Ferramenta importante para o controle de qualidade e para a maior eficiência na formulação de novas tintas, o espectrofotômetro, instrumento usado para a medição da cor, ainda não conquistou seu devido espaço no mercado brasileiro de tintas.
Como relatam especialistas e fornecedores desses equipamentos, muitos pequenos e médios fabricantes de tintas e varejistas não se encontram adequadamente aparelhados.
Mesmo entre as empresas equipadas, os espectrofotômetros são subutilizados ou até mesmo solenemente deixados de lado.
E esse é um fenômeno que afeta tanto empresas de pequeno porte como algumas das maiores do setor.
“Há uma ignorância muito grande nas empresas sobre os benefícios dos espectrofotômetros, aliada a uma falta de capacitação para o uso adequado do equipamento”, constata Pedro Gargalaca Filho, diretor da Coralis, representante dos equipamentos norte-americanos X-Rite no Brasil.
Segundo avalia Luiz Fatarelli, diretor da Colorz, representante da também norte-americana Datacolor, a situação é reflexo do baixo investimento das empresas brasileiras em tecnologia.
O grau de uso dos equipamentos, portanto, varia de acordo com a sofisticação do mercado onde o fabricante de tintas está inserido.
Para Sérgio Marigonda, diretor da Mast, representante dos equipamentos BYK, dos EUA, entre os fabricantes de tintas automotivas, a adequação tecnológica em medição de cor “é quase uma regra, pois as montadoras são clientes exigentes, que discutem pequenas variações na cor ou no efeito que ela possa vir a ter”, afirma.
Entre os fabricantes de tintas imobiliárias, informa o executivo, a instrumentação não é tão avançada. Mas Marigonda é otimista.
Sérgio Marigonda: montadoras adotaram espectrofotometria como regra
“A adequação vem crescendo gradativamente. Sentimos que o Programa Setorial da Qualidade para Tintas Imobiliárias da Abrafati serve para nortear tal adequação, criando uma conscientização dos fabricantes de tintas que se estende até as revendas e em breve chegará ao consumidor por meio de padrões de qualidade comuns a todos os fabricantes participantes do programa. O selo do PSQ na embalagem atestará ao consumidor que aquele produto passou por rigorosos testes, inclusive o colorimétrico”, diz o executivo.
Uma tendência é o uso de espectrofotômetros no varejo. Pedro Gargalaca, da Coralis, relata que já supera a casa de 500 as lojas de tintas equipadas com espectrofotômetros no Brasil.
“As lojas de tintas imobiliárias que oferecem cores personalizadas são as empresas que mais investem hoje nesses equipamentos”, diz o executivo.
“Elas ganham agilidade no preparo da tinta, que pode ser realizada em minutos e com baixa probabilidade de erro. E ganham na satisfação do cliente, que pode levar na hora a tinta solicitada”, completa.
Já para Antonio Francisco, diretor da T&M Instruments, representante brasileiro da japonesa Konica Minolta, o uso dos espectrofotômetros no Brasil está avançando na indústria de tintas, principalmente nas aplicações voltadas para a verificação da qualidade da tinta, mas os equipamentos ainda são pouco empregados para a atividade de formulação.
“Com isso, muitas empresas perdem a oportunidade de ganhar produtividade no desenvolvimento de novos produtos”, diz o executivo.
Fatarelli, da Colorz, arrisca-se a dimensionar essa perda.
Luiz Fatarelli: empresas brasileiras nao investem em tecnologia
“Um bom colorista, usando apenas da comparação visual, consegue desenvolver 80 a 100 cores por mês. Com o apoio de um equipamento, o número mais que dobra”, avalia o diretor.
Os custos também são reduzidos.
“Enquanto um colorista normalmente necessita fazer vários ajustes até chegar à cor desejada, gerando desperdícios, o espectrofotômetro trabalha com parâmetros que reduzem a necessidade de ajustes na formulação”, diz Antonio Francisco.
Na opinião de Gargalaca, são vários os fatores que influenciam a restrição do uso de equipamentos de medição de cor no Brasil.
