Resinas – Vendas começam ano em alta
Perspectivas 2021 - Vendas começam ano em alta, mas ainda é cedo para apontar tendências dos meses adiante
Questões capazes de impactar toda a economia, ou restritas ao âmbito do setor, algumas auspiciosas, outras, geradoras de incertezas, combinam-se para manter espinhosa a tarefa de delinear as perspectivas da indústria brasileira de resinas.
Aparecem, entre as primeiras, o início da vacinação contra a Covid-19, o potencial prenúncio de um período de estabilidade e maior confiança no ambiente socioeconômico, e um possível retorno do auxílio emergencial, que ajudou a evitar um colapso na economia do país em 2020. Dentro do setor plástico, persistem questões ligadas à persistência da escassez de alguns polímeros e a continuidade de um processo de acentuada elevação de seus preços.

Faz parte desse segundo grupo a informação do desempenho do ano passado, quando, já com a economia sob o estresse da pandemia, a demanda nacional por resinas cresceu pelo menos 2,6%; e, provavelmente até mais que isso. Mais um motivo, talvez, para a existência de um otimismo, ainda que moderado e sujeito a ponderações, nas expectativas dos participantes desse mercado.
Caso de Edison Terra, coordenador da Coplast (Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas) da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), que prevê: este ano, a demanda nacional por resinas pode ser entre 3% e 4% superior à de 2020.
“No primeiro trimestre, a demanda seguirá forte; depois, será preciso acompanhar melhor” pondera Terra, preferindo avaliar melhor as reações da economia ao fim do auxílio emergencial antes de realizar projeções mais longas.
Embalagens para alimentos e produtos de limpeza, ele especifica, além de mercado agro e aplicações relacionadas à saúde, manterão a demanda por resinas; a prazos maiores, podem surgir também oportunidades na área do saneamento. “Creio ainda na expansão da demanda por resinas recicladas; e, em função de maior exigência por transparência e leveza, de mais PET em embalagens rígidas”, destaca o dirigente da Coplast.
Cerca de 4% de expansão na demanda nacional por resinas é também a perspectiva de Marta Drummond, analista de mercado de resinas termoplásticas da consultoria MaxiQuim. Mercados que se mantiveram ativos em 2020, a exemplo de alimentos, bebidas e descartáveis, ela ressalta, manterão essa dinâmica; e setores que tiveram desempenho ruim, como automotivo, eletrônicos e construção, apresentarão boa recuperação. “Pelas restrições aos descartáveis, o PS deve ser a resina com menor crescimento este ano – cerca de 2% –, enquanto o PVC, acompanhando a construção civil, deve crescer de 4,5% a 5%. A demanda das demais resinas deve subir entre 3% e 5%”, detalha Marta.
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Mais confiança
Otimismo maior prevalece nas palavras de Laércio Gonçalves, presidente da Adirplast (Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins), para quem os negócios do setor podem este ano aumentar em índice até três vezes superior àquele projetado para o PIB (relativamente a 2019). Com o PIB expandindo em 3,5%, como preveem alguns analistas, as vendas da distribuição cresceriam mais de 10%.
“As embalagens flexíveis devem se manter bem, assim como o setor de artigos médicos e farmacêuticos; e deve crescer a demanda na indústria de bens duráveis. Acredito também em mais negócios com resinas recicladas e com biopolímeros”, diz Gonçalves.
Em 2020, o volume total distribuído pelos associados da Adirplast chegou a 438 mil toneladas, somando resinas e filmes biorientados, porém isso foi 8,5% inferior ao de 2019. “Mas estou otimista com este ano, até porque, entre outras coisas, as vacinas estão chegando”, pondera Gonçalves.
O consumo de PET para garrafas pode ser este ano, no Brasil, de 3% a 4% superior ao de 2020, projeta Auri Marçon, presidente-executivo da Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET). Crescimento ainda mais interessante porque, ressalta Marçon, acontecerá “sobre uma base que vinha crescendo em 2019 e 2020”.
No ano passado, o crescimento no consumo nacional de PET virgem para embalagens superou a marca das 630 mil toneladas, um aumento bem expressivo, superior a 7%, como estima Marçon.
O uso da resina avançou em produtos de limpeza e sanitização, óleos comestíveis, embalagens para delivery, nas quais cresceu mais de 20% a demanda por PET para embalagens termoformadas. E ainda ocorreram mudanças em mercados fundamentais para essa resina, como refrigerantes e água, nos quais ganharam espaço as embalagens de maior porte.

