Com Pitt-Char NX, estruturas aumentam resistência ao fogo por cinco horas
O aumento da fiscalização, novas regulações e maior consciência sobre o risco de incêndios vêm acelerando tanto a prevenção como a diversificação da oferta de tintas protetivas e insumos no mercado brasileiro.
Analistas e empresários avaliam que a expansão de demanda no chamado segmento de proteção passiva teve dois efeitos imediatos: crescimento da indústria e procura por profissionais qualificados e capacitados para lidar com questões de segurança contra incêndios.
Mas o setor ainda apresenta altos e baixos em desempenho, incluindo a falta de conhecimento preciso sobre a aplicação de determinados produtos.
“Cada vez encontramos mais fabricantes que desenvolvem produtos eficientes, com maior facilidade de instalação e aplicação, bem como durabilidade e confiabilidade. No entanto, também nos defrontamos com itens inadequados, que não estão em conformidade com as normas ou são comercializados para finalidades incorretas. O consumidor deve procurar especialistas para não comprar errado, pois a responsabilidade é compartilhada e o uso destes produtos requer o acompanhamento de profissionais qualificados e habilitados”, adverte Rogério Lin, diretor da CKC do Brasil e ex-presidente da Associação Brasileira de Proteção Passiva Contra Incêndio (ABPP).
A conjuntura setorial tem sido favorecida, principalmente, pelo bom desempenho da indústria de óleo e gás, mineração, petroquímica e todos aqueles segmentos que necessitam de proteção mais robusta, diz Adilson Cesar Demathe, diretor de vendas da WEG Tintas.
A AkzoNobel, que também está de olho na expansão desses segmentos, além do saneamento, vislumbra alguns desafios para atender as novas demandas desses mercados.
Dentre eles, destaca a escassez de matérias-primas que afetam diretamente algumas linhas de produtos, em especial para os clientes de óleo e gás, constata Arariboia Martins, gestor de novos negócios da companhia.
O crescimento da demanda por tintas protetivas tem impactado diretamente a formulação e os produtos ofertados pela PPG, informa o supervisor técnico Luiz Guilherme da Silva.
A empresa está investindo em tecnologia e melhoria da produtividade, visando desenvolver novas fórmulas que atendam as demandas e necessidades dos clientes, parte deles também pertencentes aos setores de óleo e gás, além de marítimo e infraestrutura.
“O Brasil é um país de dimensões continentais e, por consequência, a demanda por revestimentos de alta performance, que já é alta, aumenta a cada dia. Destacar-se nesse mercado é um grande desafio e, ao mesmo tempo, um mar de oportunidades”, avalia Alexsander Dubik, coordenador de Protective & Marine Coatings, da Renner.
A área de pesquisa e desenvolvimento da companhia está atenta a novas oportunidades, buscando continuamente atualizar seu portfólio de modo a beneficiar os clientes.
O objetivo é entregar produtos com maior resistência, durabilidade, sustentabilidade e competitividade, complementa a gerente do laboratório Vivian Adami.
Caritá: foco nos preservantes e aditivos para as tintas
“À medida que o consumo de tintas protetivas se torna relevante, isso faz com que as empresas se adaptem à nova demanda e procurem oferecer alternativas dentro de seu portfólio”, afirma Giovanni Caritá Júnior, gerente de operações técnicas e marketing da Lanxess.
Ele acrescenta que na indústria fornecedora, a adoção de novas tecnologias e matérias-primas também se torna uma prerrogativa para o atendimento deste mercado.
Para Michelle Silva Latta, gerente de desenvolvimento de produtos da Univar Solutions, o crescimento constante, nos últimos anos, do setor de tintas protetivas tem estimulado a expansão de portfólio, por meio de parcerias com fabricantes de classe mundial.
Esses negócios têm sido orientados com foco em inovação e melhor aproveitamentos dos recursos naturais, diz ela.
Um caso de ganha-ganha em parcerias desse tipo foi citado, recentemente, por André Tadeu Moreno Figueiró, gerente técnico nacional da Sika Brasil, fornecedora de aditivos para a construção civil.
Em entrevista ao Portal Incêndio, ele afirmou que o sistema de proteção intumescente, como é denominada a tecnologia das tintas, é fabricado, em parte, fora do Brasil, mas que o custo elevado da importação não chega a ser uma desvantagem competitiva.
