Rio Oil & Gas 2010 – Potencial de negócios na área do pré-sal gera novos recordes de visitantes e expositores
A China é a segunda maior economia do mundo, mas o Brasil do pré-sal continua sendo o grande foco dos investidores internacionais no setor de petróleo e gás. Tanto que a maioria dos players dessa cadeia produtiva se reúne no Rio de Janeiro, entre 13 e 16 de setembro, para o maior encontro petrolífero do Hemisfério Sul: a Rio Oil & Gas 2010 Expo and Conference, promovida a cada dois anos pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), no Riocentro.
A despeito do tema abrangente – “Do petróleo ao biocombustível: integrando conhecimento e ampliando os limites” –, a maioria das mais de 1.500 empresas participantes tem como foco principal a prospecção de oportunidades de negócios e parcerias. Todas querem aferir quais os desafios e avanços já consolidados na exploração dos campos na chamada camada do pré-sal, onde foram descobertos reservatórios gigantes que estão sendo estimados entre 8 e 14 bilhões de barris de petróleo, para identificar as soluções que podem oferecer ao mercado brasileiro.

Na sua 15ª edição, a ROG 2010 pode superar todos os números anteriores, desde 1982, quando começou a ser realizada em um país ainda dependente (e muito) de petróleo e que naquela época dava seus primeiros passos em águas profundas. Hoje autossuficiente em petróleo e com um mercado de gás em expansão, o Brasil mostra, nesse duplo evento, que o mercado local é uma verdadeira ‘bacia de oportunidades’ para todos os agentes dessa cadeia produtiva.
“A Rio Oil & Gas já se consolidou no calendário da indústria mundial como um evento que atrai as principais empresas, o melhor da tecnologia e as discussões de maior interesse do setor”, reitera continuamente João Carlos de Luca, presidente do IBP e do comitê organizador do evento.
Suas palavras são endossadas por Eloi Fernández y Fernández, diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), para quem o evento se destaca, no Brasil e no mundo, como um dos mais importantes do setor. “As relevantes descobertas em camadas do pré-sal da costa brasileira contribuem para ampliar a relevância da ROG, pois transformaram o Brasil em um dos principais demandantes de serviços e equipamentos, com grandes oportunidades para os fornecedores locais, além de atrair novos investimentos.”
A expectativa é de que o número superior de empresas – mais de 25% em relação a 2008, quando o Riocentro abrigou 1.200 expositores de 23 países – reflita também a internacionalização desse evento, visitado por 39 mil pessoas naquela ocasião. Na edição atual, o número de pavilhões internacionais cresceu para doze, de países-chave no setor: Reino Unido, Noruega, França, Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Canadá, Itália, Dinamarca, China, Bélgica e a vizinha Argentina.
Conhecimento e inovação – Essa internacionalização também se aplica à conferência paralela à exposição, que no ano passado computou cinco mil delegados inscritos e 705 trabalhos apresentados. As inscrições atuais demonstram o fato: o comitê técnico recebeu 1.098 sinopses de trabalhos de pesquisadores oriundos de 29 países.
Dividida em seis blocos temáticos – Exploração e Produção, Abastecimento, Gás e Energia, Responsabilidade Socioambiental, Perspectivas Jurídicas e Econômicas e Biocombustíveis –, a conferência tem ainda 50% a mais de painéis que em 2008 e um número maior de sessões pôsteres e técnicas – que além de contribuir para disseminar o conhecimento e expor teses inovadoras, dá uma visibilidade respeitável aos pesquisadores.
O presidente do Comitê Técnico da Rio Oil & Gas, Carlos Eugenio Melro da Resurreição, tem por meta incrementar o congresso técnico, para que tenha a mesma visibilidade e importância que a feira brasileira já tem, confirmando-a como o segundo maior evento tecnológico do setor de petróleo do planeta, perdendo apenas para a Offshore Technology Conference (OTC), realizada anualmente nos Estados Unidos.
Gerente-geral de Reservas e Reservatórios da Unidade de Exploração e Produção da Petrobras, Resurreição explica que o comitê quer trazer mais referências internacionais para a conferência, mesmo com o foco dos trabalhos sendo direcionado para os desafios da indústria brasileira no setor de óleo e gás. “É importante ter uma visão global dessa indústria. Além disso, estaremos fortalecendo o Brasil no cenário internacional”, acrescenta, lembrando que o país vive um novo momento.
Há dois anos, na última ROG, o pré-sal já era tema dominante, mas ninguém poderia imaginar que a indústria nacional já estaria produzindo petróleo nessa nova fronteira exploratória. “O Brasil transformou o que antes era apenas uma expectativa, o pré-sal, em uma realidade, com produção efetiva, novas descobertas e confirmação de reservas”, diz Resurreição. “Hoje o Brasil é uma grande alavanca da indústria mundial. O aprendizado das companhias passa por aqui”, frisa.
