Têxtil: Cadeia volta a ter superávit
Depois de um esforço setorial coordenado pela Abit, produtores recuperam desempenho e se modernizam, ampliando as exportações e voltando a ser um bom filão de vendas para a química
Depois de chegar ao fundo do poço no início da década de 90, a indústria têxtil brasileira atravessa um momento histórico de recuperação. Um agressivo programa de investimentos, desencadeado em um projeto setorial desenvolvido pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), já acumula mais de US$ 8 bilhões em desenvolvimento e aquisição de tecnologia, capacitação de recursos humanos e aumento de produtividade, fatores essenciais de sobrevivência no mundo globalizado e competitivo.

Além da importância para a economia nacional, já que ao lado da construção civil a cadeia têxtil pertence ao grupo de indústrias que mais empregam mão-de-obra, o renascimento do setor traz efeitos positivos diretos para a química industrial. Isso significa mais vendas de fibras sintéticas, que aproveitam seu próprio avanço tecnológico e as lacunas deixadas pelas oscilações no desempenho da produção nacional de algodão, e de uma infinidade de produtos químicos auxiliares, corantes e pigmentos utilizados no beneficiamento têxtil.
E a recuperação se deu de fato, em quase todos os indicadores do setor. Com mais de 30 mil empresas, faturamento de US$ 22 bilhões e empregando diretamente 1,45 milhão de pessoas, só em 2002 foram criados na cadeia têxtil 34.526 empregos, apesar de ter sido um ano de turbulência econômica. Nos últimos quatro anos, desde que a Abit mobilizou as empresas e implementou sua política setorial, 80 mil novos postos de trabalho foram criados. Outros números comprovam a magnitude do esforço conjunto: aumento das exportações em 2002 para o México (+40,24%), EUA (+37,24%), Canadá (+9,03%) e previsão das exportações entre janeiro e dezembro (US$ 1,3 bilhão) que marca um superávit de US$ 145 milhões, 50% a mais (US$ 73 milhões) que em 2001.
As metas também demonstram um setor com fôlego renovado: investimentos até 2008 que devem superar US$ 12 bilhões, com o objetivo de recuperar 1% de participação no mercado mundial, exportando em 2008 US$ 4 bilhões. “São metas ambiciosas, porém factíveis. Desafios que acreditamos superar com muito trabalho, criatividade e investimentos em novas tecnologias. Em suma, com a mesma maturidade empresarial com que já superamos as inúmeras crises do passado e que já se tornou característica dos nossos empresários e profissionais”, discursou Paulo Skaf, o presidente da Abit, ao anunciar parceria da associação com o Museu de Arte de São Paulo (Masp) na criação do Instituto da Moda.
O propósito de manter o setor superavitário implica negociações duras com a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), segundo Skaf. “Vejam bem, eu não defendo um acordo com a Alca a qualquer preço, negociar não é ceder. A Alca pode ser uma oportunidade importante para o Brasil”, diz. A rigor, 70% das exportações globais do Brasil são feitas para 33 países da Alca. O cronograma de integração econômica permite aos setores competitivos a possibilidade de negociar a partir de 1° de janeiro de 2006. Os setores atrasados terão dez anos para começar a negociar. Para o presidente da Abit, o momento pode ser ideal para permitir que as reformas aconteçam e para promover um bom ambiente de negócios. Afinal, para os EUA o Brasil exporta mais do dobro do que importa.

Apesar da Alca, a preocupação de Paulo Skaf é maior com o saldo comercial. “No início de 2002, a previsão era obter um saldo entre 100 e 200 milhões e alcançamos 150 milhões”, diz. “Queremos um saldo de 300 milhões em 2003”, afirmou. O inventário ambiental da cadeia produtiva, com distribuição de quatro mil folders, ações na mídia especializada e e-mails possibilitam satisfazer rapidamente às questões formuladas por países da Comunidade Européia e Alca. “O projeto comunidades exportadoras das confecções de vestuário foi um importante passo neste ano”, diz. Segundo Skaf, toda a cadeia dos produtos de algodão, peças do vestuário e a linha do lar são importantes itens na pauta das exportações, bem como a moda praia, jeans e outros.
Estímulo à produtividade – “O setor têxtil é dinâmico, criativo e rápido. Mas a inspiração não é monopólio do Brasil”, comenta Sylvio Tobias Napoli Júnior, engenheiro têxtil e diretor de qualidade e tecnologia da Abit. “Os remédios no Brasil são dados em doses excessivas, não homeopáticas”, afirma Napoli, com 33 anos de experiência na área. Ele acompanhou as grandes mudanças recentemente desencadeadas na cadeia produtiva, que começaram na agricultura com as fibras naturais, e atingiram a confecção e a comercialização final. Investiu-se pesadamente e houve mudanças na mentalidade de empresários competitivos. O algodão, outrora a grande matéria-prima dos tecidos consumidos no Brasil, com 60% a 62% de participação, teve seu percentual diminuído, mas não se reduziu sua área plantada. Com o crescimento vegetativo da população, o consumo de têxteis evidentemente aumentou. Para evitar a fuga de capitais, com o aumento das importações de fibras sintéticas e artificiais, a Abit empenhou-se na manutenção da área plantada de algodão, façanha empreendida principalmente na administração do presidente Paulo Skaf, segundo ressaltou Napoli.
