Tintas – Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros

Componentes fundamentais das tintas, as resinas contam com a criatividade dos químicos para satisfazer às necessidades dos usuários finais, tanto em desempenho da película seca quanto na redução de custos. As amplas possibilidades de blendagem, copolimerização e modificações acabam sendo limitadas pelo aspecto econômico. Atualmente, há uma clara preferência por sistemas que emitam menor quantidade de componentes orgânicos voláteis (VOC), favorecendo as resinas de base aquosa.

Os primeiros meses de 2010 foram marcados pela baixa disponibilidade de derivados acrílicos e dos epóxis. A elevação do preço desses insumos teve reflexos significativos no mercado de tintas, principalmente por provocar nos clientes uma receptividade maior às alternativas com relações de custo/benefício mais favoráveis.

Os acrilatos dominam a cena nas tintas decorativas imobiliárias. Há mais de quinze anos eles destronaram o acetato de polivinila (PVA) na preferência dos formuladores. Cabe ressaltar que o Brasil contava com produção local do monômero de acetato de vinila (VAM), no Cabo-PE, mas sempre foi dependente de suprimento externo de ácido acrílico e acrilatos. A redução dos impostos e dos custos para a obtenção dos derivados acrílicos, além das transformações estruturais da indústria química, coincidiram com a paralisação da unidade local de VAM.

O desempenho superior das tintas acrílicas, especialmente na resistência às lavagens, característica muito desejada nos lares povoados por crianças, porém, precisava de um auxílio que tornasse o seu preço elevado mais palatável ao consumidor nacional. Essa ajuda foi produzida com a modificação do acrílico pela incorporação de monômero de estireno, dando origem à vitoriosa família acrílico-estirenada (ou estireno-acrílica, dependendo das proporções monoméricas relativas).

“Os acrílicos-estirenados são bons produtos, respondem pela maior parte dos nossos fornecimentos para os fabricantes de tintas não-integrados”, comentou Reginaldo Cassiano, gerente regional para a América do Sul de dispersões para adesivos e construção civil da Basf S.A. No Brasil, os grandes produtores de tintas imobiliárias compram os monômeros e produzem suas próprias resinas, buscando apenas algumas especialidades no mercado. Essa situação poderá mudar logo. “A tendência dos fabricantes de tintas é de concentrar esforços na tecnologia, na marca e na distribuição de seus produtos, deixando a produção de resinas para outras companhias”, comentou, apontando a Europa e os Estados Unidos como exemplos.

Ele menciona uma sequência evolutiva no mercado de tintas, começando pelo aumento da demanda pelo crescimento do número de consumidores, etapa claramente perceptível no Brasil atualmente. Um segundo passo será dado quando os consumidores exigirem desempenho maior dos produtos. “Será o momento de deixar de lado as resinas multipropósito para aplicar produtos específicos para forros, interiores, exteriores, pisos, telhas etc.”, explicou. Cada uma dessas aplicações deveria usar diferentes combinações de monômeros, com diferentes participações relativas entre eles, cabendo ajustar características como a temperatura de transição vítrea e outras.

Única produtora nacional de acrilato de butila, monômero mais importante nas formulações de base acrílica, que fornece para todo o mercado, a Basf salienta a importância de dominar todo o processo de polimerização das resinas. “O mercado pede produtos com menor odor e maior poder de cobertura”, afirmou. Embora essas preocupações se reflitam mais rapidamente em outros ingredientes das tintas, como os solventes, coalescentes e aditivos, os resineiros também devem contribuir. Cassiano explicou que a Basf já consegue polimerizar gerando resinas com baixíssimo teor residual de monômeros, e também pode oferecer linhas isentas de alquilfenóis etoxilados (Apeo), ainda pouco procuradas. “Temos tecnologia e equipamentos para produzir no Brasil resinas com menos de 300 ppm de monômero residual”, disse, lamentando a falta de uma norma oficial para limitar o teor de orgânicos voláteis nas tintas do Brasil. Segundo informou, desde janeiro deste ano, na Europa, as tintas não podem passar de 300 ppm de VOC.

Embora os acrílicos estejam mais caros e escassos em 2010, a companhia tem conseguido suprir seus clientes, mediante importações. “Não deixamos de cumprir nenhum compromisso por falta de acrílicos, estamos trazendo o ácido e alguns monômeros feitos em outros países”, disse. Ele prevê que o mercado ficará mais equilibrado no terceiro trimestre com a entrada em operação de unidades novas ou que foram paralisadas com a crise de 2008.

