São modestos os números com os quais trabalha quem busca projetar o desempenho do mercado nacional de resinas no decorrer deste ano.
Números derivados de um cenário ainda pouco definido e, assim, sujeitos a variações positivas ou negativas, embora não muito acentuadas, conforme evoluam variáveis como inflação e taxa de juros, políticas e medidas implementadas pelo novo governo, crescimento do PIB nacional e global, entre outras.
A demanda por polietilenos e polipropileno, por exemplo, no primeiro semestre devem se manter estáveis em relação ao mesmo período de 2022, apresentando depois algum crescimento, como projeta Thaís Matsuda, analista de mercados químicos para a América Latina da consultoria global Icis; no total do ano, ela prevê, a demanda por ambas as resinas crescerá aproximadamente 1% sobre 2022.
“Esse crescimento decorrerá principalmente das resinas destinadas a produtos essenciais”, enfatiza Thaís.
Desafios como inflação e taxas de juros elevadas, ela pondera, devem contribuir para a demanda mais reduzida.
Thaís: início de governo gera incerteza durante alguns meses
“Além disso, estamos iniciando um novo mandato no governo federal e, ao menos durante os primeiros meses, isso gera incertezas em investidores, empresas e mesmo nos consumidores”, complementa a especialista da Icis.
As taxas de inflação e a de juros, especificamente, devem se amenizar neste ano e permitir algum impulso ao mercado de resinas, crê Solange Stumpf, sócia-executiva da consultoria MaxiQuim.
“Ao menos para este ano estão garantidas as medidas de apoio à renda e as taxas de desemprego estão caindo, isso também deve contribuir para aumentar a demanda”, avalia.
Mas Solange identifica também agentes potencialmente prejudiciais a esse mercado, como as previsões de crescimento pouco expressivo do PIB brasileiro, e até mesmo a ocorrência de uma recessão mundial, que pode não se confirmar caso sejam confirmados alguns sinais de aquecimento das economias da China e dos Estados Unidos.
Somando tudo isso, ela avalia que a demanda nacional por PP e PVC pode neste ano retornar aos patamares de 2021, recuperando as quedas registradas no ano passado.
Solange: fraco avanço do PIB poderá frustrar expectativas
“O PE, que no ano passado deve ter mantido seus volumes comercializados, pode até crescer um pouco”, complementa Solange.
Fátima Giovanna Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) avalia de maneira geral como “boas” as perspectivas da indústria nacional de resinas e da indústria química como um todo.
“A agenda do novo governo fala muito em reindustrialização, algo que não pode ser feito sem a indústria de química. E a petroquímica hoje responde por cerca de 70% dos negócios da indústria brasileira de químicos industriais”, justifica.
Entre os setores capazes de impulsionar a indústria de resinas no decorrer deste ano, Fátima cita o saneamento básico, incluído entre as “missões” da atual agenda de prioridades da Abimaq.
Fátima: saneamento básico vai impulsionar venda de resinas
“Também podem ir bem embalagens em geral e construção civil, inclusive construção pesada”, acrescenta.
O verão das resinas – Relativamente a 2022, este ano o mercado brasileiro de PET para embalagens receberá volume de resinas cerca de 4% superior, prevê Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), fundamentando essa perspectiva em elementos como um verão com temperaturas mais elevadas, propícias ao consumo de bebidas, muitas delas embaladas com a resina.
Além disso, observa Marçon, o PET pode ter certa vantagem no confronto com matérias-primas concorrentes como vidro, alumínio e cartonados, que têm custo muito dependente da energia, cujos reajustes devem este ano superar a inflação.
Marçon: verão quente faz setor de bebidas consumir mais PET
“Com a queda do preço do petróleo e maior disponibilidade da resina, os preços do PET já foram ajustados no final de 2022 e começam o ano mais competitivos”, ressalta.
Segue crescendo, diz Marçon, a demanda por PET para embalagens de produtos associados à saúde e à qualidade de vida, como sucos prontos para beber, bebidas matinais, energéticos e isotônicos; aspectos relacionados à segurança, ele complementa, levam essa expansão mesmo para as bebidas alcoólicas.
“O PET tem se apresentado como ótima solução para o consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos, abertos e fechados, como festas e eventos”, justifica.
“Fora do setor de bebidas, destacamos seu crescimento nos segmentos de higiene e limpeza”, acrescenta.
