Tintas: Laboratório garante qualidade normatizada

Química e Derivados: Tintas: Trindade - tintas aprovadas terão selo de qualidade nas latas.
Trindade – tintas aprovadas terão selo de qualidade nas latas.

O primeiro laboratório de análise de tintas imobiliárias já está aberto à comunidade e vai contribuir para conscientizar o consumidor sobre a qualidade dos produtos. “Estamos na fase interlaboratorial, testando os resultados das fábricas com os nossos parâmetros”, informa Marco Antônio T.B. Trindade, coordenador do LTI (Laboratório de Tintas Imobiliárias). “Todos os ensaios já foram feitos e os testes já podem ser realizados”, completa.

O LTI está funcionando na Escola Senai Mário Amato, em São Bernardo do Campo-SP, onde foi implantado em parceria com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati). A coordenadora técnica do núcleo de Química do Senai Ana Rita Galhardo Tur espera que o laboratório esteja credenciado junto ao Inmetro (pela NBR ISO/IEC-17025) no início de 2003.

“Este processo é trabalhoso e demorado. Neste ano, nos dedicamos a implantar as metodologias e os sistemas de paridade.” Trindade acrescenta que o Inmetro irá auditar o laboratório e certificar os ensaios.

Tur acredita que num futuro próximo, quem sabe ainda em 2003, o consumidor poderá comprar uma lata de tinta com um selo de qualidade. “Com um laudo nosso, poderão ser colocados selos do Inmetro nas latas”, diz Trindade. Por enquanto, o que há no mercado é uma grande quantidade de tintas com diferentes graus de qualidade, relata Tur. “Visualmente, é impossível saber a qualidade do produto.” Isso com certeza irá mudar porque, como lembra Trindade, “pela primeira vez no Brasil, as tintas imobiliárias terão parametros de qualidade”.

O presidente-executivo da Abrafati Dilson Ferreira, admite que um dos objetivos que levou à criação do laboratório é eliminar do mercado as tintas ruins. Independente e neutro, o laboratório visa atender também as necessidades do PBQ-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – Habitat), o qual requer que os produtos da cesta básica da construção civil estejam dentro de normas técnicas.

Química e Derivados: Tintas: Ana Rita - credenciamento oficial exige amplo esforço técnico.
Ana Rita – credenciamento oficial exige amplo esforço técnico.

Até 1997, grandes grupos como Basf (marca Suvinil), Tintas Coral, Sherwin Williams e Renner Sayerlack dominavam 70% do mercado brasileiro de tintas imobiliárias. Hoje, acredita-se que os grandes têm que se contentar com uma fatia de 60% de um setor que faturou, no ano passado, cerca de US$ 840 milhões e produziu 654 milhões de litros.

As receitas totais do setor de tintas somaram US$ 1,4 bilhão no ano passado, com a venda de 843 milhões de litros. Esses números incluem também a repintura, indústria automotiva e indústria em geral. O Brasil é um dos cinco maiores mercados de tintas do mundo, dividido por aproximadamente 330 indústrias.

Após o Plano Real, novos consumidores aumentaram a demanda, estimulando a expansão de empresas pequenas e médias que passaram a atender a população de baixa renda com produtos mais baratos. Para acompanhar a demanda, grandes empresas também entraram no segmento de produtos mais econômicos que, segundo a Abrafati, já representam 53% da produção nacional. Em 1997, respondiam por 37%. No ano em que o Plano Real foi colocado em prática (1994), o País produziu 542 milhões de litros de tintas imobiliárias.

Química e Derivados: Tintas: Ferreira - medida protege o mercado e a satisfação do consumidor final.
Ferreira – medida protege o mercado e a satisfação do consumidor final.