Em 1988, quando a produção brasileira de algodão chegou a 800 mil toneladas, a indústria têxtil diminuiu gradativamente as suas importações da fibra natural. Entre 1990 e 2000, houve violento incremento da produção têxtil, que saltou de 1,1 para 1,5 milhão de toneladas. A partir de 1999, com o incentivo do plantio agrícola, houve equilíbrio entre a produção e o consumo.
“Antes a produção têxtil se concentrava em uma matéria-prima que o Brasil era superavitário, o algodão”, analisa Sylvio Jr. Mas mesmo que a aplicação dos sintéticos em têxteis tenha começado a reverter esse quadro, não chegou a haver queda na produção algodoeira. Tanto foi que houve aumento no consumo interno de algodão, de 7.7 kg/habitante em 1990 para 11.2 kg, em 2000. Hoje, o consumo mundial oscila entre 14 quilos por habitante por ano, um índice que quase chega a 8,5 kg/habitante/ano no Brasil.
Este volume não chegava a 7.3 kg/ano há uma década. Cresceu a população com aumento proporcional no consumo de têxteis per capita. As fibras artificiais e sintéticas, de processo mais curto, passaram a ser aplicadas diretamente na área de fiação. “As fibras químicas transformaram radicalmente a indústria têxtil nos últimos dez anos, promovendo um notável aumento em substituição às fibras naturais”, comenta Sylvio Jr.
Tecidos finos e caros – Os químicos têm uma influência extraordinária na produção de tecidos. Até 1985 o algodão e as fibras naturais detinham 70% do consumo interno. Hoje as fibras químicas avançam com rapidez. As fibras artificiais e sintéticas entram na produção de tecidos finos, mais caros e valorizados, de maior valor agregado.
Sylvio Jr. acha inviável a análise quantitativa do fenômeno. “Se for em custo, a influência da química é uma, em peso, outra. Sua influência estratégica na indústria têxtil é mais ponderável, aplicada do começo ao fim do processo produtivo”. O diretor de qualidade da Abit compara os químicos a um custo de risco, assim como energia elétrica, água e comunicações.

“Imagine os problemas se faltar algum deles. Tínhamos dois caminhos: tornar o País um enorme produtor têxtil ou promover a reorganização internamente”, explica o diretor. A influência relativa dos químicos ainda é baixa mas indispensável na produção têxtil. O primeiro grande passo foi dado nos anos 90, quando a Abit criou o Comitê Brasileiro de Têxteis e Confecção, o CB-17, que preparou suas normas técnicas.
O passo seguinte foi modernizar a indústria da confecção, sempre atrasada na cadeia produtiva, que envolve muitas fábricas e milhares de profissionais. “O grande desafio é colocar as confecções no mesmo patamar tecnológico para as exportações”, diz. A extraordinária evolução da tecnologia têxtil deu-se em processos e produtos.
O grande marco foi a abertura comercial de 1990, no Plano Collor, que atingiu um setor não-competitivo que sobrevivia graças às defesas comerciais e impedia importações. O setor têxtil sofreu forte reestruturação interna, capacitando-se para enfrentar as importações e produtos mais baratos oriundos de países com mão-de-obra intensiva, grandes produtores têxteis como Taiwan, China, Indonésia, Paquistão e Índia.
Remanejamento – Depois da reestruturação forçada, a indústria aprendeu a pensar globalmente. E em toda a sua cadeia de fornecedores, inclusive na química. As negociações com os países do Mercosul e eventuais acordos com a Alca e a Comunidade Econômica Européia (CEE) caminham rápido na Associação Brasileira da Indústria Química, Abiquim. A globalização alterou o perfil do consumo aparente de produtos químicos no Brasil, explica o coordenador da comissão setorial de corantes e pigmentos, Jandyr Falzoni. “Proporcionalmente, aumentaram as importações e exportações, em conseqüência de um fato notório: para racionalizar a produção e otimizar sua participação no mercado, a maioria das multinacionais estão remanejando suas produções para outros países”, explica Falzoni. A concentração liqüidou a metade dos fabricantes de corantes, pigmentos e alvejantes ópticos. Os gráficos da Abiquim do consumo aparente (diretos, ácidos, enxofre, tina, básico, dispersos, reativos e outros) demonstram esta realidade.
Em 1995, o consumo aparente de corantes (17.067 toneladas) tinha um valor médio de 12,67. Em 2000, para um consumo de 26.952 t. (+ 57%), o valor médio foi de 7.19 (- 44%) Em 2001, para 26.485 t, o valor médio caiu para 6.71. A demanda aumentou mais de 50% em peso mas reduziu até 18% em dólares em 2001, porque o valor médio caiu para menos da metade, uma “economia” que foi repassada para o consumidor da indústria têxtil, segundo Falzoni.
Assim como os países americanos e europeus, as demandas no Brasil estão sendo atendidas também pelos asiáticos, especialmente a China. Nas décadas de 80 e 90, oito multinacionais concentravam a produção doméstica de corantes, pigmentos e alvejantes óticos. Restam quatro delas no setor. A Basf produz pigmentos. A Ciba, alvejantes óticos. A Clariant, pigmentos, corantes e alvejantes óticos. E a DyStar, corantes.