Demanda Interna (DI) = Vendas internas (CC+VIPE) + Importação
Fonte: Equipe de Economia e Estatística – ECON/Abiquim; Importação: Sistema Alice/MDIC
Privilegiando embalagens maiores e as bandejinhas para delivery, essa mudança no perfil de consumo causou uma “distorção momentânea”, no dizer de Marçon, pois o crescimento na quantidade de pré-formas (cerca de 3%) foi inferior ao das resinas. Por sua vez, a reciclagem de PET foi prejudicada pela necessidade de isolamento social e teve uma queda ainda não quantificada, explica o dirigente.

As diferentes resinas
Há para este ano perspectiva de crescimento também na demanda pelas resinas fornecidas pela Braskem:
crescimento, porém, “não tão acentuado quanto em 2020, quando as ações de apoio do governo para a população aqueceram o consumo das famílias. Mas um crescimento muito em linha com as projeções do PIB”, observa Fábio Santos, diretor de estratégia, comunicação e serviços da empresa.
A continuidade da pandemia, observa Santos, deve manter aquecidos os mercados de embalagens de alimentos, home e personal care, não-tecidos e fármacos, bem como o agronegócio e a construção civil.
“Esperamos para as poliolefinas crescimento na demanda compatível com o aumento do PIB”, diz o profissional da Braskem, destacando que, relativamente a 2019, no ano passado se expandiu significativamente a demanda por essas resinas, especialmente no segundo semestre, tendo sido registrado, no total do ano, crescimento de 8% em polipropileno (PP) e 9% em polietileno (PE).
Embora no total do ano ela tenha sido inferior à de 2019, também a procura por poliestireno cresceu forte no segundo semestre de 2020, quando atingiu o total de 206 mil toneladas, 6,5% superior ao do mesmo período de 2019, relata Marcelo Natal, diretor comercial da Unigel. “O delivery impulsionou o XPS, e cresceu bastante o apelo dos produtos descartáveis. As pessoas investiram mais em seus lares, por exemplo, em geladeiras, que consomem bastante PS”, explica. “Na construção civil, além de vender mais monômero de estireno, utilizado na produção de piscinas reforçadas com fibras, também vendemos mais monômero de acrílico para emulsões de tintas”, acrescenta Natal.

Até pelo fim do auxílio emergencial – decisivo para a alavancagem dos negócios nesses mercados finais de PS –, ele considera necessário aguardar um pouco mais antes de definir com exatidão as perspectivas a prazos maiores. Neste início de ano, ele observa uma demanda ainda bem aquecida. “Talvez a partir de março o fim do auxílio mostre impactos mais significativos, mas acho que mesmo o volume de março pode ser superior ao desse mês na média histórica”, projeta Natal.
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No mercado do PVC, “os negócios estão voltando aos patamares pré pandemia”, afirma Alexandre de Castro, diretor de PVC da Unipar, que também considera difícil precisar, desde já, o desempenho no decorrer de todo o ano, até porque, pondera, o PVC entra em uma fase posterior dos projetos de construção civil – maior mercado dessa resina – e é preciso observar melhor qual será o ritmo de atividades desse setor.
Além da construção, lembra Castro, também empregam PVC a produção de filmes, que se expandiu no ano passado, e a indústria calçadista, cuja demanda esfriou. “A prazos maiores, o Marco do Saneamento deve ampliar a demanda por PVC nesse setor”, projeta o profissional da Unigel.
Para ele, não há sinais de desabastecimento de PVC no mercado nacional. “Nenhum de nossos clientes ficou desatendido no ano passado”, afirma. “No terceiro trimestre do ano passado, as nossas taxas de ocupação de capacidades atingiram 86% em nossa planta de Santo André-SP, e 74% em Bahía Blanca, na Argentina. Ou seja: podemos atender uma demanda ainda maior”, complementa.
Santos, da Braskem, ressalta que o mercado brasileiro normalmente importa cerca de 30% do PVC que consome, e é disputado por mais de uma dezena de empresas, sendo muito aberto à competição internacional. “Dessa forma, a redução de cotas de importação sem uma discussão mais aprofundada com o setor produtivo parece uma medida que pode introduzir ou amplificar desequilíbrios e artificialismos danosos ao mercado, principalmente neste momento de recuperação pós-pandemia”, critica Santos, referindo-se a uma portaria editada no fim do ano passado pelo governo federal que definiu cotas para a importação dessa resina com imposto de importação reduzido.