A Dow Coating Materials, que reúne todo o acervo de produtos e tecnologias da Dow e da Rohm and Haas, aposta nas qualidades dos acrílicos para aplicações decorativas imobiliárias e também nas industriais. No campo imobiliário, destaca-se a família Ropaque de polímeros de alta opacidade para otimização de formulações, a qual melhora a cobertura seca e úmida das superfícies, porém com redução no custo total da tinta. “O Ropaque diminui o uso de dióxido de titânio e usa coalescentes da família Dowanol”, explicou Celdia Lizardo, gerente técnica da Dow Coating Materials (DCM) para a América do Sul.

Uma inovação advinda da antiga Rohm and Haas é a plataforma Avanse de polímeros em emulsão aquosa, formados por processo especial que gera resinas de alto peso molecular em aglomerados nanométricos. Os produtos desenvolvidos nessa plataforma apresentam alta adesão aos substratos, mesmo os mais difíceis. “Usamos alguns polímeros convencionais na linha acrílica ou estireno-acrílica, e também ingredientes especiais para aplicação em substratos alcalinos ou porosos, entre outros casos”, disse Juliana Francisco, engenheira de suporte técnico da DCM.

Entre as aplicações estão camadas impermeabilizantes, mantas de conforto térmico, além de tintas e vernizes para aplicação direta sobre concreto ou para a proteção e acabamento de superfícies metálicas, dispensando a camada de primer. Essa plataforma também gera tintas para uso industrial, para manutenção leve ou média.

Química e Derivados, Reginaldo Cassiano, Gerente regional para a América do Sul de dispersões para adesivos e construção civil da Basf S.A, Tintas - Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros
Cassiano: consumidor quer tinta de baixo odor e alta cobertura

Celdia salienta que a companhia dispõe de todos os itens necessários para a composição de tintas, com exceção de pigmentos e cargas. Os acrílicos formam uma plataforma de negócios importante, com unidade de polimerização em Jacareí-SP, alimentada por monômeros trazidos de outros países. “Nosso foco está mais voltado para resinas especiais e aditivos, mas também produzimos commodities, necessárias para manter a escala das operações”, comentou. Para ela, especialmente no campo imobiliário, seria tecnicamente possível produzir uma infinidade de aditivações, visando atender a vários usos diferentes. “Como o mercado é limitado a preço, nem sempre é viável aproveitar toda a tecnologia disponível”, afirmou.

Apesar dessa dificuldade, a companhia está investindo na ampliação da fábrica de Jacareí para acompanhar o crescimento da demanda. Isso inclui o desenvolvimento de insumos customizados para alguns clientes.

Alternativas viáveis – Sensíveis aos efeitos da alta dos acrílicos, os fabricantes de tintas imobiliárias passaram a ampliar o uso de outros produtos. “Em muitos casos, o estireno-acrílico deu lugar aos sistemas vinil-acrílicos ou vinil-VEOVA”, afirmou Luiz Carlos Pestana, químico da área de tintas, construção e adesivos da Clariant S.A. Além da elevação do preço mundial do acrílico, ele cita o corte na taxa de importação do monômero de acetato de vinila (VAM) como incentivo adicional.

A Clariant passou a oferecer um terpolímero para substituir os derivados acrílicos. Com vantagens, a começar pelo menor amarelecimento, melhor retenção de cor e brilho, resistência entre 20% e 30% superior às lavagens, tudo isso somado a um custo inferior ao das acrílicas-estirenadas. “Na formulação, usa-se menor quantidade de resina, ou o mesmo tanto, obtendo produto de melhor qualidade final”, disse Pestana. “O resto da formulação não precisa mudar, basta usar um coalescente mais compatível com o terpolímero.” Nas linhas econômicas, o especialista diz ser possível eliminar o coalescente, com redução do odor. Aliás, o terpolímero tem odor mais suave do que o acrílico-estirenado.

“Podemos fazer resinas para tintas com qualquer monômero, já que não estamos integrados à produção de nenhum deles”, comentou Nelson Briotto, líder da área de emulsões da Clariant. Ele observa que a maioria dos grandes fabricantes de tintas possui vínculos com alguns monômeros, privilegiando-os. “E será que sempre vale a pena para o fabricante de tintas manter a polimerização cativa?”, indagou. Para ele, isso só é verdade em certas situações, tanto que não é a regra no exterior.