O gasto se torna irrelevante, já que o material garante maior segurança às pessoas usuárias de edificações, compara Figueiró, pós-graduado em patologia em obras civis.
O exemplo também ilustra como a compreensão correta da teoria pode produzir impactos relevantes na aplicação prática do conhecimento. A proteção passiva se subdivide em dois conceitos: reação ao fogo e resistência o fogo, ensina Lin, da CKC.
EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
O primeiro aborda o comportamento de forros, revestimentos de parede, pisos e coberturas que, quando expostos ao fogo, devem ter propagação de chamas e emissão de fumaça limitadas.
Por sua vez, o segundo conceito engloba segurança e estabilidade estrutural das edificações durante um incêndio, compartimentação de ambientes verticalmente e horizontalmente. Inclui também a avaliação das selagens resistentes das instalações prediais, levando em conta integridade e isolamento térmico, em um determinado tempo.
Um dos maiores desafios, segundo ele, é saber quais produtos são adequados para cada situação. No caso da madeira, existem três tipos de tratamento: retardante, verniz e tinta intumescente. Dentre eles é preciso saber se a opção é atender reação ao fogo, resistência ao fogo ou ambas.
Dependendo das características e uso da edificação, por exemplo, altura e público, as regras mudam e o produto também. “E o pior é que, atualmente, existem poucos especialistas que conseguem oferecer o que o cliente de fato precisa para estar seguro contra incêndio”, diz.
Alguns especialistas avaliam que em países desenvolvidos a segurança contra incêndio ganhou status de ciência. Por isso é estudada com profundidade e os conhecimentos desenvolvidos são aplicados no cotidiano das pessoas e das empresas.
No Brasil, ao contrário, há poucas iniciativas neste sentido e o conteúdo das disciplinas é insuficiente para o aprimoramento e aplicação do aprendizado.
Tecnologias e inovações – Resinas resistentes à alta temperatura, revestimentos anti-incêndio, tinta intumescente e produtos de proteção passiva compõem o portfólio de grandes fornecedores de produtos, como epóxi.
Alguns fabricantes ganharam destaque ao se antecipar no desenvolvimento de parte desses materiais, reforçando suas posições junto aos clientes, inclusive fora do Brasil.
Alexsander Dubik, da Renner, conta que a empresa oferece uma tinta intumescente, denominada Stofire, que foi a primeira desenvolvida na América do Sul para proteção passiva de estruturas metálicas contra o fogo.
Graças a esse pioneirismo, o produto se tornou uma das marcas mais importantes do mercado chileno de pintura intumescente, além de ser aplicado em mais de 10 mil obras executadas em todo o continente sul-americano.
“O Stofire é um revestimento que, em caso de incêndio, se expande, formando uma capa grossa de espuma carbônica que atua como um isolante térmico para o metal. Isso protege a estrutura metálica em caso de incêndio, resistindo ao fogo por 30, 60 e até 90 minutos, evitando o colapso da estrutura. A fase de expansão se manifesta quando o produto chega aos 200ºC, retardando o tempo em que a estrutura chegaria aos 500ºC e permitindo a saída segura das pessoas presentes”, explica Dubik.
A empresa dispõe também de mais duas opções das linhas Revran (epóxis) e Rethane (poliuretanos), as quais oferecem diversas soluções como: seladores, primers, intermediários, dupla função e acabamentos, que variam do fosco ao alto brilho, e lisos ou antiderrapantes.
O portfólio contempla ainda opções de baixo ou alto teor de sólidos por volume, algumas com 100% de sólidos por volume e zero compostos orgânicos voláteis, além de produtos normatizados ou não normatizados.
As resinas de silicone de alta temperatura base solvente constituem o carro-chefe da distribuidora Univar Solutions, no segmento de protective coatings.
Michele: resinas de silicone suportam altas temperaturas
“Por meio desses produtos, o formulador consegue fazer várias combinações, aproveitando sua compatibilidade com resinas orgânicas, dando a possibilidade de adequar o seu produto com as características desejadas”, informa a gerente de desenvolvimento de produtos Michelle Silva Latta.
O material ofertado em parceria com o fabricante, a Dow Química, suporta picos de temperatura até 650°C, acrescenta.
A WEG fornece tintas líquidas, em pó e vernizes eletroisolantes, conforme as aplicações e necessidades oriundas do processo de pintura dos clientes.
