Saneamento – Programa vai tirar esgoto do Guaíba

Com o objetivo de elevar de 27% para 80% o percentual de esgoto tratado, o Programa Integrado Socioambiental (Pisa) é a maior obra de sane­amento básico da história de Porto Alegre-RS. Depois de pronto, o projeto beneficiará 800 mil pessoas e, indiretamente, toda a população da cidade, pois permitirá a recuperação da balneabilidade do lago Guaíba, melhorando a qualidade de vida, protegendo as nascentes e recupe­rando os arroios do município.

O Pisa resultará de um investi­mento total de R$ 586 milhões, dos quais R$ 383 milhões aplicados em obras de esgotamento sanitário. Os recursos foram obtidos mediante finan­ciamentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de R$ 203,4 milhões, e da Caixa Econômica Federal, de R$ 316,2 milhões, com a exigência de R$ 67,1 milhões em contrapartida da Prefeitura de Porto Alegre, pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae). As obras foram iniciadas em 2007 e têm previsão de término no final de 2012.

O programa também permitirá me­lhorias no sistema de abastecimento de água de Porto Alegre, por meio da redução do uso de insumos químicos para tratar a água bruta. Outros bene­fícios serão a implementação de 30 hectares de áreas de proteção ambiental e lazer nas regiões de abrangência do projeto, o aumento de 10% no Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese), medido pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) na ci­dade, além do incremento no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da população diretamente beneficiada, bem como a melhoria nas habitações da população às margens do arroio Cavalhada.

Na sua execução física, o Pisa apresenta quatro obras de relevo. A pri­meira foi a construção, já finalizada, do emissário terrestre, com sete quilôme­tros de tubulações de aço. O emissário conduzirá os esgotos da Estação Ponta da Cadeia (na região central da capital gaúcha) até a Estação do Cristal. Outra construção importante são as Estações de Bombeamento de Esgoto Cristal e Cavalhada 2 (C2), com chaminé de equilíbrio e mirante. Trata-se de três grandes torres que estão sendo erguidas na Avenida Diário de Notícias (zona sul da cidade). No alto das torres será instalado um mirante, com potencial para se tornar um novo ponto turístico. De lá, será possível apreciar o pôr do sol do Guaíba, um dos cartões-postais da cidade.

A estação será responsável por receber os esgotos e bombeá-los para o emissário subaquático que os conduzirá para a Estação de Tratamento, na zona sul. A capacidade de bombeamento corresponderá a 3.100 l/s. Essa edifi­cação está em fase final. A construção do emissário subaquático é uma obra singular. Serão implantados no fundo do lago Guaíba mais de onze quilôme­tros de tubulações feitas de polietileno de alta densidade (PEAD), com 1,60 metro de diâmetro, que conduzirão os esgotos desde o Cristal até a zona sul da cidade, onde ficará a Estação de Tratamento.

A construção do subaquático apre­senta alguns diferenciais. Não havia empresas nacionais capazes de produ­zir tubulações neste diâmetro e compri­mento – cada pedaço tem 515 metros –, obrigando a contratada (Brastubo) a importar a tecnologia para a produção e, com isso, o Brasil passou a contar com um fornecedor para essa especia­lidade. As tubulações foram produzidas na Baixada Santista, no Estado de São Paulo, e foram rebocadas pelo mar desde São Vicente até Rio Grande-RS. Entraram em Porto Alegre pela hidro­via Lagoa dos Patos-Guaíba. Numa operação inédita, para submergir as tu­bulações do emissário, foi necessária a intervenção de mergulhadores e dragas dentro do Guaíba. O emissário está em fase final de execução.

Química e Derivados, Emissário submarino, Saneamento
Emissário submarino foi feito com tubos de PEAD de 1,6 m de diâmetro

A última obra de grande destaque é a construção da Estação de Tratamento de Esgoto da Serraria, ocupando mais cinco hectares. No local serão tratados os esgotos coletados nas bacias dos arroios Tamandaré (parcial), Dilúvio, Cavalhada e do Salso. O sistema de tratamento irá até o nível terciário, ga­rantindo que, após o tratamento, a de­volução da água se dará em condições de balneabilidade e muito superiores para as condições de consumo humano. A ETE terá uma capacidade de trata­mento de 4,1 mil litros por segundo. Há ainda uma pequena estação no Bairro Sarandi, zona norte da Capital, que tra­tará 3% do material coletado pelo novo complexo de ETES e ETAs.

