Perspectivas 2012 – Máquinas – Setor só cresce se grandes empresas e o PAC cumprirem cronograma de obras

química e derivados, máquinas, perspectivas 2012Um início bastante lento e uma aceleração gradual no ritmo dos negócios, com um ápice no terceiro trimestre. O crescimento das vendas deve evoluir em 6% ou 7% no ano. É este o desempenho previsto pela Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) para 2012. Mario Bernardini, assessor econômico da presidência da Abimaq, porém, coloca uma condicionante para a concretização desta previsão. “Ela só se confirmará se as estatais, as grandes empresas privadas, como a Vale, e o governo federal cumprirem o cronograma de investimentos programados para o ano”, ressalta.

A advertência tem sentido. A indústria de máquinas e equipamentos iniciou 2011 com a expectativa de crescer 10%. O valor definitivo só será conhecido no final de fevereiro, mas a Abimaq projeta um crescimento entre 5% e 6% em relação a 2010. Segundo Bernardini, as expectativas para 2011 foram frustradas em decorrência principalmente da baixa execução dos investimentos planejados pelos grandes clientes. “O esperado é uma execução de 85% a 90% do anunciado. Mas a Petrobras executou 70%; o PAC, 60% e a Vale, 80%”, informa o executivo.

De fato, o governo iniciou 2011 prometendo investimentos recordes das estatais no ano. Mas as 73 companhias federais não conseguiram cumprir os R$ 107,3 bilhões programados para 2011. Os atrasos foram generalizados, abrangeram desde ampliações de aeroportos, a cargo da Infraero, até as obras de hidrelétricas e linhas de transmissão sob a responsabilidade da Eletrobras. No final do ano, o governo acabou por cancelar R$ 12,1 bilhões do orçamento das estatais e remanejando outros R$ 8,6 bilhões.

Os atrasos da Petrobras estão entre os que mais geram impacto no setor de máquinas e equipamentos. A petroleira orçou um investimento de R$ 91,3 bilhões para 2011. Até outubro, só havia desembolsado R$ 55,8 bilhões, ou 61% do total. Em igual período de 2010 e 2009, a execução fora de 74% e 73%, respectivamente. Entre as obras que não deslancharam a contento estão o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), a Refinaria Abreu e Lima, em Suape-PE, a construção de petroleiros e os projetos das usinas Termoceará e Termomacaé. A estatal acabou o ano com R$ 11 bilhões de investimentos cancelados. Mas o total realmente investido só será conhecido na divulgação do balanço da companhia.

O não cumprimento do cronograma da petrolífera levou dificuldades para alguns de seus fornecedores. A Lupatech, empresa que tem por volta de 70% de sua carteira de pedidos de R$ 2,5 bilhões vinculados à Petrobras, endividou-se e perdeu prestígio entre os analistas do mercado financeiro. Em setembro, possuía uma dívida de R$ 312,8 milhões a vencer nos 12 meses seguintes, total superior aos R$ 306 milhões esperados para receber da estatal no mesmo período. O diretor executivo de Óleo e Gás da Abimaq, Alberto Machado, em depoimento a jornalistas, solicitou que as petroleiras ofereçam garantias em relação ao cumprimento de seus cronogramas estabelecidos. “Se você se prepara para uma coisa que vai acontecer em cinco anos e isso acontece em dez anos, você quebra”, diz o executivo.

Bernardini relaciona um segundo fator que impactou negativamente os negócios em 2011: o crescimento das importações. O déficit da balança comercial de máquinas e equipamentos é crescente. Entre janeiro e outubro somou US$ 14,6 bilhões, o que representou um crescimento de 13,6% na comparação com o mesmo período de 2010; e a previsão é que o déficit ultrapasse os US$ 18 bilhões no fechamento de 2011. “Hoje as importações representam 50% do faturamento do mercado de equipamentos e máquinas. A participação em números de máquinas vendidas é de 60%. Há cinco anos, era de 40%”, diz o economista. Até outubro, as exportações de bens de capital mecânicos somaram US$ 9,7 bilhões. Os principais itens exportados são máquinas para logística e construção civil e infraestrutura e indústria de base, setores esses que realizam um grande volume de transações intercompany, as quais dependem apenas das políticas estabelecidas entre matrizes e suas subsidiárias. Os principais destinos das exportações foram os Estados Unidos, Argentina, Holanda e México.

