PU para tintas – Poliuretano cresce nas aplicações industriais e automotivas por combinar desempenho superior com sustentabilidade
A química dos poliuretanos oferece aos formuladores de tintas a vantagem de criar novos produtos pela combinação adequada dos ingredientes. Uma vez dominada a tecnologia, revestimentos mais resistentes, ou mais flexíveis, podem ser obtidos. A par do desempenho, esses materiais também avançam na redução de emissões de compostos orgânicos para o ambiente, com opções para as linhas de altos sólidos ou de base aquosa. No campo dos polióis, o uso de óleos vegetais e derivados, a exemplo da glicerina, surge como alternativa de fonte renovável, melhorando o indicador de sustentabilidade.
A vitalidade dos negócios de revestimentos poliuretânicos se traduz nas iniciativas dos fornecedores de insumos. A Bayer MaterialScience, líder regional nos isocianatos, investiu US$ 500 mil durante os dois últimos anos para modernizar seu laboratório de aplicações da divisão de coatings e adesivos, em São Paulo. Dotado de instalações e instrumentos avançados, além de ampliar o quadro de especialistas, o laboratório se tornará um dos cinco centros técnicos mundiais da companhia.
A sueca Perstorp, importante player mundial, começa a caminhar sozinha no Brasil, montando escritório administrativo e comercial que responde pela América Latina. Em 2008, a companhia comprou a joint venture entre Rhodia e Lyondell para isocianatos, assumindo a linha Tolonate de alifáticos. Além do hexametileno diisocianato (HDI), a Perstorp também possui grande participação nas linhas de isoforona (IPDI) e toluileno (TDI), que fazem parte do amplo cardápio de produtos complementares, entre eles os propanodióis (butil e etil), trimetilolpropano, pentaeritritol e caprolactama.
A Dow e sua divisão Dow Coatings Materials se preparam para ingressar nos isocianatos cicloalifáticos, mais promissores para tintas e vernizes que os seus aromáticos (TDI e MDI), estes melhores nas espumas. Além disso, a companhia começou a oferecer aos clientes polióis obtidos de óleos vegetais, unindo o bom desempenho com o atrativo ambientalmente correto. Polióis de óleos naturais serão o tema de duas das quatro palestras da companhia no 11º Congresso Internacional de Tintas, na Abrafati 2009 (de 23 a 25 de setembro, no Transamerica Expo Center, em São Paulo).
Mercado evolui – As vendas de isocianatos no Brasil cresciam a uma taxa média de 7% ao ano, antes de setembro de 2008, o marco inicial da crise global. As empresas do setor avaliam que o desempenho dos alifáticos era ainda melhor, superando os 10% anuais. “Com a crise, quem ia lançar novidades em tintas se retraiu, temendo que o mercado não as absorvesse; isso vale também para os ajustes de formulação”, comentou Danilo Zanin, gerente regional de vendas para a América Latina da Perstorp. Ele espera uma retomada nas negociações com clientes a partir da Abrafati 2009, para efetivar vendas no início de 2010.
As vendas de isocianatos alifáticos foram conduzidas por mais de doze anos pela Rhodia no Brasil, tendo conseguido em posição de quase 40% nesse mercado, segundo Zanin. A participação mundial nos biuretos e trímeros era estimada em 26%. “Contávamos com o apoio do portfólio de solventes orgânicos da Rhodia”, reconheceu. Apesar disso, ele considera que a Perstorp possui outros complementos químicos na linha do PU e, por ser mais focada nas especialidades, a atuação solo não representará um impacto negativo nas vendas.
Até o momento, as vendas de produtos para PU da Perstorp são feitas por meio da distribuidora exclusiva M.Cassab, embora as negociações sejam acompanhadas pela fabricante. “Ainda não definimos se investiremos para reforçar a estrutura local, mas já temos armazenagem e transporte contratados, até para sermos uma plataforma de abastecimento regional”, informou.