O primeiro deles é o conservadorismo de coloristas experientes, que muitas vezes não se esforçam para conhecer os benefícios dos equipamentos de medição de cor.
E, por outras vezes, se sentem ameaçados por eles.
De acordo com o executivo, as empresas também não se preocupam em capacitar as pessoas adequadamente.
A situação fica ainda pior diante da alta rotatividade de funcionários nas empresas.
Um erro comum, gerado por essa falta de capacitação profissional, é o colorista avaliar uma cor sob uma determinada fonte de luz e comparar com o resultado do espectrofotômetro, que usou fonte de luz diferente, ignorando o fato de a fonte de luz impactar na percepção da cor.
“Nessa situação, o colorista tende a valorizar sua análise visual e desqualificar o equipamento, quando na verdade os parâmetros de avaliação é que não foram equivalentes, gerando diferenças de leitura”, diz o executivo.
Conforme aponta Gargalaca, um terceiro problema ainda gera uma descrença equivocada do uso da tecnologia na medição de cor.
Pedro Gargalaca critica a falta de conhecimento do setor
“A compra de equipamentos inadequados é muito comum entre os usuários brasileiros”, diz o executivo.
Ele relata haver uma gama muito grande de equipamentos de medição de cor disponíveis, cada um com seu uso mais apropriado.
A compra errada do espectrofotômetro pode gerar tanto dúvidas sobre a sua eficácia quanto o questionamento da relação custo do equipamento versus benefício da aplicação.
Para contornar esta série de problemas e difundir o uso correto dos espectrofotômetros no país, a Coralis investiu na montagem de um centro de treinamento em São Paulo, que está em operação desde setembro de 2007.
Ali já foram capacitadas 800 pessoas em cursos laboratoriais de dois dias. Para 2009, o objetivo da Coralis é ampliar o treinamento para quatro dias, sendo dois em laboratório e outros dois na empresa do aluno.
“Detectamos que, muitas vezes, os alunos aprendem a teoria no centro de treinamento, mas possuem difi culdade de implementar o aprendizado na empresa. Vamos colaborar com isso”, diz o executivo.
A iniciativa é pioneira entre os representantes X-Rite no mundo e, informa Gargalaca, agora a multinacional está incentivando a Coralis a levar a solução para outros estados brasileiros e para os demais países da América Latina.
“No próximo ano deveremos inaugurar centros de treinamento em Curitiba e Porto Alegre”, afi rma o executivo.
Inspeção visual não é precisa – Mas por que o uso de espectrofotômetros é tão importante? Quem responde é o consultor Marcos Quindici, da Rainbow Brasil, co-autor do capítulo “Colorimetria”, do livro Tintas & Vernizes – Ciência e Tecnologia, editado pela Abrafati. Para ele, a cor é subjetiva e as pessoas possuem difi culdade em descrever verbalmente uma cor.
Além disso, a aparência da cor é afetada por vários fatores, como a condição de luminosidade, por exemplo. Para completar, o olho humano possui sensibilidades diferentes para as cores, ou seja, um grupo de dez pessoas pode perceber uma única cor de dez maneiras diferentes.
“Diante de tanta subjetividade, a colorimetria é uma ferramenta para medir e expressar a cor por meio de referências numéricas, gerando parâmetros mais precisos de classificação da mesma”, diz o especialista.
A busca de maior precisão na manipulação da cor, relata Quindici, é fundamental para quem lida profissionalmente com a cor, como fabricantes de tintas, por exemplo.
É dessa forma que eles podem ter uma maior garantia de reprodução exata do produto.
“Imagine um consumidor que adquire uma lata de tinta para pintar sua casa. A quantidade não é suficiente. Ele volta a comprar um produto idêntico do mesmo fabricante e, após aplicada a tinta, percebe diferenças de tonalidade na parede de sua sala, entre a parte da parede pintada com a tinta antiga e a pintada com a nova. Qual é a opinião que este consumidor vai ter sobre o fabricante?”, exemplifica o consultor.
