Resíduos: Entrada de informais sustentam crescimento

Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento

Os principais obstáculos para a modernização do mercado de gerenciamento de resíduos industriais começam a ser lentamente ultrapassados.

É o que faz crer a análise dos últimos dados constantes do acompanhamento conjuntural do setor feito anualmente pela Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre).

Recém-fechados, os números revelam que em 2007 o volume de resíduos industriais tratados (5,9 milhões de t) continuou a crescer a uma média anual superior a 30%, com promessa de a façanha se repetir em 2008 e demonstrando uma leve, mas importante, mudança de perfil nos serviços prestados pelas 149 unidades privadas receptoras de resíduos que foram abrangidas pela pesquisa.

De acordo com o presidente da Abetre, Diógenes Del Bel, o aumento, que vem desde 2006 (quando cresceu 40%) e pode significar em 2009 um mercado duplicado, demonstra primeiramente a entrada de novos clientes no mercado formal de tratamento, que antes estavam na ilegalidade e agora deixaram de jogar seus detritos no terreno baldio ou pararam de armazená-los de forma arriscada.

Mas o cenário de crescimento revela também que muitos passivos ambientais do país começaram a ser resolvidos.

Isso porque hoje 25% do total das destinações, em soluções como a incineração, o co-processamento e demais tecnologias térmicas ou aterros, são provenientes de solos contaminados e resíduos oriundos de projetos de remediação.

A análise dos dados estatísticos, para Del Bel, confirma ainda de forma paralela um terceiro aspecto positivo do mercado industrial.

O surgimento dos novos clientes, antigos infratores, compensou o nítido menor volume de resíduos de indústrias mais tradicionais e avançadas na gestão ambiental, que ano após ano investem para reduzir a geração no processo produtivo.

Nesse caso, vale como exemplo a indústria química, que segundo o mais recente relatório do Atuação Responsável (sistema de gestão obrigatório para integrantes da Associação Brasileira da Indústria Química, a Abiquim) tem mantido estável a geração de resíduos perigosos nos últimos anos.

Esse dado por si só ajuda a demonstrar que não foram as grandes indústrias, ou pelo menos as mais envolvidas com as boas práticas ambientais (caso do setor químico), as responsáveis pelo grande aumento no volume de resíduos tratados dos últimos dois anos, reforçando a opinião do presidente da Abetre.

Química e Derivados, Diógenes Del Bel, presidente da Abetre, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Diógenes Del Bel: grandes geram menos, mas pequenos tratam mais

“Esse crescimento revela muito mais do que apenas negócios para o setor, mas sim uma evolução na gestão ambiental da indústria brasileira que anima as empresas de tratamento de resíduos”, afirmou Del Bel.

Com receita total de 1,6 bilhão de reais em 2007, sendo 81% dela originária de clientes industriais, o setor expressa seu contentamento com muitos planos de investimentos.

E isso tanto quando se pensa nos competidores tradicionais como em novos interessados em explorar o grande potencial descortinado por essa tendência modernizadora.

Aí estariam embutidos tanto projetos de associados da Abetre, grandes grupos com ofertas integradas e planos nacionais de expansão, como exemplos mais simples de investidores de olho em nichos de negócios esquecidos pelos competidores mais “peso pesados”.

Para os pequenos – Vale a pena começar pelo item mais inédito, este que revela a exploração do potencial de nichos específicos, negócios voltados principalmente para os pequenos geradores de resíduos industriais.

Seriam aí novas ofertas e medidas que estimulariam esse tipo de indústria – que tanto pode ser pequena como uma grande empresa com pouca geração de resíduos perigosos (classe 1) – a deixar de lado as soluções ilegais de destinação.

Aliás, trata-se, para muitos especialistas da área, do principal desafio do setor: fazer com que a falta de escala dos pequenos geradores e a conseqüente falta de interesse dos grandes tratadores em negociar com eles não sejam impeditivos para que as boas práticas de gerenciamento se estendam a todo o setor produtivo nacional.