O problema renitente dos poliuretanos continua sendo o custo mais elevado em relação a outros materiais. Em algumas aplicações, mesmo sendo francamente superior aos demais, o PU fica restrito ao top coat (camada externa de pintura) ou ao primer (em contato direto com o substrato), quando poderia compor todo o sistema. Na pintura automotiva, camadas de epóxi e poliéster são quase sempre recobertas por vernizes poliuretânicos de alta resistência. Na indústria moveleira, o PU recobre camadas alquídicas ou de nitrocelulose. “Essa criatividade brasileira, porém, indica possibilidade de crescimento para o PU, único material capaz de apresentar alto desempenho com camada fina e de fácil aplicação”, comentou Zanin.
Os poliuretanos alifáticos exibem maior vigor de demanda que os aromáticos, fato justificado pela sua maior resistência ao amarelamento e por serem menos agressivos à saúde humana. “Mesmo no Brasil, os poliuretanos alifáticos crescem mais do que a média de todo o mercado de tintas”, salientou Alberto Hassessian, gerente da divisão de revestimentos e adesivos para a América Latina da Bayer S.A. Ele comentou que a maior participação dos aromáticos reside na fabricação de espumas poliuretânicas.

Hassessian aponta uma diferença básica entre o uso do PU em espumas e tintas: no primeiro caso os formuladores incentivam a liberação do gás carbônico; no segundo, a formação de espuma é um problema e deve ser evitada a qualquer custo. A aplicação em espumas nasceu no começo do século vinte, enquanto o uso em tintas é mais recente, tendo surgido na década de 60. “O PU alifático é o único sistema que consegue reproduzir na temperatura ambiente as mesmas características de uma pintura feita em estufa”, comentou. Isso permitiu ao PU conquistar cerca de 70% do mercado de tintas de repintura automotiva. O mesmo vale para grandes estruturas, impossíveis de colocar em estufas, como plataformas de petróleo e tanques de armazenamento.
A estratégia mundial da Bayer para o negócio de PU em tintas aponta para o fortalecimento nos isocianatos, sem deixar de lado os polióis especiais (a linha Desmophen, que inclui, por exemplo, policarbonatos hidroxilados). Os polióis básicos, os acrílicos hidroxilados e os poliésteres insaturados, considerados commodities, tiveram sua produção concentrada em uma moderna e eficiente fábrica na Alemanha. “A Bayer criou uma empresa, a Viverso, que opera no e-commerce de forma bastante competitiva nesses produtos standard”, explicou.
Segundo ele, a companhia incentiva o desenvolvimento de PU em base água, de sistemas para cura por ultravioleta (também de base aquosa) e aplicações para as linhas de poliureia e poliaspárticos, derivados de isocianatos de altíssima resistência química e à abrasão. “Os sistemas de base água têm tecnologia desenvolvida, o problema está no preço”, considerou. Como grande parte desses produtos é importada, o custo de transportar um material contendo 60% de água acaba sendo pesado. Além disso, a estabilidade desses sistemas é menor, reduzindo o tempo de prateleira para seis meses, dos quais pelo menos dois são consumidos na importação. Mesmo assim, os plásticos foram muito receptivos para a tecnologia, aproveitando a flexibilidade compatível com a desse substrato. Atualmente, a companhia inicia a divulgação dos base água para aplicações nas tintas anticorrosivas no Brasil.
“Temos recebido um número muito grande de consultas de toda a América Latina sobre os PUs base água”, comentou. “Em um tempo de crise, os clientes têm mais tempo para conversar sobre inovação tecnológica, embora comprem menos.” Ele explicou que a água fica na parte do poliol. Sua secagem é mais lenta e ocorre antes de entrar em contato com os isocianatos, situação que resultaria na liberação indesejada de gás carbônico.
A linha de diisocianatos da Bayer compreende derivados de isoforona (IPDI), difenilmetano (MDI), toluileno (TDI), hexametileno (HDI) e o H12MDI, um MDI hidrogenado produzido em pequena escala como insumo para a linha base água. “A fábrica de Belford Roxo-RJ é a única da América do Sul que faz isocianatos alifáticos obtidos de monômero importado”, ressaltou Hassessian, referindo-se ao HDI. A planta também fabrica o MDI, usado em revestimentos de alta espessura para formar pisos autonivelantes e pintáveis. Por não conter solventes, o revestimento formado não libera cheiro, podendo o ambiente ser ocupado imediatamente após a cura. A unidade local compõe dímeros (biuretos), trímeros e mesclas de isocianatos.

