Química fina: Mais que um marco, uma luz no caminho
Perspectivas 2023

Poucos se dão conta de que o Brasil possui o maior Sistema Público de Saúde do Mundo, o nosso SUS.
Por outro lado, não é novidade para ninguém que, há anos, a saúde pública no Brasil sofre com recursos insuficientes para que possa cumprir o prescrito em nossa Constituição.
Ainda mais quando algumas gestões, por diversos motivos, fazem com que esse segmento essencial para a nação muitas vezes se veja patinando, imobilizado, em longa agonia.
No entanto, o Sistema Único de Saúde (SUS) bravamente resiste, sobrevive e ainda representa um exemplo para o mundo, o que comprova a sua potencialidade, sua resiliência e a abnegação de seus profissionais.
Neste setor, no início do novo governo, a escolha da doutora Nísia Trindade para o Ministério da Saúde nos enche de esperança.
Não só se torna um marco na história desta pasta no País, mas representa um renascimento de uma visão na qual a Ciência é prioridade e o olhar técnico-científico protagonista para medidas relevantes demandadas por esta área tão importante para a população.
Pela primeira vez na história do Brasil, o Ministério da Saúde será comandado por uma mulher.
Doutora em Sociologia, mestra em Ciência Política e graduada em Ciências Sociais, Nísia é uma pesquisadora incansável, tendo conduzido a Fiocruz, desde 2017, como sua presidente, de forma exemplar.
Faltaria espaço aqui para descrever sua biografia, marcada por competência e coragem.
Creio ser relevante, porém, ressaltar seu esforço em buscar aprofundar o diálogo constante entre a Ciência e a Sociedade.
Uma referência que dá a cada brasileiro a tranquilidade de ter alguém no lugar certo para uma função tão desafiadora.
Além disso, ter uma profissional do seu quilate nos dá a esperança tangível do desenvolvimento de um trabalho visando uma saúde pública abrangente, assertiva e inclusiva.

Sabemos que não são poucos os desafios e, com a visão da cadeia da Química Fina, na qual apontamos caminhos estratégicos para o seu desenvolvimento, acreditamos que a nova Ministra terá um olhar diferenciado, o que nos estimula a trabalhar ainda mais e em conjunto com o Ministério da Saúde para realizar todo o potencial dessa cadeia.
Digo isso consciente do esforço que todos nós, representantes das Indústrias de Química Fina no País, temos empenhado no intuito de sermos colaborativos e instrumentais no apoio ao desenvolvimento de estratégias para o fortalecimento do setor.
No documento que desenvolvemos e entregamos a todos os presidenciáveis apontamos os eixos estratégicos, como o fortalecimento da produção local, a promoção do desenvolvimento científico, tecnológico e da inovação, aí inseridas a importância do sistema de propriedade intelectual e a regulação sanitária, e o incentivo à responsabilidade socioambiental.
Três eixos essenciais para toda a cadeia produtiva e que, pelo perfil da nova Ministra, temos a confiança de sua sensibilidade para cada tema.
Como sabemos, é crucial para o Brasil, efetivamente, frear a desindustrialização. Um país sem indústria abre mão de seu futuro.
Ao contrário, com um setor industrial sólido e fortalecido, o Brasil pode fomentar o seu desenvolvimento.
Neste contexto, o Complexo Industrial da Química Fina (CIQF), que abriga em si o Complexo Industrial da Saúde, será capaz de atender a demanda de muitos produtos essenciais para o SUS, dos quais o Brasil hoje é dependente de importações, dentre eles os insumos farmacêuticos ativos e medicamentos.
Para isso, é preciso investimento em inovação e tecnologia.
Políticas públicas que venham para ficar, ou seja, que passem a ser políticas de Estado, blindadas e protegidas de espasmos pontuais de um gestor de plantão.
As indústrias nacionais servem ao País e se integram em um tecido interdependente.
É preciso que isso fique claro, pois a indústria só sobreviverá dentro de um ambiente no qual todos os players envolvidos na cadeia sejam devidamente reconhecidos.
E isso se consegue com segurança jurídica nos processos de regulação sanitária, de propriedade intelectual, de sustentabilidade, entre outras.

Algo que só é possível com marcos regulatórios sólidos e a articulação dos diferentes stakeholders, em particular, no caso da Saúde, da capacidade de aglutinação que a nova ministra já demonstrou no comando da Fiocruz.
Com a biodiversidade brasileira, investimento em pesquisa e desenvolvimento e fortalecimento da cadeia produtiva da Química Fina, certamente avançaremos.
E hoje podemos dizer que há uma luz iluminando o caminho para avançarmos nesta agenda, tendo uma gestora técnica à frente do Ministério da Saúde, ciente da relevância da Ciência, Inovação e Tecnologia para o crescimento do País.
A Abifina está à sua disposição.
O AUTOR
Marcus Soalheiro é presidente do Conselho Administrativo da Abifina – Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e Suas Especialidades.
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