A exemplo do olho humano, informa Quindici, o espectrofotômetro também não permite uma leitura exata da cor. Portanto, é preciso defi nir critérios de aceitação e reprovação da cor analisada pelo instrumento.
O espectrofotômetro, porém, é mais preciso e é capaz de detectar pequenas diferenças de cor, quase que imperceptíveis ao olho humano.
Além disso ele permite uma maior constância nas referencias de avaliação ao usar sempre a mesma fonte de luz e o mesmo método de iluminação .
O uso do instrumento, portanto, exige um manuseio adequado. Mas a grande vantagem é exporessão numérica da mediação da cor.
Na opinião do especialista, o espectrofotômetro não substitui o colorista. É, na verdade, uma ferramenta de apoio ao profissional. “
A boa analise de resultados deve unir a comparação visual da cor com os dados gerados pelo instrumento”, diz o especialista.
Observação da cor – Como explica Quindici em Tintas & Vernizes – Ciencia e Tencologia, “a cor de um corpo não é uma propriedade especifica dele, ela é uma sensação produzida no cérebro com base em um conjunto de fenômenos que se inter-relacionam. A cor de um corpo depende da radiação eletromagnética (luz) que o atinge e das propriedades do corpo de refletir, transmitir, absorver ou emitir essa radiação. A luz que emerge de uma corpo, portanto, depende da luz que nele incide. A cor de um corpo pode ser modificada em função do tipo de luz que nele incide”.
A radiação eletromagnética visível ao olho humano vai de 380nm a 780nm.
Cada comprimento de onda deste espectro é percebido pelo olho humano como uma cor determinada.
A região de luz com os comprimentos de ondas mais curtos é vista como violeta.
Na sequencia do espectro há o azul, o verde, o amarelo e o laranja, chegando as ondas mais longas, vistas como vermelho.
As cores possuem três atributos: tonalidade, que é o comprimento de onda do espectro visível ao qual ela está associada; luminosidade (clara ou escura); e saturação, o grau de pureza ou mistura com outra cor.
O espectrofotômetro, como informa o material de divulgação da Konica Minolta, utiliza-se de um sensor espectral de alta precisão, composto de uma sequencia de múltiplos sensores, que recebe a luz vinda do objeto a ser analisado e transmite a informação a uma microcomputador, que determina os valores de reflectância espectral, baseado nas informações recebidas do sensor.
Os resultados são expressos em números ou em gráfico espectral. Konica Minolta, X-Rite e Datacor utilizam como padrão de iluminação em seus equipamentos as lâmpadas de xenônio. A BYK utiliza tecnologia LED.
Entre os principais usuários dos espectrofotômetros estão as indústrias e lojas de tintas, gráficas, indústria de plásticos, têxteis, couro, papel e o setor automobilístico, das industrias de autopeças as oficinas de reparo.
Os fornecedores de espectrofotômetros oferecem uma gama variada de instrumentos, que incluem desde aparelhos portáteis a equipamentos de mesa com diversas especificações e diferentes resoluções de leitura.
Aos equipamentos são acoplados softwares, os quais podem ser limitados ao controle de qualidade ou completos, com banco de dados, formulação e correção da cor. Os preços FOB dos espectrofotômetros variam de US$ 3 mil a US$ 30 mil.
Já os softwares variam de US$ 1,5 mil a US$ 18 mil, dependendo da especificação. Mas para contar com essas tecnologias em suas empresas, os usuários brasileiros precisam incorporar ainda impostos, taxas aduaneiras e fretes.
O resultado, relatam Antonio Francisco e Luiz Fatarelli, é um encarecimento superior a 50% do preço original.
Antonio Fancisco: uso no controle de qualidade
“Impostos de importação menores resultariam em uma industria nacional bem mais equipada e competitiva”, lamenta Francisco.
Uma inovação em curso esta sendo introduzida pela X-Rite, que está oferecendo ao seus clientes uma sistema de formulação de uma empresam, podem operar em conjunto.
O ingresso ao sistema, que dá direito a oito acessos simultâneos, custa US$ 30 mil.