Contando com portfólio extenso de produtos com uso nas formulações de PU, a Evonik Degussa acompanha a evolução dos negócios na área. “As tintas e vernizes poliuretânicos vêm crescendo no Brasil, embora as aplicações industriais já possam ser consideradas maduras”, avaliou Alex Fabretti, gerente de negócios para a América do Sul de coatings e adesivos. A pintura automotiva original, um mercado importante para o PU, avança com o aumento das vendas de carros novos, que tem se mantido positivo no país. Ele vê no panorama nacional uma clara tendência de substituição dos isocianatos aromáticos pelos alifáticos (cíclicos ou não), fato que constitui uma oportunidade de negócios.
“O PU ainda participa pouco no mercado local porque os óleos naturais ainda são muito baratos, favorecendo as linhas alquídicas”, comentou Mario Fernando de Souza, diretor-comercial da Galstaff Multiresine do Brasil. As tintas e vernizes poliuretânicos crescem mais facilmente nas aplicações industriais em que comprovam sua superioridade na resistência da película, no aspecto final do produto pintado e, principalmente, na produtividade da pintura. “A secagem pode ser muito rápida, especialmente nos sistemas à base de isocianatos-acrílicos”, comentou. Ele também salientou a facilidade de combinação dos isocianatos com resinas alquídicas e poliésteres, estes preferidos quando se deseja alta resistência. A Galstaff produz no exterior polímeros de TDI em várias concentrações e também formula seus poliésteres, a preços competitivos, segundo comentou.
A indústria moveleira, uma grande usuária de vernizes de cura por ultravioleta para produtos destinados ao mercado interno, aplica mais o PU nos produtos de exportação, que exigem acabamento de qualidade superior. Também as peças metálicas para exportação buscam no PU a solução para revestimento conforme solicitações internacionais. Nesses casos, os clientes também querem baixa emissão de VOC.
A Dow prepara o desembarque no mercado dos cicloalifáticos com uma inovação. “Temos um diol, com o qual faremos uma diamina e, com ela, um isocianato. É parecido com os derivados existentes de ciclohexano, porém o nosso tem quatro isômeros em vez dos dois (cis e trans) dos convencionais”, adiantou Rodolfo Bayona, responsável global pela área de industrial coatings da Dow Coating Materials. As diferentes proporções entre esses isômeros permitem combinações variadas de flexibilidade e endurecimento do poliuretano final.
Segundo Bayona, esse isocianato cicloalifático pode ser aplicado sobre madeira, metais (automotivos) e até sobre concreto, apresentando alta resistência química e mecânica. No momento, estão sendo conduzidos testes nos EUA com um grande fabricante de tintas para aprovação. “Nos últimos trinta anos surgiram pouquíssimas novidades químicas para tintas e, por isso, nós queremos oferecer aos formuladores novas opções que possam resolver problemas”, afirmou Bayona.
Isocianatos livres – O controle adequado das linhas de preparação de polímeros elimina problemas com isocianatos livres. “Buscamos ter o mínimo de isocianatos livres nos polímeros para evitar problemas de saúde ocupacional e de desempenho do poliuretano”, comentou Danilo Zanin, da Perstorp. Ele informou que os polímeros da empresa contêm entre 0,03% a 0,02% de isocianatos livres, abaixo do limite europeu de 0,5%.

Zanin explicou que o HDI, por exemplo, é fosgenado em reatores para formar biuretos e trímeros. Trata-se de reação exotérmica, com uma determinada faixa de rendimento. “Quanto melhor o rendimento, menor o teor de isocianatos livres”, disse. O produto ainda passa por uma purificação antes da aplicação. Zanin comentou que o controle dessas operações é mais fácil no caso dos aromáticos. Essa seria uma das razões para o reduzido número de fornecedores de isocianatos alifáticos. “Preferimos vender os polímeros e as mesclas do que os monômeros de isocianatos”, informou Hassessian, da Bayer. Grandes fabricantes de tintas dispõem de instalações adequadas para lidar com os monômeros, um problema muito sério, especialmente nos aromáticos. A Bayer só vende polímeros com menos de 0,5% de isocianatos livres, conseguindo, em alguns produtos, índices muito melhores, de 0,15%. “No mercado brasileiro podem ser encontrados polímeros com 3% a 10% de isocianatos livres, uma situação inaceitável, tendo em vista que a Europa exige teor abaixo de 0,5% há quinze anos”, criticou. Os isocianatos livres são voláteis, escapam para o ambiente e criam um problema de saúde ocupacional nas fábricas de tintas, pois podem provocar o colapsamento das vias respiratórias, além de ser o TDI um reconhecido agente cancerígeno.
