Perspectivas 2017 – Plásticos: Consumidores de transformados projetam aumento gradativo de demanda para os próximos anos

Química e Derivados, Perspectivas 2017 - Plásticos: Consumidores de transformados projetam aumento gradativo de demanda para os próximos anosUma brisa de esperança anima os representantes da indústria de transformação do plástico, ávidos por um período de recuperação da economia depois de um biênio a ser esquecido. De acordo com a projeção da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), a expectativa é de aumento de produção física de 2,15% em relação a 2016. Espera-se que o faturamento do setor cresça 1,9%, chegando à casa de R$ 56,3 bilhões.

Outros números positivos estimados são o aumento na importação de produtos plásticos, com crescimento de 2,5% no consumo aparente do setor e a criação de novos postos de trabalho. Essas projeções são baseadas em um cenário no qual a inflação anual deve ficar na casa dos 5%, com taxa básica de juros chegando a 10,75% e crescimento do PIB atingindo o patamar de 1,2%. “Os mercados ligados à indústria do plástico se mostram mais otimistas. Existe esperança, embora o cenário atual de recessão reflita o momento político-econômico vivenciado pelo país”, resume José Ricardo Roriz Coelho, presidente da associação.

O ano passado não deixará saudades. De acordo com estimativas da Abiplast, o setor deve ter fechado 2016 com faturamento na casa dos R$ 55,3 bilhões. Esse montante representa uma queda expressiva de 11,1% em relação ao exercício anterior. Some-se ao péssimo resultado o fato de o faturamento dos transformadores de plástico já ter apresentado queda de 12,4% em 2015. Em 2014, o setor havia movimentando em torno de R$ 67,4 bilhões.

Outros números relativos a 2016 também se mostram bem desfavoráveis. Estima-se que a produção física do setor de transformados plásticos tenha caído 5,35% frente a 2015, alcançando 6,24 milhões de t. E os níveis de produção de 2015 já se mostraram bastante negativos, houve recuo de 8,5% da produção física em relação ao exercício anterior. “Caso essa retração se confirme após o fechamento dos dados estatísticos de 2016, será o menor volume produzido pelo setor no âmbito da série histórica, iniciada em 2007”, ressalta Roriz Coelho.

Química e Derivados, Roriz Coelho: otimismo cresce, mas quadro ainda é de recessão
Roriz Coelho: otimismo cresce, mas quadro ainda é de recessão

No que diz respeito à mão-de-obra empregada, calcula-se ter havido retração de 3,4% em relação ao ano anterior. A entidade considera o fechamento de 11 mil postos de trabalho no período, resultando em 41 mil vagas a menos nos últimos dois anos. O consumo aparente de transformados plásticos (resultado da soma da produção com importações, menos exportações) deve ter sofrido retração de 6,1%. “Os dados são coerentes com o pior triênio da economia brasileira desde 1901, com estagnação do PIB em 2014 e retração de 7,5% em 2015 e 2016”, resume.

Embalagens – A expectativa de alguns segmentos da economia de grande importância para a indústria da transformação ajuda a explicar o otimismo moderado com o qual o setor do plástico aguarda 2017. É o caso, por exemplo, do ramo de embalagens. Luciana Pellegrino, diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens (Abre), não espera grande crescimento, mas prevê melhora em relação ao momento atual. “Acreditamos que estamos sim em processo de recuperação, contudo temos que ter em mente que ele será gradativo e ao mesmo tempo não linear. O ano começou apresentando referências positivas para o resgate da confiança e melhores perspectivas de investimentos para os empresários”.

Para a diretora, a inflação controlada propicia a redução da taxa básica de juros. “Há especialistas que acreditam que até o final ela chegará a um dígito. Este fato por si só é uma boa notícia, tira um peso bastante grande dos empresários e abre espaço para investimentos”. Outro aspecto positivo ressaltado é o do Brasil contar com mais de 200 milhões de habitantes, cujo nível social e referência mercadológica cresceram muitos nos últimos anos. “O brasileiro aprendeu a reconhecer produtos de qualidade, conveniência, funcionalidade e comunicação”.