As importações somaram US$ 24,357 bilhões até outubro e foram alavancadas por máquinas para logística e construção civil, máquinas para bens de consumo e máquinas para a indústria de transformação. Entre as principais origens das importações estão EUA, Alemanha e China. Henrique Prado Alvarez, diretor da divisão de equipamentos do grupo Combustol & Metalpó, um dos principais fornecedores de fornos industriais do país, classifica a importação que vem sendo feita no Brasil como indiscriminada e sem critério. “Isso deixa a indústria nacional numa situação bastante crítica. Isto é válido nas duas pontas, tanto para os componentes e materiais utilizados em nossos produtos, o que nos obriga a consultar e comprar do mercado externo, como também em fornos prontos, que competem diretamente com nossos produtos”, relata.

Um importante indicador do desempenho do setor de máquinas e equipamentos é a procura por recursos financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo o banco, as liberações para bens de capital não evoluíram em 2011 em relação ao ano anterior, quando as linhas Finame e Programa de Sustentação do Investimento (PSI) desembolsaram R$ 51,9 bilhões. A previsão inicial era de um crescimento de 3% a 4% no ano. Um fator determinante foi que a indústria brasileira cresceu abaixo da evolução do PIB. Segundo estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), enquanto o PIB do país cresceu 2,8% em 2011, o setor industrial avançou 1,8%, sendo que a indústria de transformação cresceu apenas 1,1%; a construção civil, 3%; e a indústria extrativista, 2,2%. Com as frustrações de 2011, a indústria de máquinas e equipamentos reduziu seus investimentos. Após desembolsar por volta de R$ 8 bilhões em 2010 o setor deve ter fechado o ano com aportes inferiores a R$ 5 bilhões, acredita Bernardini.

Petróleo e construção – Nas projeções da Abimaq para 2012 os segmentos de óleo e gás, construção civil, cimento e mineração devem impulsionar a demanda, enquanto devem ter dificuldades os segmentos de máquinas-ferramentas, por causa da importação; máquinas agrícolas, neste caso o impacto deverá ser a redução dos preços das commodities; e máquinas seriadas, principalmente para plásticos, um segmento, como diz Bernardini, no qual os clientes não querem máquinas nem nacionais nem importadas. “O que prevalece é a compra do produto final no exterior”, diz. Um estudo da consultoria Tendências também avalia que o setor de máquinas e equipamentos deverá ter um desempenho bastante heterogêneo em 2012.

Segundo a consultoria, o ano vai ser propício para quem fabrica bens de capital sob encomenda, por conta dos pedidos das empresas de mineração, siderurgia, celulose, petróleo e gás. As vendas dos fabricantes de equipamentos para construção também devem ser impulsionadas pela ampliação do crédito imobiliário e pelo programa Minha Casa, Minha Vida, assim como pelas obras da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Para o período de 2012 a 2015, as estimativas da Tendências são de um crescimento médio de 4,4% ao ano da produção de insumos típicos da construção civil.

Os equipamentos para transportes também devem ser bastante demandados, principalmente em rodovias e ferrovias. Já a expectativa para o segmento de bens industriais seriados não é boa, principalmente para os fornecedores que dependem de encomendas de indústrias em que a concorrência com o produto final importado é forte, como têxteis, vestuário, materiais eletrônicos e vários segmentos do setor químico.

Para 2012, o governo federal encaminhou ao Congresso uma proposta de orçamento para as estatais, lideradas pela Petrobras, de R$ 106,8 bilhões. A grande expectativa para os próximos anos, de fato, são as encomendas da indústria de óleo e gás. Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) em parceria com a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) indica que os investimentos no setor de óleo e gás no país podem chegar a US$ 400 bilhões até 2020. A estimativa é que apenas em unidades produtoras devam ser investidos US$ 100 bilhões até o final da década. Outros US$ 10 bilhões devem ser investidos na construção de petroleiros e embarcações de apoio. A Transpetro, subsidiária da Petrobras na área de transporte, já pensa em lançar a terceira fase do Programa de Modernização e Expansão da Frota, o Promef III, com a encomenda de mais vinte navios. Com o Promef I e II foi licitada a construção de 41 petroleiros e 20 comboios hidroviários com investimento de R$ 9,6 bilhões. Outros oito navios estão em fase final de licitação.

