Os estímulos ao setor de construção civil, como a redução do IPI (Imposto sobre produtos industrializados), e as novas modalidades de crédito para a compra de materiais de construção (queda de juros e alongamento nos prazos de financiamento), além do aumento de renda da população, trouxeram benefícios à indústria de tintas imobiliárias em 2009 e boas esperanças para 2010.
Por questões estratégicas, a grande maioria das empresas do setor reluta em revelar os seus números e estimativas para o setor.
No entanto, as mesmas companhias não escondem o entusiasmo em relação ao segmento de tintas decorativas imobiliárias, que no ano passado respondeu por 59% do faturamento dos fabricantes e 76% do volume total vendido ao mercado.
As iniciativas de incentivo à construção civil foram responsáveis por manter as vendas de tintas aquecidas em 2009, depois de um primeiro trimestre muito negativo, afirma Dilson Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati).
“As vendas para o setor imobiliário cresceram 0,7% em 2009 (para 982 milhões de litros), comparadas ao ano anterior, diferentemente do que ocorreu com o segmento de tintas como um todo, que teve queda de 0,9% nas vendas (1,232 bilhão de litros)”, compara o executivo.
A prorrogação do desconto do IPI para material de construção até 31 de dezembro (a desoneração valeria até final de junho), anunciada em abril pelo ministro Guido Mantega, traz ainda mais confiança aos fabricantes de tintas. Para 2010, a Abrafati espera um aumento de 3,5% nas vendas, “em virtude principalmente da manutenção do conjunto de condições favoráveis que vem permitindo o expressivo crescimento da construção civil”, diz Ferreira. O executivo da entidade que reúne os fabricantes ressalta que, pela primeira vez na história, em 2010, os negócios anuais de tintas imobiliárias ultrapassarão a marca de 1 bilhão de litros vendidos. Em 2009, o faturamento obtido com a comercialização de tintas imobiliárias registrou recuo de 2,3%, para US$ 1,936 bilhão, na comparação com 2008, enquanto a receita total do setor de tintas teve queda de 5%, totalizando US$ 3,03 bilhões, de acordo com a Abrafati.
Segundo Ferreira, a finalização das primeiras unidades do programa Minha Casa, Minha Vida, com o qual o governo federal projeta a construção de um milhão de moradias populares, e o significativo crescimento dos financiamentos imobiliários geram forte otimismo. Além disso, os fabricantes de tintas contam com um novo impulso da indústria automobilística e o avanço das obras públicas de infraestrutura, que estão em fase de inauguração em função do período eleitoral. Ferreira afirma ainda que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os preparativos para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada, em 2016, também devem ajudar a alavancar o mercado.
Em relação ao Minha Casa, Minha Vida, apesar da expectativa positiva, o presidente-executivo da Abrafat diz que ainda não é possível dimensionar o real aumento das vendas que o programa irá proporcionar, pois as tintas só entram na fase final das obras.
“No entanto, somente as unidades da primeira etapa do programa significarão a venda adicional de 50 milhões a 60 milhões de litros de tintas imobiliárias, ou seja, 5% a 6% do total vendido num ano”, calcula.
Ferreira: setor deve crescer 2% com programa de casas populares
“Mesmo que essas unidades levem três anos para serem entregues em sua totalidade, serão cerca de 2% a mais em vendas ao ano”, acrescenta Ferreira.
A Universo, com fábrica em Diadema-SP, aposta em uma forte expansão das vendas em 2010, dando continuidade ao expressivo crescimento registrado pela empresa no ano passado, de acordo com Ary Machado, diretor-comercial da companhia. “Em 2009, crescemos 35%, em volume, em relação a 2008, e neste ano pretendemos aumentar as vendas de 18% a 20%”, prevê o executivo. Atualmente, a companhia vende cerca de 7 milhões de litros por mês, entre tintas base água (5 milhões de l/mês) e base solvente (2 milhões de l/mês).
