A mudança radical de paradigma a ponto de forjar uma nova mentalidade empresarial e, em um período de curto prazo, nivelar os processos de distribuição de produtos químicos aos padrões similares internacionais são os resultados mais relevantes da implantação do Processo de Distribuição Responsável (Prodir), aproximadamente cinco anos após o estabelecimento desse novo sistema por iniciativa da Associação Brasileira de Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos (Associquim).
O Prodir exige um empenho sistemático das distribuidoras para que atuem conferindo o mesmo grau de importância aos aspectos de segurança, saúde, qualidade e meio ambiente.
A cada reunião anual do comitê executivo do Conselho Internacional das Associações do Comércio Químico (ICCTA – International Council Chemical of Trade Associations), foram sendo apresentados os resultados sobre o andamento gradual do Prodir.
“Até o ponto em que o processo de distribuição que estava sendo desenvolvido foi equiparado aos padrões internacionais em todos os seus aspectos sobre qualidade, saúde, ambiente e segurança” , disse o presidente da Associquim, Rubens Medrano, que compõe o comitê executivo do ICCTA.
A BSI Management Systems – uma das certificadoras credenciadas pela Associquim para auditar independentemente seu programa de distribuição responsável – frisa esse reconhecimento do programa, revelando o aumento anual gradativo de contratos fechados imediatamente a partir do lançamento do Prodir: de cinco, em 2005, para 23 contratos, em 2007.
Esse reconhecimento institucional e do mercado ajudou a superar praticamente todos os obstáculos à implantação do Prodir.
Como é previsível na maioria dos processos de transformação de métodos, a ruptura com os antigos procedimentos envolveu a superação de uma série de entraves práticos e conceituais em suas primeiras etapas.
Um dos desafios envolveu questionamentos sobre o impacto do aporte de investimentos na nova proposta de distribuição responsável, em relação ao objetivo de crescimento das empresas por meio do lucro.
O esclarecimento exigiu um detalhado e amplo trabalho de conscientização na base associada da Associquim, como explicou a engenheira Glória Benazzi, responsável pelas áreas de ambiente e logística da Associquim.
Glória: associados foram convencidos pelo lucro
“No final, os empresários receberam satisfatoriamente o argumento de que o Prodir significa a garantia de lucratividade em longo prazo com riscos reduzidos e, portanto, da estabilidade e competitividade da empresa no mercado”, disse a assessora da entidade.
Prova dessa adesão é que, em sua maioria, os empresários do ramo de distribuição filiados à Associquim realizaram os 18 meses de treinamento para obter a certificação.
A partir do estabelecimento do Prodir, de2001 a2007, 73 das 103 empresas associadas à entidade obtiveram a certificação. No máximo, dentro de dois anos, a Associquim espera que o total do quadro de suas empresas esteja operando dentro das normas do programa.
Ao se certificarem, as empresas acatam uma nova linha de planejamento intrínseca ao Prodir.
Esse novo norte no planejamento orienta que o crescimento e a perenidade das indústrias da cadeia química em cenários futuros dependem fundamentalmente da incorporação das regras da responsabilidade social e sustentabilidade na organização,
“A preservação ambiental atrelada a um programa de gestão socialmente responsável são duas variáveis que, inter-relacionadas no mesmo peso e medida com as metas de lucro, podem aumentar consideravelmente as expectativas de desempenho e sobrevivência da empresa”, explicou a assessora da Associquim.
Medrano: Prodir se equiparou aos padrões internacionais
A aplicação desses princípios da empresa sustentável e socialmente responsável em seu planejamento executivo, afinal, resultam em benefícios como a valorização de sua imagem institucional e marca – reforços que contribuem decisivamente para a estabilidade da empresa, assegurando a sua longevidade.
Revolução cultural química – Na realidade, o Prodir se transformou em um dos componentes da verdadeira revolução cultural na cadeia produtiva do parque químico industrial brasileiro, deflagrada nos últimos anos por uma série de acontecimentos.
