Perspectivas 2012 – Couro – Calçadistas gaúchos prometem reagir à concorrência chinesa

química e derivados, couro, perspectivas 2012

O fechamento de fábricas no Rio Grande do Sul e na Bahia, pertencentes ao grupo Vulcabras/Azaleia, no final de 2011, eliminando dois mil e duzentos postos de trabalho diretos da noite para o dia, delineia o cenário do setor coureiro-calçadista para 2012. Em 9 de janeiro deste ano, ao mesmo tempo em que prestigiava a posse da nova diretoria da Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro (Abqtic), o prefeito de Estância Velha-RS, Waldir Dilkin, confirmava o encerramento das atividades de outro fabricante de calçados, com quase 700 empregos diretos extintos.

A Doublexx, fabricante de calçados com sede em Estância Velha e unidades em Boa Vista do Buricá, Horizontina e Humaitá, todas no Rio Grande do Sul, encerrou as atividades no mesmo dia da posse.

Com o fechamento, cerca de 600 pessoas foram demitidas nas quatro plantas industriais, além de outras 130 que já haviam sido afastadas entre outubro e dezembro do ano passado, como informou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados de Estância Velha, Davi Silveira. Segundo o sindicalista, a Doublexx desativou as fábricas gaúchas depois de transferir a produção para uma nova unidade, na Guatemala, ao longo do ano passado.

Revista Química e Derivados, Regina Teixeira, Abqtic, compromisso dos químicos
Regina: Abqtic confirma apoio à retomada do setor

Ao tomar posse no cargo máximo da Abqtic, a engenheira Regina Teixeira reafirmou o compromisso dos químicos do setor com o crescimento da indústria, dentro de uma perspectiva de sustentabilidade, respeito ao meio ambiente e abertura de novos mercados. Regina salientou que a Abqtic comemora neste ano quatro décadas de atividade e pretende colocar em prática um plano ousado até 2015, que inclui a realização do congresso mundial de todas as associações do planeta, voltadas ao debate sobre a evolução da química dentro do segmento coureiro-calçadista, numa trajetória ecologicamente correta e ao mesmo tempo desenvolvimentista.

Regina elogiou os demais integrantes da diretoria que também foram empossados no ato. Ela qualificou o cenário como desafiador e advertiu sobre a urgência de buscar novos mercados e adquirir conhecimentos em inovação como ferramentas de competitividade para os químicos e técnicos da cadeia produtiva do couro.

“É com imensa alegria e responsabilidade que inicio esta gestão com a certeza de que daremos continuidade à renovação e profissionalização de nossa associação, há quarenta anos promovendo a ciência e tecnologia do couro, de forma sistêmica e efetiva na atualização profissional dos recursos humanos do setor”, discursou.

Em momentos de crise, os empresários querem ficar dentro de suas empresas cuidando dos negócios. Como efeito, aparece a figura dos diretores executivos nas associações setoriais. Profissionais prospectados minuciosamente no mercado, ou empresários do setor que abrem mão da atividade empreendedora, atraídos por salários

Revista Química e Derivados, Moacir Berger, Aicsul, medidas protecionistas
Berger: crise na Itália fez cair a exportação de couro

interessantíssimos, e que passam a tocar as entidades representativas. É o caso do presidente executivo da Associação das Indústrias de Curtumes do Sul (Aicsul), Moacir Berger, experiente empresário da indústria de curtumes e recentemente alçado ao cargo de presidente executivo da entidade. Ao projetar 2012, Berger avisa de antemão e com conhecimento de causa que os números do final de 2011 não foram promissores, embora as primeiras estimativas indiquem um faturamento de R$ 2 bilhões.

Berger explica que o governo tomou algumas medidas protecionistas, taxando os calçados chineses nos últimos dois anos. Agora é o momento de voltar a crescer no mercado interno. Para ele a crise na Itália repercute negativamente nos negócios porque se trata do maior comprador do couro brasileiro. O presidente da Aicsul assinala também que tanto a indústria de couro quanto a de calçados são oscilantes ao longo dos anos. Mas a leitura cruel é que os empreendimentos que encerraram as atividades não serão repostos.

Desde que a produção da China em calçados invadiu todos os mercados há mais de 15 anos, os empresários do Brasil enfrentam a sua “Era da Incerteza”. Nesse período, caiu drasticamente o número de fábricas no Rio Grande do Sul e no Brasil, por conta da invasão de milhões de pares de sapatos manufaturados do outro lado do planeta.

Os representantes do setor nem conseguem quantificar o número de negócios encerrados, pois a indústria coureiro-calçadista funciona como linhas de montagem no ultrapassado modelo de produção fordista. Há muita subcontratação ou terceirização. Nessa perspectiva, a projeção de empresas fechadas deve ser estimada na casa das centenas e os empregos extintos aos milhares.