Luciana espera que o consumidor nacional continue a demandar produtos com estas características, a procurar opções que atendam de forma mais precisa as suas necessidades. Ela também destaca as oportunidades surgidas no mercado externo. “Temos hoje um parque industrial bastante competitivo, capaz de exportar para países da América do Sul, entre outros. Isso amplia significativamente o nosso mercado”.

A expectativa de melhores resultados acontece em momento de dificuldades para o setor. O ano passado esteve longe de ser o esperado. Conforme o Estudo Macroeconômico da Embalagem Abre/FGV, realizado há 20 anos e cujos resultados finais sobre 2016 devem ser anunciados nas próximas semanas, o setor fechou o ano com retração próxima a 4% em volume de produção. “O resultado ficou abaixo do que esperávamos, a retomada do crescimento econômico sofreu fortes oscilações ao longo do segundo semestre de 2016”. O faturamento deve ter ficado próximo da casa dos R$ 60 bilhões.A produção de embalagens plásticas foi um dos segmentos que mais sofreram com a retração econômica do setor. As empresas do ramo, no entanto, têm boas perspectivas de recuperação, na opinião da representante da Abre. Para ela, a perspectiva positiva sobressai pelo fato de o plástico ser um material com características capazes de atender diferentes segmentos, demandas e anseios dos consumidores, seja quando pensamos em peças com maior valor agregado e funcionalidade ou quando avaliamos a relação custo-benefício.

De acordo com dados mais recentes do estudo Abre/FGV, no primeiro semestre de 2016, entre os materiais usados para confeccionar as embalagens, em peso, papel, papelão e cartão ocuparam a liderança do mercado, com 40,5%. O plástico veio em segundo (35%), seguido pelo metal (15,1%), vidro (8%) e madeira (1,4%). A indústria do plástico, por outro lado, liderou o setor em termos de faturamento. A estimativa para 2016, era que ela movimentasse, em valor bruto, R$ 24,3 bilhões (40,17% do total), seguida pelo papelão, com R$ 10,9 bilhões (18,02%), metais com R$ 10,4 bilhões (17,29%) e demais matérias-primas.

Luciana destaca um tema bastante presente na pauta do setor em 2017 e também para os próximos anos. Trata-se da reciclagem. Ela lembra não se tratar de tema novo, pois o país já possui índices bastante satisfatórios nesse quesito. Mas há espaço para crescimento significativo do índice de recuperação de materiais. “A preocupação está adquirindo tom estratégico e vem sendo encabeçada pelas grandes indústrias de bens de consumo”.

A diretora aponta um esforço internacional para que a reciclagem se torne um negócio de valor para toda a sociedade. “Estamos falando de novas tecnologias, diferentes formas de reinserir o material reciclado em cadeias de valor, e garantir que o ciclo de vida do material seja contínuo ou, como costumamos dizer, circular”. Para colaborar com esse movimento, a Abre disponibiliza um site na internet que permite aos usuários uma autoavaliação de seus programas de sustentabilidade.

Química e Derivados, Ioschpe: autopeças dependem muito do mercado doméstico
Ioschpe: autopeças dependem muito do mercado doméstico

Indústria automobilística – O setor de autopeças, vital para muitos transformadores de plásticos, espera ao menos que a queda dos últimos anos seja estancada. Dan Ioschpe, presidente Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), avalia que o setor vive nestes últimos anos a pior crise de sua história, com enormes quedas nos volumes de produção. “Temos problemas relacionados à falta de competitividade, na maior parte das vezes devido a fatores fora do controle das empresas, como burocracia, elevado custo financeiro e falta de infraestrutura, entre outros”, apontou.

