Petroquímica: Acionistas aprovam criação da Braskem

Assembléia geral extraordinária de acionistas da Copene, realizada em 16 de agosto, aprovou a criação da Braskem por meio da integração do capital integral da Copene e da OPP Química S.A., com 36,2% do capital da Trikem, 29,5% da Copesul, 92,3% da Nitrocarbono e de 42% da Poliladen, constituindo a maior companhia petroquímica da América Latina. A formação da nova empresa decorre da aproximação dos grupos Odebrecht e Mariani, que já haviam se consorciado para adquirir o controle da Copene pela arrematação em leilão da posição antigamente detida pelo Banco Econômico, em fase de liquidação extrajudicial.

Química e Derivados: Petroquímica: Grubisich - empresa já está entre as 5 maiores do País.
Grubisich – empresa já está entre as 5 maiores do País.

A composição acionária inicial da Braskem tem por maior acionista o consórcio Odebrecht-Mariani, com 48% do capital total, seguindo pela Norquisa (12%), Petroquisa (11%), Previ (3%) e Petros (1%). Os 25% restantes do capital social se encontram pulverizados entre vários investidores, com negociação livre no mercado de valores. O consórcio controlador é liderado pela Odebrecht (44% do capital total da Braskem).

O acordo de acionistas firmado na assembléia confere à Petroquisa direito de opção para aumentar sua participação de forma a assumir posição paritária com os controladores. “A Petroquisa pode exercer essa opção até abril de 2005, no momento que entender propício”, explicou o presidente da Braskem José Carlos Grubisich, executivo com carreira desenvolvida na Rhodia e no grupo Rhône-Poulenc. A sua presença à frente do comitê executivo revela o interesse da companhia de manter gerência profissional, característica muito valorizada no mercado financeiro.

A partir de 2 de setembro, as ações da Copene negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo serão substituídas por outras, de emissão da Braskem. A companhia se enquadra imediatamente no nível 1 de governança corporativa da bolsa paulista, devendo se adequar em dois anos para o nível 2. No dia 19 do mesmo mês será feita a primeira cotação dos papéis da Braskem na Bolsa de Nova York, cuja denominação substituirá os ADRs emitidos pela Copene.

Os dados da nova companhia apresentados por Grubisich impressionam pela magnitude. “A Braskem nasce com faturamento líquido anual de R$ 7 bilhões, valor que a coloca entre as cinco maiores empresas brasileiras de capital privado”, afirmou o presidente. Ela responde por 35% de todos os insumos petroquímicos básicos produzidos na região do Cone Sul, além da metade do PVC, 36% do polipropileno e 30% dos polietilenos.

A companhia apresenta uma geração de caixa da ordem de R$ 1,5 bilhão por ano, incluindo receitas em moeda forte, originadas por exportações da ordem de US$ 380 milhões por ano, direcionadas para vários países, incluindo os Estados Unidos. “Constituímos uma empresa extremamente competitiva”, disse.

A consolidação de negócios permitirá aproveitar sinergias (industriais, comerciais, tributárias e administrativas) avaliadas no total de US$ 900 milhões, a serem obtidas em dez anos de operação. Além da óbvia reestruturação do quadro de funcionários, a integração permitirá elaborar programas de produção coordenados, alongando períodos de campanha, de modo a reduzir perdas por paradas e ajustes de processo. Também a logística para atendimento aos clientes será aprimorada. “Nosso mix de produtos será orientado para ampliar a rentabilidade da companhia, dado que temos grande flexibilidade nas plantas, em especial de polietilenos”, comentou. Para realizar essas sinergias, será preciso desembolsar R$ 48 milhões, em 115 projetos já definidos, contando desde já com executivos responsáveis.

A redução do quadro funcional está em estudos. “Só demitiremos profissionais no caso de duplicidade de funções”, explicou Grubisich. A companhia já negociou com todos os sindicatos envolvidos no Estado da Bahia, e firmou compromisso pelo qual oferecerá meio salário atual por cada ano de serviço prestado pelo demitido, que também contará com um ano de assistência médica extensiva à família, seis meses de seguro de vida, assessoria de empresa especializada em recolocação no mercado de trabalho e R$ 700 para participar de eventuais programas de requalificação.