Para Machado, a Universo espera obter bons resultados com as vendas de tintas standard e econômica, em razão principalmente do avanço do programa Minha Casa, Minha Vida. “Somos a última fase da construção civil. Depois do boom de ferragens, esquadrias, portas e outros materiais, fala-se em tintas. Portanto, somente a partir de agora é que saberemos quanto iremos crescer com esse programa”, comenta Machado. Segundo ele, a projeção de crescimento para este ano (de 18% a 20% em relação a 2008) não contempla o acréscimo decorrente desse programa oficial, “pois ainda não temos a noção exata de como está o canteiro de obras no país, impossibilitando apontar estimativas”.
As tintas látex premium respondem por cerca de 50% dos negócios totais da Universo, enquanto que a standard e a econômica possuem 25% de participação cada uma. Os números da Universo diferem um pouco do mercado total imobiliário, que, segundo a Abrafati, é dividido da seguinte forma: 40% premium, 20% standard e 40% econômicas. As tintas imobiliárias são classificadas de acordo com os requisitos mínimos de desempenho estabelecidos pela Norma NBR 15079 (da ABNT), que obriga os fabricantes a informar no rótulo da embalagem qual é o padrão de seu produto. Essa classificação leva em conta os seguintes itens: o poder de cobertura de tinta seca e de tinta úmida, e a resistência à abrasão úmida sem pasta abrasiva e com pasta abrasiva.
Com fábrica em Diadema, e distribuição para os principais estados do Brasil, até mesmo para o Nordeste, a Universo pretende investir R$ 6 milhões em marketing este ano, além de novos produtos.
Machado planeja abrir mais pontos de venda e melhorar o marketing
“Nós refizemos todas as nossas embalagens e estamos lançando novas cores nas linhas premium e standard, além de introduzir no mercado o semibrilho standard. Vamos ser ainda mais agressivos do ponto de vista do marketing, abrindo outros pontos de venda, além de promover campanhas entre os distribuidores”, afirma Machado.
A Coral, da gigante holandesa AkzoNobel, também espera se beneficiar do Minha Casa, Minha Vida, mas Benito Berretta, diretor de marketing do grupo para a América Latina, prefere destacar as vendas para a área de repintura. “É claro que o programa habitacional vai fomentar as nossas vendas, mas o nosso principal negócio está no segmento de ‘segunda pintura’. A Coral é a líder nos segmentos de tintas standard e econômica, com uma participação no mercado 1,5 ponto percentual acima do segundo colocado”, afirma.
Sem precisar números, o executivo da Coral revela que a companhia pretende elevar em 50% os investimentos no país durante este ano, e a sua divisão de tintas decorativas vai registrar um crescimento acima do mercado, repetindo o desempenho do ano passado. “Vamos manter as nossas estratégias para aumentar as vendas e o market share, continuaremos a incentivar nossos parceiros, investindo na propaganda agressiva no ponto de venda”, afirma o executivo da companhia, que concentra sua produção de tintas decorativas nas fábricas de Mauá-SP e Recife-PE.
Tinta “verde” ganha espaço
Sustentabilidade virou a palavra de ordem entre as grandes empresas de tintas presentes no país, muitas delas orientadas pelas próprias matrizes instaladas em locais do mundo onde o nível de exigências em relação a temas como meio ambiente e questões socioeconômicas é bem maior. Segundo o presidente-executivo da Abrafati, Dilson Ferreira, um dos principais avanços tecnológicos relacionados às tintas imobiliárias no Brasil está ligado justamente à produção de tintas à base d’água, que eliminam o uso de solventes orgânicos, proporcionando ganhos ambientais. “O consumidor está cada vez mais exigente, o que leva à constante necessidade de inovação por parte da indústria. Dentro do aspecto ambiental, merece destaque a tendência de crescimento da importância dos produtos e processos químicos mais seguros e ambientalmente corretos. Por isso, o conceito de produto verde se ampliou, incluindo desde a escolha de matérias-primas, passando pela formulação, produção, expedição até chegar à destinação da embalagem vazia”, afirma o executivo.