As tintas líquidas, à base de resina alquídica, têm propriedades antichama, voltadas para superfícies de madeira e aço, informa o diretor de vendas Adilson Cesar Demathe.
Por conta desse diferencial, o produto retarda a propagação da chama, havendo incêndio ou excesso de calor em superfícies quentes ou de fontes irradiantes de calor, como ocorre nos setores minerometalúrgico e de óleo e gás.
Seu concorrente nesse último segmento, a AkzoNobel desenvolveu um produto livre de boro, especificamente para o combate ao fogo na indústria offshore de óleo e gás.
Martins: Chartek 8E é isento de boro e requer poucas demãos
“Por meio de um número reduzido de demãos, a aplicação do chamado Chartek 8E melhora a eficiência do revestimento em projetos estruturais, tornando a superfície capaz de resistir aos efeitos de incêndios por até 60 minutos”, garante Arariboia Martins, gestor de novos negócios da companhia.
A marca International, da AkzoNobel, também disponibiliza dois tipos de revestimento epóxi com características e aplicações diferenciadas.
Um anticorrosivo, destinado a estruturas metálicas em geral, e outro, fenólico, para altas temperaturas. Esse último se aplica igualmente contra corrosão sob isolamento térmico.
O portfólio oferece ainda acabamento polisiloxano de alta resistência aos raios UV, epóxi intumescente para proteção passiva contra fogo, entre outros, informa Martins.
A CKC possui um departamento dedicado a entender as necessidades de cada cliente e desenvolver soluções tecnicamente comprovadas, sempre que não houver uma solução pronta de mercado, informa o diretor Rogério Lin.
Além desse diferencial, a companhia oferece especialidades, com destaque para produtos de proteção de estruturas metálicas, como retardantes para controle de materiais de acabamento, revestimento e compartimentações, promovendo uma forma de selagem resistente ao fogo.
A lista de produtos de proteção passiva comercializados no Brasil e América do Sul oferece também retardantes de chamas, incluindo vernizes, e uma linha para controle de incêndios em veículos e equipamentos, tais como baterias de íon-lítio, que conta com a manta corta-fogo.
A temperatura neste caso pode superar 1.300ºC e apresenta fuga térmica, um efeito que dificulta o controle de chamas e torna extremamente perigosos os casos em ambientes confinados.
Quando em contato com temperaturas superiores a 200ºC, os materiais intumescentes ofertados pela empresa criam uma expansão volumétrica, formando uma camada carbonácea que melhora o isolamento térmico do substrato protegido.
Para a proteção de estruturas metálicas, existe um produto que aumenta a resistência ao fogo em até 180 minutos, enquanto a linha para madeira protege o material e tem boa classificação de reação ao fogo, explica Lin.
A área do negócio de revestimentos protetivos e marítimos (PMC) da PPG possui duas linhas de produtos intumescentes que, além de anticorrosivos, protegem vidas contra incêndios.
Quando em contato com o calor das chamas, os produtos entram em intumescência e por meio desse processo o volume do revestimento aplicado se expande várias vezes.
Com isso cria uma camada que isola as chamas, evita o contato do aço estrutural com o fogo e retarda um possível colapso da estrutura, explica o supervisor técnico Luiz Guilherme da Silva
Silva: linha Pitt-Char é usada em locais contendo inflamáveis
“O Stellguard 651, nosso intumescente à base de água, foi desenhado especificamente para combater incêndios causados por produtos comumente usados shopping centers, escolas e estádios, como madeira, papéis e plásticos. Já o Pitt-Char NX, é específico para locais onde há produtos inflamáveis (plantas químicas e plataformas de petróleo), líquidos ou gases sob pressão”, detalha Silva.
O Pitt-Char NX pode ser aplicado por meio de equipamento airless ou por espátula. Uma cobertura com pouco mais de 10 milímetros de espessura garante proteção da estrutura por cinco horas.
Esse nível de eficiência contra chamas supera a de produtos similares, inclusive em volume de produto consumido.
A Lanxess possui uma ampla linha de produtos para o controle microbiológico e aditivos especiais que conferem à tinta uma nova funcionalidade ou ao revestimento. Estes aditivos ampliam as aplicações do produto final, particularmente das tintas protetivas, cujo foco está na manutenção de equipamentos e plantas industriais, explica Giovanni Caritá Júnior, gerente de operações e técnica e marketing.