Ioschpe também salienta a elevada dependência das empresas do setor do desempenho do mercado doméstico, explicada pela falta de integração do Brasil ao mundo. “Nossa expectativa é que o País enfrente com rapidez a agenda da governança fiscal, fundamental para a retomada do crescimento, e na sequência dê atenção a medidas que aumentem a competitividade do setor, seu adensamento e a sua integração internacional”. Para ele há sinais de melhora. “Ainda não vemos reação dos volumes. Esperamos que em breve essas expectativas se tornem realidade”.

Para 2017, a expectativa da indústria de autopeças é alcançar faturamento de R$ 64,7 bilhões, com crescimento de 2,7%. O setor estima ter fechado o ano de 2016 com faturamento de R$ 63 bilhões, que representa queda de 4,5% em relação ao ano anterior. As vendas para as montadoras representaram 56,4% do total, seguidas pelas vendas para reposição (22,1%), para exportação (18,6%) e intrassetorial (2,9%). O número de postos de trabalho no ano passado caiu 7,9%, ficando na casa dos 158 mil. O Sindipeças não fornece dados relativos sobre o desempenho das vendas das diferentes matérias-primas.

Antonio Megale, presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), tem opinião mais otimista. “Nossa previsão de produção é de 2,41 milhões de unidades de veículos, 11,9% acima do registrado em 2016”, revela. Para ele, existem diversas razões para acreditar em crescimento. “A conjuntura macroeconômica indica fatos positivos, como aumento do PIB, inflação convergindo para o centro da meta, reduções contínuas da taxa básica de juros e estabilização do dólar”.

Química e Derivados, Cover não espera crescimento de vendas na construção civil
Cover não espera crescimento de vendas na construção civil

Construção civil – Para os lados da construção civil, o otimismo não anda muito em alta. A queda de vendas de imóveis e a paralisação de muitas obras públicas, acompanhada da queda na confiança da população, que causa o adiamento das reformas em suas residências, são fatores que provocam reflexos negativos na indústria fornecedora de materiais. Problema para os transformadores de tubos e conexões, caixas d’água, esquadrias e de outros materiais plásticos usados no ramo.

A expectativa de retomada não entusiasma. Para Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), apesar de discreta melhora no final do ano de 2016, a vida não está fácil. Para ele, as causas da recessão ainda estão presentes e devem permanecer pelo menos no primeiro semestre de 2017. “Desemprego e o medo da perda do emprego, juros altos, dificuldade de obtenção de crédito e redução nos investimentos públicos e privados continuam inibindo o consumo dos materiais, seja para reformas, seja para novas edificações”, resume. Por essas e por outras, a previsão para o ano de 2017 aponta para crescimento nulo.

De acordo com a associação, as indústrias de materiais de construção tiveram queda de 11,5% de faturamento em 2016, em comparação com o mesmo período de 2015. O estudo abrange 70% das empresas do setor e não especifica as matérias-primas utilizadas na produção. O nível de emprego no ano também sofreu queda significativa, de 9,3% em relação a 2015.

Elétrica e eletrônica – Outro segmento importante para a indústria do plástico, as empresas do setor elétrico e eletrônico torcem pela melhoria das condições do mercado. Para a Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a expectativa é de crescimento de 1% no faturamento do setor em comparação a 2016. Esta projeção é compatível com a estimativa de crescimento do PIB em torno de 1%. As exportações e as importações devem permanecer estáveis no próximo ano, assim como o emprego. Os investimentos da indústria eletroeletrônica devem apresentar ligeiro crescimento (2%), chegando a R$ 2,5 bilhões.

Estima-se que o faturamento da indústria eletroeletrônica deva ter atingido R$ 131,2 bilhões, queda nominal de 8% em relação ao ano passado, quando alcançou R$ 142,5 bilhões. Em termos reais (descontada a inflação), o resultado representa retração de 11%. Em termos de produção industrial, a projeção é de queda de 10%. Já os investimentos devem ter fechado o ano com retração de 25% em relação a 2015. O número de empregados do setor deve ter fechado o ano em 234 mil trabalhadores, com redução de 14 mil postos de trabalho. “No acumulado dos últimos dois anos perdemos quase 60 mil empregos”, lamenta o presidente Conselho da Abinee, Irineu Govêa.

