Tintas: Consumo de imobiliárias cresce puxado por reformas de fim de ano
Tradicionalmente, os últimos meses do ano representam um período de acentuação do comércio de tintas imobiliárias, mas essa sazonalidade, sempre lembrada pelos integrantes desse mercado, é absorvida sem grandes impactos pelos fabricantes de tintas. Primeiramente, por não ser muito acentuada (ao menos na maior parte do país); depois, porque as modernas técnicas industriais e de planejamento permitem que esses fabricantes se programem para atender às flutuações da demanda sem alterar muito as suas rotinas produtivas e de logística.

Normalmente, relata Marco Antonio Carboni, diretor de vendas de tintas decorativas da Basf (detentora da marca Suvinil), 45% das vendas dessa indústria ocorrem na primeira metade do ano, sendo as demais 55% realizadas no segundo semestre. O consumo mais acentuado na metade final do ano, ele complementa, não se concentra apenas em seus últimos meses: começa a manifestar-se já em agosto, e daí prossegue até meados de dezembro.
Carboni explica a ampliação da demanda nos finais de ano com uma conjugação de fatores, incluindo a maior disponibilidade de dinheiro em circulação, decorrente de razões como a concessão do décimo terceiro salário.
Há ainda causas mais subjetivas: entre elas, o fato de muitas pessoas recorrerem à pintura para tornar suas residências mais agradáveis para parentes e amigos que ali estarão nos festejos de fim de ano, e, posteriormente, ingressar no novo ano vivendo em um ambiente visualmente renovado. “Comparativamente à compra de móveis, a pintura é uma alternativa de renovação de ambientes economicamente mais acessível”, destaca o diretor da Basf.

Questões climáticas também influem na sazonalidade dos negócios da indústria de tintas. Com exceção talvez de dezembro, os últimos meses do ano são menos úmidos e menos sujeitos a chuvas (em relação aos demais), e as temperaturas são mais elevadas (ao menos relativamente ao inverno). E essa conjugação de fatores ambientais permite a secagem mais rápida dos filmes de tinta.
Por isso, destaca Benito Berretta, diretor de marketing da Tintas Coral, marca do grupo AkzoNobel, nos meses mais quentes aumenta a demanda por tintas. “É interessante realizar a pintura imobiliária nesses meses também porque eles têm dias mais longos, e a luz natural permite que se avalie melhor a qualidade de uma pintura”, ele acrescenta.
Mas, apesar de serem também quentes e seus dias serem longos, os meses de janeiro e fevereiro registram queda nas vendas, ressalta Berretta, porque as pessoas têm então outras prioridades financeiras, como o pagamento de impostos e a realização de matrículas escolares. Além disso, nessa época muita gente viaja em férias.
Planejamento é a palavra – Embora não exija mudanças drásticas nas atividades rotineiras, o ciclo de altas e de baixas, próprio do mercado de tintas imobiliárias, requer das empresas nele inseridas um planejamento produtivo e logístico bem elaborado, observa David Ivy Jr., diretor de marketing da Sherwin-Williams (empresa presente nesse mercado com marcas como Novacor e Metalatex). “Com base no histórico de anos anteriores, é preciso analisar quais produtos são mais demandados nessa época, para paulatinamente aumentar sua produção”, ele especifica.
Já a logística, prossegue Ivy, deve se fundamentar em bons parceiros, e em métricas bem definidas. “Temos até uma premiação para reconhecer esses parceiros”, ele ressalta. “Mas a sazonalidade pode ser trabalhada normalmente com um bom planejamento”, pondera o diretor da Sherwin-Williams.
A Basf, endossa Carboni, “tem capacidades produtivas e de armazenamento suficientes para atender ao aumento da demanda sem grandes alterações na rotina”. Mas, para ele, “seria interessante que as entidades representantes da indústria e do varejo realizassem ações de marketing para estimular um uso mais uniformemente distribuído no decorrer dos vários meses do ano, pois assim equilibraríamos as vendas”.