No ano passado, relata Marçon, a demanda nacional por embalagens PET cresceu 3,3% relativamente a 2021, ano no qual, de acordo com o recém-apresentado Censo da Reciclagem de PET no Brasil, o país atingiu um índice de reciclagem de 56,4% dessa resina.
“Comparado com 2019, o volume total reciclado aumentou 15,6% em 2021; no mesmo período, a resina virgem aumentou apenas 12,4%”, enfatiza.
A Dow credita parte relevante da expansão de seus negócios com PE às aplicações em embalagens flexíveis, que, de acordo com Marcus Carvalho, líder de Inovação e Cadeia de Valor para Embalagens da empresa na América Latina, devem seguir ampliando um espaço ainda mais consolidado durante a pandemia, quando foram ressaltados, em quesitos como conveniência para o consumidor e facilidade no transporte, os diferenciais favoráveis a essas aplicações.
Carvalho: embalagens flexíveis se adaptam à economia circular
“Esse hábito tende a se manter”, prevê Carvalho.
Além disso, ele ressalta, se já apresentavam vantagens também no campo da sustentabilidade pela menor emissão de carbono durante seu ciclo de vida, as embalagens flexíveis se tornaram ainda mais ajustadas aos preceitos de economia circular pela possibilidade, complexa até há pouco tempo, de uso de resinas recicladas, possibilidade que também deve favorecer os negócios da Dow, que já fornece PE com reciclados pós-consumo na linha Revoloop (no Brasil produzida em parceria com a recicladora Boomera LAR/Ambipar).
Essa linha, afirma Carvalho, permite a incorporação de resinas PCR em embalagens secundárias plásticas flexíveis e em outras aplicações, como embalagens rígidas.
“Em função das metas dos donos de marcas, haverá avanços globais na aplicação dessas resinas em embalagens de produtos de higiene pessoal, materiais de limpeza, e mesmo de alimentos e bebidas,”, ele projeta.
Projeções para poliamidas – No segmento das poliamidas, no qual atua com a linha Ultramid, a Basf tem mercado relevante no setor automobilístico: que, pelas estimativas da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), deve neste ano vender quantidade de veículos 2,2% superior à de 2022.
Barbosa: fabricação local de autopeças pede mais poliamidas
“Queremos crescer acima desse índice”, diz Fernando Barbosa, vice-presidente de Materiais de Performance da Basf.
“Nossas poliamidas também têm outros usos, como utilidades domésticas, solados de calçados, ventiladores, entre outros”, acrescenta.
Em 2022, a Basf consolidou seu projeto de produção de compostos de poliamida 6 na unidade de São Bernardo do Campo-SP, onde já produzia compostos de poliamida 6.6.
“Já lançamos nove grades de PA 6 produzidos localmente”, relata Barbosa, que projeta a expansão na indústria automobilística do uso tanto de PA 6 quanto de PA 6.6, pela necessidade de produção local de peças para reduzir riscos logísticos, e para acompanhar as maiores exigências mecânicas e térmicas dos motores turbinados e a projetos com peças dos motores mais expostas a agentes externos.
Sem contar com a busca pela sustentabilidade, favorável às poliamidas na substituição de metais, e em desenvolvimentos como a nova geração de canisters (filtros que reduzem a emissão dos vapores liberados pelos combustíveis).
Focada nesse tema da sustentabilidade, Basf lançou no ano passado o projeto Circulaí, implementado em parceria com clientes, para a oferta de resinas com conteúdo reciclado, por enquanto, proveniente apenas de resíduos industriais.
Existem, diz Barbosa, estudos para expandir esse projeto para incluir resíduos PCR, que apresentam dificuldades adicionais, como a presença, nas autopeças, de metais e outros materiais que dificultam a reciclagem.
“Mas já estamos desenvolvendo estudos com peças específicas, a exemplo dos radiadores, e trabalhando com nossos clientes a possibilidade de redesenhar as peças, visando facilitar a reciclagem”, enfatizou Barbosa.
Também a Radici ampliou sua capacidade local em 2022, inaugurando uma linha que elevou em aproximadamente 35% a capacidade de produção de compostos de PA da unidade de Araçariguama-SP.