Dos avanços tecnológicos que trouxeram a alta velocidade do fluxo de informações aos processos produtivos automatizados e padronizados, essas transformações configuraram os novos instrumentos e ferramentas dessa revolução.
O impacto tecnológico associado ao esvaziamento do Estado, à desregulamentação e privatização das atividades públicas resultaram na concessão de mais poder para a empresa privada no que ela gera e no que lhe é destinado.
Na mesma proporção desse aumento de poder, a empresa teve de assumir outras responsabilidades, estendendo suas preocupações para outras necessidades, quando decide aplicar normas e modelos sociais de gerenciamento estratégico.
Nesse contexto, o diretor de qualidade da Makeni Chemicals, Sérgio Tellini, diz que a empresa – há 26 anos ofertando serviços de armazenamento, transporte e logística de produtos químicos – foi uma das primeiras a obter certificação do Prodir.
Tellini: visão social levou a apoiar comunidade com revitalização de favela
“Esse processo acrescentou diferenciais e vantagens mercadológicas antes impensáveis em nossos serviços. Depois da implementação do Prodir registramos um aumento de segurança nas operações, mais garantia para o produtor e aumento da confiança do cliente, além de melhores condições de negociações com fornecedores”, disse Tellini.
Para atingir esses dividendos, que significam qualidade final, foram necessários aproximadamente cinco anos de esforço constante, com a aplicação de 13.505 horas de treinamento do pessoal, em conformidade com os códigos e práticas do programa, tais como gerenciamento de risco, atendimento a legislações e normas, sistemática de seleção de transportadores, manuseio e armazenagem, gerenciamento de resíduos, atendimento de emergências, gerenciamento do produto e integração com a comunidade.
Na área logística, a qualificação e o monitoramento da frota a serviço da Makeni proporcionaram a redução a zero (0,69%) de todas as não-conformidades encontradas; e a zero absoluto o número de acidentes, devido à aplicação das normas de gerenciamento de risco.
“Antes, a negociação era feita sobre o valor do frete. Agora, são colocadas na mesa as condições de qualidade do transporte”, disse o diretor de qualidade da Makeni.
“Mais do que uma mudança de procedimentos pode-se afirmar que o Prodir induz também a uma alteração da própria mentalidade empresarial no setor, ampliando a visão do negócio com atenção específica para todos os seus públicos, com benefícios para todos”, constatou o diretor da empresa.
Benefícios chegaram às transportadoras
Os instrumentos para o trabalho de distribuição da Makeni Chemicals ao iniciar suas atividades se limitavam a dois caminhões – o velho Mercedes- Benz cara-chata 1960 e um Alfa Romeo FNM 1974.
Um dos caminhões era dirigido por Mário Natal Milani, que se limitava a tomar as precauções rudimentares disponíveis na época, determinadas pelos pré-requisitos do MOPP, Manipulação e Operação de Produtos Perigosos.
Pouco mais de duas décadas e meia, o motorista Milani atualmente dirige a Transmilani, que dispõe de uma frota de 23 veículos a serviço da Makeni.
Com a diferença de que agora os caminhões são pilotados por profissionais com procedimentos de trabalho aprimorados consideravelmente nesse meio tempo.
Com o boom da indústria química e a incidência de acidentes devastadores sobre o ambiente na década de 1980, iniciou-se a padronização internacional do processo seguro de distribuição de produtos químicos.
No Brasil, a modernização culminou no Prodir no final da década de 90.
Da equipe da Transmilani, o motorista Adilson Moeller é um profissional com diferenciais em relação à média de sua categoria, exatamente porque tem que se concentrar numa série de cuidados antes de empreender cada missão.
Não fumar, usar álcool ou qualquer espécie de droga para permanecer acordado (rebite) é básico.
A utilização do equipamento de proteção individual (EPIs) – macacão, capacete e luvas – na manipulação dos produtos durante o carregamento e descarregamento também faz parte dos seus procedimentos habituais.
“A lavagem, vaporização e descarte de EPIs contaminados nos locais credenciados pela Cetesb não podem ser negligenciados”, diz o motorista.
