Opólo petroquímico de São Paulo, encabeçado pela central Petroquímica União (PqU), foi pego no meio de suas obras de ampliação pelo terremoto institucional do dia 30 de novembro. Longe de constituir uma tragédia, o abalo das estruturas societárias das principais empresas do ramo no País deverá impulsionar o crescimento futuro da atividade, agora livre das amarras das participações acionárias cruzadas.
Negociações paralelas, com desfecho simultâneo no último dia de novembro, estabeleceram o duopólio como modelo para a petroquímica nacional. De um lado, a gigante Braskem, dona dos pólos de Camaçari-BA (com as unidades de vinílicos de Alagoas) e Triunfo-RS, além da futura fábrica de polipropileno a gás de refinaria em construção em Paulínia-SP, perfazendo a capacidade atual de 3,25 milhões de toneladas por ano de resinas termoplásticas. De outro, uma nova companhia capitaneada pelo grupo Unipar, ainda sem nome definitivo, mas costumeiramente conhecida por Cia. Petroquímica do Sudeste (CPS), com capacidade produtiva de poliolefinas de 1,9 milhão de toneladas em 2008 (depois da ampliação do pólo paulista). A CPS unirá ativos da Unipar com os da Petrobrás em São Paulo e Rio de Janeiro, incluindo os recentemente adquiridos da Suzano Petroquímica, com destaque para a RioPol – e suas 500 mil t/ano de polietilenos – e para as linhas de polipropileno no Rio, São Paulo e Bahia.
Um terceiro movimento simultâneo foi a finalização do processo de compra da Suzano Petroquímica pela Petrobrás, com um pequeno desconto em relação ao preço original de US$ 2,7 bilhões. Assinados os protocolos, o setor terá a estatal do petróleo participando, como minoritária relevante, dos dois players. Na Braskem, a estatal e sua subsidiária Petroquisa aportaram ativos sinérgicos no pólo gaúcho (37,3% da antiga Copesul, 40% da Ipiranga Química e da Ipiranga Petroquímica, mais uma opção da totalidade da Petroquímica Triunfo, após resolver conflitos com acionistas minoritários) e também 40% na Petroquímica Paulínia. Com isso, a petroleira elevou a sua participação acionária de 6,8% no capital total (8,1% no votante) para 25% (30% dos votos).
O acordo com a Unipar deu à estatal participação maior: 40% do total da nova companhia. Em ambas, a Petrobrás terá assentos nas diretorias e nos conselhos de administração das duas concorrentes, em número proporcional à força do capital, que lhe permitirá participar das decisões mais importantes do setor.
Ampliação em curso – Quem trafega pela avenida Presidente Costa e Silva,em Santo André-SP, pode ver o progresso das obras de ampliação da Petroquímica União e, ainda com mais destaque, da nova fábrica de resinas da Polietilenos União (da Unipar, a ser transferida para a companhia em formação) para 230 mil t/ano de PEAD e PELBD. Mais discreto é o processo de aglutinação de interesses no pólo paulista.
Em agosto, por exemplo, a Unipar completou um ciclo de negócios fundamental para as suas pretensões. Comprou a participação na PqU pertencente à Sociedade dos Empregados da Petroquímica (SPE) e também as ações da central em poder da Dow, ambas decorrentes do processo de privatização empreendido nos anos 1990. Além disso, adquiriu a fábrica da Dow (ex-Union Carbide) em Cubatão-SP, a pioneira no Brasil em polietileno de baixa densidade (convencional, por alta pressão).
A compra da Suzano Petroquímica deu à Petrobrás o domínio sobre o polipropileno paulista, abastecido com propeno da PqU e também com gás de refinaria. A união dos dois mais importantes negócios do setor na região estava, portanto, sendo desenhada, com desfecho no dia 30 de novembro.
“O pólo paulista está recuperando o atraso de vinte anos sem investimentos”, afirmou Rubens Approbato Machado Jr., diretor-superintendente da Petroquímica União. O pólo foi preterido para receber ampliações durante os governos militares, em favor da descentralização da atividade petroquímica e do desenvolvimento nacional, doutrina que justificou a montagem dos pólos baiano e gaúcho, hoje comandados pela Braskem. “Durante muitos anos, os órgãos ambientais foram proibidos de analisar projetos petroquímicos em São Paulo”, explicou.
A lógica econômica determina que esse tipo de indústria deve se instalar perto de fontes de matérias-primas ou do mercado de consumo. A Região Sudeste, salienta Machado, atende aos dois requisitos. “Estamos junto dos dois maiores centros de consumo da América Latina, temos as maiores refinarias do País e, com as novas descobertas da Petrobrás, também ficamos ao lado de grandes jazidas de óleo e gás natural”, salientou.
Entretanto, ele mesmo admite que a luta contra o tempo perdido é árdua. Os problemas se acumulam, não só do lado de dentro dos muros das indústrias. “Os investimentos em infra-estrutura, como transportes e energia, só recentemente começaram a sair do papel”, lamentou. Apesar disso, com base nos dados da Abiquim, a região do pólo paulista sedia quase 30% de todos os investimentos da cadeia química no Brasil.
Fato auspicioso para a atividade foi a recente redução da alíquota de ICMS no Estado de São Paulo, caindo de 18% para 12%, sendo aplicada sobre a agregação de valor em cada um dos elos da cadeia. “Isso representou a equiparação com outros Estados produtores, um antigo pleito do setor”, avaliou. O benefício fica mais evidente na ponta da cadeia, junto aos transformadores de plásticos.