Tecnologia para exportar – A modernização envolveu todos os elos da cadeia têxtil, a partir das melhorias genéticas introduzidas nas sementes do algodão, agora mais resistentes às pragas. A colheita, antes manual, tornou-se mecânica. Aperfeiçoaram-se os descaroçadores e as fibras. Encurtou o processo produtivo. Melhoraram as linhas de produção nas fiações. Nas tecelagens, foram substituídos os velhos teares de lançadeiras por equipamentos eletromecânicos, informatizados, à base de jato de ar, projétil e pinça.
A química não ficou de fora da onda modernizante. A tecnologia avançou no acabamento das malharias com a aplicação de corantes, processos de acabamento econômicos, modernos, diferenciados. Buscou-se compatibilizar as fibras químicas com as naturais em produtos inovadores. Os tecidos made in Brazil nada mais ficam a dever aos melhores do mundo, nossos produtos desfrutam de ampla aceitação no mercado externo.
“A tendência natural é a exportação. Para isso, nos adequamos às normas internacionais”, diz Napoli. Para ele, a parte mais intensa das transformações passou. O trabalho penoso e difícil, a mudança da visão empresarial e governamental, em busca de produtividade, produtos mais baratos e tecnologia, foi uma etapa ultrapassada.
Segundo Ivan Bonomi, gerente da Unidade de Negócios Têxtil da Basf, fabricante de dispersão pigmentárias para a estamparia têxtil, houve um esforço de diferenciação por meio da oferta de produtos de tecnologia avançada. Isso ocorreu muito nos agentes de pré-tratamento, a base de todas as etapas do processo de acabamento têxtil. A Basf produz uma linha de 23 produtos e processos para pré-tratamento, em desengomagem, esfrega, alvejamento e merceirização. Os agentes de engomagem e graxas têxteis aplicados ao fio evitam rupturas na tecelagem, ganhando altíssimo padrão de qualidade. A Basf fabrica oito produtos nesta linha.
Em químicos de performance (24 produtos), a Basf destaca o uso dos auxiliares de tinturaria e agentes redutores, que “aumentam a segurança oferecendo melhor reprodutibilidade e eficiência na produção contínua”. O objetivo: fazer “correto na primeira vez”, evitando os lotes estragados. O portfólio de estamparia têxtil da Basf oferece toda a linha (13 produtos) de auxiliares básicos. “Nossos produtos garantem alta qualidade de estampagem têxtil e alto grau de segurança do produto. Além disso, pode-se adquirir efeitos especiais de estampagem usando-se nossos auxiliares”, afirma. As preparações pigmentárias completam a linha de produtos da Basf.
Segundo Bonomi, a demanda por químicos no Brasil tem crescido muito nos últimos anos. As exportações se mantiveram estáveis enquanto as importações cresceram. A indústria têxtil brasileira, cuja produção era mais voltada para o mercado interno, tem procurado o mercado externo. Recentemente, esclarece o gerente da Basf, o governo federal, a Abit e a CEE firmaram um acordo autorizando a eliminação das cotas de exportação, o que abre as portas para maior atuação da indústria brasileira. “O significativo avanço na qualidade dos produtos têxteis também contribuirá para o crescimento”.
A Abiquim reafirma: a realidade vem proporcionando às indústrias nacionais, com boa tecnologia e competência, a conquista de novas fatias de mercado, no Brasil e na América Latina. As indústrias nacionais envolvidas no processo são a Chimical S/A (corantes), Bann Química (corantes), Cleomar (pigmentos), Enia (corantes e alvejantes óticos), Inpal (pigmentos) e Multicel (pigmentos).
Vanguarda tecnológica – O desempenho de algumas indústrias químicas comprovam o sucesso do setor têxtil. A Inpal S.A. Indústrias Químicas comemorou 42 anos de vida em dezembro como uma das principais empresas voltadas às especialidades químicas, principalmente em têxteis. A produção integrada de produtos químicos auxiliares no processamento têxtil, da matéria-prima ao produto acabado, se baseia em forte serviço técnico e desenvolvimento contínuo de produtos e processos nas linhas de engomagem, preparação, acabamento e estamparia de tecidos.
Segundo Manoel Moysés Zauberman, diretor-presidente da Inpal, as metas de crescimento da empresa foram estrategicamente planejadas. O balanço de 2002 mostra crescimento de 15% em relação a 2001. Para 2003, a perspectiva é de que o crescimento seja maior, 20% a mais que neste exercício. Os números: 25 mil toneladas de produção com faturamento na casa dos US$ 20 milhões.
“Acreditamos que as atividades agroindustriais e de química fina, mais os setores que atendemos em têxteis, papel e petróleo tendem a crescer significativamente em futuro próximo, especialmente nas exportações e na substituição das importações”, diz. Na unidade multipropósito, na sede carioca, em Campo Grande, estão as áreas administrativa e comercial e os laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Trata-se da área de síntese e reações químicas, com capacidade de produzir 500 t./mês de preparação/tinturaria, 400 t./mês de acabamento e 80 t./mês de pigmentos e estamparia.
Em São Tomé (PR), na unidade de produção de amidos quimicamente modificados, da produção total de 2.500 t./mês, 500 t. são de têxteis. A unidade Indaial-SC produz formulações para indústrias da região sul: 300 t./mês são de produtos auxiliares para beneficiamento, tinturaria e acabamento.