Química e Derivados, Celdia Lizardo, Gerente técnica da Dow Coating Materials(DCM) para a América do Sul, Tintas - Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros
Celdia: foco voltado para as aplicações mais especiais

No caso brasileiro, existem muitos novos fabricantes de tintas com capacidade fabril superior a 1,5 milhão de galões/ano. “Esse é o nosso mercado preferencial: são produtores que têm escala e desejam inovações tecnológicas”, comentou Briotto. Para ele, contar com polimerização cativa pode limitar a criatividade dos formuladores.

Edson Cimadon, gerente-comercial da Denver Resinas, com capacidade instalada para 4 mil t/mês de polímeros (acrílicos, vinílicos e modificadores reológicos) em Suzano-SP, percebeu a oportunidade de oferecer copolímeros vinil-acrílicos, vinil-maleatos e vinil-VEOVA em substituição parcial ou total das resinas acrílicas. “A diferença de preço chega a um real por kg de resina”, afirmou.

Os clientes médios e pequenos foram mais rápidos para incorporar essas mudanças. Para Cimadon, os grandes tinham alternativas prontas para essa situação ou preferiram manter suas formulações, apostando na recuperação da oferta de acrílicos, cambaleante desde 2008. A venda dos copolímeros cresceu 20% no ano passado e tem espaço para ir além. “Muitos fabricantes mudaram a composição na massa corrida e em algumas de suas tintas, mas evitaram mexer nos carros-chefe, atitude que pode ser tomada agora”, afirmou. Para ele, alguns formuladores são muito conservadores, inibindo mudanças. Isso exige um trabalho de convencimento comercial e, principalmente, a oferta de suporte técnico.

No caso dos grandes fabricantes, Cimadon acha que eles ainda ficarão muito tempo polimerizando suas resinas. “Não há um resineiro que tenha capacidade instalada para atender um produtor desses sozinho, e seria um risco muito grande depender de um único comprador”, afirmou.
Cimadon recomenda observar a qualidade da polimerização. “Quem não controla bem a operação acaba perdendo muitos lotes de resina, que acabam sendo misturados e vendidos a preço vil, prejudicando todo o mercado”, aconselhou.

A situação dos acrílicos deve melhorar até o final do ano, com a entrada em operação de novas fábricas de alta escala. Cimadon acredita que os acrílicos tendam a recuperar o espaço perdido assim que seu preço volte a patamares normais. “Ainda não houve falta de acrílicos para ninguém, o mercado opera em regime de alocação, mas os suprimentos estão mantidos”, afirmou.

Uma característica cultural do mercado brasileiro é o uso de uma tinta só para todas as aplicações imobiliárias. Cimadon citou o caso de um produto que a Denver desenvolveu especificamente para pintar gesso, de olho no uso crescente desse material. “O mercado não aceitou bem, continua sendo usado o fundo preparador mais a tinta de acabamento, embora isso seja mais caro”, afirmou. Ele espera que os cursos para formação de pintores da Abrafati e do Sitivesp ajudem esses profissionais a escolher melhor as tintas conforme as necessidades.

Química e Derivados, Luiz Carlos Pestana, Químico da área de tintas, construção e adesivos da Clariant S.A, Tintas - Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros
Pestana: terpolímeros superam acrílicos e reduzem custos

Na sua avaliação, porém, o mercado de tintas está animado. A Denver Resinas opera a aproximadamente 70% do ritmo de um ano de forte alta. “A ocupação deve aumentar no segundo semestre”, espera. Isso pode ativar projetos de expansão, por enquanto previstos para 2011.

Oportunidades tecnológicas – A Oswaldo Cruz Química (OCQ) lançou a resina Fortcryl 6200, um polímero de base acrílica formado por cinco monômeros diferentes, fruto de desenvolvimento próprio. “Essa resina tem o mesmo desempenho dos acrílicos estirenados mais modernos, porém com um custo 10% inferior”, explicou Julio Cesar Fortunato, diretor-assistente da empresa. Lançada em 2010, a Fortcryl 6200 foi oferecida para os clientes habituais das acrílico-estirenadas, com o atrativo do menor custo. Fortunato explica ser necessário o ajuste da formulação, com apoio da OCQ.