Jane: produção de compostos de PA aumentou em 35%
“Nossa operação brasileira cresceu muito em 2021, chegamos a ficar com nossa capacidade totalmente tomada, daí esse investimento, que somou R$ 12 milhões”, justifica Jane Campos, diretora-geral da Radici na América do Sul.
Ela visualiza 2023 como um “bom ano” para essa operação, beneficiada por fatores como os programas governamentais de garantia de renda, capazes de impulsionar mercados como as appliances – eletrodomésticos portáteis de baixo valor individual, como ventiladores e secadores de cabelos– que utilizam poliamidas.
“O mercado automobilístico deve registrar um desempenho consistente, embora sem nenhum boom”, destaca Jane.
Mas cairão as vendas dos “produtos de revenda”, as resinas trazidas de operações no exterior da Radici, apenas embaladas aqui e destinadas principalmente a embalagens de alimentos.
Esses produtos, diz Jane, respondem por algo entre 7% e 8% das vendas no Brasil, mas enfrentam crescente concorrência de similares asiáticos.
No total do ano, ela estima, a Radici pode comercializar no Brasil volume de produtos cerca de 3% superior ao de 2022; especialmente, pelo desempenho dos compostos, utilizados em mercados como linha branca, appliances, eletroeletrônicos, automóveis, setor agrícola e infraestrutura.
“Cresceremos principalmente porque ganharemos mais share”, afirma Jane, que aposta ainda no incremento das vendas da linha Renycle, composta por resinas com conteúdos reciclados pós-consumo.
Estirênicas e PC – Responsável por aproximadamente um terço do consumo da resina, a indústria de linha branca deve ser este ano o principal agente de crescimento da demanda nacional por poliestireno, destaca Marcelo Natal, diretor-executivo comercial de químicos da Unigel.
Essa indústria, ele detalha, após um pico de vendas em 2021, retraiu-se durante boa parte do ano passado, mas reaqueceu suas compras nos últimos meses e deve seguir mais ativa.
Natal: vendas da linha branca crescem e animam o PS
“Crescendo a demanda da linha branca, o volume total de vendas de PS no Brasil pode ser algo entre 2% e 3% superior ao de 2021”, projeta Natal.
Outros mercados relevantes para o PS, como descartáveis e embalagens, devem adquirir volumes de resina similares aos de 2022, ano no qual a demanda total por essa resina foi aproximadamente 3% inferior à de 2021.
Há, observa o profissional da Unigel, fatores capazes de impulsionar mais a demanda por PS, cujos negócios estão bastante atrelados a produtos cujo consumo tem relação muito direta com o crescimento da renda das pessoas e taxa de juros.
“À primeira vista, o novo governo pretende alavancar o consumo; se isso realmente acontecer, a demanda também crescerá”, avalia.
A Unigel mantém com fabricantes da linha branca acordos para o fornecimento de volumes constantes de resinas de sua linha Ecogel, na qual há PS reciclado pós-consumo. “Trabalharemos para expandir esses volumes”, destaca.
Por sua vez, a Ineos, diz Fabio Bordin, diretor da empresa para a América do Sul, já tem no Brasil homologações para sua linha Terluran Eco, que incorpora ABS reciclado pós-consumo:
Bordin: crescimento de 20% no mercado de ABS de uso geral
“Na Europa, a linha Terluran Eco já está bem estabelecida”, enfatiza.
Juros altos, baixa disponibilidade de crédito, aumento da inadimplência, incertezas globais, lista Bordin, devem manter relativamente estável o consumo no Brasil; há, porém, a possibilidade de expansão das vendas das resinas da Ineos até pela recuperação de market share perdido em função de baixa disponibilidade decorrente de motivos de força maior registrados em 2021 em algumas de suas plantas.
E cada uma dessas resinas, ele ressalta, terá seu desempenho impactado de forma específica pela conjuntura econômica e mercadológica.
O SAN, especifica Bordin, após incrementos de vendas muito expressivos em 2021, deve ter novamente ampliada sua demanda, reduzida no ano passado porque os clientes tinham estoques elevados.
E as resinas Styrolux e Styroflex, respectivamente de SBS e de SBC, podem ter vendas ampliadas mesmo após os bons volumes de negócios realizados no ano passado, quando a indústria de calçados, que as utiliza em compostos, reaqueceu-se após o confinamento imposto pela pandemia.
No segmento do ABS de uso geral, prossegue o profissional da Ineos, as vendas devem crescer especialmente pela retomada de market share. “Em 2022 já crescemos cerca de 20% nesse mercado”, destaca.