No aspecto institucional, ganham importância medidas como a da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), o órgão ambiental paulista, que reduziu para as micro e pequenas empresas o valor para a emissão do Certificado de Aprovação para Destinação de Resíduos Industriais (Cadri), documento obrigatório para o início de um processo de destinação correta.

Com a medida, anunciada em maio de 2008, as beneficiadas passaram a pagar pelo Cadri apenas 7 Ufesps (R$ 104,00), em vez das 70 Ufesps (R$ 1.041,00) ainda cobradas das empresas maiores.

Com o incentivo, o órgão ambiental pretende favorecer um universo muito grande de empresas que até o momento apenas eram estimuladas a permanecer na ilegalidade ou a estocar seu lixo industrial.

Em São Paulo, há uma estimativa de que sejam geradas cerca de 500 mil toneladas por ano de resíduos perigosos. Como aproximadamente 85% das indústrias paulistas possuem até 50 empregados, dá para se ter uma idéia da importância de facilitar para os micro e pequenos o acesso às boas práticas ambientais.

Blendas de resíduos preparadas para queima em forno de cimento

Na esteira das medidas oficiais, as iniciativas privadas, de investidores atentos ao potencial de mercado, podem complementar o combate ao problema.

Nesse caso, é um bom exemplo o projeto liderado por uma pequena distribuidora de produtos químicos sediada em São Roque-SP, a Santalc, que criou recentemente uma divisão chamada Faex Serviços em Tecnologia Ambiental, cujo propósito é dar uma solução interessante para pequenos geradores de resíduos.

A idéia central foi criar um galpão de 633 metros quadrados em São Roque, o qual foi todo impermeabilizado e projetado com canaletas e caixas coletoras, para evitar danos de vazamento, e assim armazenar temporariamente tambores com resíduos de pequenos geradores.

A partir daí, sob a coordenação de um profissional especializado, quando o estoque chega a um determinado limite (80 a 100 tambores de 200 litros cada) torna-se viável economicamente a sua destinação.

Desde setembro, o local está com licença de operação emitida pela Cetesb e em fase inicial de trabalhos.

De acordo com o coordenador da Faex e mentor do projeto, Flávio Bragante, o foco é trabalhar com o co-processamento em fornos de cimento.

Para isso, a empresa se encontra em fase de requisição de um Cadri para poder enviar resíduos para uma unidade de blendagem de resíduos da Silcon Ambiental em Juquiá-SP (que normalmente destina as blendas para fornos da Votorantim em Rio Branco do Sul-PR).

A meta do coordenador é até o final do primeiro semestre de 2009 enviar duas cargas por mês de resíduos para a blendagem.

Segundo Bragante, químico industrial com especialização em gestão ambiental, a escolha pelo co-processamento foi motivada pelo aspecto tecnológico e também por seu preço, considerado razoável.

Química e Derivados, Flávio Bragante, coordenador da Faex e mentor do projeto, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Flávio Bragante: solução para os pequenos geradores

“No custo-benefício ambiental, é a melhor solução. O passivo desaparece, por ser agregado ao clínquer, e substitui o combustível não-renovável, promovendo o reaproveitamento do resíduo”, explicou.

O plano é cobrar dos geradores por tambor estocado, transportado e destinado, embutindo no preço todos esses custos.

Caso o cliente prefira, a Faex poderá também fazer a gestão total, responsabilizando-se pela emissão do Cadri, a caracterização, a retirada do resíduo e, por fi m, o armazenamento e a destinação final.

Sem opções – Mas o envolvimento da Faex com o co-processamento também explica a própria criação do negócio. Isso porque antes de se tornar sócio dos proprietários da Santalc e assim fundar a divisão de resíduos, Bragante trabalhava para uma importante operadora de coprocessamento, a Resotec, empresa do grupo cimenteiro Holcim.

Há cerca de dois anos, procurado pelos atuais sócios para criar uma solução aos cerca de dois tambores de resíduos gerados pela Santalc por mês, Bragante foi obrigado a confessar que a Resotec apenas trabalhava com cargas acima de 50 tambores. “Assim como qualquer outro gestor do mercado”, explicou.