A empresa atende vários segmentos de mercado por meio de células operacionais que associam profissionais de vendas a especialistas técnicos. Só em tintas, são três técnicos exclusivos para suporte e desenvolvimento de produtos. Esse trabalho é apoiado por laboratórios equipados para fazer todos os testes exigidos pela norma brasileira de tintas.

A OCQ importa ácido acrílico e os monômeros dele derivados (acrilatos) em grande quantidade e mantém amplo estoque, pois, além de usá-los em seus produtos, também é distribuidora deles. Faz as modificações e polimerizações em seus cinco reatores, com capacidade total de seis mil toneladas mensais, das quais três mil são direcionadas para tintas, quase que exclusivamente em base aquosa. “Temos apenas uma resina alquídica convencional, de base solvente”, informou.

A empresa deve decidir até o final do ano se instala um sexto reator (de 15 t) ou se apenas substituirá um reator de 5 t por um de 15 t. “Além das nossas instalações em Bonsucesso [Guarulhos-SP], temos um terreno em Mogi das Cruzes para futuras expansões”, informou. Ele está atento ao crescimento do mercado nordestino de tintas, superior ao do resto do país, o que poderá motivar investimentos naquela região. Em 2009, a venda de resinas para tintas cresceu 10%, enquanto outros segmentos, mais jovens na companhia, foram mais viçosos, perfazendo um total de 25% de aumento. Esse mesmo percentual está sendo esperado para 2010.

Química e Derivados, Nelson Briotto, Líder da área de emulsões da Clariant, Tintas - Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros
Briotto: enquadramento no IPI por aplicação permite desvios

A Reichhold também atua no setor decorativo imobiliário com resinas acrílico-estirenadas da linha Arolon. “As linhas decorativas são o principal produto em volume da empresa, porém gostaríamos de oferecer alternativas mais sofisticadas para esse mercado”, disse Antonio Carrascosa Filho, gerente de mercado e assistência técnica. A instituição de três padrões oficiais de tintas (standard, econômica e premium), nos moldes propostos pela Abrafati, conduziu a uma segmentação de mercado. Isso levou a usar mais resina nas tintas superiores, ou a adotar diferentes resinas para cada caso. “Ou usar quantidades diferentes de cargas”, afirmou. A pintura de paredes já se definiu claramente a favor dos produtos de base aquosa.

Em resinas para tintas, Carrascosa afirma que não existem milagres: “Resina muito barata é sempre ruim.” Todos os resineiros sofrem pressões de custos impostas pelos seus fornecedores e ainda enfrentam a resistência dos clientes. “O produtor de resinas precisa negociar muito bem seus insumos e ser criativo para oferecer alta qualidade com custo baixo”, salientou. Para ele, os resineiros assumem uma responsabilidade muito grande com os clientes a ponto de não justificar as polimerizações cativas em produtores de tintas. “Além disso, temos fortes preocupações ambientais, reciclamos resina PET, aplicamos glicerina nas formulações e eliminamos todos os componentes com chumbo”, explicou.

Cassiano, da Basf, salientou que os produtores de resinas respondem aos apelos de mercado. O apelo atual está ligado à redução das emissões de VOC e de odor. Para o futuro, há várias alternativas em estudo. A companhia lançou no ano passado uma emulsão acrílico-estirenada com alta fluidez, capaz de proporcionar alta lavabilidade na tinta acabada, que também ganha viscosidade mediante uma pequena incorporação de espessantes. “A emulsão é fluida, facilitando a sua manipulação, mas a tinta fica espessa como o mercado gosta, porém com menor custo”, afirmou.

Outro desenvolvimento está ligado à inibição do crescimento de fungos pelo controle da polimerização das resinas. “Temos tecnologia na Alemanha que permite formar resinas capazes de impedir a proliferação de fungos nas tintas sem aplicar biocidas”, comentou. Essa tecnologia pode ser trazida para o país, caso algum cliente se interesse por ela. Há opções de resinas especiais para formular tintas funcionais, sobre as quais não se deposita sujeira, permanecendo limpas por mais tempo, uma característica desejável em fachadas.