A demanda de bens e serviços estimada pelo atual Plano de Negócios da Petrobras prevê investimentos de US$ 224,7 bilhões até 2015, em mais de 700 projetos. A petroleira necessitará até o final da década de 54 sistemas de produção, 146 barcos de apoio e 40 novas sondas de perfuração. Os projetos de exploração e produção possuem um índice de nacionalização dos equipamentos superior a 65%, segundo a estatal que, em junho último, lançou um programa para facilitar o acesso ao crédito por parte de seus fornecedores, o Progredir, desenvolvido em conjunto com Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú, HSBC e Santander, e com o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp). A estimativa preliminar da petroleira é a de que tenham sido liberados R$ 1 bilhão em financiamentos por meio do Progredir em 2011.

Fornecedores – A expectativa de que a Petrobras cumpra seu programa de investimentos motiva aportes de seus fornecedores. A Jaraguá Equipamentos, que conta com três unidades fabris em São Paulo e outra em Alagoas, inaugurou no início de dezembro uma fábrica no Complexo de Suape, em Ipojuca-PE, após investimentos de R$ 15 milhões. A nova unidade foi concebida após a empresa paulista fechar um contrato com a Petrobras de R$ 1,5 bilhão para fornecer tubulações e estruturas para os 18 fornos petroquímicos da Refinaria Abreu e Lima. O grupo ainda poderá ampliar os investimentos no local, com mais R$ 32 milhões nos próximos dois anos para atender aos pedidos da crescente indústria de bens de capital do Nordeste. Antes do final do ano, a Jaraguá ampliou seus negócios com um novo contrato com a Petrobras, este de R$ 648 milhões, para fornecer interligações e tubulações para o Comperj. A previsão é de 30 meses de trabalhos, que serão realizados em Ipojuca e Marechal Deodoro-AL.

A Jaraguá é um caso de reestruturação de negócios bem-sucedida. Como relata o vice-presidente da empresa, Nasareno Neves, até 2004 a companhia era apenas uma fabricante de equipamentos como fornos, tubulações e estações elétricas. Nesta condição vinha perdendo mercado continuamente para concorrentes importados, principalmente chineses. A mudança se deu com a decisão de se tornar uma fornecedora de soluções completas e integradas para o cliente, no formato turn key, podendo fabricar ou comprar de terceiros os equipamentos, de acordo com a conveniência de cada projeto. Deu certo. O faturamento da companhia que, em 2003, era de R$ 120 milhões, alcançou R$ 440 milhões em 2009 e R$ 700 milhões em 2011 e a previsão de faturamento para 2012 é de R$ 1 bilhão. “Não será problema, em dezembro já tínhamos pedidos em carteira de R$ 1,7 bi para entregas entre 2012/2013 e início de 2014. E prevemos superar R$ 1 bi em vendas em 2012”, diz o executivo.

Atualmente, 80% do faturamento da companhia é gerado em projetos de refinarias e petroquímicas. Segundo Neves, é hora de uma nova reestruturação nos negócios para reduzir a dependência deste mercado. A meta é agregar novos negócios que farão crescer o faturamento total da companhia e limitar a participação de refinarias e petroquímicas a 50% do bolo. Para isso, a companhia fechou uma parceria com a americana Audubon para entrar no segmento de exploração e produção de petróleo por meio de fornecimento de modelos e sistemas de navios plataformas para o pré-sal.

Outra iniciativa em curso na empresa é fortalecer sua atuação em mineração e papel e celulose. Hoje, relata o executivo, a Jaraguá fornece equipamentos para estes dois mercados, mas a ideia é replicar o modelo usado nas refinarias e realizar trabalhos em turn key. No segmento de fertilizantes, a companhia realiza conversas com a Vale para o projeto de potássio em Sergipe e com a Petrobras para plantas de nitrogenados. Um novo negócio em desenvolvimento é o aeroespacial. A Jaraguá é a responsável pela montagem da torre de lançamentos de Alcântara, no Maranhão, que está em fase de comissionamento.

O grupo Combustol & Metalpó, produtor de pós metálicos e peças sinterizadas e fornecedor de fornos industriais, com três unidades localizadas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Contagem-MG, também realizou investimentos recentes, ampliando em mais de 60% a área da fábrica de equipamentos, permitindo, com isso, a montagem de estruturas de grandes dimensões. O diretor Henrique Prado Alvarez acredita que 2012 apresentará um cenário de grande competitividade, podendo haver um pequeno aumento de demanda por parte das indústrias de metalurgia, mas com poucas possibilidades de crescimento na demanda de fornos siderúrgicos e petroquímicos, nos quais os projetos programados são poucos. “A postergação das usinas Premium da Petrobras deixa o horizonte das perspectivas um pouco mais escuro”, diz o executivo.

 

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