Tecnologia ambiental – Saneamento: Feira destaca soluções para o setor público
O clima da Feira Nacional do Saneamento (Fenasan), de 29 de julho a 1º de agosto em São Paulo, refletia bem a expectativa do setor de haver mais investimentos em infraestrutura no segundo semestre, aposta do governo federal para retomar um pouco o ânimo da economia.
Os corredores e estandes do pavilhão azul do Expo Center Norte permaneceram movimentados a maior parte do tempo da exposição, já que 17 mil visitantes deram o ar da graça, não só atrás de novidades, mas também para conferir as apresentações do encontro técnico promovido pela Aesabesp, a organizadora do evento.
Até mesmo porque os clientes privados não estão muito capitalizados, o enfoque maior dos expositores, sejam eles as empresas estatais ou as concessionárias privadas, estava voltado para a apresentação de tecnologias para o setor público.
Um exemplo disso ocorreu no estande da Sulzer, tradicional fornecedora de bombas hidráulicas de todas as vazões possíveis, que mostrava sua estratégia recente de ampliar o portfólio de produtos no Brasil, com novas tecnologias trazidas de sua matriz suíça ou de afiliadas espalhadas pelo mundo.
O propósito, segundo explicou o coordenador de engenharia da Sulzer, José Donizete, é ter equipamentos para fornecer todas as necessidades de auxiliares de estações de tratamento de água e efluentes, em pacotes completos, de alta eficiência energética e com tecnologias novas para o mercado brasileiro. E a estratégia aparenta estar dando bons resultados, tendo em vista recentes negócios fechados com a maior companhia estadual de saneamento do país, a Sabesp, e com outras empresas não menos importantes, como a Foz do Brasil, do grupo Odebrecht e com várias concessões e PPPs de água e esgoto, e com a companhia estadual mineira, a Copasa.

Os complementos à tradicional linha de bombas da Sulzer, cujo negócio de saneamento é dirigido e abastecido por fábrica em Curitiba-PR, incluem vários equipamentos. Há uma linha especial de sistemas de aeração, com difusores de ar tipo disco, feitos de membranas porosas ABS Nopon, que ainda incluem válvula antirretorno. O sistema conta com alta eficiência de transferência de oxigênio em tanques de aeração, combinado com baixas quedas de pressão. “Eles formam bolhas de tamanho médio, com alta eficiência”, disse Donizete.
A Sulzer também dispõe de aeradores submersíveis, como o ABS OKI, uma unidade de serviço pesado com capacidade também para ser um misturador, o que o torna ideal para processos de aeração descontínuos, como os necessários para desnitrificação e nitrificação ou SBR, mesmo quando em profundidades de 12 metros e em líquidos com alto teor de matéria seca. Além disso, por ter alta capacidade de bombeamento e mistura, é indicado para biorreatores com membrana (MBR). Sua transferência de oxigênio é até 450 kg/h e faixa do motor vai de 3 a 37 kW.
Ainda em aeradores, os submersíveis ABS TA e TAK são adequados para tratamento de efluentes em instalações industriais, em tanques de mistura e equalização ou sistema de lodo ativado. Como vantagem, o modelo TA não gera aerossol, evitando a formação de bactérias coliformes. Produz ainda bolhas finas e fator de transferência de oxigênio alto (até 80 kg/h). Outro aerado é o ABS Venturi Jet, para a mistura combinada com aeração de efluentes municipais e industriais em instalações médias e pequenas. Sua base é o princípio da injeção: produz uma mistura de ar e água, para gerar a aeração e a suspensão de sólidos.
Turbocompressor – Para o coordenador da Sulzer, porém, “a estrela” do novo pacote, que tem feito com que os fornecimentos ganhem um diferencial para conquistar clientes interessados em melhor desempenho e eficiência energética de estações de tratamento, é o turbocompressor eletromagnético ABS HT. Trata-se de equipamento já bastante utilizado na Europa, mas novidade para o mercado brasileiro. Fornecedor do ar pressurizado para sistema de aeração, o equipamento utiliza tecnologia de rolamentos magnéticos controlados eletronicamente, que levitam o rotopropulsor da peça única. “É o mesmo princípio que aciona os trens-bala”, comparou Donizete.
Esse princípio do turbocompressor faz com que ele tenha eficiência energética até 30% superior aos sistemas convencionais lobulares e centrífugos. Isso porque o sistema não tem peças de desgaste mecânico e nem precisa de lubrificantes para a operação, o que reduz o coeficiente de atrito, demandando muito menos energia para funcionar. Com motor de alta velocidade acionado por conversor de frequência, faixa de vazão do ar de 1.000 a 16 mil Nm3/h, sua rotação e ainda controlada, colaborando com o menor consumo de energia.