Daí para a sugestão de criar o negócio foi um pulo que agora se concretiza com a intenção de trabalhar com um mercado considerado a descoberto pelo executivo.

“Ou os pequenos geradores estocam os resíduos em suas fábricas, que na maioria das vezes é impossível por falta de espaço e perigoso por falta de cuidados técnicos, ou eles recorrem a saídas clandestinas”, disse Bragante. Infelizmente, na sua opinião, a última alternativa é a mais escolhida.

Mesmo na hipótese de o pequeno gerador ter as condições necessárias para armazenar os resíduos até criar um lote viável para ser destinado, o fato de ele precisar esperar muito tempo na fábrica pode colocar a operação em risco.

“Eu já vi cliente com resíduos há mais de dez anos estocados, por falta de opção de uma destinação correta”, afirmou.

Apesar de tratar-se de uma exceção (a maioria não tem a mesma paciência), o zelo dessa indústria em armazenar seu lixo internamente lhe custou caro: ao resolver remover a carga da área de armazenagem para um caminhão e assim finalmente destiná-lo, os tambores começaram a vazar.

“Isso porque os gases gerados durante o longo período de armazenagem criaram uma pressão interna dentro dos tambores”, completou Bragante.

A licença a título precário da Faex permite que a empresa opere com os mais variados tipos de resíduos, desde solventes contaminados, borras de tintas, lodos de ETES e galvânicos, até embalagens, solos, óleos e EPIs contaminados.

Com capacidade para armazenar até quatro mil tambores, na percepção de Flávio Bragante, a empresa deve receber não só resíduos de pequenas empresas, mas também de grandes indústrias geradoras de pouco lixo perigoso, como a eletroeletrônica, a automobilística e a de autopeças. “Os clientes devem ser empresas que geram no máximo cinco tambores por mês”, revelou.

Para ser viável a destinação, a operação envolverá resíduos classe 1. “Mas há empresas que por determinação da matriz também querem destruir alguns classe 2.” Bom acrescentar que todos os tambores serão segregados e terão rastreabilidade por lotes.

Química e Derivados, central da Faex, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
A central Faex armazenará resíduos para posterior co-processamento

Solos nos fornos – Iniciativas como a da Faex/Santalc são um item a mais para a criação de um cenário inteiramente favorável para os grandes gestores de resíduos industriais.

Apesar de os lotes pequenos muitas vezes não serem interessantes para a operação, a formação de intermediários deve aumentar a ocupação das tecnologias de destinação, sobretudo a de co-processamento em fornos de cimento, uma das soluções de maior crescimento no Brasil.

Mercado com nove unidades de blendagem e 32 cimenteiras licenciadas, a perspectiva é a marca atual de cerca de 800 mil toneladas de resíduos co-processados anualmente chegar cada vez mais próxima da capacidade total de 2,5 milhões de t/ano desses fornos que recebem resíduos com poder calorífico para substituir combustíveis como o óleo de coque.

Química e Derivados, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Receita do setor privado de tratamento de resíduos chegou a R$ 1,6 bilhão

Mas para colaborar com esse crescimento não basta a entrada de lotes vindos de pequenos. Outras tendências recentes cooperam com a evolução dos negócios na área do co-processamento.

Uma em evidência é a que envolve a eliminação de solos contaminados. Uma das maiores do ramo, a Resotec, do grupo Holcim, que co-processa atualmente de 150 mil a 200 mil toneladas (2008) de resíduos em fornos em Barroso e Pedro Leopoldo em Minas Gerais e em Cantagalo-RJ, investe para preparar e usar nos fornos mais quantidades desse tipo de resíduo.

De acordo com o gerente-geral da Resotec, Edmundo Ramos, nas unidades de Barroso e Cantagalo foram criadas áreas para homogeneização dos solos contaminados com borras oleosas e outros materiais, onde são realizados o balanço químico com agregações de argila e calcário e moagem em moinhos de terra.

Além disso, um sistema de exaustão remove gases contaminados e os desviam para queima no forno.

Segundo Ramos, o investimento visa a acelerar a alimentação do forno com o solo, dando mais agilidade para clientes que estão querendo eliminação rápida de seus passivos.

Química e Derivados, Edmundo Ramos, gerente-geral da Resotec, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Edmundo Ramos: demanda para destruir solos contaminados explodiu

“A preparação permite ao forno operar sem sobressaltos técnicos que retardam sua operação”, disse.

Para o gerente-geral, a necessidade dos investimentos veio para atender a uma verdadeira explosão da demanda na área de passivos ambientais.

Na sua opinião, isso ocorreu porque várias grandes empresas, motivadas pelo boom econômico dos últimos anos, precisaram expandir a capacidade produtiva.

Para conseguir espaço dentro de seus sítios, resolveram então recuperar áreas contaminadas para fazer as ampliações.

“Como a necessidade era imediata, deram preferência a fazer grandes remoções de solos contaminados, em vez de investir em remediações demoradas”, explicou.

No mesmo sentido, os órgãos ambientais passaram a condicionar os novos licenciamentos para expansão a essas recuperações. “Os fiscalizadores usaram essa ferramenta como moeda de troca”, completou Ramos.

Não por menos, as estatísticas da Abetre demonstraram o crescimento da destinação de passivos ambientais em seu último levantamento conjuntural.

Se em 2006 esse item representava 16% do total dos resíduos industriais tratados, ou 691 mil toneladas, em 2007 o índice pulou para 25% do total, ou quase 1,5 milhão de toneladas, sendo que boa parte disso para soluções térmicas, além do co-processamento a dessorção térmica (realizada in-situ) e a incineração.

No caso da Resotec, vale a pena lembrar que a empresa co-processou recentemente solos contaminados com borras oleosas vindas do tristemente famoso aterro Mantovani, de Santo Antônio de Posse-SP, antigo lixão industrial onde 330 mil toneladas de resíduos de várias empresas contaminaram o solo e a água da região do aterro, cujo processo de remediação é feito pela empresa Geoklock.

A operação foi realizada nos fornos da empresa em Minas e no Rio de Janeiro e envolveu cerca de 15 mil toneladas de solos contaminados.

O novo filão em passivos ambientais serve ainda para compensar alguns entraves institucionais que o grupo Holcim precisa encarar no Brasil para expandir sua atuação no co-processamento de resíduos.

Embora esteja em rota de crescimento desde que iniciou suas operações com resíduos em 1998, quando usava apenas 20 mil t de resíduos em seus fornos, a empresa lamenta a política estadual de Minas Gerais com relação à tecnologia.

“A burocracia no estado é muito grande para autorizar uma operação de destinação. Exige uma licença ambiental para cada resíduo ser co-processado”, explicou Ramos.

Esses processos fazem o prazo para conclusão dos procedimentos levarem de seis meses a um ano, enquanto nos outros estados leva apenas um mês.

Em São Paulo, por exemplo, basta ao interessado preencher um Cadri e não obrigá-lo a iniciar um lento e caro processo de licenciamento como em Minas. “Os pedidos precisam entrar na fila junto com pedidos de licença de operação de uma nova fábrica, por exemplo”, lamentou.

Aterros em Minas – A morosidade mineira, lamentável ao se saber que o estado é o maior produtor de cimento do país e portanto com o maior potencial para o co-processamento, cria dificuldades para a tecnologia concorrer com os aterros, ainda uma solução mais barata e rápida para ser autorizada, em detrimento de sua pior avaliação ambiental por não destruir definitivamente os passivos.

Enquanto o co-processamento cobra preços que variam de R$ 200 a R$ 800 por tonelada, dispor em aterros sai de R$ 100 a R$ 150/t.

Química e Derivados, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Quantidade de resíduos tratada (t): industriais crescem mais de 30%/ ano

Não por outro motivo, construir aterros em Minas Gerais atrai o interesse dos grandes competidores.

A Essencis, sociedade entre o grupo Solvi e a Camargo Corrêa, inaugurou um aterro classe 2 em Betim-MG há cerca de três anos e até o final do ano, no mesmo local, deve ampliar a operação para receber resíduos classe 1.

E também a francesa Veolia Serviços Ambientais, desde maio de 2008, conta com licença de instalação de aterro classe 2 para resíduos industriais e domésticos em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte.

De acordo com o presidente da Veolia, James Miralves, a intenção no local é começar trabalhando com a destinação de resíduos não-perigosos e, depois de consolidada a operação, expandir para os classe 1, transformando o aterro em uma central de tratamento completa, nos moldes da que a Veolia já possui em Tremembé-SP no aterro Sasa, onde há laboratório de análise, unidades de inertização e preparação de resíduos e sistema de tratamento de chorume (evaporação movida a biogás).

Segundo Miralves, Minas Gerais tem uma grande necessidade de investimentos para tratamento de resíduos industriais.

Daí a preferência do grupo francês de por enquanto privilegiar esse estado em detrimento do mais industrializado de todos, São Paulo, ainda bem servido de aterros especiais e demais tecnologias para tratamento.

E ainda outras regiões fora de São Paulo devem receber investimentos. Embora sob sigilo e em processo de licenciamento (por sinal, demorado, visto que o do aterro mineiro levou quase sete anos), mais duas unidades de aterros serão construídas no Brasil, país em geral considerado pelo dirigente francês de potencial elevado na área de resíduos, mas ainda de demanda fraca.

Química e Derivados, James Miralves, presidente da Veolia, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
James Miralves prepara a Veolia para ser operador integrado no Brasil

“O tempo que levaremos para expandir nossas operações deve coincidir com o início da demanda de fato na área, ou seja, no mínimo daqui a uns cinco anos”, explicou.

O planejamento da Veolia engloba expandir sua oferta em tecnologias de destinação e de serviços.

Por enquanto atuando em duas frentes, em aterros e co-processamento, de início o grupo investirá mais nessas tecnologias.

Além dos novos aterros anunciados, deve ampliar a atuação em co-processamento por meio de novas unidades de blendagem de resíduos.

Atualmente conta com apenas uma em Sorocaba-SP (ex-Resicontrol), mas há pelo menos mais outra em licenciamento no Rio Grande do Sul para preparar resíduos para queima em fornos da cimenteira Cimpor em Candiota, no extremo sul do estado.

“Estamos estudando duas possibilidades para começar a operar no Sul”, revelou. Em Sorocaba, a Veolia prepara cerca de 50 mil t/ano de resíduos e, na operação gaúcha, com partida prevista para 2010, o volume inicial deverá estar na casa das 20 mil t/ano.

TWM – James Miralves deixa a impressão de que os planos da Veolia para o Brasil são ambiciosos e não devem se limitar apenas a algumas unidades de tratamento. “Estamos nos preparando para ser uma provedora completa para os clientes”, disse.

Além dessa afirmação poder significar o interesse da empresa em investir em novas tecnologias de tratamento no Brasil, possível em razão de se tratar de um grupo internacional com grande portfólio de soluções ambientais, também tem a ver com a perspectiva de a Veolia ofertar serviços de terceirização de gerenciamento de resíduos, no modelo TWM (total waste management).

“A única maneira de ser competitivo nessa modalidade de fornecimento é contar com o maior número possível de ativos e soluções para o cliente, para poder diluir o custo da operação”, explicou o dirigente.

Isso porque, no TWM, a operadora passa a gerenciar todos os resíduos da indústria, com gente própria que se encarrega de armazenar, transportar e definir a melhor destinação para cada corrente de lixo industrial ou doméstico do cliente.

Se o parque instalado do fornecedor é limitado tecnológica ou geograficamente falando, a operação tende a se encarecer e tornar-se pouco interessante no aspecto comercial.

“No nosso caso, a estrutura operacional ainda não é favorável para oferecermos o TWM”, disse.

Química e Derivados, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Unidades receptoras de resíduos – Empresas privadas

A avaliação do presidente da Veolia é fácil de ser compreendida ao se saber que as empresas atualmente envolvidas em projetos de TWM no Brasil contam com estrutura bastante diversificada, tanto em tecnologia como em amplitude geográfica. Um exemplo é a Cavo Serviços e Meio Ambiente, empresa do grupo Camargo Corrêa.

Com mais de 15 clientes em operações terceirizadas de maior ou menor amplitude, entre eles a Quattor (ex-Riopol) em Duque de Caxias-RJ, na qual gerencia 100% das correntes de resíduos, além de contar com a estrutura operacional da empreiteira, a Cavo aproveita o parque de tratamento da coligada Essencis (sociedade 50% Camargo Corrêa, 50% Solvi).

Com essa parceria societária, a empresa tem à disposição o maior parque de centrais de tratamento de resíduos do Brasil, com aterros, unidades de blendagem, incineradores e tecnologias térmicas.

Química e Derivados, Iberê Gibin Júnior, gerente de novos negócios da Cavo, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Iberê Gibin Júnior: TWM pode criar novas soluções para os resíduos

“Com certeza é uma vantagem competitiva ter as soluções em casa. Mas ao mesmo tempo é bom também ter independência para procurar alternativas quando for preciso”, explicou o gerente de novos negócios da Cavo, Iberê Gibin Júnior.

Nesse mesmo perfil de oferta completa de destinações, o mais interessante ainda é saber que o outro sócio da Camargo Corrêa na Essencis, o grupo Solvi, também conta com braço operacional para gestão total de resíduos, por meio de sua controlada Vega GRI.

Embora teoricamente concorram no mercado, Cavo e Vega usufruem da mesma facilidade por meio das operações da Essencis, onde são sócias.

Para a Cavo, os negócios com TWM devem continuar crescendo, segundo explicou Gibin Júnior. Na sua opinião, o comum é no início das operações o cliente terceirizar apenas uma parte da gestão, o que é ampliado depois de perceber as vantagens do serviço.

“Além de deixar a empresa mais envolvida com seu core business, temos condições de criar novas saídas para seus resíduos, encontrando valor para eles”, disse.

Fazem parte dessas novas soluções pesquisas em cooperação com universidades, como a que pretende incorporar lodos de ETEs em cerâmicas vermelhas ou outra que estuda reunir dois resíduos perigosos com o propósito de neutralizá-los.

“Unindo os dois, eles se transformam em resíduos classe 2, mais baratos para destinar”, explicou.

Na unidade da Quattor em Duque de Caxias, em um contrato de cinco anos com possibilidade de renovação em 2009, a Cavo conta com 20 pessoas próprias que cuidam de 23 correntes de resíduos.

Na central do pólo gasoquímico, essa equipe é responsável pela parte analítica, de desenvolvimento de soluções, de logística e pelo operacional da gestão, que envolve movimentação interna, gerência do armazém temporário, controle e rastreabilidade dos resíduos, além, é claro, das etapas burocráticas de autorização de destino com o órgão ambiental carioca, a Feema.

“Tivemos o cuidado também de criar procedimentos mais rigorosos do que o exigido por lei, como os registros internos de rastreabilidade dos resíduos, voltados para garantir a segurança no transporte dentro do site industrial”, lembrou Gibin. Bom ressaltar que os resíduos da Quattor ficam no máximo vinte dias na central de armazenamento.

Mais investimentos – Poder contar com a estrutura da Essencis, a maior empresa de soluções para resíduos industriais (e uma das grandes na área pública também, visto que seu aterro em Caieiras-SP recebe 50% do lixo da capital paulista), realmente deve continuar a dar muita força para os competidores Cavo e Vega.

Isso principalmente ao se levar em consideração os planos da empresa, demonstrativos de um clima de muita confiança com o mercado.

Segundo o gerente de tecnologia da Essencis, Roberto Castilho, a estratégia da empresa é continuar ampliando ao máximo seu campo de atuação por todo o Brasil, criando mais de suas centrais de tratamento de resíduos (CTRs), onde para atender os clientes regionais concentra tecnologias de aterros classe 1 e 2, de preparação para co-processamento e de destruição térmica.

“O ideal é atuar em um raio de até 150 km dos principais clientes e evitar o que ocorre muito hoje, o indesejado transporte de resíduos por todo o país”, explicou.

Apesar de serem projetos confidenciais, Castilho confessa que em breve serão divulgadas novas centrais em localidades onde a Essencis hoje não se faz presente com muita intensidade.

Química e Derivados, Roberto Castilho, gerente de tecnologia da Essencis, Resíduos - Destruição de passivos e entrada de informais sustentam crescimento
Roberto Castilho: novo sistema para dessorção térmica para tratar solos contaminados

A estrutura atual da empresa está consolidada nas áreas mais industrializadas do país, Sul e Sudeste. Possui centrais em Caieiras, aterro classe 2 em Itaberaba e incinerador em Taboão da Serra, todos em São Paulo; CTRs em Curitiba-PR, Joinville-SC e Betim-MG; unidade de blendagem de resíduos em Magé-RJ, além de operações dentro da produtora de cimento Votorantim, em fábricas da cidade de Rio Branco do Sul-PR e em Cantagalo-RJ, onde possui funcionários para alimentar os fornos com blendas de resíduos próprias (preparadas em Curitiba) ou de terceiros.

“Temos contrato com a Votorantim para fazer esse serviço”, explicou Castilho. Aliás, segundo ele, o forno do grupo no Paraná é o que mais usa resíduos no Brasil.

Além de ampliar sua participação para novas localidades, a Essencis também investe em suas centrais tradicionais, aproveitando demandas em ascensão.

O destaque nesse sentido, segundo Castilho, é a compra de um novo equipamento de dessorção térmica, uma unidade com forno rotativo que descontamina termicamente solos contaminados com hidrocarbonetos.

Trata-se de unidade composta por forno rotativo, no qual o solo é introduzido para serem volatilizados, pela temperatura elevada, os gases com os contaminantes.

Em seguida, a corrente gasosa passa por fi ltro de manga e, por fi m, em uma câmara de pós-combustão, é destruída.

Após o processo, o solo fica descontaminado e, no caso da operação da Essencis, ganha uso na cobertura do aterro de Caieiras.

O novo equipamento, projetado para processar 35 t/hora de solo, amplia a capacidade da unidade de dessorção térmica em operação na CTR Caieiras há alguns anos, com capacidade máxima de 15 t/h.

“Já em construção nos Estados Unidos, será um equipamento de última geração tecnológica”, disse.

Para Castilho, o investimento atenderá à grande demanda atual de eliminação de passivos ambientais, notada por ele apenas em clientes industriais como nos do ramo imobiliário.

Embora o equipamento seja móvel, até hoje ainda não houve a necessidade de deslocá-lo até o cliente. “Precisaria ser uma área contaminada muito grande para justificar o custo e a burocracia para o deslocamento”, completou Castilho.

Outra aposta para 2009 é investir na incineração com recuperação de energia, projeto pelo qual é possível reaproveitar o calor gerado para produzir vapor e alimentar turbinas.

Isso tanto poderá vir a ser feito no incinerador da Essencis em Taboão da Serra-SP como na adoção de microincineradores exclusivos para clientes.

“Estamos negociando soluções com essa tecnologia muito inteligente ambientalmente falando. Ao mesmo tempo em que destrói um passivo, gera energia”, revelou o gerente.

Esse tipo de fornecimento, aliás, deve ser mais comum na empresa.

“Não queremos ser apenas destinadores de resíduos, mas solucionadores de problemas”, completou Castilho. Uma boa dica para os interessados em aproveitar um mercado cujo potencial já começou a se transformar em de

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