Coordenadora do bloco temático de exploração e produção (E&P) da conferência, a engenheira Anelise Lara destaca o incremento da pesquisa e desenvolvimento (P&D) no país, com o suporte de grupos internacionais e não mais apenas da Petrobras. “As excelentes perspectivas do setor fizeram com que as grandes companhias globais começassem a investir na criação de centros de pesquisa no país”, informa Anelise, gerente de engenharia de reservatórios da área de E&P da Petrobras.
Multinacionais como Schlumberger e Baker Hughes, para não ficar apenas nas oil companies, estão montando seus centros de pesquisa no Parque Tecnológico do Fundão, no Rio de Janeiro. “Outras empresas virão”, assegura a engenheira, acrescentando que a oferta de capital humano é um dos grandes desafios do setor – daí a importância em ampliar as sessões dessa conferência –, argumentando que a atração de novos talentos para a indústria depende também do preço do barril de petróleo.

Múltiplos atrativos – O potencial das reservas do pré-sal na Bacia de Santos, cujos volumes podem ser bem superiores aos mensurados até agora, e as novas descobertas nessa mesma camada, mas na Bacia de Campos – nos campos de Marlim, o maior exportador nacional, e de Caratinga, nos quais a Petrobras pode utilizar a infraestrutura existente para acelerar a produção –, continuam a ser o foco da cadeia de fornecedores de bens e serviços da indústria offshore do Brasil e do exterior.
Há muitas oportunidades também na área onshore, abertas com as recentes descobertas de petróleo e gás natural anunciadas neste ano pela Petrobras na Bacia do Solimões (na Amazônia), região prioritária para a jovem empresa brasileira HRT Oil & Gas (em fase de capitalização). Com a geofísica em seu “DNA”, a empresa se prepara para acelerar sua campanha exploratória com base nas reinterpretações de dados sísmicos coletados nas últimas duas décadas, apostando em grandes reservas.
Também desperta o apetite dos fornecedores a megadescoberta na Bacia do Parnaíba, a cerca de 260 quilômetros de São Luís-MA, cujas reservas potenciais foram estimadas pelo empresário Eike Batista entre 10 e 15 trilhões de pés cúbicos de gás natural – maior do que as reservas do Brunei, China e Reino Unido, quase igual à do Iêmen e em torno de 50% da vizinha Bolívia. O grupo que controla a petroleira, a OGX Maranhão, prevê investimentos totais de US$ 600 milhões a US$ 700 milhões – mais de dez vezes o que foi gasto até agora – na campanha exploratória nessa região.
Sem esquecer que em terra firme existem ainda grandes empreendimentos a demandar bens e serviços durante os próximos anos na área de downstream, por conta das novas refinarias que a Petrobras prevê colocar em operação nos próximos oito anos para duplicar a capacidade de refino instalada no país, além das obras de modernização de plantas de refino, que incluem um sem-número de novas unidades de processamento de petróleo para gerar derivados de maior valor agregado, incluindo fertilizantes.
Além de petroleiras como as brasileiras Petrobras, OGX, Odebrecht e Queiroz Galvão Oil & Gas, a anglo-holandesa Shell, a norte-americana ExxonMobil, a britânica BG, a norueguesa Statoil, a potência árabe Saudi Aramco, a espanhola Repsol, a portuguesa Galp, a angolana Sonangol, entre outras, participam da Rio Oil & Gas 2010 as maiores corporações do mundo no setor de petróleo e gás, indústria naval, energia, biocombustíveis, entre outros segmentos que integram esse megamercado em expansão no país.
Também participam órgãos representativos do setor e dos diversos segmentos ligados à atividade de petróleo, gás e biocombustíveis, incluindo instituições financeiras e de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), universidades e suas incubadoras, entidades de pesquisa etc.
Para abrigar tantos interesses, os organizadores da ROG distribuíram as empresas e o congresso pelos cinco pavilhões do Riocentro, que tem mais de 100 mil m² de área construída, em um complexo de 571 mil m², capaz de abrigar mais de sete mil veículos.
Oportunidade para PME – Mais além da visibilidade, a ROG é um foro de negócios para empresas de todos os portes e atividades que integram a cadeia produtiva de petróleo. Enquanto os gigantes do setor exibem seus empreendimentos, tecnologias, inovações, produtos e serviços diversos, as pequenas e médias empresas veem nela uma oportunidade para ter acesso aos grandes contratantes.
As rodadas de negócios nacionais e internacionais, que já se tornaram sinônimo de bons negócios e bases de grandes contratos nas edições anteriores, reunirão mais uma vez os grandes compradores do mercado de petróleo, gás e biocombustíveis e as pequenas e médias empresas fornecedoras de bens e serviços para o setor. Organizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela Onip, a rodada tem despertado interesse crescente desse segmento da indústria local, acompanhando o aumento do conteúdo nacional nas compras do setor.