Além dos cuidados com a segurança em seu trabalho, Moeller freqüentou cursos de primeiros-socorros, doenças sexualmente transmissíveis (DST/Aids) e, periodicamente, faz treinamentos de atendimento a problemas ambientais em caso de acidente.
A primeira providência de Moeller antes de empreender um trabalho de distribuição é tomar conhecimento dos produtos que irá transportar, por meio de uma ficha de identificação.
Depois estudar o rotograma do trajeto que será percorrido.
Nesse rotograma do itinerário estão assinalados todos os pontos de apoio e alerta para o motorista – tais como postos de abastecimento e áreas de risco (buracos, pontos com indicadores de acidentes elevados e pistas escorregadias).
O rotograma também identifica para o motorista a localização dos equipamentos de saúde para atendimento de emergência, postos policiais, do Corpo de Bombeiros e das unidades do SOS Cotec – que atua no controle imediato no controle dos danos ambientais.
“Em caso de acidente temos condições de saber o local exato em que nos encontramos e onde buscar socorro”, explica o motorista.
Moeller também é responsável pela manutenção preventiva do veículo. Antes de cada carregamento e após a entrega, ele realiza um check-list de 58 itens no veículo: do aperto dos parafusos das rodas até a verificação dos lacres e válvulas: “O caminhão não sai vazando de forma alguma.”
A racionalização de todas as etapas do elo da distribuição na cadeia da indústria química estabelecida pelo Prodir, como pode ser constatado, é determinante para a redução dos riscos patrimoniais, de acidentes de trabalho e ambientais.
Moeller: responsabilidade no volante do caminhão
“A pontualidade no cumprimento dos prazos de entrega é, finalmente, o benefício que mais interessa ao cliente e garante a credibilidade da empresa”, conclui Moeller.
Tellini conta que aprendeu com o Prodir a responsabilidade social, que na visão do empresário deve implicar observação do princípio ético de acordo com um modelo gerencial, considerando as diferentes necessidades e opiniões dos públicos diretamente envolvidos ou na esfera de influência da empresa, desde funcionários e fornecedores até instituições governamentais, acionistas e a comunidade.
Esse conceito fundamentou a relação que a Makeni conseguiu estabelecer com os moradores sob a sua área de influência.
Tudo começou porque um dos diretores da empresa, Ricardo Medrano, sentiase incomodado com o lixo acumulado em pilhas de até três ou quatro metros na avenida Juscelino Kubitscheck, em Diadema-SP, onde funciona a empresa.
Medrano e empresários vizinhos decidiram agir em conjunto com o poder público municipal para encaminhar uma solução para o problema.
Dessa intervenção, surgiu a idéia de um programa de revitalização da avenida, apoiado por ações de inclusão social dos 30 mil moradores da antiga Favela da Coca, em frente às instalações da Makeni.
Nasceu assim o Projeto Vida Limpa.
Fixadas as prioridades, formalizou- se um protocolo de intenções em que os empresários se comprometeram a bancar os custos do projeto, enquanto a Prefeitura se encarregava da operação executiva e a população local se responsabilizava pela manutenção do trabalho iniciado.
Resultado: o projeto alterou a face do lugar.
A favela foi urbanizada e transformou-se no bairro Vila Nova Conquista, com os barracos de madeira transformados em casas de alvenaria, as vielas em ruas calçadas com iluminação pública, saneamento básico, educação e atendimento de saúde para os moradores do local.
“Lançamos um trabalho de coleta seletiva e reciclagem de resíduos, projetos de capacitação de mão-de-obra, campanhas de educação ambiental. Essas ações tiveram reflexo sobre a incidência de violência, que diminuiu a olhos vistos”, avalia o diretor da Makeni.
Inclusão ambiental e digital – Com sua base principal de operações instalada na estrada turística que contorna o sopé do Pico do Jaraguá, o Grupo Gafor especializou-se em transporte e logística.
