Produtos Cosméticos “sem Química”
Texto: Alberto Keidi Kurebayashi
O segmento de cuidados pessoais é um dos mercados mais ágeis, inovadores, conceituais, polêmicos e criativos, enfim, caberiam aqui muitos outros adjetivos, mas gostaríamos de abordar um tema que, se não devidamente conceituado, pode gerar muitos ruídos negativos.
Não é preciso muito esforço para encontrarmos produtos ou serviços de personal care com um destaque na frase: “não contém química”. A primeira impressão e mensagem que o consumidor entende é de que química é sinônimo de ruim, inseguro e agressivo.
Química é vida, a química está em nós, em todos os lugares, sem química não haveria vida. Um simples exemplo pode ilustrar a importância da química e justificar que ela faz parte do nosso dia a dia: água, nada mais é do que a junção de elementos químicos, a molécula da água é composta por um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio, nosso conhecido H2O.
Este claim erroneamente utilizado em produtos finais, em processos de transformação em cabelos (“alisamento para seus cabelos sem química”) tem se tornado muito frequente, sendo aplicado para valorizar produtos que, teoricamente, são isentos de química e mais seguros, o que já vimos tratar-se de uma tarefa impossível, exceto se o produto for unicamente o calor, irradiação, luz, magnetismo em pote, assim teríamos um produto sem química.
Todos os produtos cosméticos contêm a ciência da química e isso é seguro, pois em uma formulação desenvolvida por empresas e profissionais capacitados e éticos, os produtos finais serão seguros, eficazes, com efeitos perceptíveis, sensorial agradável e com ingredientes quimicamente balanceados.
Não é raro encontrar na lista de componentes de um produto cosmético o ingrediente hidróxido de sódio, mais conhecido como soda cáustica. Imagine a reação de um consumidor ao ler que o seu produto contém soda cáustica, em um gel de cabelo, em uma loção corporal, em um fotoprotetor! O que devemos entender é que realmente a soda cáustica está presente na formulação, porém em dosagem adequada, em pH balanceado, em neutralização controlada de tal modo que seus conhecidos efeitos agressivos ficam longe de serem sequer lembrados, pois numa formulação quimicamente balanceada, todos os ingredientes e elementos da formulação estão combinados e harmonizados, resultando em um produto seguro e eficaz para a função a qual foi destinado.
Abrindo um pequeno parêntesis, existe uma lista de benefícios explorados que merece ser discutida à luz do conhecimento, pois o grande prejudicado neste cenário é o consumidor final que muitas vezes acaba levando “gato por lebre” confiando na propaganda.
Tomemos como exemplo os termos: Produto Natural, Vegano, Green ou Orgânico, eles são melhores que os produtos que fazem uso de ingredientes químicos? Lembrando que cada uma desta denominação tem diferentes conceitos.
À primeira vista parece que o Natural é mais suave e seguro, mesmo que possa dar um menor efeito em um determinado produto, mas vejamos somente um exemplo: fragrância. Podemos encontrar alguns produtos com a diretriz de serem formulados com fragrâncias naturais, inclusive o odor do produto é doado pelo uso de óleos essenciais naturais e não sintéticos; pois bem, estes óleos essenciais muitas vezes carreiam elementos em sua extração que podem ter propriedades fototóxicas, fotossensibilizantes, alergênicas, irritantes etc. Um óleo essencial pode ser 100% natural, mas pode apresentar uma fixação baixa, sem explosão de notas olfativas, oxidar-se rapidamente, propriedades que devem ser levadas em conta se o consumidor aceitará esta performance no produto final.
Nem sempre o óleo essencial natural é o mais seguro, em contrapartida uma fragrância formulada pelas casas de perfumaria segue um protocolo rígido, com um grande controle de ingredientes. Sabemos que muitas composições aromáticas possuem dezenas e até centenas de compostos para “arredondar” uma nota olfativa, razão pela qual o controle de todos os insumos se faz necessário, sendo obrigatória a abertura de compostos indicando a presença e concentração de possíveis ingredientes listados como alergênicos.
Não estamos aqui sendo categóricos em afirmar que uma fragrância desenvolvida por uma casa de perfumaria é mais segura que um óleo essencial, cada uma tem suas particularidades, benefícios e aplicações. O tema é polêmico e somente com discussões sob diversos pontos de vistas acabaremos esclarecendo dúvidas e quem mais se beneficiará são os consumidores. Voltaremos a abordar este tema em uma oportunidade futura.

Finalizando, apesar de ter sofrido com as pesadas cargas disciplinares que tive em minha graduação Farmácia-Bioquímica, com matérias como Química Orgânica, Inorgânica, Experimental, Qualitativa, Quantitativa, além de Físico-Química, Bioquímica etc , entendo a importância fundamental desta ciência em nosso dia a dia. A química faz parte dos produtos cosméticos, a química é essencial, química é vida.
Alberto Keidi Kurebayashi é Farmacêutico-Bioquímico pela USP, na especialidade Fármaco-Medicamentos, diretor da Protocolo Consultoria em Dermocosmética, tem 27 anos de experiência na indústria de produtos cosméticos e farmacêuticos, com ênfase em produtos dermocosméticos como formulador e especialista em transferência de tecnologia, inovação e ciência. É conselheiro da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC). Contato: [email protected]
Provavelmente o sabonete que você comprou não foi curado corretamente, ou seja, a mistura óleo vegetal e soda cáustica não virou SABÃO, que é o resultado equilibrado desses dois componentes.
Espero que não tenha continuado usando heheh
Olá, tudo bem, me chamo Allane e vim até seu site em busca de informações acerca de um produto usado em um certo sabonete que eu comprei, mas notei que a minha ignorância e meu preconceito me tornaram uma pessoa contra produtos “químicos”, obrigada pelo esclarecimento. Mas o assunto é outro, senhor, e que não posso tratar com mais ninguém, pois ninguém tem as informações que eu quero, o senhor tem. Por isso, venho lhe fazer um pedido, preciso que o senhor me responda algumas questões. Pois bem, vamos lá finalmente, há uns dias atrás entrei em uma loja e vi uns sabonetes, e que tinham como principal base, o óleo de coco (é um produto local do estado do Maranhão, por isso, não posso lhe informar com precisão a imprensa que fabrica o produto). Somente hoje resolvi testar o sabonete, e ao usar o produto senti minha pele enrijecer e minha boca queimar, muitoooo, logo após (ainda com o sabonete no rosto), abri os olhos e ardeu, muito mesmo. Desconfiada, olhei a composição do produto e vi que tinha um ingrediente, hidróxido de sódio, fui pesquisar, e sim, a reação foi de muito susto. Depois dessa longa narração, a pergunta que tenho a fazer ao senhor é que, baseado nos fatos narrados, o senhor aconselha que eu continue usando esse produto?
Atenciosamente Allane