Química e Derivados, Canteiro de obras da zona sul de Porto Alegre - RS, Saneamento
Canteiro de obras da zona sul de Porto Alegre - RS

Ao todo, o Pisa compreenderá 187,7 quilômetros de tubulações, entre as re­des coletoras e emissários. Atualmente, Porto Alegre tem 1,6 mil km de redes coletoras. Com a ampliação do Pisa, deixarão de ser jogados no lago Guaíba 145 mil m³/dia de esgoto in natura. As obras também despoluirão o Arroio Cavalhada e o Arroio Dilúvio. A meta do Dmae é universalizar o tratamento dos esgotos em Porto Alegre até 2030.

Tratamento químico A importância da utilização da química, seja pela utilização de produtos ou de novos pro­cessos industriais, também aparecerá nos tratamentos de água e de esgotos que o Dmae realizará depois de todas as obras do Pisa estarem concluídas e fun­cionando interligadas. Para a gerente de tratamento de água do Dmae, a química industrial Sissi Maria Maciel Cabral, o conjunto de obras do Pisa trará uma série de benefícios para a cidade, como a devolução ao lago Guaíba de uma água de qualidade superior à que foi captada inicialmente para abastecer a população.

Sissi explica que os novos tra­tamentos da água vão permitir uma redução de micro-organismos, além dos teores de nitrogênio e fósforo, nos lançamentos de efluentes. Isso irá reduzir o processo de floração (algas), acabando com o mau gosto de terra na água bruta. Atualmente, o tratamento de água consome três oxidantes (dió­xido de cloro, peróxido de hidrogênio e cloro). Um quarto entrará na lista numa próxima etapa. Mais adiante, com o passar de alguns anos, o sistema usará como oxidante apenas o cloro e, como coagulante metálico, o sulfato de alumínio, que é mais barato.

Aproveitando a melhor qualidade da captação, o tratamento da água nos próximos anos dispensará o uso de ou­tros produtos, entre os quais o carvão, dióxido de cloro, cloreto de polialumí­nio (PAC) e peróxido de hidrogênio. “Todo esse processo vai permitir que a água continue melhorando, mas não se pode fixar um prazo para que isso ocorra. Vai depender da resposta da natureza”, destaca. A gerente do Dmae ressalta que a turbidez cairá para um valor abaixo de 0,5, com a futura aplicação de membranas. Atualmente, a turbidez do Guaíba chega a 80. Isso tudo permitirá usar menores dosagens de insumos químicos no tratamento da água.

Química e Derivados, Sissi Maria Maciel Cabral, gerente de tratamento de água do Dmae, Saneamento
Sissi Maria Maciel Cabral: com mananciais limpos, será possível reduzir o uso de químicos

Com relação ao esgoto, a operação do Pisa fará com que seja implantado o sistema terciário de tratamento. Hoje, o sistema funciona como uma etapa pre­liminar, que remove o lixo, areia e gor­dura; seguido pelo primário, que reduz a matéria orgânica; e pelo secundário, que abate em torno de 90% da matéria orgânica, atingindo 99,9% dos micro-organismos patogênicos. No sistema terciário, será promovida a redução dos teores de fósforo e de nitrogênio carregados pelos esgotos, impedindo a descarga desses nutrientes nos corpos de água receptores e, com isso, contro­lando a proliferação de algas. O sistema terciário de tratamento de esgoto será feito na ETE Serraria.

Sobre a parte física das obras do Pisa, Sissi destaca na construção do Emissário Subaquático a utilização de tubulações de polietileno de alta den­sidade (PEAD). Segundo ela, é um material polimérico que traz várias van­tagens, pois não sofre oxidação nem do esgoto bruto e nem da água, sendo um material muito resistente, com tecnolo­gia cada vez melhor.

Um Comentário

  1. Muito bom o projeto muito idêntico ao que tem aqui na cidade de Salvador -BA que realizado pela empresa Foz do Brasil que pertence ao grupo da Odebretch que que a concessão por parte da embasa os números também são bem parecidos lá a ETE tem capacidade de 6 mt3/s e opera atualmente com 50% da capacidade portanto tendo até 2030 tratamento garantido para a pululação de Salvador, porem o interessante seria que fosse realizado o tratamento completo desse efluente de origem residual domiciliar antes de ser lançado ao oceano e não só apenas a retenção dos sólidos encontrados e sim por completo os metais pesados, enxofre, cobre e etc…

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