Atualmente, destaca Berretta, da Tintas Coral, existem técnicas que permitem a produção, nos meses menos aquecidos, de tintas que chegarão ao mercado somente quando a procura aumentar. “Quando a demanda é menor, podemos então produzir mais, para atender à aceleração das vendas”, ele diz.
Segundo Berretta, comparando-se os meses mais movimentados diretamente com os menos aquecidos (janeiro, fevereiro, junho e julho), pode haver uma diferença de até 50% nos volumes totais de vendas de tintas imobiliárias.
No sul do Brasil, onde é mais nítida a distinção entre os períodos mais frios e mais quentes, a sazonalidade do mercado de tintas é até superior àquela registrada nas demais regiões do país: “Nessa região, cerca de 40% das vendas ocorrem na primeira metade do ano, e o restante na segunda”, relata Thomas Fröhler, diretor de operações e manufatura da divisão de tintas arquitetônicas da PPG (grupo detentor da marca Tintas Renner, e que tem uma penetração maior exatamente na Região Sul).
Porém, nem mesmo nesse caso ocorrem, nos diferentes meses do ano, mudanças significativas nos processos das empresas. “Fazemos estoques maiores apenas de alguns itens mais sensíveis, por exemplo, tintas para pintura de piscinas de fibra, cuja demanda se concentra muito nos meses anteriores ao verão”, especifica Fröhler. “Mas em 99,9% dos casos produzimos apenas aquilo que vendemos no período, até porque estoques representam custos.”
Projetando novidades – Geralmente, os fabricantes de tintas imobiliárias desenvolvem seus lançamentos no primeiro semestre, e os distribuem ao mercado até a metade de cada ano, no máximo até setembro, para tê-los já disponíveis no varejo quando a procura se acentuar. Para formatar esses novos produtos, eles empregam diversos recursos, como as pesquisas e as análises de tendências e conjunturas.
Valendo-se de ferramentas desse gênero, a Suvinil elegeu, como cor mais realçada na atual temporada, o azul Curaçau Blue. “Essa cor tem a ver com um sentido de brasilidade, por sua vez relacionado a fatos como a aproximação da Copa do Mundo e os recentes movimentos sociais”, justifica Carboni.

No total, a Suvinil selecionou este ano 33 cores, agrupadas em três conjuntos estruturados segundo distintos apelos de marketing: ‘Pulsante’, associado aos conceitos de mudança e de liberdade, e expresso em cores como inox, groselha, xarope de menta, gengibre; ‘Elementar’, no qual há cores como pavê gelado, drinque refrescante, barrica de carvalho e gergelim, relacionadas aos temas da naturalidade e da simplicidade; ‘Plural’, cuja paleta inclui araucária, quartzo azul, ouro amarelo e pistache, entre outras cores.
A marca lançou ainda, entre outros itens, dois produtos para áreas externas: Suvinil Sempre Nova e Suvinil Proteção Total – este último, descrito por Carboni como “uma tinta para exteriores com filme 100% elástico de altíssima resistência, ideal para locais onde há muita chuva, muita incidência de sol, ou maresia”.
A Tintas Coral colocou no mercado uma nova versão de uma tinta posicionada como ‘superlavável antimanchas’, projetada para repelir manchas líquidas, por exemplo, de café ou de chocolate, além de manchas de batom, lápis de cor e solados de sapato, entre outras.
Hoje em dia, diz Berretta, podem ser observadas nesse mercado ao menos duas tendências marcantes: uma delas, a expansão dos produtos com base água; a outra, o aumento da influência das mulheres nas decisões relacionadas ao consumo. “E mulher compra produtos pensando em toda a família, daí a importância de produtos como Coral 3 em 1”, ele realça, referindo-se a uma tinta lançada no ano passado que combina tecnologias antibactericida, antimofo e ausência de cheiro.
Funcionalidade e simplicidade – Na Sherwin-Williams, um dos principais destaques deste ano é o Metalatex Fosco Perfeito, que também proclama o poder de fácil limpeza. “Essa é uma característica geralmente associada aos produtos acetinados, que nem todo mundo quer, e nós a levamos para os produtos foscos”, destaca Ivy. Simultaneamente, chegou ao mercado Metalatex Brilho Perfeito, com os mesmos atributos da versão Fosco Perfeito, porém com acabamento do gênero ‘semibrilho’.
Ivy cita, como categoria hoje crescentemente buscada pelos consumidores de tintas, os produtos aptos a desempenhar outras funções, como por exemplo tintas capazes de, além de proteger as telhas, refletir a luz solar, e assim diminuir as temperaturas dos ambientes.
A Sherwin-Williams disponibiliza um produto desse gênero. Denominado Metalatex Eco Telha Térmica, ele recentemente ganhou nova embalagem, e uma fórmula que lhe proporciona maior aderência, mais resistência à água, e maior retenção de brilho. Com esse produto, anuncia a empresa, é possível reduzir em até 20% o gasto com a energia elétrica necessária à operação de ar-condicionado e ventiladores.
Já a PPG fortaleceu o portfólio da Tintas Renner com itens como Extra Esmalte Secagem Rápida, Extra Esmalte Transparente e Esmalte Triunfo-Reko – todos eles, comunica a empresa, com menos solvente em sua composição (no segmento dos esmaltes, permanece significativo o uso da base solvente, ainda muito associada à qualidade desses produtos, geralmente destinados à aplicação em substratos como madeira e metais).
De acordo com Fröhler, os consumidores hoje desejam processos de escolha de tintas menos complexos, e por isso a PPG vem simplificando o seu portfólio. Além disso, vem se fortalecendo a tendência dos produtos com menor presença de ingredientes orgânicos voláteis. “Ainda não existe no Brasil uma regulamentação para esses compostos, como há em alguns estados norte-americanos, mas ela deverá se estabelecer nos próximos anos”, prevê.
E eliminar compostos orgânicos voláteis, ressalta Fröhler, não significa apenas trabalhar com base água: é preciso abolir também os aditivos nos quais eles estejam presentes. “Temos já uma linha premium chamada Ecológica, totalmente isenta desses compostos”, finaliza.