Foi justamente a combinação do novo turbocompressor com o sistema de aeradores e as bombas que fez, por exemplo, a Sulzer fornecer um pacote completo para a nova estação de tratamento de esgotos da Sabesp em Campos do Jordão, que será a primeira a usar MBR pela estatal. Uma venda turn-key de R$ 2,5 milhões, que inclui o turbocompressor, difusores de ar de membranas, misturadores e, logicamente, os sistemas completos de bombeamento da estação.
Além disso, a ETE de Vargem Paulista, da Sabesp, comprou um pacote com turbocompressor, difusores e bombas – em um ano de operação, houve redução de 12% no consumo de energia. Segundo Donizete, em pouco mais de um ano de divulgação do turbocompressor, mais de 20 máquinas foram vendidas no Brasil. E ele acredita que ainda há muito a crescer. Na Europa, há mais de 1.600 turbocompressores instalados.
Bombas sustentáveis – Outra empresa da área de bombas com novidades em eficiência energética dos sistemas foi a dinamarquesa Grundfos. O destaque na feira era a versão atualizada do sistema de bombeamento SQFlex, que opera movido a energia solar e/ou eólica, e é indicado para a captação de água de poços artesianos em localidades isoladas, sem acesso à energia.
O sistema conta com módulo inversor de tensão, que transforma corrente contínua em alternada direto da placa solar, permitindo operações sob uma faixa maior de pressão e vazão e aumento da potência. A versão tem capacidade máxima de vazão de 150 m3/h e pressão máxima de 400 metros de altura.
Segundo o coordenador de produtos e aplicações da Grundfos, Renato Zerbinati, o sistema é de fácil instalação e baixo custo de manutenção. Modular, nenhum acessório do sistema pesa mais do que 50 kg, sendo composto por bombas submersas de até 15 cv, painel solar, turbina eólica, controlador para o monitoramento da operação, interface de conexões e suporte para a sustentação das placas. “Há ainda a opção de agregar turbina eólica e baterias para armazenar a energia excedente”, disse Zerbinati.
A opção por energia solar ou eólica depende das características da região onde o sistema será implementado. O aproveitamento da fonte solar é recomendável para localidades mais afastadas, onde a primeira instalação elétrica se encontra a quilômetros de distância. Já a opção eólica é indicada para os locais onde a velocidade dos ventos prevalece sobre as horas de sol ou em regiões de campo aberto e vales. A avaliação é feita pelo corpo técnico da Grundfos.

Dessulfurização do biogás – Especializada em sistemas anaeróbicos de tratamento de efluentes, a holandesa Paques destacava em seu estande o crescente uso de seus sistemas de dessulfurização de biogás Thiopaq. Com a tendência de reaproveitamento energético do gás gerado (metano) por digestores anaeróbicos de estações de tratamento de efluentes ou pela degradação de matéria orgânica em aterros, a empresa tem percebido um aumento na demanda por sua tecnologia.
A tecnologia utiliza adsorção físico-química do sulfeto de hidrogênio (H2S) do biogás em uma solução alcalina suave (90% menos de soda do que o sistema convencional) em um scrubber, ao mesmo tempo que em linha um reator promove a regeneração biológica da solução cáustica com ar e uma bactéria, a Thiobacillus, importada da Holanda. Ao entrar na coluna de adsorção, o biogás com o H2S é lavado; e o purificador alcalino absorve o poluente. A corrente de gás limpa sai pelo topo do absorvedor (com menos de 25 ppm de H2S) e o líquido contendo o sulfeto de hidrogênio vai para o biorreator, onde as bactérias oxidam e transformam o líquido, sob condições limítrofes de oxigênio, em enxofre e soda cáustica. “O enxofre elementar pode ser reaproveitado como fertilizante ou fungicida”, explicou o gerente geral da Paques, Sérgio Cruz.
No exterior, a Paques já instalou mais de 150 sistemas Thiopaq. No Brasil, os negócios ainda estão no início, mas três sistemas já foram vendidos para a Cervejaria Petrópolis, produtora da Itaipava, para dessulfurização do biogás produzido por sistemas de tratamento anaeróbico de efluentes da produção de cerveja. “Mas confiamos muito no crescimento desse mercado, não só em plantas para as quais já fornecemos sistemas anaeróbios como também para novos projetos de recuperação energética, uma tendência da chamada geração distribuída de energia em aterros ou em estações de tratamento de esgoto”, disse Cruz.

A Borges & Katayama também apresentou sistemas de scrubber a seco para remoção de altas concentrações de gases tóxicos, como cloro, dióxido de cloro, amônia e sulfeto de hidrogênio, em substituição a lavadores alcalinos úmidos. Com leitos químicos, que utilizam carvão impregnado com outros elementos, como permanganato de sódio ou alumina, os chamados biofiltros têm sido empregados ultimamente em estações de tratamento de esgoto. “É um mercado em expansão que aumenta a carteira para além de clientes tradicionais na indústria petroquímica e de papel e celulose”, explicou o diretor da Borges & Katayama, Paulo Borges Campos, que representa a tecnologia da norte-americana Purafil.
