Rio Oil & Gas 2008: Desafio de explorar o pré-sal
Tecnologia avançada aceita desafio de explorar o pré-sal

Nada mais adequado do que o tema “Petróleo e Gás no século XXI: desafi os tecnológicos”, escolhido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) para a 14ª Rio Oil & Gas Expo and Conference, que vai se realizar entre os dias 15 e 18 de setembro, no Centro de Convenções do Riocentro, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Na era do pré-sal, a tecnologia, a experiência consolidada e a capacidade de aprendizagem rápida daquilo que ainda é pouco conhecido, para geração de novo conhecimento, são aspectos essenciais para os agentes da cadeia produtiva do petróleo.
E quem se considerar apto a dar o seu aporte para que as companhias petrolíferas vençam mais esse desafi o, com certeza vai procurar mostrar suas qualificações em serviços e produtos na maior vitrine do setor de óleo e gás natural do Atlântico Sul.
Sem falar que a conferência cria uma série de oportunidades para discussões em torno das inovações tecnológicas.
Mas nem só de tecnologia vai se alimentar a Rio Oil & Gas deste ano. Ela também será o principal fórum do setor para tratar da polêmica gerada pelas gigantescas reservas descobertas na camada do présal, a profundidades totais que superam os seis mil metros (lâmina d’água e solo), as mais longínquas fronteiras do planeta na atividade.
No cardápio de debates, painéis e apresentações, com certeza vai aflorar o impasse em relação ao que será feito com essas áreas, caso se confirme a existência de megajazidas em mais de um campo ou bloco concedido.
A criação ou não da Petrosal, a estatal do pré-sal, desapropriação, unitização e outras questões vão apimentar as discussões.
“Principalmente pelo fato de não termos notícias, no resto do mundo, de descobertas de reservas com a dimensão e os volumes de óleo e gás que estão sendo estimados na camada do pré-sal”, observou o superintendente regional do IBP na Bacia de Campos, Alfredo Renault, ressaltando ainda o alto nível técnico e a qualidade do evento.

Segundo ele, grandes também são as expectativas de novas oportunidades de negócios, principalmente para todas as empresas responsáveis pela cadeia de suprimentos da indústria de óleo e gás.
“O IBP projeta que haverá um número maior de empresas fornecedoras participando da já tradicional Rodada de Negócios da feira, que deve reunir mais de 20 âncoras”, disse Renault.
O fato é que a Rio Oil & Gas (ROG, para os íntimos) se tornou um dos maiores eventos da indústria petrolífera no mundo e o segundo maior das Américas (perde apenas para a Offshore Technology Conference – OTC, realizada anualmente em Houston, EUA). Promovida a cada dois anos, ela vem crescendo em tamanho e importância desde a sua primeira edição, em 1982.
A ROG 2008 vai ser marcada não só pelo debate em torno do pré-sal como também por recordes: de expositores, de trabalhos técnicos inscritos, de público e de espaço ocupado.
Com uma área total de 35 mil m² – 5 mil m² a mais que na edição anterior, em 2006 –, a ROG vai aproveitar o amplo espaço do Riocentro para abrigar 11 pavilhões e mais de 1.100 expositores – 300 a mais que em 2006 – de vinte nacionalidades diferentes. Representantes de empresas de outros países vão participar, mas sem estande próprio.
Até o final de agosto, mais de sete mil pessoas se credenciaram pela internet para visitar a ROG. A expectativa dos organizadores é de que o público deste ano seja superior a 35 mil pessoas nos quatro dias do evento. É uma demonstração inequívoca da sua importância e do interesse que ela desperta na indústria mundial.
O que reforça também a consolidação do Rio de Janeiro como “capital do petróleo”, já que o estado, com a Bacia de Campos, responde por cerca de 80% de todo o óleo produzido no país, além de 50% da produção de gás.
Uma posição que vai manter por algum tempo, mesmo diante da expansão das fronteiras exploratórias – sairemos da era da monobacia para as diversas bacias produtoras, em mar e terra – e do crescimento da produção na Bacia do Espírito Santo, a segunda maior produtora nacional.
Isso porque as reservas do pré-sal, sejam elas de 50 bilhões de barris de óleo equivalente (boe), 70 bilhões ou 100 bilhões, de acordo com os números que vem sendo alardeados pelos especialistas, ainda vão demorar uma década para estar em franca produção, mesmo com todos os projetos em andamento para agilizar a exploração dessa nova fronteira.
Evento temperado – Dos mil trabalhos técnicos inscritos até agora, 750 já foram aprovados. O número de inscrições é quase o dobro dos 540 papers apresentados na edição anterior.