“Além do problema para a saúde dos trabalhadores, resinas com alto teor de isocianatos livres apresentam baixa estabilidade final e não toleram bem o lixamento”, complementou Mario Fernando de Souza, diretor-comercial da Galstaff Multiresine do Brasil. Para ele, resinas com até 5,7% de TDI livre ainda persistem no mercado nacional por falta de restrição legal e pela preferência dos consumidores por produtos de baixo custo, ainda que tenham pouca qualidade. A Galstaff produz isocianatos alifáticos e aromáticos (TDI), além de resinas poliéster, acrílicas e blendas para reagir com eles, bem como alguns aditivos. “Tentamos vender um pacote completo, mas há clientes que preparam seus catalisadores [os isocianatos] em casa”, afirmou. A empresa fornece isocianatos na forma concentrada, cabendo aos clientes adicionar solventes para manipulá-los.

A Galstaff optou por desenvolver produtos na linha de altos sólidos e baixo VOC, deixando de lado os produtos de base água. “Vendemos mais para vernizes do que para linhas pigmentadas”, disse Souza. Os principais mercados atendidos são: metais, madeira, plásticos, pisos industriais e repintura automotiva.
“Temos uma tecnologia de polimerização que evita isocianatos livres, com a adição de acetona ao pré-polímero e sua remoção por destilação”, comentou Alex Fabretti, gerente de negócios para a América do Sul da linha de revestimentos e aditivos da Evonik Degussa Brasil. Ele explicou que a principal linha da companhia tem início na isoforona, base para o IPDI (um clicloalifático), indicado para formulações com altos sólidos, baixo monômero residual e alto teor de isocianatos. O H12MDI é mais requisitado para aplicações em couro e madeira, oferecendo resistências química e mecânica superiores às do IPDI e também mais flexibilidade. Já o TMDI linear tem como ponto forte a flexibilidade e o alto teor de NCO. “Vendemos monômeros e pré-polímeros para os clientes”, afirmou.

Dispersões aquosas – Pré-polímeros estabilizados e dispersos em água são um campo em franco crescimento no setor de poliuretanos para tintas, com usos em revestimentos de couro, madeira, plásticos e também na formulação de adesivos. É uma forma de aproveitar a resistência à abrasão e o balanceamento variado entre dureza e flexibilidade do PU. “Preparamos um pré-polímero cicloalifático formando pontes com ácido dimetilolpropiônico entre os monômeros, neutralizamos com etanolaminas e adicionamos aditivos para dispersá-los em água, para depois incluir extensores de cadeia amínicos”, explicou a representante técnica de vendas Regiane Linares Colombo. Essas dispersões são muito usadas no revestimento de pisos de madeira, couros e acabamentos plásticos de toque suave.
A Reichhold lançará durante a Abrafati 2009, em setembro, uma dispersão aquosa de óleo uretânico modificado, o Urotuf F97 MPW33. “Trata-se de um PU monocomponente em dispersão aquosa que acompanha a tendência de substituição de solventes orgânicos e apresenta alto grau de reticulação (crosslinking)”, explicou Antonio Carrascosa Filho, gerente de desenvolvimento de mercado e assistência técnica da Reichhold do Brasil.
Ele comentou que a procura por produtos base água é crescente e os clientes apresentam alguma preocupação na hora de aplicar produtos bicomponentes. A preocupação se explica pela necessidade de adicionar os componentes na quantidade exata, na proporção entre isocianatos e hidroxilas para formar o filme com as características desejadas.
