Perspectivas 2017 – Têxtil: Real desvalorizado ajudou indústria local a recuperar clientes e aprimorar produção
Texto: Marcia Mariano
Enquanto a indústria brasileira em geral considerou os dois últimos anos como os piores da década, no setor químico têxtil, 2016 se revelou surpreendentemente positivo. A razão desse desempenho está relacionada com a própria conjuntura do mercado. A indústria têxtil, favorecida pela desvalorização do real que ajudou a substituir as importações, encontrou uma saída para sobreviver à recessão. Impulsionada pelos grandes magazines, que deixaram de importar roupas para recorrer à produção nacional, fiações, tecelagens, malharias e confecções retomaram a produção doméstica. Ao fazer isso, a indústria têxtil/confecção movimentou a cadeia de suprimentos, na qual está inserida a indústria química, fornecedora de corantes, pigmentos e produtos auxiliares para beneficiamento e acabamento têxtil; além de matérias-primas para fibras sintéticas, como poliéster (PES), poliamida (PA) e artificiais, como viscoses.
Refratário em divulgar números de produção e vendas, o setor químico têxtil admite que manteve o fôlego, embora seus resultados sejam considerados modestos. Com a chegada de 2017, as esperanças se renovaram, mas os velhos problemas como a baixa produtividade e o famigerado “Custo Brasil” ainda persistem. Os empresários do setor alimentam um “otimismo realista”, ou seja, enxergam sinais de luz no fim do túnel, mas sabem que o caminho ainda é de incertezas. Ninguém arrisca prognósticos de longo prazo. A regra é avaliar as condições da economia a cada trimestre. Não é à toa que o índice que mede a confiança do empresariado industrial, que vai de 0 a 100, continua abaixo dos 50 pontos, tendo registrado em dezembro de 2016, meros 48 pontos, conforme a CNI – Confederação Nacional da Indústria.
Resultados e projeções – Segundo a Abiquim, a participação da indústria química no PIB brasileiro atingiu seu ápice em 2004 com 3,6%, mas veio decrescendo desde então e fechou 2016 com 2,5% e faturamento de US$ 113,5 bilhões. Deste total, os produtos químicos de uso industrial (entre os quais estão corantes, pigmentos, branqueadores, etc.) representaram mais da metade, com US$ 54,9 bilhões. Já o grupo de produtos químicos de uso final, incluindo as fibras artificiais e sintéticas, apresentou queda de faturamento líquido entre 2015 e 2016, entretanto, segundo a Abrafas, o setor de fibras químicas, responsável por uma produção superior a 380 mil t/ano, que representam cerca de 40% do consumo industrial do País, mantém investimentos programados até 2020 da ordem de US$ 92 milhões, sinalizando uma tendência de crescimento.
De acordo com estudo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), após dois anos de recessão, 2017 aponta sinais de início da recuperação do setor. Os dados sinalizam aumento na produção de vestuário de 1% este ano, contra redução de 6,7% em 2016. O mesmo é indicado para a produção de têxteis (+1%, contra -5,3%, no mesmo período).
Por outro lado, em 2016, o déficit na balança comercial foi 33,3% menor do que o registrado em 2015, visto que as importações em 2016 tiveram uma redução de 17,4% (1,12 milhão de t) e as exportações apresentaram queda de 3,9% (206 mil t). É importante ressaltar a influência do câmbio no período compreendido entre 2014 e 2016, quando o saldo da balança comercial têxtil/confecção apresentou déficit decrescente. Em 2014, o setor registrou um déficit de US$ 5,9 bi (ao câmbio médio de R$ 2,35 por US$); em 2015 caiu para US$ 4,8 bi (com R$ 3,33/US$) e, em 2016, o saldo negativo foi reduzido para US$ 3,2 bi (com R$ 3,49/US$).
Tomara que a industria brasileira se recupere logo. O Brasil precisa sair da crise!