Uma área considerável do Boulevard Olímpico, localizada na região portuária da cidade do Rio de Janeiro, abrigará mais de 350 expositores nacionais e estrangeiros, protagonistas da 20ª edição da Rio Oil & Gas, que será realizada de 26 a 29 de setembro.
A feira e o congresso deverão ocupar o espaço de seis armazéns, totalizando 51 mil m² transformados em uma grande arena onde se encontrarão os principais executivos e especialistas do setor, do Brasil e do mundo.
Cerca de 40 mil participantes são aguardados com ansiedade por empresários e pelos organizadores, diante da expectativa de novos negócios por conta dos US$ 183 bilhões que serão aplicados na exploração e produção de petróleo no Brasil, entre 2022 e 2031.
A estimativa de investimentos foi apresentada pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), que também prevê um retorno tributário de US$ 622 bilhões.
Esses valores se fundamentam tanto na participação de 15% do setor no PIB industrial do país, como em sua posição de 9º maior produtor mundial, como informou Roberto Ardenghy, presidente do IBP.
Ardenghy: investimentos em E&P no Brasil chegam a US$ 183 bi
“A Rio Oil & Gas 2022 representa uma oportunidade de diálogo e troca de informações entre os participantes, cujo objetivo é apresentar soluções inovadoras para o setor”, disse Ardenghy.
Por meio delas, busca-se, segundo ele, reafirmar o papel fundamental da indústria no país, bem como sua importância para o mundo, em face ao debate sobre segurança energética.
Fernanda: cadeia extensa de fornecedores recebe benefícios
“O evento reforça a relevância da indústria no país, diante do grande potencial do Brasil, inclusive de atrair investimentos externos, potencializando os negócios de toda a extensa cadeia de fornecedores”, complementa Fernanda Delgado, diretora-executiva do IBP.
Com isso, acaba facilitando também “a geração dos recursos necessários para que governos e a sociedade financiem a transição energética e a descarbonização de suas economias”, afirma.
Empresas estrangeiras de grande porte, como a Petronas, da Malásia, e a Karoon, da Austrália, participam do evento pela primeira vez, enquanto a Trident Energy e a Acelen, criada pelo fundo Mubadala Capital, destacam-se entre as estreantes brasileiras.
Além de expositores brasileiros, são esperados representantes da América do Sul, Europa, Ásia e África, e pesquisadores de 20 países que apresentarão trabalhos técnicos.
A Áustria retorna à Rio Oil & Gas após oito anos ausente, segundo o IBP, enquanto Irã e Angola participam do evento pela primeira vez, o qual terá formato híbrido este ano.
Por exemplo, a versão presencial contará com espaço físico e amplas possibilidades de troca de ideias e informações, mesmo nas áreas exclusivas para encontros de networking e coworking.
Mas quem não comparecer ao evento poderá acompanhar parcialmente os acontecimentos da feira e do congresso através de transmissão, ao vivo, por canais virtuais de comunicação, segundo os organizadores.
A pandemia não apenas interferiu no formato de encontros de negócios como criou uma demanda reprimida por esse tipo de evento, como acontece entre os associados da Abimaq, segundo Idarilho Nascimento, presidente do Conselho de Óleo e Gás da entidade.
O fenômeno se deve ao fato de que cerca de 300 a 400 empresas associadas fornecem ao setor de O&G, além de outros segmentos, incluindo exportação, apostarem na possibilidade de fechar novos contratos.
As atenções neste sentido estão voltadas principalmente aos US$ 68 bilhões disponibilizados pelo plano de negócios da Petrobras para os próximos cinco anos.
Espera-se também que o encontro antecipe tendências tecnológicas, propiciando discussões e troca de experiências entre os participantes sobre como enfrentar os desafios da indústria por meio de soluções avançadas disponibilizadas por fornecedores, operadores e demais agentes, diz Tulio Lourenço, gerente de programação e integração logística da Transpetro.
A companhia atua nas diversas etapas da cadeia logística, desde o alívio de produção de petróleo, passando por exportação, suprimento de refinarias, escoamento e cabotagem de derivados, até a entrega de produtos acabados.
Lourenço: debates técnicos ajudam a superar desafios
“Uma produção nacional maior representa a utilização ativa e crescente de seus navios, dutos e terminais em prol desta complexa logística que atende a sociedade brasileira e o mercado externo”, afirma Lourenço.