Mesmo assim, Carrascosa pondera que os produtos base água e os de base solvente conviverão ainda por muito tempo. “Os sistemas PU conseguem emissões de VOC abaixo de 200 gramas por litro, muito melhor que a média nacional, hoje de 520 a 550 g/l”, informou. Outra vantagem da nova dispersão consiste na possibilidade de mistura com sistemas acrílicos (modificados com vinila) e secantes de manganês, uma forma de reduzir custos em aplicações específicas.
Há dois anos a empresa oferece aos clientes no Brasil um óleo de linhaça uretanizado curável por oxidação em temperatura ambiente, com o concurso de secantes metálicos. Esse Urotuf F77-M-60 serve para acabamentos interiores, pisos, móveis de madeira e de metal, bem como aplicações industriais de manutenção, oferecendo alta resistência à abrasão, corrosão e contra agentes químicos.
A linha Urotuf também compreende produtos já conhecidos no mercado para sistemas bicomponentes, como os tipos 19401 (aromático) e 19410 (cicloalifático). “Em algumas aplicações, os clientes blendam esses tipos com resinas alquídicas, mas também podemos produzir as blendas para eles, dependendo do tamanho do lote”, afirmou. A empresa atende médios e pequenos fabricantes de tintas.
Zanin, da Perstorp, considera que as linhas de PU base água funcionarão bem em algumas aplicações, mas, mesmo assim, devem demorar uns cinco anos para se firmarem no mercado local. “Nas tintas moveleiras, por exemplo, o TDI ainda vai ser usado por muito tempo”, disse.
Opção monocomponente – Na prática, a aplicação dos sistemas bicomponentes ainda assusta os aplicadores, especialmente os menos tecnificados. “Moderno é fazer a mistura apenas na ponta da pistola de aplicação”, afirmou Alberto Hassessian, da Bayer. Ele admite que poucas companhias dispõem de sistemas de pintura com essa característica. Na maioria dos casos, os dois componentes são misturados em pequenos lotes, de tamanho determinado pela capacidade de aplicação e pelo pot life (intervalo entre a mistura dos ingredientes e a sua reticulação).
O uso de PU monocomponente acaba com o problema da mistura, mas também tem suas limitações. Hassessian explica que esse produto é um pré-polímero de PU. Um monômero adequado é misturado com uma pequena quantidade de poliol, que inicia a reação, interrompida com a adição de um estabilizante. Dentro da embalagem fechada, a durabilidade é longa. Ao ser aplicado e exposto ao ambiente, o produto reage com a umidade do ar para completar a polimerização. “É preciso considerar que a umidade relativa do ar em São Paulo é diferente da de Brasília-DF, e isso se reflete na cura”, afirmou.
Um bom uso de tintas PU monocomponente está nos cascos de navios, molhes de portos e plataformas de petróleo. Basta pintar a estrutura na maré baixa e, quando ela subir, vai acelerar a cura, sem liberar nenhum resíduo para o ambiente, proporcionando alta resistência à corrosão. “Esses produtos são muito usados nos Estados Unidos, um pouco menos na Europa, para proteger pontes e treliças metálicas, mas são quase desconhecidos no Brasil para tintas”, disse. Selantes usam essa alternativa.
A produção das tintas com PU monocomponente, porém, traz desafios. O processo requer controle rigoroso, com reatores operando a vácuo e garantia de secagem prévia dos pigmentos e cargas que venham a ser adicionados. Qualquer umidade que ingresse no processo desencadeará a reação.
“Os monocomponentes funcionam melhor nos adesivos que nas tintas”, avaliou Zanin, da Perstorp, embora saliente que algumas aplicações adotem a técnica com sucesso, como os domus que recobrem logotipos em automóveis e eletrodomésticos. Em geral, segundo disse, o mercado prefere os sistemas bicomponentes, capazes de oferecer melhor resistência química e física.
PU sem solvente – Os isocianatos mais conhecidos no mercado local se apresentam altamente viscosos ou sólidos, ambas as formas de difícil manipulação pelos formuladores de tintas. Solventes orgânicos são usados para baixar a viscosidade desse componente.
“A Europa e os Estados Unidos já estão chegando nos PUs de quarta geração, enquanto o Brasil ainda está nos biuretos da primeira geração”, comentou Zanin, da Perstorp. A empresa pode oferecer um trímero de HDI, o HDT, que apresenta baixa viscosidade sem adição de solventes.