Passivo elevado – A magnitude do empreendimento também se verifica do outro lado do balanço, na coluna dos passivos. Com base nos balanços das companhias aprovados em maio de 2002, os últimos auditados e publicados, pois as empresas entraram em processo de aglutinação, os ativos totais somam R$ 12 bilhões. O passivo global correspondia a R$ 8,7 bilhões, dos quais R$ 5,7 bilhões se referiam a financiamentos. Segundo Grubisich, 32% das dívidas foram contraídas em reais, e 68% em moeda forte (dólares ou euros). Da dívida em moeda estrangeira, 45% estão ligados a trade financing, tem por base a venda de produtos, contando com securitzação adequada. Outros 55% se referem a contratos financeiros. Boa parte está garantida por hedge cambial contratado em abril (antes da desvalorização do real) em volume suficiente para doze meses. Outra parte é suportada pelo fluxo financeiro do empreendimento, contando com proteção natural do setor que consiste em praticar preços dolarizados mesmo nas operações feitas no mercado interno. “Podemos resistir às oscilações cambiais, sem problemas”, defendeu.

O perfil de pagamentos apresentado pelo presidente indica pagamento de 28% dos financiamentos em prazos inferiores a 360 dias. Os pagamentos previstos para prazos mais longos representam a maior parte, 78%. O prazo médio de pagamentos é de 3,3 anos. “Teremos vencimentos importantes em 2007”, disse.

Trabalho futuro – A prioridade da Braskem é consolidar a operação integrada, tarefa que deve perdurar por pelo menos dois anos. Há necessidade de promover oferta pública para compra de ações em poder de minoritários, que será feita o mais breve possível. Superada essa fase, será a hora de integrar os ativos remanescentes na Trikem, Polialden e Nitrocarbono. “A partir daí, poderemos pensar em outros projetos”, afirmou Grubisich, referindo-se a propostas para absorver mais ativos no pólo petroquímico do Sul, ou aos ativos não integrados pela Braskem na Bahia, como a Politeno e a unidade da Polibrasil. Estas unidades, ligadas ao Grupo Suzano, além da Oxiteno, do Grupo Ultra, que disputaram com o consórcio Odebrecht-Mariani o controle da Copene, foram classificadas como clientes da Braskem. “Todos os contratos existentes serão respeitados, sem retaliações”, disse. Mesmo a distribuição da principal olefina, o eteno, cuja produção foi recentemente aumentada de 130 mil t/ano pela central baiana, está sendo fraternalmente repartida pela segunda geração do pólo. “O eteno está sendo vendido até para a produção de lotes de resinas para exportação, não há restrição de oferta na Bahia.”

Também o relacionamento com a Petrobrás, de quem é a maior compradora individual, merece elogios do presidente da Braskem. “Quanto ao fornecimento de nafta, conseguimos melhora notável com a assinatura de acordo até abril de 2003, definindo condições claras de reajustes de preços”, informou Grubisich. “Isso dá mais competitividade para toda a cadeia petroquímica.” A Braskem, no entanto, já importa diretamente boa parte da nafta que consome. Segundo o presidente, a companhia considera fundamental ter estreito relacionamento com o fornecedor local, mas não pode depender exclusivamente dele. O ideal é abastecer-se com 30% a 40% de cargas importadas diretamente, seja de nafta ou de condensados leves.

A estratégia da companhia é fortalecer sua posição no mercado regional, inclusive com o desenvolvimento de produtos adequados aos clientes locais. Para tanto, a Braskem inaugura em setembro um centro de pesquisas próprio em Triunfo, centralizando a atividade própria de pesquisa e desenvolvimento, que conta com 150 pesquisadores e orçamento anual de R$ 30 milhões. Para desenvolver projetos, existe notável infra-estrutura, inclusive com seis plantas-piloto para poliolefinas, avaliadas em R$ 300 milhões. “Um dos ramos de pesquisa em que pretendemos atuar é o de catálise e de aprimoramento de processos petroquímicos”, comentou Grubisich.

A Braskem continua avaliando um projeto petroquímico a ser realizado com apoio dos governos do Brasil e da Bolívia. “Estamos iniciando o estudo de viabilidade econômica, mas esse projeto só estará operacional em meados da próxima década”, informou.

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