O pré-sal é tema de vários deles, nas diversas áreas das ciências que dão respaldo às atividades petrolíferas, principalmente nas operações de exploração e produção: geologia, geofísica, química, físico-química, engenharia (de petróleo, de poço, de produção, naval etc.), entre outras.
Os técnicos e especialistas da indústria (muitos dos quais em cargos importantes nas companhias petrolíferas que atuam no Brasil) vão abordar ainda outros temas relevantes, como os biocombustíveis, refino de óleos pesados, a demanda de gás natural e as alternativas para atendê-la, novos processos petroquímicos e de refino, novas tecnologias aplicadas a todos os segmentos da cadeia petrolífera, o fator inovação, qualidade de produtos (principalmente de derivados de petróleo), boas práticas de gestão na área de petróleo e gás, além dos aspectos que contribuem para a excelência em segurança, meio ambiente e saúde (SMS), tema prioritário em qualquer plano de negócios de uma empresa interessada não só em sucesso, produtividade e rentabilidade, mas também longevidade.
Além dos aspectos jurídicos, que são um ponto crucial hoje para o setor de óleo e gás no país, também serão apresentados trabalhos sobre aspectos econômicos e até geopolíticos deste setor, com destaque, novamente, para o pré-sal.
Vão estar reunidos no evento deste ano os principais agentes da cadeia produtiva de petróleo e gás, desde o pequeno fornecedor de produtos e serviços aos grandes supridores desta indústria e as gigantescas oil companies, como a brasileira Petrobras, a norte-americana Exxon Mobil (mais conhecida no Brasil como Esso), a britânica British Gas (BG), a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, a espanhola Repsol YFP e a portuguesa Galp Energia, só para citar algumas das petroleiras presentes.
Todas estas têm interesses consolidados – em outras palavras, descobertas já confirmadas, com potencial de serem reservas gigantescas, como é o caso de Tupi, com 5 a 8 bilhões de barris de petróleo no bloco BM-S- 11, operado pela Petrobras (65%), com BG (25%) e Galp (10%), onde em agosto foi confirmada outra descoberta, no campo de Iara.
Para não falar no campo de Carioca, no bloco BM-S 9, em que a Petrobras é a operadora, com 45% de participação, ao lado da BG (30%) e da Repsol YPF (25%), sobre o qual já se informou oficiosamente conter 33 bilhões de barris. Números que nenhum dos parceiros quer confirmar.
O desafio do pré-sal – Com investimentos da ordem de US$ 1 bilhão desde 2005 e mais de 20 poços perfurados para atingir a camada do pré-sal, a Petrobras e as empresas com as quais está consorciada já confirmaram um total de oito descobertas em seis blocos, denominadas Bem-te-vi (bloco BM-S-8), Carioca e Guará (BM-S-9), Parati (BM-S-10), Tupi e Iara (BM-S-11), Caramba (BM-S-21) e Júpiter (BMS- 24).
Para seguir adiante nessa estratégia que vem dando certo na parte de exploração e avançar no desenvolvimento desses campos, a Petrobras e as associadas vão necessitar de fornecedores qualificados de bens e serviços, desde válvulas e caldeiras a equipamentos submarinos e FPSOs.
Os fornecedores pretendem apresentar na ROG um “catálogo” ao vivo de seus produtos e serviços, com destaques para as novidades que podem ter aplicações úteis para as petroleiras.
Para adquirir esses bens e serviços e montar a infraestrutura necessária para fazer esses campos produzirem, as petroleiras sabem que vão precisar de recursos.
Por isso, as matrizes das companhias estrangeiras, assim como a Petrobras, estão revendo seus planos de negócios.
No caso da petroleira brasileira, esta revisão abrange também o plano de exploração e produção do pré-sal, chamado de Plansal, em fase de elaboração.
Esse é um dos fatores que levaram ao atraso na divulgação do Plano de Negócios 2009-2013, uma vez que, nos últimos anos, a estatal tem apresentado suas revisões anuais quase sempre em meados de agosto.
Outro fator seria a necessidade de aumentar significativamente o volume de recursos que a empresa quer alocar no segmento de exploração e produção para respaldar a aceleração das atividades programadas para a implantação até 2017. Se os investimentos não começarem agora, todo o planejamento da estatal para o pré-sal pode ir por água abaixo.
Programação de peso – Todos esses aspectos deverão permear as discussões nas atividades que envolvem a Petrobras durante os quatro dias da Rio Oil & Gas.