Preços e abastecimento
Nos primeiros noves meses de 2020 o consumo de resinas no país cresceu 2,6% sobre o mesmo período de 2019, informa a Coplast. O desempenho do último trimestre, afirma Terra, permite projetar um índice ainda maior para o total do ano. “Em um ano de PIB negativo, foi um bom crescimento”, avalia o dirigente da Coplast.
Segundo ele, considerando a atual relação entre oferta e procura, os globalizados preços das resinas deveriam estar relativamente estabilizados, mas, ao menos no curto prazo, eles podem subir mais, até porque, aquecendo-se a economia global, devem subir também os preços do petróleo. “Os contratos para o propeno recentemente estavam sendo feitos com valores 30% superiores aos de um mês antes”, exemplifica.
Marta, da MaxiQuim, estima em cerca de 20% o aumento dos preços médios registrados no ano passado no mercado brasileiro de resinas (considerando os valores em reais). Talvez somente a partir de março esses preços se estabilizem, pois, “no momento, todos os drivers apontam para cima: preços de petróleo e nafta, preços das resinas no mercado internacional, custos de logística elevados, câmbio e oferta restrita no mercado interno”, observa. Na avaliação de Marta, “somente a partir do segundo semestre deve se normalizar a oferta global de resinas”.

No mercado do PS, diz Natal, não houve problema de oferta, até porque o segmento opera com expressivo índice de ociosidade. “Também houve redução de importações, que hoje estão próximas de 15%, mas já chegaram a representar 30% do mercado”, ressalta o executivo da Unigel, empresa que programou novo aumento dos preços de seus produtos para fevereiro. “Nossos preços ainda estão abaixo da paridade com o preço das resinas importadas, enquanto os custos de nossas matérias-primas, como eteno e benzeno, seguem aumentando”, justifica Natal.
Santos, da Braskem, credita os problemas de abastecimento registrados no mercado de resinas muito mais à acentuação da demanda que a algum problema na oferta global. Oferta, ele especifica, que no caso do PE não registrará este ano crescimento significativo, mantendo-se a paulatina expansão registrada nos últimos anos, agora mais voltada para as famílias de PEAD. “Em PP, há a expectativa de um incremento considerável na capacidade global em 2021 e nos anos seguintes”, complementa.
[adrotate banner=”280″]Ao menos até o mês de abril, ou mesmo durante todo o primeiro semestre, ainda haverá problemas na oferta de resinas, prevê Gonçalves, da Adirplast. “As resinas de engenharia são as mais problemáticas, mas surgiram problemas mesmo com as poliolefinas”, detalha.
A oferta restrita não necessariamente elevará a importação, mas também não há sinais de redução da participação das resinas importadas no mercado nacional, observa Gonçalves. “No final do ano passado, cresceu bastante a importação, mas mesmo com os preços elevados o que veio foi logo consumido, pois havia uma demanda não atendida e um receio de falta de produto”, relata. “Esperava-se uma queda nos preços em janeiro e ela não aconteceu, pelo contrário. Assim, se não dá para projetar crescimento da importação, acho que ela ao menos manterá o patamar de 30%, a média dos últimos cinco anos, de participação no mercado nacional”, finaliza o presidente da Adirplast.