O problema, como relata Ferreira, foi a deterioração do mercado. A demanda por produtos mais econômicos acabou gerando o aparecimento de tintas com preços muito baixos e qualidade precária. O objetivo do laboratório é “proteger o consumidor dos produtos de má qualidade”, salienta Trindade. O convênio entre as duas entidades permitirá controlar a qualidade das tintas imobiliárias dentro do Programa de Eliminação de não conformidades das tintas de construção civil. As normas oficiais estão sendo elaboradas no Comitê Brasileiro da Construção Civil da ABNT, através da Comissão de Estudos de Tintas para Edificações não Industriais. Trindade participa da Comissão e diz que há cinco normas prontas para sair. Com a normalização do setor, o laboratório contribuirá para a padronização e controle das tintas no mercado interno. Num sinal dos novos tempos, a Caixa Econômica Federal (CEF) já exige, ao conceder financiamento, que as construtoras comprovem a compra de produtos que obedeçam às normas técnicas.

Inicialmente, serão realizados cinco tipos de ensaios: determinação do poder de cobertura de tinta seca; poder de cobertura de tinta úmida; resistência à abrasão úmida; da porosidade em película de tinta; e da resistência à abrasão úmida sem pasta abrasiva. Estes são os cinco ensaios mais importantes, básicos. A previsão, segundo Tur, é realizar cerca de 2 mil ensaios por parâmetro/ano. Trindade declara que, para quem é sócio da Abrafati, o preço médio de cada ensaio é R$ 130. Os não sócios deverão pagar cerca de 20% mais. Quem quiser contraprova, também será atendido. O prazo para a revelação dos resultados dos ensaios de abrasão e porosidade está calculado, no mínimo, em nove dias. O de cobertura úmida, um dia; e o de cobertura seca, dois dias. Obviamente, os ensaios serão feitos em sigilo, conforme requisito da norma ISO 17025.

O laboratório está à disposição das empresas que queiram participar do programa de qualidade. Ferreira explica que basta se inscrever e se qualificar na Abrafati: “As empresas que quiserem aderir ao programa terão também que comprovar uma postura ética. Não podem, por exemplo, ser sonegadoras de impostos. E terão que aceitar que os seus produtos sejam auditados e testados para que se comprove se há continuidade no padrão de qualidade.” De posse desses dados, o plano da Abrafati é publicar listas das empresas e dos produtos que atendem às normas. Ferreira estima que no início de 2003 já será possível publicar as listas pela internet e outros meios.

A médio prazo, Trindade acredita que o laboratório estará apto a fazer até 42 ensaios diferentes. “Temos 42 projetos de normas e a Abrafati irá escolher quais vai monitorar.” A Escola Senai conta com cerca de 40 laboratórios, oficinas e plantas piloto, espalhados numa área construída de 38 mil m². O LTI possui aproximadamente 50 m², um coordenador (Trindade é engenheiro químico com especialização em química orgânica) e um estagiário (Jurandir Queiroz da Silva) formado pelo próprio Senai. Outro papel do laboratório será o desenvolvimento de treinamentos técnicos para empresas de ensaios em tintas imobiliárias e implantação de sistemas de qualidade em laboratórios de tintas.

Química e Derivados: Tintas: Teste de abrasão verifica resistência da película.
Teste de abrasão verifica resistência da película.

Os equipamentos do laboratório foram importados e repassados pela Abrafati. O Senai participa com a infra-estrutura física e de recursos humanos. O aplicador eletromotorizado, a máquina para lavabilidade e o espectrofotômetro computadorizado foram fabricados pela BYK Gardner, dos Estados Unidos, e custaram cerca de R$ 120 mil, informa Ferreira. Os computadores, que somam R$ 6 mil, ficaram por conta do Senai. Por iniciativa da Abrafati, o projeto do LTI começou a ser delineado em agosto de 2000. No dia 13 de maio último aconteceu a inauguração.

É de 1886 o registro do primeiro empreendimento oficial da indústria brasileira de tintas e vernizes que, hoje, é um dos segmentos mais sólidos da economia do país. Segundo a Abrafati, as empresas pioneiras dedicaram-se à linha imobiliária, mas com a aceleração do progresso tecnológico entre os fabricantes de tintas, outros segmentos foram se estruturando, como é o caso das tintas industriais e da pintura e repintura automotiva. Os fabricantes respondem, de forma direta, por mais de 20 mil empregos, envolvendo indiretamente um universo estimado em 300 mil profissionais.

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