Segundo Elaine Poço, diretora de pesquisas e desenvolvimento da AkzoNobel para a América Latina, dentro da linha de produtos da empresa, há as “tintas green”, ou “ecológicas”.
Elaine: trabalho para convencer clientes é fundamental
“Estamos trabalhando na migração de produtos sintéticos, à base de solvente, para produtos à base de água. No entanto, precisamos, para isso, conscientizar os consumidores de que o produto base d’água é tão bom quanto o outro”, afirma Elaine, acrescentando que a empresa ainda enfrenta um pouco de resistência dos consumidores em relação a essa mudança.
“O pintor acha que a base solvente é melhor, e é ele que forma a opinião do comprador. Precisamos vencer essa barreira cultural.”
Berretta destaca o bom desempenho do projeto “Tudo de cor para você”, que realiza pintura de casas e comércios espalhados pelo Brasil e tem a pretensão de transformar o Rio de Janeiro “na cidade mais colorida do mundo até os Jogos Olímpicos de 2016”. Esse projeto já percorreu locais como o bairro do Bixiga, em São Paulo, a Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Santarém-PA, a Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, e o Pelourinho, em Salvador. “Essas ações ajudam a expor bastante a nossa marca e a nos manter líderes do mercado”, diz o executivo.
Procurada pela reportagem, a Basf limitou-se a dizer que “é líder de mercado no segmento premium com a marca Suvinil, com mais de 60% de participação, e que desde 2008 também é a primeira no ranking de vendas de tintas econômicas, com a marca Glasurit”. Por questões estratégicas, a empresa não releva o seu desempenho em 2009 e nem as expectativas para 2010.
Disputa pelo Nordeste – Os mercados de tintas imobiliárias do Norte e do Nordeste apresentam grande potencial de crescimento no país. Boa parte do déficit habitacional brasileiro se encontra nessas duas regiões, o que explica os investimentos feitos por grandes fabricantes do setor em unidades fabris instaladas no Nordeste. É o caso da Coral e da Basf, que disputam o mercado com as indústrias locais, entre elas a Iquine, com fábrica em Recife, e 35 anos de atuação na região. “A nossa companhia é líder no Nordeste”, enfatiza o diretor da Coral, cuja fábrica de Recife também atende a Região Norte. “Produzimos toda a nossa linha de produtos em Recife”, afirma Berretta.
Berretta: investimento da Coral tem em vista a alta demanda no Nordeste
“Para se ter uma ideia da penetração da nossa marca no Nordeste, em João Pessoa-PB o nosso market share é extraordinário. Não existe outra tinta lá, além da nossa”, acrescenta.
No ano passado, a Basf investiu R$ 20 milhões em sua fábrica em Jaboatão dos Guararapes-PE. Segundo a empresa, a unidade pernambucana produz massa, tintas e texturas das marcas Suvinil e Glasurit, e atende à demanda de toda a Região Norte e Nordeste, e também exporta produtos para países como Uruguai, Paraguai, Venezuela e ao continente africano. Sua capacidade produtiva atual é de 70 milhões de litros/ano, correspondentes a quase 15% da fabricação total de tintas imobiliárias da Basf no Brasil. Além dessa unidade, as tintas da companhia são produzidas na fábrica de São Bernardo do Campo-SP, que tem capacidade de ofertar 330 milhões de litros/ano.
Segundo Dilson Ferreira, o presidente-executivo da Abrafati, muitos dos principais fabricantes de tintas atuam em todo o país, apesar das dificuldades logísticas, que muitas vezes acabam encarecendo o valor do produto final. “As questões ligadas à logística são levadas em conta por cada um deles em suas estratégias, mas não inviabilizam a participação nos diferentes mercados. Naturalmente, empresas instaladas numa determinada região, como o Nordeste, têm boa presença no mercado local, não só em virtude dos menores custos logísticos, mas também por fatores como o conhecimento mais próximo da cultura e do público regional”, afirma.