“A Inpal desenvolve continuamente produtos e processos, contratos de transferência de tecnologia, acordos de cooperação técnica com entidades de inovação tecnológica. nacionais e internacionais”, anuncia o presidente da companhia. Entre outras inovações, cita compounds para engomagem de fibras naturais e sintéticas (1970), acabamentos espumáveis (1980), emulsões de silicone (1969), emulsões de polietileno (1970), carriers para tingir poliéster (1970), carriers ecológicos (1998), amidos eterificados (hidrossolúveis) (1996), carboximetil de mandioca eterificado – goma hidrossolúvel e reciclável, sistemas de pigmentos sintetizados (1980) e produtos para preparação e tinturaria de alta eficiência, biodegradáveis (2002).
Em São Tomé, onde produz os amidos modificados, as linhas são totalmente integradas, do produtor da raiz da mandioca ao usuário final, a indústria têxtil ou de papel. Segundo Zauberman, a produção da fécula, após o descascamento, desfibração e desintegração da raiz da mandioca, resulta numa solução concentrada de amido (40%) processados em reatores com até 80.000 litros com reagentes químicos. “O processo resulta em amidos eterificados, carboxilados, cationizados, anfotéricos, acetilados. São biopolímeros utilizados na engomagem têxtil ou produção papeleira. Os resultados são de alta eficiência e qualidade”, explica. A Unidade de Indaial acaba de ser reestruturada para oferecer produtos e serviços à altura de indústrias têxteis como a Teka, Karsten, Dohler, Malwee e Budmeyer, entre outras.

O grupo Inpal começa a conquistar o mercado externo. As especialidades têxteis e de papel entram em vários países da América do Sul, África e da Ásia. O empresário estima que as exportações cheguem a 150 t./mês. “O estímulo à produção gera mais empregos e melhora a competitividade. A conquista de novos mercados é muito encorajadora. Temos os novos acordos comerciais econômicos regionais, como a Alca, que podem incrementar substancialmente a criação e penetração em novos e atrativos mercados para os têxteis e manufaturados brasileiros’, acredita Zauberman.
Incorporações e fusões – A modernização em fibras e filamentos químicos envolveu incorporações e fusões dos gigantes no ramo. A união da Rodhia com a Hoechst, originou a Unifai, grande fabricante de viscose. Em náilon, há a Fibra-Du Pont, sediada em Americana, vizinha à Polyenka. Todos fabricantes de fibras e filamentos como viscose, poliamidas, poliéster, acrílicos, elastanos, polipropilenos. A Alpagartas juntou-se à Santista, em processamento têxtil. A Teka adquiriu a Texcolor. A Coteminas incorporou uma série de empresas menores.
O grupo Vicunha, atuante em toda cadeia têxtil, segundo Eduardo Rabinovich, vice-presidente do conselho de administração, apresentará um faturamento (R$ 1,4 bilhão) 10% maior no balanço de 2002. O grupo emprega 13 mil pessoas em 14 fábricas localizadas em Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Bahia e nas cidades de Itatiba, Americana, São Manoel e Amparo, no estado de São Paulo. A Vicunha produz desde fibras, filamentos e fios até confecção de tecidos de algodão e sintéticos. “Os grandes fatores de diferenciação são o tingimento e o acabamento, com a aplicação de resinas, até a lavagem. A grande evolução do setor se deu por meio do acabamento e tingimento, o coração da indústria têxtil”, explica Rabinovich.
Os químicos experimentaram uma rigorosa dieta operacional. Sobraram cinco dos 18 fabricantes de corantes que existiam no mercado interno. Desapareceram 300 no exterior. Além do enxugamento do pessoal, com extinção de cargos, funções e profissões, as fábricas brasileiras optaram pela venda de serviços. O ajustamento levou a Enia, de Itupeva, a operar com capital limitado por causa dos aumentos dos custos em dólar.
Sete empresas em uma – A DyStar, empresa alemã líder mundial em corantes têxteis, é o retrato acabado do enxugamento sofrido pela indústria química. Criada em 1995 pela associação da Bayer (35%) e da Hoechst (35%), a DyStar. Empresa líder no mercado mundial de corantes e preparações pigmentárias para têxteis, a DyStar em 2000 incorporou a Basf (30%). E emprega quatro mil pessoas em 20 subsidiárias, nos principais mercados, em aproximadamente 50 países. A gigantesca joint-venture, com matriz em Frankfurt, Alemanha, junta na verdade sete empresas: Bayer, Hoechst, Basf, Cassella, ICI, Zeneca e Francolor.
“Nos últimos cinco ou seis anos, o setor de corantes têxteis sofreu uma forte reestruturação devido ao excesso de produção mundial”, diz o presidente Wolfgang Guderle, prevendo com segurança uma concentração maior no futuro. Guderle acredita na extinção de uma infinidade de pequenos fabricantes asiáticos, que produzem corantes têxteis em condições precárias, na maré da competição intensiva e de leis ecológicas rigorosas. A empresa atua, exclusivamente, em corantes para a indústria têxtil. Com linhas de produção espalhadas em seis países, oferece corantes reativos, dispersos, à tina, índigo, catiônicos e preparações pigmentárias, correspondentes a 70% do consumo mundial.