As palestras e os painéis técnicos serão divididos em cinco blocos: E&P, Gás Natural, Abastecimento e Petroquímica, Perspectivas Jurídicas e Econômicas, e Responsabilidade Socioambiental.
Mas a diversidade de temas é tão grande que alguns blocos tiveram seu escopo ampliado, como o que trata de Perspectivas Jurídicas e Econômicas, coordenado por Felipe Dias, assessor econômico e de políticas energéticas do IBP.
“Em 2006, abordamos o projeto de Lei do Gás e regulação, mas nessa edição vamos discutir questões de geopolítica internacional do petróleo, planejamento energético, contratos, tributação e licitação de áreas exploratórias”, explicou Dias, acrescentando que seu bloco terá quatro sessões de apresentações de trabalhos técnicos sobre esses temas.
Não por acaso, a Conferência Plenária (que é sempre uma das mais concorridas) do primeiro dia de conferência será: “Experiências do pré-sal”, da qual os palestrantes são: o diretor de Exploração e Produção da Petrobras da Petrobras, Guilherme Estrella, o Chief Financial Offi cer (CFO) da Shell, Peter Voser, e o presidente da Chevron Energy Technology Co., Melody B. Meyer.
O tema retorna ao plenário em um painel do dia 16 (o segundo dia), que vai abordar os “Desafios tecnológicos e econômicos na exploração e produção em reservatórios do pré-sal”, tendo por moderador Ricardo Beltrão, gerente-geral de Pesquisa de Produção do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), um veterano nessa área.
Neste painel, entre outros convidados, participará José Formigli, titular da recémcriada (em abril) gerência executiva de E&P Pré-Sal da Petrobras, discorrendo sobre um tema candente: “Reservatórios do pólo-sal da Bacia de Santos: como viabilizar técnica e economicamente o seu desenvolvimento da produção”. As demais palestras têm temas igualmente relevantes:
“As acumulações pré-salíferas no Golfo do México”, que será feita pelo vice-presidente de Exploração e Produção em Águas Profundas da Chevron, Steve P. Thruston, e “A aplicação de novas tecnologias para mapeamento de horizontes profundos”, palestra de Mark Riding, diretor para a área de Águas Profundas da multinacional Schlumberger.
Para o bloco de Gás Natural, o gerente do setor no IBP, Jorge Delmonte, recebeu cerca de 800 trabalhos técnicos. A maioria tratava de mercado brasileiro e latino-americano, planejamento e precificação, mas há espaço também para assuntos como transporte hidroviário de gás, geração térmica e co-geração (uso duplo de energia de queima de combustível).
“Com as ofertas de gás em expansão, existe maior preocupação com o escoamento dessa produção. A distância dos campos e a distribuição desse gás são desafios tecnológicos que precisamos discutir. Essa edição do congresso servirá como mais uma oportunidade de troca de informações”, aposta Delmonte.

A ampliação da capacidade do refino, a tentativa de transformar etanol em commodity e a inserção definitiva dos biocombustíveis na matriz energética brasileira formarão a base dos painéis de Abastecimento e Petroquímica. A questão, aliás, fez o bloco crescer, completando cinco painéis ao todo.
No bloco de E&P, destaque para as apresentações de novas tecnologias de exploração em águas profundas e os potenciais de acumulação no pré-sal. Os aspectos ambientais também serão abordados nos painéis.
Já o bloco de Responsabilidade Socioambiental vai aprofundar essas discussões, mostrando exemplos de empresas que respeitam o meio ambiente, realizam ações sociais e até lucram mais por isso.
Os impactos da indústria no aquecimento global, as tendências, tecnologias e adesões de países a políticas ambientais vão estar em outro painel.
“O objetivo é mostrar como a responsabilidade social interfere na gestão de negócios e nos ganhos econômicos de uma empresa. Aqui no Brasil esse conceito ainda é pouco difundido. O empresariado brasileiro precisa conhecer as vantagens de obedecer a diretrizes socialmente responsáveis”, disse Carlos Victal, coordenador de Responsabilidade Social do IBP.

A Petrobras estará presente em várias apresentações. Direta ou indiretamente, uma vez que há ex-funcionários da estatal, até mesmo altos executivos, participando dos debates como representantes de outras empresas, muitas vezes respaldados nos longos anos de serviços na companhia.
“O desenvolvimento do mercado de etanol no Brasil e no mundo” é o tema de outro painel, no dia 16, no qual, entre outros, faz uma palestra sobre o assunto um ex-diretor da Petrobras, Rogério Manso, hoje vice-presidente da Brenco, empresa formada pelo ex-presidente da Petrobras Philippe Reichstul, com recursos milionários do exterior, com foco no etanol.
