Pigmentos: São Paulo ganha nova unidade de ferro-cromo

Aos 72 anos, 50 dos quais de atividade profissional, o irrequieto químico Miguel Roberto Pereira Nunes anuncia a volta à produção de pigmentos cerâmicos, agora em nova fábrica, situada no distrito industrial de Cotia-SP.
Dessa vez, Nunes desenvolveu um caminho oxidativo para aproveitar um produto siderúrgico, de modo a obter pigmento preto de ferro-cromo resistente a altas temperaturas.
O método não produz resíduos danosos ao meio ambiente.
A produção anterior era feita próxima da rodovia Raposo Tavares, no mesmo município.
De área deserta, quando da implantação, o entorno tornou-se densamente povoado, o que motivou uma série de desavenças com vizinhos, que acabaram desembocando na Cetesb.
“Embora sempre tivéssemos adotado métodos não-poluentes, fomos obrigados a descontinuar a operação em agosto de 1999”, comentou Nunes.
Depois de transferir a fábrica para perto de outras indústrias, ele optou por outro tipo de produto. “Não dá para ficar na mesmice, é preciso oferecer algum diferencial”, afirmou.
Já estabelecido o método de produção, Nunes enviou amostras para vários clientes em potencial, e está iniciando os primeiros negócios.
“Tenho como fazer umas 30 t/mês, para um mercado total no Brasil de 100 t/mês”, afirmou. Ele adianta que fará apenas pigmentos pretos.
“Quem quiser que os misture com zinco, níquel ou outra coisa para fazer cores diversas”, comentou. A opção é justificada pelo alto custo de inventário para produzir colorações variadas, algumas das quais são pouco demandadas.
O currículo de Nunes começa com a graduação na Universidade Federal do Paraná, onde foi aluno, entre outros, do professor Nilton Bührer.
Recém-formado, trabalhou em usinas de açúcar e álcool, desenvolvendo métodos mais produtivos, antes de iniciar um dos cursos pioneiros de refinação de petróleo, conduzido por Carlos Eduardo Paes Barreto na recém-construída Refinaria de Mataripe-BA, então operada pelo Conselho Nacional de Petróleo.
Desenvolveu estudos para a definição do plano nacional de aproveitamento do carvão do Sul do Brasil. Mais tarde prestou consultoria para a Dorr Oliver no Brasil, em sistemas de separação industrial.
Tornou-se empresário, como atividade paralela, na década de 1960, produzindo resina fenólica modificada a partir de óleo de caju.
Prestou consultoria também para a área de resinas da General Eletric. Nesse ínterim, identificou a carência de mercado por óxido de cromo para a fabricação de lonas de freio para caminhões, feita pela Lonaflex.
Confirmando o preço elevado de importação e os volumes registrados na Cacex, Nunes iniciou produção a partir do bicromato de potássio.
Quando conseguiu um pedido grande da Fras-Le, verificou que não teria capacidade física para atendê-lo, o que conseguiu fazer usando a via do ácido crômico, em 1976.
Essa produção foi mantida até 1993, substituída por um processo de bateladas que operou até 1999.
No período passou por situações curiosas, como a abertura comercial desordenada feita por Collor de Mello, que tornou a matéria-prima mais cara que o pigmento pronto.
Com a nova produção, Nunes pretende abastecer o mercado de produtos cerâmicos, segmento bastante afetado pela recessão econômica.
“A atividade já se deslocou do interior de São Paulo, onde restam poucas indústrias, para Santa Catarina”, comentou.
Sua intenção é oferecer pigmento de boa qualidade, com alto poder tintorial e resistência à queima, aliado a preço competitivo.
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