As tintas visam principalmente à proteção antifoulling para aplicação em plataformas offshore e casco de embarcações. A empresa disponibiliza também preservantes para estado úmido e filme seco que podem ser usados na formulação de tintas protetivas base água e base solvente.
Normas e certificações – Além das certificações, existe uma variedade de normas e especificações legais que regulam a produção e o fornecimento de tintas protetivas e aditivos destinados ao mercado de proteção passiva.
Alguns desses instrumentos apenas apontam diretrizes que os fornecedores adaptam ou não aos seus processos.
Outros são mais detalhados e exigem o cumprimento dos preceitos estabelecidos em face das implicações de segurança de pessoas e da preservação da integridade de equipamentos de maior valor, sujeitos a riscos de incêndio.
Por exemplo, ABNT e Petrobrás regulamentam as normas do segmento de protective coatings e são mais coercitivas, como observa Michelle Silva Latta, gerente de desenvolvimento de produtos da Univar Solutions. Ou seja: empresas de tintas que desejarem fornecer para a Petrobras precisam ter seus produtos homologados pela estatal.
Dentre os produtos que devem seguir a orientação técnica da Petrobras, Eletrobras, Vale, além da ISO-12944, Norsok M-501 etc., destacam-se os revestimentos de alto desempenho, complementa Alexsander Dubik, coordenador de Protective & Marine Coatings, da Renner.
A norma ISO 12944 determina que a superfície da estrutura metálica que irá receber a tinta intumescente deve ser tratada com jateamento abrasivo em padrão específico.
“Caso contrário, deve-se proceder o lixamento mecânico convencional com posterior limpeza e aplicação de primer”, orienta André Tadeu Moreno Figueiró, gerente técnico nacional da Sika Brasil.
A norma ABNT NBR 15220, que trata da construção civil descreve as exigências para instalações prediais de proteção contra incêndios, incluindo o uso de materiais de acabamento.
Especifica os requisitos para a seleção e o uso de materiais de acabamento de revestimento de paredes, pisos e tetos, bem como a necessidade de contemplar os parâmetros de reatividade ao fogo, resistência ao fogo e propagação de chama.
Descreve ainda os requisitos para portas, escadas, iluminação e outros elementos de construção que podem afetar a segurança contra incêndios em edificações.
Rogerio Lin, diretor da CKC lembra que existem normas que regulamentam as exigências de desempenho e as que avaliam produtos oferecidos no mercado, para segurança estrutural. Por exemplo, a IT-08, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo, detalha o que é necessário atender e quais normas técnicas seguir.
A regulamentação de outros estados segue parâmetros muito similares à de São Paulo, segundo ele, lembrando que a aplicação das tintas intumescentes em estruturas metálicas requer mão de obra qualificada, por ser uma atividade técnica.
Por outro lado, a certificação dos produtos que se tornou exigência em 2019 agora requer que esse processo seja devidamente documentado e comprovado. Lin considera que essa condição melhora a qualidade dos produtos oferecidos ao mercado e, consequentemente, a segurança das edificações em um eventual incêndio.
Para Adilson Cesar Demathe, da Weg, os instrumentos regulatórios estão em constante evolução, buscando a objetividade dos pré-requisitos dos planos de pintura e a expectativa de durabilidade de cada um deles, considerando o ambiente.
Neste sentido, um plano de pintura com uma expectativa de durabilidade de 20 anos pode variar conforme a agressividade do ambiente em que será alocada a estrutura ou equipamento.
Demathe: sistema regulatório está em atualização constante
“Por exemplo, um plano de pintura indicado para uma estrutura metálica que ficará alocada a 5 km da orla marítima é diferente de outro destinado a uma estrutura localizada a 300 km da orla, devido à agressividade da maresia”, explica Demathe.
Em relação a produtos químicos ainda não há um inventário de substâncias restritas no Brasil, porém isso está em discussão na Abiquim, em conjunto com a ABNT, informa Giovanni Caritá Júnior, gerente de operações técnicas e marketing da Lanxess. De modo geral, segundo ele, o mercado segue como referência o marco regulatório vigente nos Estados Unidos e Europa.
Além disso, os fabricantes devem observar as normas e regulamentos aplicáveis aos produtos químicos em geral, sobre sinalização de segurança. Deve-se observar também as disposições atualizadas sobre o transporte de produtos perigosos da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT).