Remediação de solos: Técnicas alternativas melhoram desempenho

Este artigo, escrito por consultores especializados em remediação de solos e águas subterrâneas com vasta experiência em projetos de descontaminação de grandes indústrias instaladas no País, pretende rever as atuais tecnologias e as mudanças estruturais que ocorreram no ramo nos últimos anos, sobretudo na Europa e América do Norte. A análise do estado-da-arte da remediação começa notando o crescente uso de tecnologias alternativas, em complemento aos sistemas de contenção hidráulica convencionais, como forma de melhorar o desempenho dos programas por meio de maior remoção/destruição da massa de contaminantes. Nessa linha de raciocínio, as tecnologias in-situ ganham maior destaque, com redução nos custos de instalação, operação e monitoramento.

Química e Derivados: Solos: solo01. O padrão evolutivo da remediação, segundo os autores, vem focalizando em soluções cada vez menos invasivas, com destaque para o processo de atenuação natural monitorada. Entretanto, devido ao maior tempo necessário para atingir as metas de descontaminação, as novas soluções devem ser aplicadas em complemento às tecnologias convencionais já existentes.

A prática de remediação de solos e águas subterrâneas é normalmente uma tarefa complexa e exige o envolvimento de profissionais qualificados e experientes na elaboração de diagnósticos precisos e definição da alternativa mais adequada para cumprimento dos padrões preestabelecidos em projeto. Assim, o conhecimento das atuais tecnologias de remediação, suas limitações, relações custo-benefício e aplicabilidade quanto às questões hidrogeológicas e de natureza dos contaminantes são determinantes no sucesso do programa de remediação.

As alternativas que utilizam soluções mais naturais e com menores impactos no subsolo vêm ganhando maior destaque nos últimos anos. Porém, vale lembrar que essas soluções, devido ao maior tempo requerido na remediação, nem sempre são suficientes para atingir os objetivos do projeto e devem, na maioria dos casos, ser aplicadas em complemento às tecnologias convencionais já existentes.

Cabe aqui ressaltar que, independente da solução adotada, ela deve ser aplicada conforme as condições intrínsecas e singulares a cada sítio contaminado. Dessa forma, as técnicas de remediação devem atender não somente às características físico-químicas dos contaminantes envolvidos como também à aplicabilidade dos mesmos nas condições hidrogeológicas específicas do sítio impactado. E isso dentro de objetivos que atendam a legislação ambiental e que sejam compatíveis com o risco que a contaminação representa.

A identificação – A questão da contaminação de solos e águas subterrâneas por compostos orgânicos – NAPLs, non-aqueous phase liquids – e metais pesados é de extrema importância devido ao seu elevado grau de toxidade e potencial de migração na fase gasosa, dissolvida e como fase imiscível. Uma grande variedade de contaminantes pode ser encontrada em águas subterrâneas, em ambientes industriais, incluindo compostos orgânicos voláteis (VOCs), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), herbicidas, nitroaromáticos, ftalatos e metais pesados. Os caminhos de migração, mobilidade e persistência desses compostos no subsolo variam substancialmente em cada caso, devido à natureza química específica de cada espécie bem como à diversidade geológica de cada sítio.

Química e Derivados: Solos: solo02. Uma vez penetrado no subsolo, o contaminante torna-se suscetível a uma variedade de processos geoquímicos e biológicos, os quais determinam a sua mobilização ou mesmo transformação no meio poroso. Esses processos estão intrinsecamente relacionados a inúmeras variáveis, tornando a prática de remediação de aqüíferos uma tarefa complexa, muitas vezes custosa e dispendiosa.

A seleção de uma estratégia de remediação apropriada para um determinado caso deve ser baseada na caracterização preliminar do sítio e nos tipos de contaminantes de interesse. Essas investigações deverão incluir a avaliação da heterogeneidade física do sítio, a extensão da contaminação, localização das fontes primárias de contaminação, existência de zonas de descarga – i.e., corpos hídricos de superfície, bem como a presença do contaminante em suas fases imiscível, residual ou adsorvida no meio geológico.

Processos de contaminação – Na zona insaturada (camada mais profunda do solo onde se concentram as águas subterrâneas), os compostos aquosos podem estar presentes como fase contínua (frente de infiltração) ou como fase descontínua, aderindo-se diretamente na superfície do solo. A taxa de deslocamento do contaminante dependerá da gravidade, da recarga por infiltração, viscosidade do fluido e da permeabilidade relativa do solo. Imediatamente após um derramamento, os vazios do solo serão preenchidos pelo fluido orgânico. Com o passar do tempo, no entanto, haverá drenagem do fluido, por gravidade, deixando uma massa residual adsorvida ao meio poroso.

Química e Derivados: Solos: solos_remediacao. A mobilização dos contaminantes na zona insaturada pode ser também realizada através do incremento das taxas de volatilização de suas fases imiscíveis, incluindo-se os processos térmicos. A porção que volatiliza é livre para deslocar-se lateralmente como um vapor tóxico aumentando, por conseguinte, a área impactada. Os parâmetros chaves nesse processo incluem a pressão de vapor, a constante de Henry e a permeabilidade intrínseca do solo. O contaminante, em sua fase gasosa, irá se deslocar por processos de difusão e advecção, o qual induz o movimento do gás em resposta a um gradiente de pressão (por exemplo, por meio de sistemas de extração de gás).

Química e Derivados: Solos: solo03.Para os contaminantes presentes na zona insaturada, é comum o uso de processos de extração de gás de solo (SVE) para remoção de componentes voláteis (p.e., Nyer et al., 1996). O sucesso dessa tecnologia depende, sobretudo, da pressão de vapor do contaminante que controla a taxa de partição da fase livre para a fase gasosa. A tecnologia de aeração in-situ ou air sparging (AIS), por outro lado, permite tanto a extração de contaminantes da zona saturada como da não saturada do subsolo. Como variação daquela tecnologia, o biosparging incentiva a biodegradação dos compostos orgânicos através de processos físicos de aeração de solo na zona insaturada, conforme descrito na Tabela 1.

Quando o composto em sua fase aquosa atinge a zona saturada (camada do solo mais próxima da superfície), seu deslocamento vertical é desacelerado em razão da resistência imposta pela água. Se o contaminante for mais denso que a água, como os organoclorados, e o derramamento for de grande escala, ele continuará se deslocando verticalmente até atingir um estrato relativamente impermeável, como uma camada de argila ou matriz rochosa. O DNAPL (dense non-aqueous phase liquid) – contaminante orgânico de reduzida solubilidade e mais denso que a água – irá então se deslocar lateralmente, dando origem a uma fonte secundária ou pool de contaminantes em sua fase residual. Quando o composto é mais leve que a água, ou LNAPL (light non-aqueous phase liquid), como um hidrocarboneto de petróleo, o composto irá se espalhar lateralmente quando em contato com a zona saturada, formando lentes que flutuam sobre o lençol freático. Essas lentes irão geralmente migrar na mesma direção do fluxo regional. Vale lembrar que tanto o LNAPL como DNAPL são normalmente constituídos por misturas de diversos compostos químicos com propriedades distintas. Essas propriedades devem sempre ser levadas em consideração, exigindo, muitas vezes, tratamentos seqüenciais para remediar porções distintas de um solo e águas subterrâneas.

solo04. ©QDNa zona saturada, o contaminante encontra-se provavelmente como fase descontínua – fonte secundária. A mobilização do contaminante aquoso em sua fase residual se dará, normalmente, por processo de dissolução nas águas subterrâneas. A remoção física dessa fase residual poderá ser realizada através de bombeamento hidráulico ou através da adição de surfactantes ao meio para decréscimo da tensão superficial entre o fluido orgânico e a água (Lyman et al., 1992). A partição do contaminante líquido residual para a fase dissolvida depende particularmente da área de contato entre a fase residual e as águas subterrâneas em movimento bem como da solubilidade dos constituintes orgânicos na água e suas concentrações relativas na mistura – problema definido pela Lei de Raoult (p.e., Pankow e Cherry, 1996).

O lento processo de dissolução dos hidrocarbonetos residuais atua como uma fonte contínua de contaminação. Os compostos dissolvidos tornam-se parte de uma fase em movimento, formando uma “pluma” de contaminação que irá migrar em direção ao fluxo regional das águas subterrâneas. Ao longo do caminho, os poluentes dissolvidos serão possivelmente afetados por mecanismos de partição adicionais, como processos de adsorção em solo, volatilização e biodegradação.

Para os contaminantes dissolvidos na zona saturada, as alternativas de remediação mais comuns são baseadas em tecnologias como: 1) mobilização – pump-and-treat, air sparging, lavagem de solo e reinjeção (recarga artificial); 2) tecnologias de imobilização – barreiras de contenção física pouco permeáveis, vitrificação in-situ (tecnologias térmicas), encapsulamento e solidificação; e 3) processos de transformação como a biorremediação in-situ, processos de oxidação química, processos térmicos, e as barreiras físicas permeáveis (BRPs), conforme Tabela 1.

Química e Derivados: Solos: solo06. Os sistemas de contenção hidráulica convencionais – pump-and-treat – são ainda utilizados na maioria dos sítios contaminados. Apesar da necessidade de remover grandes volumes de água do subsolo, de forma a extrair os contaminantes, essa metodologia pode ser uma medida eficiente de remediação, em certas condições, devido às lentas taxas de desorção e dissolução dos compostos. O uso de tecnologias alternativas poderá, de fato, melhorar o desempenho do sistema e reduzir o custo total do projeto de remediação, e vem se tornando uma prática cada vez mais comum em projetos de reabilitação de aqüíferos.

Química e Derivados: Solos: solo05O insucesso de sistemas pump-and-treat em muitos sítios não decorre apenas de limitações técnicas ou da complexidade do sítio. É resultado de uma caracterização preliminar insuficiente ou inadequada do problema. Sistemas de bombeamento de águas subterrâneas bem executados podem ser uma parte importante do programa e, quando implementados, podem controlar a migração da pluma para regiões mais afastadas, permitindo a remoção de fontes secundárias da contaminação. Adicionalmente, o uso de tecnologias de remediação alternativas requer, na maioria dos casos, uma implementação preliminar de um sistema efetivo de controle hidráulico.

Evolução – As tecnologias de remediação de solos e águas subterrâneas sofreram inúmeras mudanças nas últimas duas décadas, em particular na América do Norte. Essas mudanças ocorreram num ritmo relativamente rápido, sobretudo como resultado de pressões exercidas pela indústria para que houvesse uma contínua melhoria da relação custo-benefício para as tecnologias disponíveis e com maior preferência no mercado.

A contaminação de aqüíferos foi sempre uma questão de preocupação tendo em vista a mobilidade de suas águas e a possibilidade de deslocamento de plumas para fora do domínio físico do sítio. Além disso, a necessidade de conter a contaminação no local levou a aplicação, em larga escala e de forma irrestrita, de sistemas pump-and-treat para o controle de fontes e remoção de massa. Após uma década de experiência, ficou evidente que o uso dessa tecnologia como única forma de remediação não era suficiente, na maioria dos casos, para promover a reabilitação do sítio de forma rápida e com menores custos.

Química e Derivados: Solos: solo07.Posteriormente, foi constatado que a remoção de massa poderia ser significativamente incrementada utilizando-se “ar” como meio de extração em vez de água. Este fato levou ao desenvolvimento e aplicação de tecnologias de extração in-situ, tais como extração de gás de solo (SVE – soil vapor extraction) e aeração de solo in-situ (AIS – airsparging). Embora a motivação inicial de aplicar essas tecnologias tenha sido a de diminuir os custos operacionais, observou-se que elas estavam possibilitando a remediação de sítios de forma mais acelerada e com níveis de concentração finais mais aceitáveis, dentro dos critérios estabelecidos. Esses resultados satisfatórios mobilizaram a indústria de remediação, sobretudo na América do Norte, a investir em tecnologias alternativas, objetivando: 1) soluções mais rápidas e com menores custos; 2) tecnologias in-situ não-invasivas ou pouco invasivas; 3) tecnologias complementares que promovessem a aceleração in-situ da degradação natural de contaminantes, principalmente através de reações mediadas biologicamente. Com isso, soluções mais sustentáveis economicamente e ambientalmente foram ganhando cada vez mais espaço nesse setor.

Química e Derivados: Solos: solo08.Verificou-se, também, uma redução nos custos de remediação nos últimos 20 anos. Técnicas de extração ex-situ tais como pump-and-treat foram sendo lentamente substituídas ou complementadas por técnicas de extração in-situ como a extração de gás de solo e aeração de solo. Subseqüentemente, essas técnicas de extração in-situ deram vez ao aparecimento de técnicas de remediação passiva ou destruição de massa in-situ como as barreiras reativas permeáveis (BRPs), incluindo os sistemas funnel-and-gate. A tecnologia das BRPs vem sendo utilizada de forma cada vez maior nos Estados Unidos e Canadá e é considerada uma das alternativas de remediação de maior preferência no mercado. O padrão de evolução das tecnologias vem focalizando em soluções cada vez mais naturais, incluindo a alteração das condições bioquímicas do subsolo para subsidiar na remediação.

Atenuação natural – Uma grande mudança ocorreu nos últimos cinco anos, com o reconhecimento comprovado de que processos de atenuação natural podem contribuir, de forma significativa, para o controle e redução das plumas de contaminação no solo e águas subterrâneas. Com diversas denominações – atenuação natural, bioatenuação, biorremediação intrínseca, remediação natural e atenuação natural monitorada (ANM) – essa tecnologia de remediação vem ganhando popularidade e se solidificando no mercado como uma alternativa viável para os casos em que são confirmadas as condições biogeoquímicas favoráveis à ocorrência das reações naturais. A atenuação natural monitorada (ANM) pode se constituir em um procedimento efetivo de remedição de solos e águas subterrâneas quando utilizada em conjunção a outras tecnologias ou simplesmente como uma única alternativa desde que, de fato, comprovada ao longo de um tempo de monitoramento.

Química e Derivados: Solos: solo09.O desenvolvimento das barreiras reativas permeáveis (BRPs), as quais consistem em sistemas de engenharia que favorecem a passagem das águas subterrâneas através de porções reativas – que podem ser aeróbicas ou anaeróbicas para reações mediadas biologicamente – é uma tentativa de fazer melhor uso das tecnologias naturais, de forma a acelerar as reações. Por exemplo, o uso das BRPs para a descloração redutiva de hidrocarbonetos alifáticos pode acelerar as taxas de degradação por oferecer as condições geoquímicas e biológicas mais favoráveis para as reações.

A tentativa inicial de remediação de um sítio impactado por compostos organolorados é o tratamento ou contenção da pluma, a qual é relativamente mais fácil de identificar e tratar do que a fonte de DNAPL propriamente dita – fonte secundária. Nos últimos cinco anos, entretanto, um grande avanço ocorreu na tentativa de encontrar e tratar essas fontes. Existem ainda muitos desafios técnicos e de regulamentação para superar as atuais tecnologias de remediação disponíveis. Estes incluem a delineação da fonte de DNAPL e a eficiência e custos dos diversos tipos de tratamento/remoção. Técnicas de redução de fonte acopladas aos processos de atenuação natural mais a jusante possibilitam a restauração do sítio de forma mais otimizada.

Química e Derivados: Solos: solo10.A motivação no uso das tecnologias não-estruturais na área de remediação de solos e águas subterrâneas decorre da constatação de que não há recursos suficientes para tratamento de todos os sítios comprovadamente contaminados, sobretudo quando são impostos critérios mínimos para a remediação. Hoje, as técnicas naturais, como por exemplo ANM, BRPs e fitoremediação são tentativas de elaborar técnicas de “engenharia” fazendo uso da natureza como um dos materiais de construção – raízes e microorganismos em vez de bombas e compressores.

Tecnologias disponíveis – Sistemas convencionais do tipo pump-and-treat (bombeie e trate, em português) são baseados na extração de águas contaminadas do subsolo e tratamento ex-situ de efluentes para satisfazer critérios ambientais pré-estabelecidos. É um dos métodos mais comuns no tratamento de aqüíferos contaminados. O tratamento da água pode ser realizado por diferentes processos como sistemas de air stripping para remoção dos compostos voláteis, carvão ativado para constituintes dissolvidos e sistemas biológicos para poluentes biodegradáveis. A reinjeção de águas tratados no subsolo, por exemplo, além de reduzir custos na disposição de efluentes, pode promover maiores taxas de extração de contaminantes por uma “lavagem de solo”, encurtando o tempo de remediação (Nobre et al., 1998).

Química e Derivados: Solos: solo11. Os sistemas de extração hidráulica são desenvolvidos para evitar o alastramento da pluma dissolvida, permitindo, assim, a restauração do aqüífero com a remoção da massa contaminada. Taxas de extração mínimas necessárias para uma contenção adequada são baseadas na avaliação de “zonas de capturas” ou “zonas de contribuição” de poços de bombeamento.

Ao desenvolver um sistema de controle hidráulico, seu desempenho deve ser continuamente avaliado. Sabe-se que a eficiência do poço diminui com o tempo e irá interferir com a habilidade do sistema em conter a pluma adequadamente. É então necessário um programa de reabilitação periódica como parte indispensável do sistema, de forma a manter taxas de extração de massa sempre elevadas e a garantia de contenção total da pluma.

Alternativas – O uso de tecnologias alternativas na remediação de solos e águas subterrâneas tornou-se uma prática comum nos últimos anos. Muitas das novas metodologias utilizadas nos últimos 20 anos, sobretudo na Europa e América do Norte, objetivam uma melhoria do desempenho dos sistemas pump-and-treat de forma a acelerar o processo de extração das águas contaminadas e diminuir o tempo de remediação. Grande parte dessas tecnologias, entretanto, demanda o bombeamento de fluidos do subsolo não apenas para garantir a contenção necessária da pluma, mas também como parte integrante do processo de remediação. Alguns desses processos inovadores promovem taxas de extração elevadas dos constituintes voláteis do solo e águas subterrâneas. O sistema de extração de gás do solo – SVE, por exemplo – remove contaminantes orgânicos do meio insaturado através da aplicação de uma pressão a vácuo e indução de uma corrente de ar.

Química e Derivados: Solos: solo12. O sistema de aeração in-situ ou air sparging (AIS), por outro lado, utiliza ar injetado para remover os compostos voláteis mas, ao contrário do sistema SVE, pode ser aplicado em ambos horizontes saturados e não-saturados. O sistema de aeração in-situ pode também favorecer a biodegradação aeróbica de determinados compostos por incrementar a quantidade de oxigênio dissolvido nas águas do aqüífero (biosparging). A Figura 1 apresenta, esquematicamente, o sistema de air sparging in-situ (AIS).

Semelhante ao sistema de aeração de solo, a bioaeração in-situ ou bioventing é acompanhada da injeção contínua de pequeno volume de ar no solo impactado. O principal objetivo desse sistema, no entanto, é o incremento das taxas de biodegradação aeróbica dos contaminantes dissolvidos. É utilizado, em particular, em sítios contaminados por hidrocarbonetos do petróleo e certos compostos clorados.

Tecnologias alternativas adicionais podem também promover uma melhoria nas taxas de extração de massa do subsolo. A adição de surfactantes através da lavagem de solo, por exemplo, reduz a tensão superficial entre os contaminantes e a água, promovendo a mobilização da fase residual e imiscível a ser extraída. A reinjeção de águas tratadas, por outro lado, pode aumentar a quantidade de contaminantes extraída por volume de água bombeada, com a elevação dos gradientes hidráulicos na região. As águas reinjetadas também aceleraram o processo de dissolução dos contaminantes bem como de outros mecanismos, como a desorção ou processos de oxidação, quando agentes químicos apropriados são introduzidos no meio, conforme ilustrado na Figura 2. Quando os poluentes são mobilizados, eles podem ser facilmente removidos através do sistema hidráulico já existente.

Química e Derivados: Solos: solo13.Há também as tecnologias de remediação que promovem a destruição ou transformação dos contaminantes in situ, tanto biologicamente como através de procedimentos químicos, com o bombeamento de quantidades mínimas de fluidos. Os processos de biorremediação in-situ, por exemplo, estimulam microorganismos nativos do solo, em particular as bactérias, para degradar os contaminantes. As condições necessárias para o desenvolvimento das bactérias no subsolo incluem a existência de receptores de elétrons – oxigênio, nitrato, sulfato ou compostos orgânicos – de nutrientes – nitrogênio, fósforo – e de substratos – matéria orgânica ou composto orgânico a ser degradado (p.e., Suthersan, 2002). A introdução do oxigênio em águas subterrâneas para promover a biodegradação aeróbica, por exemplo, pode ser realizado através dos sistemas de aeração in-situ ou por exemplo através da adição de soluções de peróxido de hidrogênio no meio.

O processo de atenuação natural monitorada (ANM) em águas subterrâneas, baseada nos princípios naturais de degradação in-situ, resulta da interação de uma série de mecanismos no subsolo que são classificados como “destrutivos” ou “não-destrutivos”. A biodegradação aeróbica ou anaeróbica é considerada o processo mais relevante para a redução da massa de contaminantes no subsolo. Processos de atenuação não-destrutivos, por outro lado, incluem a dispersão, diluição (por recarga), volatilização e adsorção nas partículas do solo. Embora seja uma alternativa adicional para o tratamento de aqüíferos contaminados, essa tecnologia normalmente demanda um maior período de tempo para atingir os critérios de tratamento estabelecidos para o sítio (National Research Council, 2000; Nobre at. al, 2002).

As tecnologias de oxidação química, por outro lado, utilizam compostos químicos para transformar os contaminantes in-situ, através de reações de oxirredução, convertendo-os em formas não tóxicas na maioria dos casos. Agentes oxidantes possíveis incluem o permanganato de potássio, peróxido de hidrogênio e o ozônio. Os agentes redutores podem incluir o ferro metálico zinco e o sulfato ferroso.

O aumento da taxa de extração de fluidos orgânicos e imiscíveis (NAPLs) de solos e águas subterrâneas também pode ser realizado através de processos térmicos, que aumentam a temperatura do solo e das águas subterrâneas. Existe uma variedade de métodos in-situ que podem introduzir energia térmica no subsolo, incluindo a injeção de ar ou de águas aquecidas, injeção de vapor, eletrocinese, aquecimento por freqüência de rádio e processos de desorção térmica. Todas essas tecnologias permitem uma maior extração de contaminantes em função, principalmente, do aumento das taxas de transferência de massa da fase livre do NAPL para fase gasosa ou fase dissolvida na água (Nobre e Thomson, 1993). A Tabela 2 apresenta uma relação de compostos e a relativa facilidade de transferência de massa dos mesmos na remediação in-situ por processos térmicos.

É considerada, dessa forma, a forte influência da temperatura nas diversas propriedades dos fluidos presentes, tais como a viscosidade e a tensão superficial entre o NAPL e a fase aquosa e a solubilidade efetiva dos contaminantes. Os efeitos da variação da temperatura nos processos de transferência de massa, no entanto, são ainda pouco conhecidos. Os processos térmicos já se mostraram bastante eficazes na remoção de contaminantes residuais de difícil eliminação através dos métodos convencionais. A Figura 3 apresenta, esquematicamente, o sistema de injeção de vapor no solo, um dos processos térmicos mais utilizados na área de remediação de solos.

Há também as tecnologias de contenção física que promovem tanto o isolamento de fontes secundárias quanto o controle de migração de plumas de contaminação. O principal objetivo da contenção, no entanto, é tentar reduzir, de imediato, o risco associado com um derramamento de larga escala. As águas subterrâneas e os solos contaminados podem ser fisicamente isolados por meio de barreiras de reduzida permeabilidade como por exemplo as paredes diafragmas plástico (p.e., Nobre e Nobre, 1997). Esses sistemas são, freqüentemente, acoplados a um sistema de contenção hidráulica de forma a impedir o escape de águas contaminadas, além de evitar a difusão de contaminates através da barreira permeável. Taxas de remoção de massa mais elevadas são obtidas com a diminuição das velocidades de fluxo nas proximidades da barreira física, elevando as concentrações.

Química e Derivados: Solos: maia_nobre.
Manoel Maia Nobre

Barreiras reativas permeáveis (BRPs), por outro lado, são também muito utilizadas na área da remediação de solos uma vez que possibilitam a degradação in-situ dos contaminantes durante o deslocamento da pluma através de porções reativas construídas na própria barreira física, com permeabilidades mais elevadas, como parte do sistema “funnel-and gate” (p.e., Gavaskar et. Al, 1998; Gusmão et al., 2002; Nobre et al., 2003).

Processos de imobilização adicionais incluem a solidificação e o encapsulamento, que consistem em processos de remoção de águas dos resíduos e/ou de mudança de sua estrutura química de modo a tornar o resíduo inerte. A vitrificação é também uma técnica de imobilização onde o resíduo é submetido a temperaturas elevadas (1600 a 2000 oC) para sua inertização. O resultado é um material vítreo e cristalino, quimicamente estável e resistente a lixiviação.

A eliminação de fontes de DNAPL, quando existentes, deve ser executada através de técnicas apropriadas, de forma concomitante aos processos de remediação de subsolo, descritas acima. Conforme já tratado, as técnicas de redução/eliminação de fonte acopladas aos processos de remediação possibilitam a restauração do sítio de forma mais otimizada.

Química e Derivados: Solos: rosane.
Rosane Cunha Maia Nobre

Os autores

O engenheiro civil Manoel Maia Nobre é PhD em recursos hídricos pela Universidade de Waterloo, no Canadá, centro de excelência mundial em hidrogeologia. Professor da PUC-RJ e da pós-graduação executiva em meio ambiente da Coppe/UFRJ, trabalha como consultor em vários projetos de remediação de solos e águas subterrâneas pelo Brasil.

É responsável por obras de investigação, descontaminação e por diagnósticos ambientais em empresas do pólo petroquímico de Camaçari-BA e de todas as unidades de vinílicos da Braskem (Alagoas, Bahia, São Paulo), entre vários outros projetos.

Engenheira civil, com mestrado pela Universidade de Waterloo, Rosane Cunha Maia Nobre é doutoranda em avaliação de vulnerabilidade de aqüíferos através de modelagem matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professora adjunta da Universidade Federal de Alagoas, onde ministra as disciplinas de hidráulica, recursos hídricos e fenômenos de transporte.

 

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