Ele explica que a seleção do solvente para isocianatos deve considerar a aplicação final e o tipo de poliol com o qual reagirá. “O melhor solvente é o que se situa na intersecção das forças dos polímeros A e B do sistema”, disse. Erros na seleção do solvente levam à formação de filmes com um defeito conhecido como casca de laranja, em vez do aspecto superficial liso (vítreo). A companhia oferece trímeros de IPDI de cura rápida para substituição parcial dos isocianatos originais com o objetivo de melhorar o tack (manipulação da peça pintada) sem estufa e sem perder pot life.
Hassessian, da Bayer MaterialScience, também oferece trímeros alifáticos de baixa viscosidade para uso sem solventes. Nos produtos mais conhecidos, os solventes acertam a viscosidade desejada, porém devem ter alta pureza, sem nenhuma umidade (pureza de grau uretana). A Evonik Degussa possui em sua linha de produtos cicloalifáticos isentos de solventes para formuladores.
A Clariant mostrará na Abrafati 2009 a linha de Glymes (éteres poliglicólicos), que podem ser aplicados como redutores de viscosidade em sistemas de isocianatos, com uso possível também como coalescente em látex. “É um substituto moderno para a n-metil pirrolidona, considerada potencialmente tóxica”, explicou Andreas Hardt, gerente para a América Latina do segmento de negócios de coatings e químicos para construção da divisão de químicos funcionais da Clariant S.A. A Europa estuda a reclassificação de substâncias e deve impor a rotulagem das tintas que tenham 5% ou mais de n-metil pirrolidona em sua formulação.

Os Glymes foram desenvolvidos ainda no tempo da Hoechst (precursora da Clariant), que os direcionou para sínteses farmacêuticas. Há poucos anos se descobriu um potencial de uso em tintas. “É um produto voltado para nichos de mercado, como as tintas totalmente sem cheiro”, comentou Danilo Pereira, representante técnico de vendas da divisão.
A linha é extensa, desde o dipropilenoglicoldimetiléter (que ainda gera VOCs) e o tetraetilenoglicoldimetiléter, o Tetraglyme, isento de VOCs, até o sofisticado dietilenoglicoldibutiléter, indicado para modificar a viscosidade de isocianatos. “São produtos nobres, para aplicações específicas já adotadas na Europa”, disse Pereira. Os Glymes precisam ainda ser testados por clientes no Brasil, com apoio dos laboratórios da Clariant. O especialista explica que é preciso reformular o sistema PU para introduzir um Glyme e não apenas substituir a n-metil pirrolidona por ele. Pereira admite que exigências legislativas de proteção ambiental e a procura por alto desempenho são fatores-chave para a evolução dos negócios desses produtos. (Mais informações podem ser encontradas no site: www.glymes.com)
Sistemas bloqueados – Sistemas poliuretânicos para cura por radiação ultravioleta ou em estufas, especialmente nas tintas em pó, podem usar tecnologias de bloqueio dos isocianatos, facilitando a aplicação. Essas alternativas servem para a produção de embalagens metálicas, coil coatings, tintas automotivas, peças metálicas, ou como agentes de cura para tintas e adesivos (entre eles também os vinílicos e os de poliamida).
A ideia é incluir um composto que impeça a polimerização, mas que seja retirado ou inativado pela aplicação de energia térmica ou UV, de modo que permita a reticulação. A caprolactama é um bloqueante conhecido. “Nossa linha Vestagon B de agentes de cura para PU é formada por isocianatos bloqueados com caprolactama”, exemplificou Regiane Linares Colombo, da Evonik Degussa. Porém a companhia oferece a linha Vestagon BF, que não libera caprolactama para o ambiente, uma tendência de mercado. “É um pouco mais cara, mas isso é compensado pelas vantagens em segurança e saúde ocupacional”, avaliou. Além disso, há o Vestagon 5050, um agente de cura especial, ainda não divulgado no Brasil, que permite operar com temperatura mais baixa na estufa, proporcionando economia para o aplicador.
Zanin, da Perstorp, oferece aos clientes isocianatos alifáticos bloqueados com caprolactama. “Eles apresentam excelente desempenho em algumas aplicações e a liberação de caprolactama é muito pequena, não constituindo um problema”, considerou.