Produz, ainda, corantes ácidos, enxofre e naftóis, além dos corantes diretos (30% do consumo mundial). A Clariant e a Ciba são seus principais concorrentes. “Em química fina, na grande maioria dos produtos, dependemos de matérias-primas importadas, pois não há similares nacionais. Os corantes reativos e naftóis são produtos nacionais”, lembra.
As vendas da Dystar atingem a R$ 3,3 bilhões ou 920 milhões de euros. Em Suzano, na Grande São Paulo, produz 5 mil t./ano de corantes reativos e naftóis. Além desta planta, com 140 empregados, conta com head office e laboratório de assistência técnica em São Paulo e filiais de vendas em Blumenau, Recife e Belo Horizonte.
A base no Brasil atende os países da América Latina, exportações responsáveis por um faturamento de aproximadamente US$ 100 milhões. “A DyStar investe de 3% a 4% de suas vendas em P&D para desenvolver novos corantes com o melhor custo/benefício, além de melhorar as propriedades técnicas e ecológicas”.
Possui aproximadamente 600 produtos patenteados (30% das vendas). A inovação em produtos e processos para o tingimento de têxteis é extremamente importante para melhorar a relação custo/benefício, acompanhando as exigências de qualidade dos mercados nacional e internacional, além de melhorar suas propriedades ecológicas. “Também a tendência da moda e a inovação com o lançamento de novos artigos têxteis requerem constante adaptação da gama de corantes têxteis”, diz Guderle.

A indústria têxtil brasileira atravessa uma importante fase de crescimento, “devido à constante melhoria da qualidade e competitividade em custos”, afirma Guderle. A competência técnica do setor começa a ser mais reconhecida em mercados externos potenciais, como os países da União Européia e os Estados Unidos. A participação em fashion shows internacionais melhoram a imagem do setor têxtil.
Guderle vê a indústria têxtil brasileira preparada para atender o crescimento do mercado externo. Todos os componentes da cadeia têxtil devem acompanhar este desenvolvimento, especialmente as confecções, buscando atender os níveis exigidos por compradores externos. “Hoje os grandes retailers internacionais exigem um serviço completo com qualidade, custo, logística, packing e flexibilidade”.
Queimando gorduras – O principal fator de custo dos fornecedores químicos do setor têxtil é a desvalorização cambial e o aumento em moeda forte da matérias-primas. Isso foi sentido por todas as empresas. Entre elas, a Clariant, que oferece soluções em processos combinados de corantes e químicos em sua divisão química TLP (Couro, Papel e Emulsões). Com três plantas no Brasil, faturando US$ 400 milhões e com 2900 empregados, a produção de tinturas e substâncias químicas para têxteis, no valor de US$ 50 milhões, corresponde a 12% do portfólio, informa Gerson Leme, gerente da área têxtil da Clariant.
Também sentiu a pressão cambial Frits Herbold, diretor da área têxtil da Ciba Especialidades Químicas. A variação afeta milhares de matérias-primas dos corantes, principalmente benzóis, ácidos de letra e reativos naftalena. “Estamos queimando gordura porque os clientes não aceitam o repasse nos preços. Nossas margens já se foram, a realidade não é como há dez anos”, afirma Herbold. Paulo Skaf, presidente da Abit, pondera: “as importações são pequenas, em alguns itens estamos perto da auto- suficiência. O nível em que está o dólar (R$ 3,80 em meados de dezembro) tem um grau de especulação, deverá se acomodar em breve”, lembra.

O holandês Herbold, de 57 anos, natural de Apeldoorn, perto de Amsterdam, começou como aprendiz de tintureiro e conhece como poucos o chão da fábrica e as injunções do setor. Calcula um aumento de 20% a 30% nos preços das matérias-primas em função da desvalorização cambial, em relação a 2001, o que provocou forte pressão na atividade industrial. “Os preços do algodão aumentaram de 80% a 100% nas cotações do mercado internacional. Nossa esperança é que realmente o dólar caia para R$ 2,00 a R$ 2,80, porque estamos deixando de fazer negócios com a desvalorização cambial, operamos com margens muito baixas”, reitera. A maioria da matérias-primas vem da Ásia, principalmente China e Coréia. “Apostamos na baixa do dólar e na nacionalização das matérias-primas e corantes químicos com conseqüente repasse para o cliente têxtil no varejo”, afirma o diretor da Ciba.
A Ciba vê o Brasil com carinho. Responsável por 40%/45% (1,28 milhão de t.) da produção mundial (22 milhões de t.), o País gera um comércio de US$ 360 milhões/ano. A divisão têxtil mundial da Ciba faturou US$ 1,115 bilhão em 2001, num resultado global de US$ 5 bilhões. Atendendo a toda a cadeia têxtil, o Brasil representa 40% do seu faturamento, dominando 18% a 20% do mercado interno em corantes e produtos químicos têxteis (US$ 300 milhões). Os investimentos em modernização chegaram a quase US$ 100 milhões nos últimos seis anos. Na América do Sul, a Ciba tem fábricas no Chile, Colômbia e Brasil, empregando 100 pessoas. 62 delas estão no Brasil, fora o marketing.