Por isso, quando a empresa se comprometeu em participar da capacitação para o Prodir, foi relativamente evidente decidir que sua contribuição para melhorar a qualidade de vida da comunidade local teria como alvo as questões ambientais.
O gerente Luiz Carlos Silva disse que, além de sustentar o manejo da floresta que circunda imediatamente as instalações da Gafor, a empresa também oferece aos domingos um serviço de educação ambiental para os visitantes do Pico do Jaraguá.
Silva: Gafor apóia projeto de reflorestamento no Pico do Jaraguá
“Estimulamos a coleta seletiva de lixo dos moradores da região. Também procuramos, dentro do possível, o controle da emissão de outros resíduos, para minimizar os impactos ambientais nessa área de preservação.” Projeto que exemplifica a mudança de comportamento proporcionada pelo Prodir entre os distribuidores.
Responsabilidade se alastra no setor
No mês de julho de2008, aDow Chemical deverá anunciar a lista de seus distribuidores, fornecedores de transporte e armazenagem escolhidas para ser homenageadas na 7ª edição do Prêmio DowGOL.
Nessa sigla que dá o sentido da premiação, a letra G significa guiando; O, observando; e L, liderando, para expressar o reconhecimento da Dow às empresas empenhadas em aperfeiçoar constantemente seus recursos humanos, equipamentos, condições de transporte e instalações.
Em 2007, o concurso teve a participação de mais de 40 empresas do segmento logístico, que não registraram nenhuma ocorrência de acidentes durante os 12 meses que antecederam a entrega do prêmio.
Guimarães: Dow premia melhores fornecedores
O gerente de distribuição de produtos químicos da Dow, Márcio Guimarães, disse que o Prêmio DowGol é uma forma de “reconhecer a competência das distribuidoras, que se articulam como um braço comercial no atendimento aos clientes.”
Guimarães informou que, para concorrer, as distribuidoras têm necessariamente que adotar o Prodir da Associquim e, no caso das produtoras, o Programa de Atuação Responsável da Associação Brasileira das Indústrias Químicas (Abiquim).
As transportadoras precisam ser certificadas pelo Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade (Sassmaq), da Abiquim, e participar do programa Olho Vivo na Estrada, uma iniciativa conjunta da Abiquim, SEST/ SENAT e Abiclor.
Katoen reabre ferrovia – Como alternativa de baixa impacto ambiental e custos econômicos de transporte, a empresa belga Katoen Natie firmou uma parceria com a América Latina Logística (ALL) para transportar 110 contêineres diariamente pela linha ferroviária da ALL entre a base de operações da empresa belga em Paulínia-SP e o Porto de Santos.
Eduardo Leonel, diretor comercial da Katoen Natie, calculou que uma locomotiva com capacidade para puxar 40 contêineres substitui 5 mil caminhões diariamente pelas estradas paulistas e vias internas da Capital.
Leonel inaugurou central intermodal de distribuição
“Também há conseqüentemente uma redução do impacto de poluentes e a redução dos riscos de acidente”, deduz Leonel.
O gerente comercial Michel Gelders reforçou que o transporte dos produtos por via férrea “é mais seguro, inteligente e sustentável” – coerente com a política de segurança, saúde e meio ambiente da Katoen Natie.
Segundo ele, a empresa tem como norma mapear o processo de distribuição, por meio de levantamentos preliminares dos perigos, danos e impactos ambientais na análise de risco das tarefas.
A par de sua atuação do mercado logístico, a Katoen Natie desenvolve projetos de responsabilidade social e ambiental, com iniciativas de apoio financeiro ou operacional a creches, campanhas de doação de alimentos e de roupas.
Seus diretores informam que a empresa tem compromisso com os projetos de conservação do meio ambiente na região. Imediatamente após sua instalação, a Katoen foi uma das primeiras empresas a aderir ao Programa Lixo Zero, lançado pela Prefeitura de Paulínia em 1993, para tratamento adequado dos resíduos urbanos e industriais da cidade, que após sua reciclagem são comercializados por cooperativas populares de baixa renda.