Esmaltes – Na área decorativa, os esmaltes são aplicados a metais e madeiras e sempre foram um dos pontos fortes dos sistemas alquídicos, formados por um ácido graxo e um álcool, em associação a óleos vegetais, com solventes orgânicos. A tendência atual é de trocar as linhas convencionais por sistemas aquosos, usando acrílicos ou sistemas alquídicos renovados.

Química e Derivados, Edson Cimadon, Gerente-comercial da Denver Resinas, Tintas - Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros
Cimadon: pintor qualificado seleciona melhor as tintas

A Reichhold lançou no ano passado a linha Beckosol Aqua de látex alquídico em base água, que dispensa coalescentes. “São alquídicas emulsionadas, tecnologia que detém 23% do mercado alquídico na Europa”, afirmou Antonio Carrascosa Filho, gerente de mercado e assistência técnica. Nada a ver com os antigos alquídicos, muitas vezes associados a produtos de baixa qualidade.

O novo látex alquídico tem amplas aplicações no setor imobiliário, conferindo brilho, adesão e alastramento superiores aos sistemas acrílicos, com a vantagem de usar mais recursos naturais renováveis em sua composição, especialmente o óleo de soja. “Os acrílicos são mais duros que os alquídicos, e o tamanho destes é 200 vezes menor que o dos acrílicos, garantido melhor penetração em madeira”, explicou Carrascosa. Além disso, a tinta alquídica forma um polímero único na película seca, com a vantagem de não ter problemas com a temperatura de transição vítrea (TG). O esmalte formulado com látex alquídico contém apenas 15 gramas por litro de orgânicos voláteis, atendendo às legislações da Europa e dos Estados Unidos.

A Reichhold oferece parceria tecnológica aos clientes em todas as áreas de aplicação. “Vamos até aonde o cliente nos permite ir, podemos até desenvolver uma resina nova, sob sigilo eterno, para uso exclusivo dele”, comentou. Isso dá ao setor de pesquisa e desenvolvimento maior responsabilidade, tendo a palavra final nas vendas aos clientes. “Temos 35 pessoas em P&D e contamos com o apoio da companhia nos Estados Unidos, se necessário”, disse, salientando atender muitos clientes globais, com fórmulas prontas ou abertas para tropicalização.

No campo dos esmaltes, a Oswaldo Cruz oferece a resina acrílica Fortcryl 6850, de base aquosa, com alto brilho e adesão, com a vantagem de ter baixo odor. “Apesar da resistência de alguns pintores, as vendas dessa resina estão crescendo”, comentou Fortunato. Parte da produção é direcionada para aplicações industriais, mais receptivas.

Química e Derivados, Julio Cesar Fortunato, Diretor-assistente da Oswaldo Cruz Química(OCQ), Tintas - Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros
Fortunato: tecnologia própria para criar novos polímeros

“A pintura de madeira e metais nas residências ainda está muito ligada aos sistemas alquídicos de base solvente, embora os sistemas de base aquosa estejam em fase de crescimento”, avaliou Luiz Carlos Pestana, da Clariant. Ele estima que essas tecnologias devam estar em situação de paridade apenas em 2015. Atualmente, as alternativas aquosas ainda são 20% mais caras que as convencionais com solventes orgânicos. “À medida que o petróleo fica mais caro, a competitividade dos solventes cai”, afirmou. A atual disponibilidade de glicerina residual de biodiesel contribui para baratear os sistemas aquosos, deslocando o pentaeritritol.

A Clariant oferece uma base semipronta de esmaltes base água, lançada no ano passado, durante o 12º Congresso da Abrafati. Os clientes só precisam colocar o pigmento ou o absorvedor de luz UV (para vernizes) para poder tratar madeira ou metal. “São produtos de base acrílica, mas que podem ser formulados com terpolímeros também”, explicou. Esses sistemas aquosos aceitam os pigmentos orgânicos (sem metais pesados), emitem menos VOC e dispensam secantes metálicos.

Pestana explicou que os esmaltes de base aquosa aderem bem às películas mais velhas de esmaltes. “Quanto mais velho, melhor”, disse. Isso pode ser uma vantagem, pois os brasileiros não gostam de lixar as superfícies. Em compensação, sua aderência fica prejudicada quando aplicados sobre esmaltes recentes, especialmente os de alto brilho, podendo exigir o uso de promotores de adesão.