A Evonik também oferece a linha Vestanat B (base solvente) e a Vestanat DS (base água) de poliisocianatos bloqueados para uso como monocomponente. Também estão disponíveis os poliésteres e copoliésteres (Dynapol e Dynacoll) de alto peso molecular para compor sistemas poliuretânicos de alto desempenho. A linha Vesticoat UB, por exemplo, entrega a mistura pronta de poliéster e isocianatos (Vestanat) para os clientes. Alex Fabretti reconhece que a companhia teria novas oportunidades de negócios no país se contasse com uma unidade local para fazer blendagens de isocianatos e sistemas. “Nós oferecemos todo o apoio técnico e até fórmulas prontas para nossos clientes, além de estoque local capaz de garantir o suprimento”, afirmou.
A Evonik Degussa conta com aditivos para poliuretanos, uma das especialidades mundiais da companhia. Embora seja mais voltada para a produção de espumas, a área de tintas conta com os catalisadores organometálicos (Kosmos) e amínicos (Tegamin), todos importados das fábricas do grupo na Alemanha, EUA e China, com apoio de um centro técnico local.
O Kosmos tem por base o dibutil-laurato de estanho (DBTL) e é muito usado no setor de tintas. “Esse aditivo é um catalisador de pele, não influi na reticulação da uretana”, explicou Roberto Vagner Luiz, gerente da área de poliuretano e de aditivos para PU da companhia. Sua ação está ligada às características superficiais da película.

A presença de estanho começa a preocupar os mercados mais sensíveis, como o europeu. “A Europa já dá sinais de que pretende deixar de usar o estanho e seus compostos”, afirmou Roberto Luiz. A Evonik propõe como alternativa o uso de dimetiletanolaminas (DMEA) e/ou dietanolaminas (DEOA) da linha Tegamin. Como explicou o gerente, trata-se de aminas terciárias que evitam problemas na secagem dos revestimentos, especialmente em tintas de manutenção industrial e de revestimento de pisos. “Os fabricantes de tintas fazem segredo de quanto e quais desses aditivos são aplicados nas formulações”, disse o especialista.
Polióis verdes – O uso de óleos vegetais e seus derivados como ingredientes para sistemas de PU começou na produção de espumas, mas logo encontrou aplicações em tintas, setor que usa esses materiais desde as primeiras linhas alquídicas. “A estratégia da Dow vai além do simples uso do óleo de soja para obter um ou dois polióis naturais que não superam o desempenho alcançado com óleo de mamona”, afirmou Enrique Milan, gerente de marketing de poliuretano da Dow para a América Latina. A companhia parte do óleo de soja, separa seus ácidos graxos e ou funcionaliza, criando uma gama de monômeros novos no setor de polióis. “A mistura entre eles e os tradicionais nos permite criar polióis sob medida para cada aplicação, com grande vantagem técnica e de conteúdo renovável”, salientou.
Usando a tecnologia própria chamada Renuva, a companhia pode fazer o mesmo com qualquer óleo vegetal, tendo preferido iniciar trabalhos com a soja pela farta disponibilidade. “Cada óleo tem ácidos graxos de comprimento de cadeia e grau de insaturação diferentes, que permitirão, no futuro, mais variações”, comentou Rodolfo Bayona. A glicerina separada desses óleos é usada pela Dow na produção de epicloridrina (cadeia do epóxi).
A companhia vai apresentar duas palestras sobre o uso de polióis de origem renovável durante a Abrafati 2009, uma das quais sobre composições poliuretânicas com propriedades de autorreparação (self healing). “Alguns polímeros ficam encapsulados na tinta automotiva, por exemplo, e quando acontece um risco, eles são liberados e consertam a pintura sem nenhum auxílio externo”, explicou. Esses poliuretanos são feitos com polióis naturais de cadeia longa, capazes de recuperar facilmente a forma inicial.
Bayona salientou que, atualmente, os polióis naturais têm preços equivalentes aos dos sintéticos. Eles ainda estão sendo feitos apenas nos Estados Unidos e em baixo volume. “Estamos nos preparando para construir uma unidade de escala mundial que poderá ficar nos EUA, na América Latina ou na Ásia”, disse Bayona.