Perspectivas 2015 – Tintas: Correção dos rumos da economia permitirá reverter a queda das vendas registrada em 2014
Conhecido pelo comportamento resiliente em relação às oscilações econômicas, embora afetado por elas, o setor de tintas e vernizes encerrou 2014 tisnado pelo mau desempenho – e pelo mau humor – dos vários mercados que atende. O setor amargou uma redução de 1,67% no faturamento dolarizado, refletindo o volume comercializado de 1.408 milhão de litros, por sua vez 1,25% inferior ao registrado em 2013.
A expectativa setorial para 2015 aponta para uma elevação de 1% nas vendas, revertendo o encolhimento verificado em 2014. O desempenho acompanha a previsão corrente para a evolução do Produto Interno Bruto (PIB). E espera-se para 2016 um avanço ainda mais consistente.

Nesse sentido, soam coerentes as primeiras medidas anunciadas pela nova equipe econômica do governo federal, encabeçada pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, envolvendo aumento de impostos e medidas de contração de demanda interna. “As medidas anunciadas no dia 19 de janeiro devem ter um impacto forte e até negativo em um primeiro momento, mas são boas, de forma geral, e devem trazer os resultados esperados já no segundo semestre de 2015”, avaliou Dilson Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tintas (Abrafati).
O impacto inicial será acentuado pelo fato de o poder aquisitivo da população estar em um patamar baixo, situação agravada pelo alto endividamento das famílias. Além disso, com o real desvalorizado em relação ao dólar e o aumento dos impostos aplicados sobre o valor das importações, a tendência é de elevação de custos industriais e dos preços ao consumidor, com a possiblidade de acelerar os indicadores de inflação.
“Isso vale para os itens que não possuem produção local, caso de 65% dos insumos consumidos pelos fabricantes de tintas, e há quem veja um estímulo à retomada industrial, mas isso não acontece tão rapidamente”, comentou Ferreira. Ele também observou que o mercado mundial de produtos químicos é francamente vendedor, com tendência de baixa de preços justificada pela queda nas cotações do petróleo e do gás natural.
Essa queda nos preços globais dos hidrocarbonetos pode amenizar o impacto das medidas para os consumidores, mas Ferreira não acredita que a Petrobras repassará totalmente essas cotações para os seus produtos, dada a necessidade de a companhia fazer caixa para tocar seu plano de investimentos. Além disso, a retomada da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), combinada com o PIS/Cofins, elevará o preço da gasolina em R$ 0,22 e do diesel em R$ 0,15 na refinaria.
O lado virtuoso das medidas amargas será a recuperação da credibilidade internacional do país e também da confiança dos consumidores locais, inaugurando um ciclo benéfico para investimentos. “Em 2014, houve um corte de investimentos em projetos de infraestrutura e de habitação, isso foi trágico para o país que é carente nessas duas áreas”, lamentou.
Os resultados desse corte podem ser sentidos agora, com ameaças de corte de fornecimento de eletricidade e de água, necessidade de importação de derivados de petróleo, meios de transporte insuficientes para as necessidades do país, entre outros.
“Começamos 2014 com expectativas positivas, pois a Copa do Mundo poderia alavancar o consumo de tintas, assim como as eleições, mas não foi o que se viu”, comentou. A Copa até absorveu um volume grande de tintas e vernizes, tanto na linha imobiliária quanto na industrial, mas esse volume foi menor do que a retração dos demais consumidores. “Sem a Copa, os resultados teriam sido piores”, considerou.
A indústria automobilística, o segundo maior mercado do setor de tintas, teve um péssimo resultado em 2014, com a queda de 15,5% na produção nacional, em face de uma redução de 9% nas vendas de automóveis, incluindo a retração das exportações, influenciada pelo comportamento pífio do mercado argentino. “Há fábricas novas e outras ainda em construção no Brasil no ramo automotivo, isso implica demanda futura crescente por tintas, trazendo algum alento para o setor”, considerou. Na prática, a venda de tintas automotivas originais (OEM) caiu 15,5% em 2014, acompanhando o ritmo da fabricação de carros. “Em compensação, a repintura automotiva cresceu perto de 4%, mas esse dado ainda é preliminar, estamos concluindo o levantamento dos dados com as associadas”, informou.