A Basf atua no mercado de esmaltes com acrílicos de base aquosa, preferencialmente. “Ainda temos alguns itens de base solvente, mas não é nosso foco de trabalho”, explicou Reginaldo Cassiano. Ele comentou que a companhia produz um híbrido entre resina alquídica e acrílico base água para uso sobre madeira e metais. Ele avaliou essa alternativa como um nicho de mercado com bom potencial de crescimento.

Aplicações industriais – A diversidade de usos no campo industrial impede o predomínio de uma única família de resinas. A seleção depende dos requerimentos de cada situação, em termos de resistência química, mecânica, térmica ou exposição à radiação UV, entre outras características.

“Todos querem produtos de base aquosa, porém as áreas de manutenção leve e pesada aceitam melhor esses sistemas”, comentou Juliana Francisco, da Dow Coating Materials. A tendência atual favorece o uso de acrílicos na manutenção leve, enquanto a manutenção pesada, mais exigente, pode se valer de epóxis em água.

A Dow Coating produz no Guarujá-SP resinas epóxi convencionais, de base solvente, produtos maduros, bem conhecidos e conceituados no mercado. “A companhia criou um epóxi de base água obtido por meio de um processo de dispersão inovador, patenteado, com bom desempenho técnico e ambiental”, explicou. Ele pode ser comparado aos epóxis tradicionais e já está disponível aos clientes. “A área de P&D está criando a segunda geração desses epóxis, com desempenho superior”, disse.

Além da resina, a Dow Coating oferece o aditivo Fortegra para melhorar a tenacidade e a resistência ao impacto dos epóxis usados, por exemplo, no revestimento interno de tubulações de grandes diâmetros. Durante a montagem, as peças sofrem impactos que podem afetar a camada protetiva. “O aditivo também melhora a adesão ao substrato”, comentou.

Química e Derivados, Painel, Tintas - Acrílicos caros e escassos estimulam a criatividade química dos resineiros
Painel mostra vários efeitos obtidos com Beckosol Aqua

Em compensação, a atuação da companhia nos poliuretanos ainda é tímida. “No Brasil temos ligação maior com os isocianatos aromáticos (TDI), usados em espumas, enquanto as tintas consomem mais os alifáticos, que estamos desenvolvendo”, afirmou Celdia Lizardo. Em compensação, a empresa oferece polióis de soja modificados conforme as necessidades de cada cliente (linha Renuva), com excelente desempenho ambiental. Além disso, conta com a linha dos Paraloids (da Rohm and Haas), de isocianatos acrílicos, com larga aceitação no Brasil.

Na área industrial, a Basf traz ao Brasil os acrílicos especiais Joncryl (ex-Johnson Polymers), fabricados na Argentina e em outros países. “É um mercado mais exigente em desempenho que o decorativo, mas que pode contar com importações”, explicou Cassiano. Esses produtos são demandados por clientes que têm forte atuação internacional.

A base dos primers anticorrosivos industriais oferecidos pela Clariant é representada pelos polímeros acrílicos e os terpolímeros. “Nesse caso, durante a polimerização, são colocados alguns aditivos que proporcionam alta adesão e proteção contra a corrosão”, explicou Luiz Carlos Pestana. As resinas acrílicas podem ser blendadas com epóxis, formando produtos de alto brilho e melhor resistência à calcinação, uma deficiência dos epóxis.

Na área naval, pontificam os poliuretanos de base aquosa, com alto desempenho, dos primers até os acabamentos. “No futuro, poderemos fornecer resinas de PU para esse mercado, hoje atendido por fabricantes de tintas integrados”, disse Pestana. Um dos campos de maior crescimento do PU está na produção de tintas para tratamento de assoalhos. Essa atividade usa um primer acrílico, seguido por um top coat de PU/acrílico (mescla elaborada pelo próprio cliente), aplicando-se um agente de reticulação específico e não-cancerígeno. Segundo Pestana, esses produtos estão sendo importados para atender à demanda local.

Para pisos, a Reichhold oferece um PU monocomponente de base aquosa com óleo uretanizado. Os clientes adicionam secantes, aditivos e pigmentos a gosto. “Esse revestimento é formulado com extrema facilidade e seca por processo oxidativo, com grande rapidez”, explicou Antonio Carrascosa Filho.