De acordo com a Petrobras, além de um crescimento de 400% nas contratações no país, a sua política de participação máxima do mercado nacional na aquisição de bens e serviços elevou o conteúdo nacional mínimo de 57% para 77,34% de 2003 a 2010.
A empresa também adotou a política de demandar itens que não possuem fabricação no Brasil (como turbo-geradores, turbo-compressores, sistemas de injeção e guindastes marítimos), por meio de contratos de longo prazo que viabilizam a instalação de fábricas no Brasil, com transferência de tecnologia e instalação de engenharia local. O que reforça ainda mais as oportunidades de parcerias entre empresas locais e estrangeiras.
“A nossa expectativa é de que o número de participantes da rodada seja superior ao de todas as anteriores, já que o movimento nesse sentido é perceptível, pelo recorde de 30 empresas âncoras que conquistamos este ano”, observa Eloi Fernández y Fernández, diretor-geral da ONIP. Um número 30% superior ao da ROG 2008, que teve 23 âncoras.
Na edição passada, a Rodada Internacional, realizada pela primeira vez, promoveu a negociação de US$ 287 milhões em exportações de bens e serviços de 43 fornecedores brasileiros para companhias de cinco países: México (Pemex), Equador (Petroecuador), Argentina (Pan American, Tecna e Repsol), Colômbia (Ecopetrol) e Peru (Petrolera Monterrico), além das subsidiárias da estatal brasileira, Petrobras Colômbia e Petrobras Argentina. A rodada, que reforçou a posição do Brasil no mercado latino-americano, pode gerar resultados ainda melhores este ano.
Também é grande a possibilidade de um recorde na rodada nacional desse ano, superando o marco de 2008, no qual 23 âncoras e 197 fornecedores participaram de aproximadamente 800 encontros, durante os dois dias de rodadas, negociando bens e serviços em torno de R$ 176 milhões (76% superior ao da ROG 2006, que foi de R$ 100 milhões).
A expansão do setor de petróleo e gás natural, que tem como um de seus principais gargalos uma demanda crescente de mão de obra qualificada, também atrai para a ROG milhares de estudantes, que poderão participar de um dia da feira. Mais de 1.750 universitários em fase de conclusão de cursos nas áreas ligadas à atividade petrolífera já se inscreveram para o programa “Descobrindo o Profissional do Futuro”, um dos eventos paralelos à feira, que inclui palestras sobre temas relevantes do setor, como o panorama atual da matriz energética brasileira, demanda de recursos humanos, segurança na indústria de petróleo e gás, e mulheres no setor. A iniciativa prevê ainda visitas aos principais estandes, com o objetivo de estimular a interação entre o mercado e os jovens em formação.
Competitividade e produtividade – Outro evento paralelo é o Seminário de Produtividade e Competitividade da Cadeia de EPC (Engenharia, Procurement/Suprimento e Construção), promovido pelo Centro de Excelência em EPC (CE-EPC). O objetivo do promotor é unir e potencializar os esforços destas empresas e entidades que têm interesses comuns, para desenvolver ações visando o aumento da produtividade da indústria brasileira da cadeia de EPC e, consequentemente, de sua participação nos projetos de investimento das operadoras de óleo e gás no Brasil e no exterior, em bases competitivas e sustentáveis, dentro dos mais altos padrões de qualidade e de diretrizes de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde).
Criado em 2008 para buscar soluções para os problemas que a indústria de EPC enfrenta no planejamento e na execução dos projetos em petróleo, gás e energia no Brasil, o centro é fruto de projetos do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), e tem seu estatuto assinado por nada menos que 60 organizações, entre operadoras (Petrobras, Shell, Statoil/Hydro e RepsolYPF), fornecedores de bens e serviços, instituições de ensino e pesquisa e entidades de classe.
O seminário vai reunir empresas contratantes e contratadas para debater temas como os gargalos existentes para aumentar a produtividade, as oportunidades de incremento do conteúdo local e formas de tornar as empresas mais competitivas em nível nacional e internacional.
Na mesma linha, um mês antes da ROG, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e a Onip divulgaram o estudo “Agenda de Competitividade da Cadeia Produtiva de Óleo e Gás Offshore no Brasil”, feito pela consultoria internacional Booz & Company. O trabalho identifica entraves e propõe soluções para que a indústria potencialize os benefícios gerados pelo grande volume de encomendas de bens e serviços a ser demandado pelo desenvolvimento das novas reservas brasileiras.
Respaldado em pesquisas anteriores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Mapear sobre empresas do setor e trabalhos disponíveis sobre o assunto, o estudo projeta investimentos para os próximos dez anos na cadeia produtiva offshore e traça cenários distintos de geração de emprego.
O levantamento detalha, por exemplo, os custos de alguns equipamentos produzidos no Brasil, compara com países concorrentes – como Estados Unidos, China e Coreia –, avalia a competitividade da indústria nacional, e indica os gargalos a serem superados. Aborda ainda a experiência de outros países que já vivenciaram momento semelhante de crescimento exponencial do volume de encomendas.
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