suas necessidades.
O próximo passo das tintas UV é ingressar nos revestimentos pigmentados e laqueados (não-transparentes). “O mercado é menor, mas já existem clientes e há perspectiva de crescimento”, afirmou Cenacchi. Segundo Maria Cristina, é preciso mudar algumas matéria-primas das formulações e fazer modificações de processo, principalmente nas lâmpadas. Permanece como desafio a aplicação dos sistemas em peças tridimensionais. “Houve avanços, mas ainda há casos difíceis”, reconhece a diretora.
Uma sofisticação da técnica consiste em formular tintas curáveis por UV com base aquosa. “O processo é mais complexo, pois é preciso evaporar a água durante a cura”, comentou a diretora.
“O revestimento de madeira segue o caminho da cura por UV e das linhas ambientalmente amigáveis”, disse José Manuel Sardo, da Akzo Nobel. Para ele, o Brasil deveria investir para conquistar fatias mais largas do mercado internacional de produtos de madeira. “Até a China exporta móveis para os EUA, o Brasil precisa atuar mais”, comentou. Segundo informou, o País segue linhas européias de acabamento, com superfícies planas e brilhantes, mas já há indústrias locais aprendendo o estilo moveleiro americano. “Os americanos adotam estilo quase artesanal de revestimento de madeira, fazendo pintura com equipamentos convencionais”, explicou.
Cenacchi, da Sayerlack, considera o processo americano complexo e ultrapassado. “Eles usam muitos passos e muita nitrocelulose”, afirmou. Tanto ele quanto a diretora da divisão consideram o material excelente, porém problemático no manuseio. “No Brasil, a nitrocelulose ficou nos produtos de baixa tecnologia”, afirmou. Para usar o material com menor risco ambiental, o mercado hoje demanda tintas mais concentradas, com baixa viscosidade, que dificultam a aplicação.
Sardo considera que a nitrocelulose oferece bom desempenho no acabamento de madeira, mas sua secagem é lenta, incompatível com as necessidades das linhas atuais de produção industrial. Por isso a preferência recai nos poliuretanos e nas linhas curáveis por UV.
Para pisos de madeira, a Akzo desenvolveu revestimentos curáveis por UV com um componente cerâmico que lhe confere alta resistência, sem comprometer a translucidez. “Há vários produtos nessa linha, com diferentes graus de resistência e qualidade”, afirmou.
A PPG oferece tintas à base de água ou curáveis por UV para a fabricação de pisos de madeira. “Conseguimos elevada dureza superficial, muito resistente a riscos, mas de forma translúcida, permitindo ver os veios da madeira protegida”, afirmou Mauro Eiras.
Difícil é mensurar o mercado das tintas para UV. “A informalidade é alta nesse segmento também”, disse Cenacchi. Segundo ele, alguns fabricantes de móveis usam tintas “informais”, mais baratas e de desempenho inferior, nas partes internas das peças, aplicando na parte externa produtos de primeira qualidade. “A tinta mal formulada acaba deixando um cheiro forte e pode prejudicar a saúde dos consumidores”, criticou.
Ingredientes – Atenta ao bom desempenho das tintas curáveis por UV, a Degussa intensifica a divulgação dos aditivos reativos feitos de silicone acrilado, que participa da reticulação nas reações auxliares da tinta. Além disso, a empresa oferece um negro-de-fumo específico para a técnica.
“Em geral o pigmento preto absorve a radiação, prejudicando a cura”, disse Ralph Ahlemeyer. “Temos um pigmento especial com baixa estrutura e partículas grandes que dá cor intensa e alto brilho, sem interferir na reticulação.” O pigmento negro é mais procurado pela indústria gráfica.
Fora do UV, a empresa oferece fosqueantes da linha Acematt, com base em sílica precipitada sinterizada e tratada com cera. “São partículas grandes e facilmente dispersáveis, formando superfícies lisas, porém foscas”, disse.
Ambiente protegido – As formulações aquosas venceram a resistência inicial dos aplicadores e já conquista adeptos no revestimento de madeira. “Temos uma de nossas especialidades que é uma tinta solúvel em água da qual somos o único fornecedor para uma das maiores fabricantes de hard board do Brasil”, disse Sardo. A linha é composta por resinas acrílicas com vários modificadores.
“Antigamente os clientes achavam que tinta com base água era biodegradável, ou seja, dispensava cuidados básicos de proteção ambiental”, comentou Cenacchi. A empresa se preocupou em mostrar aos aplicadores que o produto também exige cuidados, embora não represente risco de inflamabilidade elevado, como as formulações base solvente. As tintas base água são mais caras e tem desempenho inferior às formuladas com solventes. “Mas é preciso avaliar o custo total da aplicação, a redução do custo do seguro das instalações e a redução da insalubridade, para verificar que é vantajosa a substituição”, explicou a diretora da Sayerlack. As tintas aquosas usam, em geral, resinas acrílicas ou de poliuretano.
Entre as novidades ambientalmente corretas, Sardo comentou ter visto recentemente, na Feira de Milão, tintas em pó pra madeira. “O problema é a aplicação, que exige equipamento especial, ou seja, demanda investimento”, disse. Revestimento indicado para móveis de cozinha e de escritório, trata-se de pó curável por radiação UV. Um painel de MDF com 4% a 5% de umidade precisa ser aquecido antes de receber o pó, de modo a fundi-lo na superfície, para posterior cura por UV.
Maria Cristina Carvalho considera a aplicação de pintura em pó para madeira ainda em fase embrionária, mais indicada pra nichos de mercado. “Já temos produto para isso, mas até hoje só tivemos consultas”, disse. Vários materiais podem ser usados nessas formulações, curáveis a temperaturas baixas, compatíveis com o substrato.
Especializada em tintas em pó, a Protech defende o uso de formulações em pó também para madeira. “São tintas ainda caras para o mercado nacional, mas acredito que venham a ser muito usadas”, disse Eduardo Dantas.
Feitintas reúne cadeia produtiva das tintas
Em fase final de organização, a Feitintas 2002 promete reunir todos os elos da cadeia produtiva e comercial de tintas no International Trade Mart, na Vila Leopoldina, situado na Zona Oeste de São Paulo, de 11 a 14 de setembro. Em 11 mil m² de área útil, cera de cem expositores e patrocinadores divulgarão seus produtos e terão a oportunidade de encontrar clientes e fornecedores, além de participar de palestras e reuniões específicas.
Simultaneamente à Feitintas, será promovido o 3º Encontro Nacional dos Revendedores de Tintas, no mesmo local, garantindo a participação do principal canal de negócios do ramo para consumidores finais.
“A feira é o órgão para catalisar os três elos da cadeia produtiva: matérias-primas e embalagem, fabricantes de tintas, e canais de distribuição”, afirmou o diretor-presidente do Sitivesp, Roberto Ferraioulo. Ele informou que o espaço dessa exposição, a terceira com esse nome, já foi quase totalmente vendido, confirmando a tendência de expansão da promoção, já verificada na anterior, realizada há dois anos. Além disso, verifica-se grande interesse pela promoção de workshops sobre vários temas, ainda não totalmente definidos.
De certa forma, o perfil da feira reflete o trabalho desenvolvido pelo Sitivesp, que recentemente criou novos grupos de trabalho em áreas como fornecimento de matérias-primas, meio ambiente, recursos humanos, além de acolher palestras sobre desenvolvimentos tecnológicos. “Temos a preocupação de atender às demandas propostas por empresas de todos os portes”, afirmou.