Atuando com amplo espectro de produtos, como alquídicos, poliésteres, acrílicos, epóxis e poliuretanos, suas blendas e modificações, a Reichhold atende às necessidades de formuladores de tintas indicadas desde manutenção leve até a proteção de plataformas de petróleo. “Há uma superposição de tecnologias nessas aplicações”, comentou. Em âmbito internacional, as camadas protetivas são dominadas pelos epóxis em base água, modificados com aminas funcionais. A Reichhold compra aminas para convertê-las em géis, de fácil aplicação. Sistemas uretânicos, mono e bicomponentes, são também muito procurados. “Os monocomponentes são preferidos, pela facilidade de manipulação”, afirmou. Os alquídicos também encontram usos industriais protetivos, tanto no campo dos sistemas amino neutralizados quanto no látex acrílico (base água).

Notável, segundo Carrascosa, é o crescimento das tintas curáveis por radiação ultravioleta em linhas de produção industrial. A Reichhold fornece resinas epóxi-acriladas e poliésteres acrilados para esse segmento, além de poliésteres puros, sem monômeros reativos, que devem ser adicionados pelos clientes. “Essa opção é preferida em algumas situações, para dar mais opções aos clientes e reduzir custos”, comentou. A melhoria dos equipamentos de cura, agora usando LEDs de alta potência, apóia o desenvolvimento desses sistemas.

Carrascosa também comenta o bom desenvolvimento no Brasil da produção de pás para geradores eólicos, que exigem revestimentos resistentes aos raios UV, mas que sejam muito lisos para reduzir ao mínimo a atrito com o ar. “Geralmente, as pás são feitas com resina epóxi reforçada com fibras, mas devem ser revestidas com um poliéster curável a baixa temperatura ou com um poliuretano de alta resistência, com maior durabilidade”, explicou.

Algumas aplicações industriais ainda consomem resinas melamínicas, uretânicas e ureia-formol. São produtos mais antigos, sem previsão de crescimento de demanda, cujos custos de produção de aplicação tendem a ser maiores que os das tecnologias mais modernas.

Pré-sal na mira – Os bilionários investimentos necessários para a exploração de petróleo e gás natural nos campos do pré-sal também atraem as atenções dos produtores de resinas para tintas. “Uma plataforma de petróleo consome, em média, trezentos mil litros de tinta, uma quantidade impressionante”, comentou Carrascosa. Segundo informou, a Petrobras prefere sistemas de base aquosa, especialmente na linha dos epóxis. A Reichhold oferece, por exemplo, um epóxi uretânico de alta resistência para essa situação. A empresa é homologada pela Petrobras para o fornecimento de resinas.

Carrascosa salienta que as plataformas do pré-sal terão critérios mais rígidos para seleção de revestimentos protetivos, principalmente pela maior incidência de névoa salina (salt spray) em grandes distâncias da costa. “Além das tintas, há outros revestimentos sendo estudados para proteger esses ativos”, afirmou.

Pestana, da Clariant, confirma a preferência da estatal por produtos de base aquosa nas suas pinturas, mesmo em terra firme. “Demorou um pouco para aprovar esses produtos, mas agora eles estão sendo mais usados”, afirmou Celdia Lizardo, da Dow Coating Materials, que confirma o interesse da estatal pelas tintas de base água, abrindo um mercado importante para várias tecnologias.

Automotivas – A produção de tintas OEM (para as montadoras) está concentrada nas mãos dos poucos fabricantes que dominam esse segmento e elaboram suas resinas. “Conseguimos algumas encomendas para produtos específicos, como os usados para proteção contra pedras, ou os poliuretanos dispersos modificados com óleos vegetais, aplicados nas pinturas para couros e plásticos, com efeito soft touch”, afirmou Carrascosa. É um caminho de baixo volume, mas atraente.

Na repintura, a possibilidade de concorrência entre várias empresas abre caminho para diversos suprimentos. O gerente de mercado vê qualidades distintas de demanda, desde os sistemas alquídicos com solventes, os mais tradicionais, até os avançados sistemas acrílicos de base aquosa ou os poliuretanos de alto desempenho. “Temos produtos e clientes em todos esses mercados”, comentou.

Uma dificuldade para a popularização dos acrílicos aquosos reside na necessidade de contar com equipamentos mais sofisticados, como as cabines de pintura com atmosfera controlada. “Isso pode ficar muito além da capacidade de investimento dessas oficinas”, avaliou. Daí a preferência recente por sistemas poliuretânicos, que curam rapidamente “no tempo”, sem estufas. Há mercado também para emulsões acrílicas modificadas, mas o domínio ainda está com os produtos tradicionais.