Drible tecnológico – Uma forma de driblar os contratempos da economia é a inovação. A Ciba desenvolveu um processo econômico para tingir tecidos mistos de poliéster/celulose, com corantes reativos e dispersos. “Este processo único é baseado em nossos corantes reativos ambientalmente compatíveis com a baixa necessidade de sal, nossos corantes dispersos para poliéster e um sistema de auxiliares de tingimento especialmente desenhado”, explica Herbold. O processo LS Superfast (tingimento em banho único) melhora a produtividade, reduzindo em seis horas o tempo de processamento, com perfeita reprodutibilidade e solidez das cores.
Em parceria com fabricantes de impressoras e software, a empresa busca resultados de qualidade superior na estampagem a ink jet (jato de tinta). A Ciba desenvolveu tintas high tech que permitem às impressoras tirar a máxima vantagem da tecnologia de impressão digital. Segundo informações da fábrica, as novas tintas proporcionam desempenho técnico, velocidade, flexibilidade, reprodutibilidade, benefícios ambientais e custo competitivo.
Em tecidos, a linha têxtil da Ciba oferece tecidos antiinflamáveis como o Pyrovatex, que protege a pele dos raios ultra-violetas, usado em roupas profissionais (uniformes) para os trabalhadores rurais e da construção civil, bem aceito em roupas esportivas. O Tinosan, tecido antimicrobiano, combate a formação de odores, proporcionando “frescor duradouro” para os apressados do mundo. A empresa combinou conhecimento científico em antimicrobianos da área de life-science com o químico em corantes reativos e dispersos para desenvolver esta inovação. Desenhados para inibir a formação de odores ou “aprisionar” odores, resistem à lavagem em molhado e a seco. Também há o Oleophobol, um protetor com tecido em Teflon, indicado contra manchas de óleo, água e sujeira.
O rápido crescimento nas vendas de artigos de sports wear e tecidos sintéticos resultou na demanda por roupas mais confortáveis e mais “frias”. A Ciba desenvolveu acabamentos têxteis que asseguram alta absorção de umidade. Estes novos produtos ajudam a remover da pele o vapor d’ água, oferecendo maior conforto e ajudando a evitar a sensação de calafrio depois dos exercícios físicos. Desenhados para tecidos sintéticos e celulósicos, os acabamentos reduzem a aderência estática ao corpo e ajudam a manter por mais tempo a “cara nova” da roupa. Como o algodão sem acabamento está sujeito a encolher e amarrotar, a Ciba afirma que estabeleceu um marco na tecnologia de estabilização dimensional e efeitos antirruga. As Soluções Integradas Ciba para tecidos “easy care” abrangem facilidade de costura, resistência ao rasgamento e abrasão, entre outras.

A nacionalização bem sucedida – O mercado de fibras têxteis evoluiu muito. As fibras manufaturadas sintéticas, à base de petróleo, são o poliéster, náilon, acrílico, elastômeros e outros. As artificiais, produtos químicos ou celulose, são rayon, viscose, rayon acetato. “Mantivemos constância no desenvolvimento de novos produtos em químicos e petroquímicos. Desenvolvemos cada vez mais fios altamente filamentados cuja principal vantagem é o toque macio igual à seda”, explica Joerg Albrecht, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas, Abrafas.
Albrecht é presidente da Polyenka, com fábrica em Americana, no interior de São Paulo, o maior produtor nacional de poliéster filamento, com 35 mil t./ano. Sua produção cresceu quase seis vezes em 30 anos. A empresa fatura R$ 240 milhões e emprega 460 pessoas. É uma das poucas empresas que, criada com capital estrangeiro (ex-controlada da Akzo-Nobel, holandesa), foi nacionalizada, sendo adquirida no ano passado pelos principais executivos juntamente com a argentina Mafissa, Manufatura de Fibras Sintéticas S/A.
O parque fabril, renovado, é a estampa da modernidade. Tem máquinas e equipamentos de última geração, como a ES-12, de fiação, que opera com um sistema revolucionário de fiação de poliéster. As estiradeiras Zinser e as máquinas RPR e AFK são os últimos avanços no processo de estiragem e texturização de tecidos. Uma das estratégias foi a ampliação das aplicações dos fios de poliéster, adaptadas às diversas máquinas e equipamentos do parque fabril brasileiro. Com isso, os teares assistiram ao crescimento das máquinas circulares, Raschel, Ketten e outras, pelas próprias características físico-químicas do poliéster.
A diferenciação está no processo final que torna o fio altamente filamentado, uma tecnologia recente na indústria mundial. Há 30 anos, a Polyenka oferecia 30 tipos de fios de poliéster; hoje são mais de 80. Em função da parceria com a Mafissa, a Polyenka desenvolveu produtos específicos como os chips (polímeros) de poliéster e parte dos fios parcialmente orientados (POY) utilizados em processos de texturização e estiragem, importado dos EUA, Ásia e Europa. Atendendo a 600 clientes, fabrica 90 tipos diferentes fornecidos à Vicunha, Kersten, Teka e Linhas Corrente para vestuário, cama, mesa e banho. “Exportamos pouco porque os custos locais não permitem competir com os asiáticos. Nosso plano é exportar mais em 2003, diz Albrecht”.

