Perspectivas 2017 – Infraestrutura: Graves deficiências nacionais pedem investimento em máquinas, logística e geração de energia
Profissionais das mais diversas áreas projetam, de maneira quase unânime, 2017 como período mais favorável para a economia brasileira que o ano passado. Perspectiva não muito animadora, pois o ano recém-findo foi extremamente ruim para quase todos os setores da atividade econômica; um ano, dizem muitos, “próprio para ser esquecido”. Além disso, algumas incertezas – associadas à realidade política do país – ainda impossibilitam não apenas mensurar a possível melhoria, mas até mesmo garanti-la.
Qualquer avanço significará novo fôlego extremamente bem-vindo para os fabricantes de máquinas e equipamentos industriais e para os agentes de construção da infraestrutura: afinal, diretamente dependentes de projetos de investimentos – os mais impactados nos períodos recessivos que os mercados de consumo de produtos corriqueiros –, no Brasil esses setores enfrentam conjuntura extremamente adversa ao menos desde 2014, quando aguçaram-se as crises na economia e na política nacionais.

A indústria brasileira de máquinas, por exemplo, registrou em 2016 o quarto ano consecutivo de queda em seu faturamento. Para este ano, a perspectiva é um pouco melhor: “Essa indústria pode registrar crescimento de receita de 5% a 6%”, projeta José Velloso, presidente-executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). À primeira vista, esse índice de expansão parece relevante; mas ele é sensivelmente obscurecido quando considerada a base de comparação. “Entre 2013 e 2016 o setor reduziu quase 50% de seu faturamento, com queda das vendas principalmente no mercado interno”, pondera Velloso.
No ano passado, aliás, mais do que uma queda, houve um verdadeiro tombo na receita da indústria brasileira de máquinas e equipamentos, que relativamente a 2015 encolheu em mais de 24%. O baque só não foi maior em decorrência de uma atividade algo mais aquecida nas exportações, que caíram menos que as vendas no mercado interno (ver Tabela 1). Mas foi, segundo a Abimaq, “o pior desempenho para um ano na série histórica iniciada em 1999”, além de indício daquela que é “provavelmente a maior crise da história do setor”.
Para 2017, Velloso fundamenta sua percepção de possíveis melhorias nos negócios do setor não apenas no cenário econômico aparentemente mais estável – com inflação controlada e início de um processo de queda nos juros –, mas também na demanda reprimida por máquinas e equipamentos no mercado brasileiro. “Há quatro anos a taxa de investimento no país registra somente quedas, então há muita demanda reprimida por máquinas”, destaca.

O presidente-executivo da Abimaq cita, como segmentos que nos momentos iniciais da possível recuperação da economia mais devem ver crescer a demanda por seus produtos o agronegócio – para o qual as vendas do setor podem crescer perto de 15% – e as indústrias alimentícia, farmacêutica e de artigos de plástico, entre outras.
Mas há também possibilidades de percalços nesse provável processo de reaquecimento da economia. Entre eles, Velloso inclui a ocorrência de uma crise política, um câmbio favorável à competitividade dos concorrentes importados, e o endividamento das empresas do setor que, ao lado das elevadas taxas de juros, inibem a busca por financiamentos. Isso sem contar com os níveis atualmente elevados de ociosidade das empresas usuárias de máquinas e equipamentos industriais: “Elas têm hoje uma taxa de ociosidade de quase 40%”, estima.
Talvez como sinal de alento, em dezembro os negócios da indústria brasileira de máquinas e equipamento registraram um ligeiro incremento: 0,6%, em relação a novembro. “Mas esse crescimento decorreu basicamente das vendas para o exterior, pois as vendas ao mercado interno caíram mais de 16%”, ressalta Velloso (essas vendas no mercado doméstico estão expressas no item ‘Receita Líquida Interna’ da Tabela 2).
Eletroeletrônicos – Setores da indústria eletroeletrônica mais diretamente vinculados à produção industrial, como automação e equipamentos, também projetam para este ano desempenho mais satisfatório, relativamente ao registrado em 2016. Em alguns casos, porém isso pode significar crescimento zero, ou mesmo queda menos acentuada (Tabela 3).