Uma clara demonstração de que o assunto interessa a todos os países é o fato de os biocombustíveis serem o tema da conferência plenária do vice-presidente-executivo da Shell, Graeme S.S. Sweeney.
A questão do gás natural, uma das prioridades do governo, estará em pauta no painel “Os desafios para o atendimento da demanda do gás natural no Brasil”, que terá como moderadores o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro, Júlio Bueno (ex-presidente da BR Distribuidora), e Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Já o painel “As perspectivas para a ampliação da oferta de gás natural para o Brasil” será moderado pelo diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Nelson Narciso, e contará com duas mulheres de ponta neste segmento: Maria das Graças Foster, diretora de Gás e Energia da Petrobras, que vai discorrer sobre aspectos da produção nacional, importação, logística e GNL (Gás Natural Liquefeito), e Ieda Gomes, a brasileira que é vice-presidente de Novos Negócios da BP, falando sobre “Evolução e perspectivas do mercado mundial de GNL com foco na Bacia Atlântica”.
A conferência plenária de encerramento será proferida pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Há quem acredite que o executivo poderá na ocasião divulgar o novo Plano de Negócios da Petrobras para o qüinqüênio 2009-2013, caso ele tenha recebido uma resposta sobre o aporte de aumento de capital solicitado ao governo ou tenha defi nido outras formas de captar recursos.
E que já tenha também um sinal verde da comissão interministerial, que vai defi nir o modelo de gestão para os ativos do pré-sal.
Rodada de negócios – Mais uma vez, o IBP se unirá à Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) e ao Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) para promover a interação entre pequenos e médios fornecedores da indústria e as grandes empresas.
Em 2006, as Rodadas de Negócios, realizadas em paralelo à Rio Oil & Gas, geraram R$ 100 milhões em negócios.
Onip e Sebrae, em parceria com o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), também serão responsáveis pelo seminário “Oportunidades de Negócios no Mercado Internacional”. Realizado nos dias 15 e 16 de setembro, o encontro reunirá representantes de companhias de petróleo de Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
Evento Responsável – A preocupação ambiental e a formação de jovens profissionais para o mercado também serão destaques na exposição, na qual funcionará uma usina de reciclagem aberta ao público e também abrigará um espaço para universitários, que ficarão em contato com expositores de dentro e fora do país.
Na Rio Oil & Gas, a preocupação com os futuros executivos terá dois projetos. O primeiro no espaço “Descobrindo o profissional do futuro”, com mais de 600 jovens inscritos de 15 universidades do país.
Dentro desse estande a empresa Chemtech, eleita por três vezes pela revista Exame a melhor do país para se trabalhar, repete a Maratona de Engenharia, que tem duração de três meses, com fase final durante o evento.
“A renovação de profissionais na área é urgente. A feira é uma oportunidade de contato direto com as empresas do mercado e também de aprimorar o conhecimento desses jovens, com palestras e plenárias disponíveis na nossa programação”, disse o consultor Alfredo Laufer (Coppe/UFRJ), coordenador do espaço “Descobrindo o profissional do futuro”.
Os maiores interessados em visitar a Rio Oil & Gas são estudantes de engenharia mecânica, elétrica e eletrônica; geologia; química e bioengenharia.
Para mostrar a importância da reciclagem, o Instituto Atlantis montará uma usina no Riocentro, onde expositores, funcionários e o público poderão acompanhar os resultados da coleta seletiva a ser aplicada durante a Rio Oil & Gas 2008.
“Em quatro dias de uma feira desse tamanho podem ser produzidas toneladas de lixo. A nossa idéia é separar os resíduos gerados na montagem, durante o evento e na desmontagem. Plásticos, madeiras e outros materiais serão encaminhados a empresas e cooperativas especializadas em reciclar esses e outros materiais”, explicou Carlos Victal, coordenador de Responsabilidade Social do IBP.
Cada expositor receberá uma cartilha com instruções para separar corretamente seu próprio lixo dentro de seus estandes, além de informações úteis sobre a reciclagem. Os participantes também poderão, ao final do evento, depositar seus crachás em uma urna para reciclagem.
Confira também: As novidades da feira
Leia Mais:
- Mercado do petróleo segue estável e pré-sal avança
- Petróleo: Inovações adotam conceitos da revolução digital
- O desafio da indústria de óleo e gás 4.0; Petróleo & Energia
- Renováveis: Os baixos preços do petróleo e gás natural afetam a competitividade dos renováveis
- Aspectos de Segurança na Cimentação de Poços de Petróleo