A variação cambial encareceu os insumos importados na fabricação de fibras artificiais e sintéticas, reconhece José Eduardo Cintra de Oliveira, diretor executivo da Abrafas. Os custos dolarizados do setor petroquímico acabaram sendo repassados para a indústria têxtil. “As margens de lucro foram reduzidas”. Neste panorama, mesmo com o resultado financeiro em queda, pressionado pelos custos, a expectativa é de que a receita bruta do setor atinja US$ 1,1 bilhão nos balanços de 2002. A produção deverá ficar em torno de 320 mil toneladas de fibras químicas, igualando o desempenho de 2001.
Como a maioria dos entrevistados, o otimismo de Cintra para 2003 fica por conta da perspectiva dos acordos de livre comércio a serem fechados com a União Européia e a ALCA. O novo governo trabalhista no Brasil também o entusiasma. “Acredito nas insistentes declarações do novo presidente da República de que estará voltado à produção para garantir empresas aptas para praticar o livre comércio nos próximos dez anos”, diz. Cerca de US$ 1,4 bilhão deverão ser investidos em modernização até 2010. “O setor têxtil e de sintéticos evoluiu muito e as exportações deverão crescer principalmente através das confecções”.
As vendas do poliéster provavelmente crescerão, em função do aumento nos preços do algodão, o que deverá levar à maior “substituição” na mistura dos tecidos. A Rhodia, fabricante de poliamidas, também incrementa suas exportações. A Abrafas contará com a décima empresa associada em janeiro de 2003. A maior novidade foi a venda da Rhodia-Ster, no fim de setembro, para o grupo Mossi & Ghissolfi, o terceiro maior fabricante mundial de PET.
As exportações de elastano para a Ásia, por exemplo, o maior exportador mundial, são surpreendentes. A Du Pont investiu US$ 120 milhões na produção do elastano em sua fábrica de Paulínia, a mais avançada do mundo. O setor não é exportador e atende basicamente a produção local. “O câmbio afeta as compras, levando à necessidade de hedge nas vendas”, esclarece Cintra. Já o presidente da Abrafas faz questão de frisar que um marco importante em 2002 foi a integração das ações entre a Abit, o Sinditêxtil e os associados. As articulações antes corriam separadamente. “O ano de 2003 é promissor se for cumprida a promessa do candidato Luiz Inácio Lula da Silva de aumentar emprego, produção e exportação, controlando as importações. As importações em alta escala e sem controle são um problema”, reconhece.

A questão ambiental – Um ótimo indicador para mostrar a nova face da indústria têxtil é por meio do seu desempenho ambiental. Com a brutal evolução tecnológica, melhoraram processos e produtos, e no seu bojo o controle de poluição. Um projeto pioneiro, comandado pelo engenheiro Eduardo San Martin, diretor de meio ambiente da Abit, começou em 1998, quando Paulo Skaf assumiu a entidade. Skaf previu a modernização do setor e sua expansão para os mercados externos. A competição dos produtos brasileiros com os estrangeiros, porém, teria um sério obstáculo: as barreiras ambientais. Implantou o programa inédito nas Américas. A Abit foi o primeiro setor produtivo a criar uma estrutura de meio ambiente para cuidar de novos processos, licenças e controles da produção instalada.
Ex-gerente regional da Cetesb, San Martin assumiu o comando do programa. Seu principal objetivo foi atualizar os dados de controle ambiental na cadeia produtiva. Para isso, passou a se reunir, periodicamente, com os representantes de 151 indústrias têxteis do estado de São Paulo. Na pauta, legislação ambiental, licenciamento, tecnologias de controle de efluentes líquidos – o principal problema do setor – gerenciamento de resíduos sólidos, controle de emissão de poluentes atmosféricos, tratamento e destinação final do lodo gerado em estações de tratamento de efluentes químicos, para reduzir toxicidades e resíduos no solo.
O inventário ambiental, a coleta de informações quantitativas e qualitativas das empresas têxteis, demorou seis meses para ser produzido. Os levantamentos começaram em 2001, identificando as barreiras com as restrições ambientais, uma tarefa complexa onde até os europeus têm dificuldades em operar. A criação de um questionário para a geração do inventário é inédito na Europa. A Abit fez levantamentos em países da CEE, Espanha, Alemanha, França e Inglaterra.
O resultado, um calhamaço com mais de 100 páginas contendo 300 perguntas, transformado em programa eletrônico, de fácil acesso, preenchimento e adesão voluntária, está à disposição na Internet com os links necessários. Basta acessar www.abit.org.br e preencher o campo do inventário ambiental.
O questionário, na verdade, é um roteiro “de auto-conhecimento industrial, possibilitando que cada indústria se conheça”, interpreta San Martin, que atualmente discute os primeiros programas para geração dos relatórios em 2003. As informações são sigilosas. Os dados não são associados a empresas, individualmente, mas sim divididos em grandes bacias hidrográficas. “Não interessa saber o comportamento individual e sim do setor”, diz.