Recentemente, a empresa fechou contrato com a companhia estadual mineira, a Copasa. Foram nove dry-scrubbers para a ETE Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. A função dos leitos químicos é para remoção de sulfeto de hidrogênio, para abate de odor. Além dessa venda, a empresa comercializou equipamentos para empresas como Foz do Brasil, do grupo Odebrecht, e outras importantes concessionárias de saneamento. “Só em 2012 foram 25 scrubbers vendidos e o ritmo dos negócios em saneamento está satisfatório, compensando a baixa no setor industrial”, disse Borges.
Filtro-prensa a pistão – A francesa Degrémont mostrava pela primeira vez ao mercado nacional seu filtro-prensa a pistão Dehydris, utilizado para deságue de lodo oriundo de tratamento de efluentes e esgotos. Segundo o gerente comercial Vitor Collette, o sistema consegue desidratação de até 40% do lodo, taxa superior aos filtros convencionais, que só conseguem no máximo 30%, e também em comparação às decantadoras centrífugas, com taxas entre 20% e 25%.
A inovação da tecnologia é utilizar um pistão/cilindro com mangueiras revestidas de tecidos, de forma automática e sem a necessidade de operação manual para remover o lodo, como no filtro convencional, que cai por gravidade com o auxílio dos elementos de drenagens. “O lodo fica por fora do tecido e as mangueiras vertem o líquido”, disse o gerente. A Degrémont se baseou na tecnologia a pistão de deságue utilizada na indústria de alimentos (Bucher Unipektin), a qual conta com mais de 2 mil referências no mundo.
O sistema, segundo Collette, ainda não foi vendido no Brasil, mas a empresa está trazendo uma planta piloto para testar em clientes. Seu custo inicial é maior do que os convencionais, mas a operação, considerada mais eficiente, pelo fato de desidratar melhor e de forma mais rápida em ciclos de duas a três horas, deve ser um diferencial competitivo. De acordo com ele, sua manutenção é prática, baseada nas trocas dos revestimentos das mangueiras, que se desgastam com o tempo.

Na espera – A Parkson do Brasil conseguiu chamar a atenção com a exposição de um painel de aeração feito com membrana de poliuretano, em placas de 1,2 X 3 metros, para instalação em leito de tanque de tratamento aeróbio. O sistema HiOx trabalha com borbulhas finas de ar (menores do que 1 mm) – injetado abaixo das placas por aerador especial –, que perpassam a superfície microperfurada do painel. As placas, que trabalham de forma independente, podem ser instaladas em até 60% da área do tanque.
Segundo o gerente regional de vendas da Parkson, Fernando Esquivel, o sistema consome 30% menos energia do que o sistema de difusores de ar de borracha, em formas redondas e menores, e até 50% menos em comparação com os aeradores mecânicos. O HiOx ainda não foi instalado no Brasil, mas a filial da empresa norte-americana espera em breve fazer a primeira venda local.
A B&F Dias também espera fazer a primeira venda local de um novo sistema para aumento de capacidade de tratamento biológico em estações de esgotos sanitários e efluentes industriais. Trata-se da tecnologia alemã Cleartec, lançada no começo do ano no Brasil pela empresa de Vinhedo-SP e que utiliza mídias têxteis de polipropileno afixadas em skid. Durante a feira, apesar de receber muitas consultas sobre a tecnologia, ainda nenhum contrato foi fechado, segundo revelou o gerente Bruno Dinamarco.
As mídias têxteis são eficientes espaços para fixação e colonização de microrganismos, e sua instalação duplica a capacidade da estação sem a necessidade de obra civil. A estrutura de aço inoxidável pode ser montada em sistemas de aeração existentes ou não. “O sistema une as duas tecnologias: a de leito fixo e móvel, com vantagens sobre ambos”, disse Dinamarco. Os fixos usam britas ou peças grandes no tanque e os móveis são os MBBRs, com carriers.
Os módulos mais comuns são de 2 X 2 X 2 metros, mas podem ser customizados. Normalmente, em cada estrutura são colocados 11 tecidos. A área disponível para a colonização é bastante superior à dos carriers móveis (pequenas peças plásticas, de cerca de 10 a 155 mm de diâmetro). Enquanto a tecnologia MBBR tem 490 m2/m3 de área de colonização, a da Cleartec chega a 4.400 m2/m3. Com vida útil de 20 anos, o sistema, segundo Dinamarco, é muito fácil de ser implementado e de ser removido para manutenção.
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