“Temos uma posição mais interessante nas massas automotivas de poliéster, dominantes nos Estados Unidos, com desempenho superior ao das acrílicas, que amarelam”, explicou Carrascosa. A massa poliéster admite lixamento a seco, com facilidade, uma tendência entre os reparadores de veículos.

Tintas em pó e flexíveis – O mercado das tintas em pó exige o desenvolvimento de resinas com temperatura mais baixa de cura, para economizar energia. Além disso, os usuários pedem masterbatches com mais opções de cores, quebrando a ditadura do preto, branco e cinza que ainda dominam as paletas. “Há uma grande possibilidade de desenvolvimento de cores e efeitos, como a pele de alligator [crocodilo], com usos em telhas e sobre vidros”, afirmou Carrascosa. A Reichhold lidera esse mercado no Brasil e também oferece sistemas superduráveis em pó, feitos de poliésteres modificados.

Segundo Carrascosa, as resinas para tintas em pó têm uma forte concentração nas resinas poliéster-carboxiladas. “São usadas na linha branca e nos móveis tubulares, com destaque para o tipo 70/30, números que expressam a relação entre epóxi e poliéster”, explicou. As tintas para coil coating (chapas pré-pintadas), por sua vez, usam mais os poliésteres saturados.

A Evonik atua no segmento de coil coating com a linha Vesticoat de poliésteres saturados e hidroxilados, já misturados a isocianatos alifáticos bloqueados, garantindo alta resistência a UV e a intempéries. Esses poliésteres também são usados em tintas metalográficas, com boa aderência.

A empresa ainda produz os poliésteres da linha Dynapol para substratos metálicos e embalagens flexíveis. O Dynapol L é fornecido na forma sólida, em sacos, para que os clientes o diluam nos solventes adequados ao uso final, conferindo alta flexibilidade e resistência aos revestimentos. A resina tem aprovação da FDA para contato com alimentos, podendo substituir revestimentos internos epóxi-fenólicos, que sofrem com as restrições ao bisfenol-A na Europa e Estados Unidos, como informou Regiane Colombo, representante técnico-comercial da área de coatings & additives da Evonik.

As resinas metacrílicas termoplásticas Degalan, da Evonik, são indicadas para formular tintas para plásticos, metais, concreto e outras superfícies. As linhas Degaroute, Degadur e Degadeck, de metacrílicas reativas isentas de solventes, servem, respectivamente, para demarcação viária, pisos comerciais e industriais, e tratamento de fissuras, todas elas com alta resistência química e mecânica e facilidade de aplicação e velocidade de cura.

O foco dos negócios da companhia está direcionado para a produção de tintas menos agressivas à saúde humana e ao meio ambiente, aplicando tecnologias mais modernas e seguras, desenvolvidas nos seus laboratórios. Embora as variações de oferta e demanda de insumos sejam inerentes à atividade, a Evonik incrementa suas ações no mercado para aproveitar oportunidades eventualmente disponíveis, como explicou Débora Rebuelta, chefe de produto de resinas para coatings na América do Sul. Isso é ainda mais verdadeiro no Brasil, onde os clientes da companhia estão operando próximos de sua capacidade máxima e anunciando investimentos.

Informalidade em queda – Começam a frutificar as campanhas de regularização da atividade econômica na cadeia de tintas. Além das campanhas setoriais, a recente introdução dos sistemas de fiscalização tributária por meios eletrônicos apertou o cerco à sonegação e à informalidade. “A adoção da nota fiscal eletrônica ajudou a reduzir a concorrência desleal praticada pelos fornecedores informais”, comentou Nelson Briotto, da Clariant.

No entanto, ele adverte para o fato de as resinas usadas pelo setor poderem ser enquadradas em milhares de posições fiscais diferentes. Um PVA para tintas credita que o mercado de tintas, e por consequência o de resinas, deve experimentar um forte crescimento no Brasil durante os próximos cinco a sete anos. “Há muita coisa acontecendo na infraestrutura, petróleo, construção civil e nas indústrias, todas consumidoras desses produtos, portanto o mercado é promissor”, finalizou Briotto.

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