Alguns representantes da indústria química também estão atentos a novas oportunidades que poderão surgir em óleo e gás, pois o setor é fortemente demandante de seus produtos, tanto em nível global como doméstico, justificou Flávio Dias, coordenador de negócios da Evonik para a América Central e do Sul.
As soluções voltadas para sustentabilidade e transição energética têm sido as mais procuradas, segundo ele.
De fato, “a indústria de petróleo e gás deu passos enormes para acelerar o desenvolvimento sustentável”, reitera Jonathan Wylde, gerente global de inovação da Clariant Oil Services.
A empresa tem procurado colaborar proativamente com esse movimento, segundo ele, contribuindo para tornar os portfólios e aplicações de seus clientes mais compatíveis com o aumento das exigências ambientais ao redor do mundo.
Produção brasileira avança – O crescimento da produção brasileira de óleo e gás superou em 4,5 vezes a média mundial nos últimos dez anos.
Dados compilados pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) indicam que, entre 2011 e 2021, o crescimento médio brasileiro, no período, chegou a 3,2% ante a média mundial de 0,7%, conforme números divulgados pelo BP Outlook da British Petroleum.
O Brasil partiu de uma produção de 2.054,7 mil barris/dia, em 2010, para 2.905,0 em 2021, representando um crescimento médio anual de 3,2%, quando considerados os períodos em questão, informa Bruno Pascon, diretor-executivo do CBIE.
Diante deste cenário, ele estima que a produção brasileira deve continuar crescendo em média 7,3% ao longo do decênio, atingindo uma produção de 5.799 mil barris/dia em 2031.
A expansão vem sendo impulsionada principalmente pelo Pré-Sal, que já responde por mais de 75% da produção total brasileira, e por projetos de desenvolvimento e revitalização de campos.
Pascon prevê que essas modernizações de campos em áreas-chave e a descoberta de grandes reservas no Excedente de Cessão Onerosa devem continuar a agregar bons resultados à produção brasileira nos próximos anos.
As empresas de capital nacional respondem por grande parte da produção brasileira, com destaque para a Petrobras que alcançou 92,7% do total, em junho de 2022.
A estatal possui participação em todos os campos de Excedente de Cessão Onerosa leiloados (52,5% de Atapu, 90% de Búzios, 100% de Itapu e 30% de Sépia), principais vetores de produção, detalha o executivo.
Mas esse ritmo de crescimento também evidencia gargalos e desafios. É o caso, por exemplo, da necessidade de gasodutos de escoamento e unidades de processamento e tratamento de gás natural (UPGN).
Esse canal é essencial para escoar o gás natural das plataformas de produção offshore do Pré-Sal, que já responde por 70% da produção desse combustível no país.
Há falta de transporte também para interiorizar essa oferta de gás natural de forma competitiva, a fim de abastecer a demanda de cadeias consumidoras como a indústria química, por exemplo.
Pascon informa que atualmente o Brasil reinjeta nos poços quase 70 milhões de m³/dia de gás natural por ausência de rotas de escoamento e UPGNs.
Com isso, pressiona a demanda de importações de gás natural, inflacionando a economia doméstica, em consequência do impacto da crise energética europeia sobre as cotações.
Por outro lado, há necessidade de construção de pelo menos três novas rotas de escoamento para que não surjam gargalos logísticos futuros. Isso porque 80% do aumento da produção de petróleo e gás natural previstos até o final da década terão origem no Pré-Sal.
Atualmente, a malha de gasoduto do Brasil é de 9.409 km, correspondendo à metade da existente no México, apesar de a produção nacional de óleo e gás superar em 2,5 vezes a dos mexicanos.
Portanto, investir em novos gasodutos para levar o gás natural – e o biogás – a todo o território nacional é um gargalo e oportunidade de investimento relevante, avalia o executivo.
Outro gargalo, segundo ele, é a ausência de novos investimentos em refinarias, impedindo o Brasil de se tornar autossuficiente no abastecimento doméstico.
Assim, o país recorre a importações para atender 25% a 35% do mercado de diesel e 5% a 10% de gasolina.
“Como o país já exporta 45% da sua produção de petróleo cru, caso houvesse um maior número de refinarias equipadas para processar o petróleo do Pré-Sal, o Brasil poderia diminuir ou mesmo eliminar as importações de derivados para abastecer o mercado doméstico, reduzindo custos para consumidores”, afirma.