Petroquímica – Apagão derruba o polo de Camaçari

Uma falha atribuída pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ao sistema de transmissão da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) provocou um apagão em sete estados do Nordeste, prejudicando mais de 13,5 milhões de clientes de energia. A Bahia foi o estado mais severamente atingido pelo corte de eletricidade, iniciado às 23h30 (hora local) do dia 3 de fevereiro, com o suprimento de energia totalmente restabelecido às 4h30 do dia seguinte, uma sexta-feira.

O apagão teve reflexos severos no polo petroquímico de Camaçari-BA, que reúne aproximadamente trinta empresas da atividade, construídas com grande interdependência operacional em matérias-primas e utilidades. Enquanto as indústrias de outros ramos instaladas na mesma região, como a montadora Ford e seus sistemistas, reiniciaram a produção quase imediatamente com a volta da eletricidade, as petroquímicas só recomeçaram a funcionar no dia 13. Mas, a volta da produção ao ritmo anterior ao apagão só aconteceu depois do dia 15.

“A parada não-programada se prolongou pelo fato de os fornos de nafta terem sofrido coqueamento, exigindo uma operação de limpeza especial que demora pelo menos de 48 a 60 horas, dependendo da intensidade da ocorrência”, explicou Manoel Carnaúba, vice-presidente da Unidade de Produtos Básicos da Braskem. Ele explicou que o corte de eletricidade foi abrupto e de grande extensão, afetando também o bombeamento de gás natural.

A Braskem opera uma termelétrica própria em Camaçari, capaz de suprir a metade de toda a eletricidade que consome. Estivesse operando normalmente, seria possível reduzir muito o impacto do apagão. “Ao mesmo tempo em que foi identificada a queda da eletricidade, detectou-se um afundamento da pressão do gás natural. Tentou-se fazer a troca imediata para o sistema de queima de óleo combustível, mas não foi possível”, detalhou Carnaúba. Sem o gás natural, nem eletricidade, caiu a geração de vapor e utilidades. Isso alterou as condições de processamento dos fornos, que formaram coque nos tubos. “Quando voltamos a ter vapor, começamos imediatamente a descoquear os fornos e a limpar as linhas de produção para retomar a produção normal”, comentou.

Química e Derivados, Manoel Carnaúba, Braskem
Carnaúba: coqueamento exigiu limpeza especial dos fornos

O vice-presidente da UPB informou não ter havido nenhum dano aos equipamentos da Braskem, apenas o inconveniente de promover essa limpeza geral. A linha de craqueamento denominada Eteno 2 foi liberada para a produção após nove dias de serviço. A Eteno 1 demorou um pouco mais. Carnaúba explicou que o período necessário para ajustes de processo (que gera os chamados off specs) não passou de 36 horas. “A Eteno 2 voltou primeiro porque sofreu um grau menor de coqueamento”, informou.

Como é praxe na indústria petroquímica, bem como em outros setores igualmente críticos, como as refinarias de petróleo, está instalado um complexo sistema automático de proteção das instalações, programado para levar o processo a um nível seguro em casos similares a esse. A planta vai sendo desligada, começando pelos setores menos essenciais, para preservar o que for possível dos sistemas críticos e de segurança. Imediatamente é acionado um esquema de emergência no polo, com o bloqueio das vias de acesso para evitar acidentes e reduzir eventuais consequências.

No entanto, o funcionamento desse aparato não foi satisfatório, dada a duração da parada subsequente. “Montamos um grupo de trabalho para analisar a ocorrência, incluindo especialistas internacionais nesse tipo de situação”, informou Carnaúba. Esse grupo indicará a necessidade de promover ou não mudanças no sistema de parada segura e emergências da Braskem. “A coincidência de faltar eletricidade e gás natural simultaneamente é muito rara, só ocorreu uma vez nos quarenta anos do polo de Camaçari”, avaliou o vice-presidente.

Química e Derivados, Polo de Camaçari, Braskem
Sistema automático de proteção do polo não funcionou

Religar um complexo do porte da unidade da Braskem na Bahia, além de coordenar essa operação com as unidades a jusante, da própria companhia ou de terceiros, não é nada fácil, nem corriqueiro. “Alguns clientes relataram dificuldades para retomar a operação, mas foi tudo superado até o dia 15”, garantiu.

O prejuízo total dessa parada imprevista ainda não foi calculado. Só em eteno, a principal olefina do negócio, deixaram de ser produzidas duas mil t/dia até o religamento dos fornos. Também vice-presidente do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), entidade que agrega as quase cem indústrias situadas na cidade, Carnaúba apresenta uma estimativa de perda de faturamento do agregado empresarial: US$ 150 milhões.

Segundo Carnaúba, todas as associadas do Cofic já ingressaram com pedidos de indenização nas respectivas resseguradoras. “Isso não impede que cada uma das empresas prejudicadas acione judicialmente quem tenha gerado esse dano, um caso ainda não totalmente esclarecido”, informou.

A Braskem operava a plena carga antes do apagão, por conta do bom comportamento da demanda. Carnaúba calculou que não será possível recuperar o volume não produzido nessa quinzena pelo aumento da taxa de ocupação ao longo do resto do ano, que já está no máximo possível. Entre novembro e dezembro de 2010, as petroquímicas de Camaçari realizaram uma parada geral de manutenção e planejavam atravessar o ano rodando cheias. Para evitar o desabastecimento de resinas termoplásticas no Brasil, a Braskem remanejou a produção de alguns grades de polímeros para outras linhas de produção da companhia. “Além disso, sacrificamos o volume de exportação para manter abastecidos nossos clientes durante esse imprevisto”, afirmou.

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