A indústria dedicada à automação industrial, por exemplo, realizará este ano volume total de negócios no máximo similar ao auferido em 2016, projeta Raul Groszmann, diretor dessa área na Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). Não haverá grandes projetos nos principais usuários dessa tecnologia, como óleo/gás, mineração e montadoras de automóveis, e os negócios se concentrarão em atualização e em pequenos projetos de automação de processos. “Deve haver investimento no setor alimentício, algo na área de energia, especialmente no campo das energias renováveis, e maturação de projetos lançados nos últimos anos pela indústria química”, especifica Groszmann.
Ele até visualiza riscos para essa perspectiva de um ano ao menos estável para os negócios da indústria brasileira da automação industrial. Entre eles, as medidas de fechamento do mercado norte-americano prometidas por Donald Trump, que podem levar empresas que lá atuam a buscar presença mais ativa em regiões onde as empresas brasileiras têm presença intensa (como o Mercosul). “Além disso, está previsto para este ano o encerramento do programa Inovar Auto, que foi muito importante para que a indústria automobilística realizasse negócios no Brasil”, acrescenta o diretor da Abinee.

Por sua vez, Antonio Cesar da Silva, diretor da área de Equipamentos Industriais da mesma entidade, prevê: o faturamento desse segmento da indústria eletroeletrônica – composto por fabricantes de bombas, geradores e inversores, entre outras categorias de produtos –, pode aumentar em aproximadamente 3%, relativamente a 2016 (quando seus negócios caíram quase 8%). “Mas esse resultado somente será possível se desaparecer a ociosidade em muitos setores industriais e ocorrer retomada de investimentos nos setores produtivo e de infraestrutura”, ressalva Silva.
Válvulas e bombas – Para os fabricantes de válvulas industriais instalados no Brasil, as perspectivas para 2017 ainda não se mostram favoráveis, como afirma Djalma Bordignon, presidente do CSVI (Câmara Setorial de Válvulas Industriais), da Abimaq. Essa indústria tem como principal mercado o setor de óleo e gás, no qual o operador dominante é a Petrobras, que além de viver há algum tempo situação bastante complicada, anuncia em seus novos projetos participação mais intensa de empresas do exterior. “Em valor, 75% do consumo nacional de válvulas industriais já é importado”, calcula Bordignon.
Segundo ele, no ano passado os negócios da indústria brasileira de válvulas industriais recuaram entre 40% e 50%, registrando movimento relativamente satisfatório apenas no mercado de máquinas agrícolas (que também este ano deve ser aquele onde a demanda por esses produtos será mais aquecida). “Em nossa indústria houve muitas demissões, foram fechadas pequenas e médias empresas, e algumas multinacionais que aqui estavam saíram do Brasil”, relata Bordignon. “Se o governo não ajudar com medidas como queda nos juros, câmbio mais competitivo para as empresas nacionais e mais financiamento, acho difícil essa situação melhorar”, pondera.
Carlos Walter Martins Pedro, presidente da CSBM (Câmara Setorial de Bombas e Motobombas), da Abimaq, também qualifica 2016 como ano muito ruim para o segmento da indústria de máquinas e equipamentos no qual atua. “A retração foi muito forte, especialmente no segmento dos produtos engenheirados, destinados a setores como óleo/gás e saneamento, encontrando algum alento nas bombas residenciais, como reflexo da situação de escassez de água em algumas regiões do país”, detalha. “No geral, os negócios do setor caíram uns 3%”, diz Pedro.

Em 2017, ele projeta, a indústria nacional de bombas e motobombas obterá faturamento similar ao de 2016. “Visualizamos um horizonte de maior previsibilidade na economia, com inflação controlada e queda nos juros. E nesse cenário pode aumentar a demanda por bombas e motobombas; a indústria brasileira precisa investir na atualização de seu parque”, observa o presidente da CSBM.
Equipamentos rodoviários – Também para os integrantes da CSMR (Câmara Setorial de Máquinas Rodoviárias), da Abimaq, 2017 deve ser ano um pouco mais favorável, mesmo porque 2016 foi extremamente difícil para essas empresas, cujos portfólios incluem equipamentos destinados a grandes obras e infraestrutura, como tratores de esteira, retroescavadeiras, pás carregadeiras, motoniveladoras, compactadores de solo, caminhões fora de estrada e usinas de asfalto, entre outros. “Esse mercado depende muito de governo e de grandes concessionárias, que pararam totalmente seus investimentos. Tivemos então uma queda nos negócios de 36%, relativamente a 2015, que já havia sido ano muito ruim”, diz Andrea Park, presidente da CSMR.
Este ano, acredita Andrea, projetos como aqueles incluídos no PPI (Programa de Parcerias para Investimentos), devem estimular os negócios dos fabricantes de máquinas para grandes obras e infraestrutura. “Obviamente, em seus primeiros momentos a retomada dos negócios não trará tudo o que imaginávamos: em 2010, projetávamos para 2016 uma demanda de 60 mil máquinas, mas ela não chegou nem a 8 mil”, diz Andrea. “Mas acho que este ano ao menos sairemos da inércia na qual vínhamos vivendo, e na infraestrutura brasileira há muita coisa a ser feita”, finaliza.