O inventário ambiental é a terceira linha do programa. Com sua postura pró-ativa, a Abit discute, inclusive, projetos de lei que interessam ao setor têxtil. A cobrança do uso da água, por exemplo, é acompanhada no poder legislativo. O Prêmio Abit de Meio ambiente premiou Teka (SC), Santista e Malwee, de Jaraguá do Sul (SC). O maior destaque no aspecto ambiental foi o protocolo assinado pela Abit e a Cetesb para o desenvolvimento da segunda fase do programa. “O maior desafio nesta fase é para divulgar e convencer o empresário como a Produção Mais Limpa (P+L) é importante e proporciona ganhos econômicos”. A Cetesb está realizando gestões junto a outros órgãos públicos.
O meio ambiente preservado – Um case ilustrativo da área de meio ambiente é a região de Americana-SP, o maior pólo de fios e fibras têxteis do País e também importante região de tecelagens, que outrora, antes do Plano Collor, teve seu apogeu. Hoje a natureza convive pacificamente com a produção nos 372 mil metros quadrados onde está a Polyenka. Nas vizinhanças, a Santista, Fibra-Du Pont e Vicunha Têxtil trabalham cercadas por mata ciliar nativa com animais silvestres e peixes no rio Piracicaba. Embora o processo industrial na Polyenka não inclua água – menos a tinturaria, que também não incorpora líquido no produto final – sua estação de tratamento de água e efluentes opera com mais 95% de eficiência, segundo o engenheiro químico José Nivaldo Helmeister.
A indústria têxtil como um todo consome 4.029 m3 de água por segundo, informa a Fiesp.
Nos últimos três anos, o projeto piloto da Abit proporcionou reduções no consumo de água, efluentes e energia elétrica, significativas e vantajosas. O consumo de água caiu 15%, o de energia elétrica 8%. No caso da Polyenka, na área de captação de água no rio Piracicaba (240 m3/hora de capacidade), o líquido é submetido a tratamento físico-químico (flocodecantadores e filtros), usado na indústria e novamente tratado por processo biológico (lodo aditivado nos efluentes) e volta em calhas de descarga para o leito do rio. A fábrica consome 50 m3/hora de água e 45 m3 nos efluentes. “Somos uma empresa automonitorada. Fazemos as análises e as enviamos para a Cetesb”, diz Heilmeister.
A Polyenka desenvolveu um trabalho na rede de eletricidade buscando maior eficiência das máquinas. “As máquinas mais novas gastam menos energia”. Já em 1997, a fábrica investiu US$ 700 mil na modernização da estação de tratamento de água. Cerca de 50 empresas da região estão associadas ao consórcio das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, um projeto de reflorestamento de mata ciliar e melhor utilização dos recursos hídricos.
O sucesso do programa ambiental fez com que a Abit propusesse à Cetesb estendê-lo em nível nacional, aos pólos têxteis existentes em Santa Catarina, Minas Gerais e Ceará. A Cetesb, inclusive, solicitou à Abit que contate outros setores econômicos, usando o exemplo dos têxteis como motivador de outros setores industriais. Tudo é gratuito. Para 2003, o maior objetivo na área têxtil é a interação com a Abiquim, para discussão de fórmulas e alternativas no emprego de matérias-primas que preservem o meio ambiente.
Química mudou a produção têxtil
A história da indústria têxtil pode ser dividida em antes e depois dos químicos. Pioneiro na industrialização do Brasil, processando algodão, o setor modernizou-se conservando a pujança do berço, transformando-se no maior empregador da indústria de transformação nacional.
A fábrica de tecidos inspirou poetas e escritores e tingiu toda a cultura verde e amarela. No início do século 20, com carestia, fome e miséria, os operários do Cotonifício Crespi e da Mariângela, na Mooca, reivindicando melhores salários, decretaram as primeiras greves em São Paulo. Lideravam outros trabalhadores nos bairros da Mooca, Brás e Cambuci.
Nos anos 60, a indústria de tecelagem na Guanabara empregava 35 mil trabalhadores, metade dos quais sindicalizados. Em 1962, nascia a Indústria Química Resende, a primeira fábrica de corantes têxteis no Brasil, a partir de uma joint-venture entre a Ciba-Geigy e a Sandoz.
Desfechado o golpe militar em abril de 1964, o desemprego assolou a Confiança, América Fabril, Alto da Boa Vista, Deodoro e Bangu, muitas das quais estabeleceram-se em outros estados, atraídas pela mão-de-obra mais barata. A polícia resolvia a questão social.
Os tempos mudaram. O uso de insumos químicos nas linhas de produção é apontado como divisor de águas entre a economia rural e a globalizada. Este século 21 assiste à renovação e ao crescimento da indústria têxtil que acelera sua inserção na economia mundial. “’É muito importante o crescimento dos sintéticos no Brasil e no mundo em relação às fibras naturais”, constata Paulo Skaf, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Abit.
Os têxteis já absorvem 65% de fibras naturais, 30% de sintéticos e 5% de outros no Brasil, uma proporção que chega a meio a meio em outros países produtores. A influência dos químicos no desenvolvimento de novas tecnologias e produtos de confecção, roupas esportivas, lençóis, cortinas, jacquard para decoração, cama, mesa e banho, que cada vez mais fabricam “produtos bons, bonitos, baratos e confortáveis”. São novos tecidos (primavera e verão), novas texturas, novas cores e tendências.
Olá! É fato a publicação do diario do Nordeste em 2010 sebre as 500 mulheres que se recusaram trabalhar de forma formal alegando perder o benefício? Grato