Tecnologia: Químico italiano cria couro transparente

A obtenção do alumínio, com transposição da luz da parte externa para a interna, apresentada num dos episódios para o cinema da série Jornada nas Estrelas, em que um aquário do metal transparente, proporcionado por uma equação mirabolante, foi montado para transportar uma baleia, ainda permanece apenas como obra da ficção científica. No entanto, um material que vem acompanhando o homem desde a sua morada nas cavernas já pode ser fabricado com superfície transparente. Trata-se do couro. A novidade apareceu pela primeira vez na Mipel, uma feira do segmento coureiro-calçadista de Bolonha, Itália, em 2002. Voltou a ser exibida na Moda Pelle, outra exposição setorial de Florença, em setembro de 2003.

Química e Derivados: Couro: Exemplo de aplicação com novo material. ©QD Foto - Divulgação
Exemplo de aplicação com novo material.

O protagonista do couro transparente, o técnico químico Stefano Vivaldi conseguiu produzir o material a partir de uma combinação de fórmulas químicas empregadas em cadeia, desde as etapas de ribeira, como remolho, caleiro e píquel, até o acabamento, com foco especial às peles destinadas à fabricação de sapatos, roupas e bolsas.

Com 35 anos de atividade, Vivaldi dedicou seis anos em pesquisas com reagentes até obter a patente internacional em 2001. A partir daí, assegura, torna-se possível esticar a peça, remover os resquícios de carne e gordura até ficar transparente, mas ao mesmo tempo, conferindo resistência necessária para ser manufaturada na forma de artigos em couro. Para essa finalidade, a preferência são as peles de terneiros, ovelhas e cobras, de espessuras menores e mais macias.

Até o momento, um contrato com o grupo Conciario Albatros, importante indústria de curtumes da Itália confere exclusividade na produção do couro transparente a essa empresa.

De qualquer forma, Vivaldi garante deter a patente internacional do processo até 2018 e, para produto final, até 2019. Em 2005, termina o contrato de exclusividade com Albatros para fornecimento do processo. O preço de um pé (unidade mundial de medida do couro) equivalente a aproximadamente 900 cm2, custa 12,5 euros. Para fabricar um par de sapatos feminino fechado, seriam necessárias duas peças. Nesse caso, confirma Vivaldi, o objetivo é conquistar um público mais requintado.

O ex-presidente da Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro (Abqtic), Alexandre Finkler, amigo e representante dos negócios de Vivaldi no Brasil, atesta a veracidade do produto: “É couro sim. Eu estive em Bolonha e vi com os próprios olhos. Até trouxe uma amostra aqui para o Brasil. Até um pergaminho transparente de couro ele já fez, mas a reação química por enquanto ele não abre para ninguém”, afirma Finkler ao se referir ao processo inovador de Stefano Vivaldi.

Proprietário da empresa Eurokimica, com sede em Santa Croce sull´Arno, tradicional pólo coureiro-calçadista da região Toscana, Vivaldi esteve em Porto Alegre em maio. Em sua opinião, o País oferece pelo menos dois obstáculos para seus produtos. O primeiro é o protecionismo. “O Brasil não quer os produtos da Itália, mas o nosso know how é sempre bem-vindo”, alfineta. O segundo problema é a confirmação de que o couro brasileiro está migrando para o nicho de estofamentos de móveis e mercado automotivo, cujos insumos químicos são diferentes das fórmulas fabricadas em sua empresa, que mantém linha de substâncias para couros mais macios com aparência natural, uma preferência de gosto dos italianos para a aquisição de calçados e roupas em couro.

No entanto, explica Vivaldi, existem condições para a formação de alianças estratégicas e joint ventures entre as empresas italianas de Vicenza, na região do Veneto, onde são produzidos couros para estofamentos, e que por isso mesmo, conta com indústrias químicas voltadas a esse nicho por alta demanda de pigmentos, corantes, primers, lacas e ceras empregadas em estofamentos, os quais conferem ao produto larga cobertura e aparência de materiais sintéticos. Quanto ao futuro do couro transparente em termos de mercado, Vivaldi ainda não sabe o que vai acontecer: “Estamos na expectativa do que irá sair das cabeças imprevisíveis dos estilistas europeus”, finalizou o empresário.

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