Utilizados principalmente pela indústria automotiva, também o ABS Alta Temperatura e o ASA devem ser mais demandados neste ano, crê Bordin. “Em 2022, mantivemos os volumes de vendas do ABS high heat e tivemos um ano recorde para o ASA”, relata o profissional da Ineos, que tenta agora consolidar o uso no Brasil, como auxiliares de fluxo de PVC, da linha NAS XC, de resinas em pó de SMMA. “É um mercado bastante promissor, creio que ainda em 2023 a linha NAS XC começará a ser utilizada também no Brasil”, diz Bordin.
A Covestro se apresenta “otimista” para 2023, tanto com suas resinas para tintas quanto com as resinas e blendas de policarbonato; nesse último segmento, a partir de novos projetos e aplicações de suas resinas com aditivos antichamas em aplicações elétricas, em baterias para veículos híbridos e elétricos, e no PC com condutividade térmica como substituto do alumínio.
“E temos um novo portfólio inteiramente voltado à economia circular, com conteúdo de material pós-consumo ou matéria-prima de base biológica”, ressalta Jéssica Martendal, head de Plásticos de Engenharia da Covestro Latam
No mercado de resinas para tintas, Silvio Torres, head de Coatings e Adesivos da Covestro Latam, percebe mais oportunidades em aplicações de implementos agrícolas e de proteção contra corrosão, bem como com as “resinas sustentáveis”, entre as quais ele inclui a linha Decovery – proveniente do portfólio adquirido da DSM – com até 49% de base biológica para aplicações internas e externas na construção. “Ela reduz em até 34% a pegada de carbono”, diz Torres.
QUADRO 1 – PERSPECTIVAS PARA 2023 E DESEMPENHO EM 2022 DO MERCADO BRASILEIRO DE RESINAS
Preços em 2022 – Em conversações com o novo governo, a Abiquim, relata Fátima, vem abordando diversos temas de interesse da indústria de resinas (e do setor químico com um todo). Um deles, relacionado à redução, no ano passado, de alíquotas de importação de polímeros de uso bastante intenso. “Isso foi colocado como instrumento de combate à inflação, mas não gerou nenhum resultado nessa área”, ressalta.
O Brasil, aponta Fátima, é um país “rico” em insumos petroquímicos, por exemplo, no gás natural do pré-sal, rico em etano – do qual se faz o eteno –, em grande parte hoje reinjetado no local da extração, pela insuficiência de infraestrutura necessária ao seu transporte.
“Estamos fazendo esforços para que esse gás tenha preço competitivo, venha para a costa e seja aproveitado”, diz Fátima, que qualifica 2022 com “um bom ano” para a indústria brasileira de resinas, apesar da queda na demanda
Queda, estima Marta Drummond, especialista em Inteligência de Mercado da MaxiQuim, de algo entre 4% a 5% (relativamente a 2021).
Sofreram mais, ela detalha, as resinas com aplicações técnicas, como o PP, que tem no setor automobilístico um mercado relevante, ou com uso mais intenso na construção civil, como o PVC. “O PE, mais ligado a embalagens, talvez não tenha registrado queda, pode ter mantido os volumes de 2021”, ressalta Marta.
Ela não aposta, ao menos no curto prazo, na repetição dos problemas de abastecimento de resinas registrados após os impactos iniciais da pandemia.
“E imagino que os preços das resinas, que subiram bastante em 2020 e em 2021, estabilizem-se mais próximos dos patamares históricos; eles caíram no ano passado e já estão se aproximando desses patamares”, relata a especialista da MaxiQuim.
Também Thaís, da Icis, projeta estabilidade nos preços das resinas, relativamente àqueles praticados em 2022, ao menos nestes primeiros meses do ano, havendo posteriormente possibilidade de alta. Possibilidade que ela condiciona a fatores como a economia chinesa.
“A China ainda precisa lidar com questões como as restrições referentes à Covid-19 e aos problemas em seu mercado imobiliário, mas se a sua economia se aquecer de forma acentuada, pode haver reflexos tanto na demanda global quanto nos preços das resinas”, pondera Thaís, que estima que, em 2022, o consumo brasileiro tanto por PE quanto por PP expandiu-se cerca de 2% (relativamente a 2021).