As exportações no ano passado apresentaram redução em torno de 5%, caindo de US$ 5,9 bilhões para US$ 5,5 bilhões. As importações devem recuar 20%, passando de US$ 31,4 bilhões para US$ 25,3 bilhões. Com isso, o déficit da balança comercial atingirá US$ 19,7 bilhões, total 23% inferior ao apresentado no ano passado. “Os números falam por si. E quando se leva em conta a base de comparação de 2015, quando já tivemos uma queda nominal de 7% na comparação com 2014, os dados se tornam ainda mais preocupantes”, diz o presidente executivo Humberto Barbato.

Distribuidores – A expectativa da Associação de Distribuidores de Resinas Plásticas (Adirplast) em relação aos resultados de seus associados é de repetir os resultados de 2016. A meta parece ser não muito ambiciosa, mas representaria um alívio em relação aos resultados alcançados nos últimos tempos. No ano passado, a estimativa é de ter havido queda entre 4% e 5% na comercialização de resinas plásticas em relação a 2015. O resultado ocorre depois de um ano ruim. Em 2015, já havia sido registrada queda de 5% quando comparados os resultados em relação ao exercício anterior.

Os números de 2016, analisados pela 2U Inteligência de Marketing, levam em conta, entre outras informações, as vendas de polietilenos (PE) e polipropilenos (PP) no período de janeiro e setembro não apenas por empresas vinculadas à entidade. Em 2015 foram comercializadas 3,8 milhões de toneladas de resinas PE e PP.

Considerando apenas o mercado de PE no primeiro semestre de 2016 – os números totais ainda não foram consolidados –, as quedas são mais acentuadas. Na comparação com mesmo período do ano passado, as vendas da matéria-prima caíram 12,2%. A explicação para a queda mais acentuada pode estar na importação. O grupo do PE é o mais importado, com 30% do mercado, e as compras no mercado externo também estão caindo, devem fechar este ano ao menos 5,5% menores do que em 2015. O consumo aparente de resinas de PE, PP e PS+EPS no país em 2016 será em torno de 4% menor.

A Adirplast conta atualmente com dezesseis associados, entre distribuidoras de resinas plásticas e filmes de BOPP-PET. No ano passado, essas empresas apresentaram faturamento em torno de R$ 3,5 bilhões, algo próximo de 10% do volume total de resinas comercializado em todo o Brasil. No mercado nacional de resinas, o varejo atende cerca de 20% da demanda. A comercialização dos outros 80% é feita diretamente pelas petroquímicas aos grandes transformadores. “Nossos associados respondem por quase 50% do varejo, número bastante significativo se levarmos em conta que se trata de um setor extremamente pulverizado e sem regras claras de competição, onde em torno de 80% das empresas são de pequeno e médio portes”, avalia Laercio Gonçalves, presidente da entidade.Para 2017, a associação pretende concentrar suas atividades na obtenção de três objetivos. Um dos focos principais é a luta pela reforma urgente do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), medida considerada essencial para proporcionar às empresas um ambiente de concorrência mais leal e com menos sonegação. Com a diferença de alíquotas existente entre os vários estados da federação, a atual legislação se mostra injusta. “Não queremos prejudicar quem paga menos e consegue benefícios em alguns estados, mas o sistema não pode continuar complexo e desigual como está hoje, pois provoca deformidades na cadeia”.

A segunda meta é colaborar com o aperfeiçoamento da gestão financeira das empresas de transformação, medida que ajudaria a reduzir os índices de inadimplência dos clientes dos distribuidores. Entre as medidas, estão a organização de cursos e palestras e o convite para as petroquímicas participarem desse processo. “Quando um transformador brasileiro perde vendas para as importações de produtos acabados, todos os elos da cadeia produtiva perdem”. Outra preocupação é incentivar a sustentabilidade entre os fabricantes de embalagens.

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