Apesar disso, o ano de 2012 poderá ser positivo para o setor calçadista brasileiro, caso sejam adotadas medidas importantes por parte do governo federal, adicionadas às ações anunciadas no Plano Brasil Maior, assinado em dezembro de 2011.

Essa é a posição do presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, Milton Cardoso, e coincidentemente presidente da Azaleia, a mesma que fechou suas fábricas gaúchas. Segundo ele, durante a 16ª Couromoda, realizada em janeiro, em São Paulo, medidas de defesa comercial, como a extensão da tarifa antidumping de US$ 13,85 para calçados importados e a exigência do Certificado de Origem, aliadas à redução de impostos, como PIS/Cofins, e à elevação do dólar para R$ 2,15, contribuirão para que o setor de calçados recupere a produção e os níveis de emprego.

“Precisamos corrigir o descompasso da atividade industrial brasileira e a taxa de câmbio, que tem a terceira moeda mais sobrevalorizada do mundo.”

Segundo o dirigente, o Brasil tem todas as condições para se manter no topo dos players mundiais de calçados, uma vez que seu mercado interno é um dos maiores consumidores, com mais de 760 milhões de pares consumidos, mas precisa estar atento ao processo de desindustrialização. A preocupação é com a perda de quase oito mil empregos até novembro e com a queda de produção de 10%, segundo o IBGE. “Por isso a importância da Couromoda, que inicia o calendário nacional de vendas, contribuindo para o aumento da demanda e da produção para o semestre.”

Cardoso reforçou a posição da Abicalçados em relação à defesa comercial, salientando que não há restrição às importações de marcas internacionais. “O que criticamos é que esses calçados poderiam ser produzidos no Brasil”, apontou. Ele explicou que, mesmo correspondendo a 10% da produção nacional, os calçados esportivos representam 30% do faturamento e 30% dos empregos, por conta do maior valor agregado e do tempo dedicado para a produção de cada par.

“Há relações desleais de concorrência que não podem ser suportadas, como a negociação de uma indústria na Indonésia que ficou 18 anos sem pagar horas extras aos seus trabalhadores.” Cardoso lembra que as medidas de proteção adotadas pelo Brasil, como a tarifa antidumping, seguem rigorosamente as disposições da Organização Mundial do Comércio.

Questionado sobre a Argentina, o presidente da Abicalçados reiterou sua surpresa com o comportamento duro do país vizinho em relação às suas importações de calçados. A entidade atuou fortemente na relação comercial, aceitando de modo voluntário o sistema de cotas anuais, por conta da contrapartida de que o calçado nacional teria 75% de participação nas compras argentinas, o que não foi confirmado.

Francisco Santos, presidente da Couromoda, reforçou os esforços de todo o complexo calçadista, lembrando a realização do Congresso Mundial do Calçado, realizado em novembro no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que o evento saiu da Europa. “Isso mostra a importância que esta indústria tem e vamos trabalhar ainda mais por ela”, reforçou. O presidente da Abicalçados destacou ainda a importância do Programa Brazilian Footwear, considerado um dos grandes responsáveis pela duplicação do número de destinos das exportações brasileiras de 80 para 160 países nos últimos anos.

Antecipação – Uma das medidas do setor coureiro-calçadista para tentar amenizar a projeção de crescimento modesto em 2012 foi a antecipação de um mês da Fimec – Feira Internacional de Couros, Produtos Químicos, Componentes, Má­quinas e Equipamentos para Calçados e Curtumes, a segunda maior feira mundial do setor. Em vez de ser realizada no final de abril, como é tradição, a Fimec 2012 será realizada de 20 a 23 de março no Parque de Exposições da Fenac, em Novo Hamburgo-RS, reunindo cerca de 600 expositores que representam aproximadamente 1.200 marcas.

A nova data levou em conta as tendências e a velocidade com que a moda se modifica e a necessidade de acompanhar as transformações do mundo dos negócios, após uma análise detalhada do calendário mundial de feiras e das épocas apropriadas para os lançamentos da indústria. “Passamos a ser a primeira feira no calendário mundial, antes da APFL, em Hong Kong, e da Lineapelle, na Itália”, ressaltou o diretor-presidente da Fenac, Elivir Desiam.

Em 2012, a feira contará com uma área de exposição ainda maior com relação à última edição. A Fimec ocupará todos os 40 mil m² dos pavilhões da Fenac e, além disso, também haverá um anexo entre 1.000 e 1.500 m² a mais do que em 2011. “Conseguimos atender a um aumento de demanda por parte dos expositores e estamos ampliando o espaço com uma estrutura que ficará ao lado dos pavilhões quatro e cinco. Toda esta movimentação aponta para que tenhamos novamente um grande evento em Novo Hamburgo”, acrescentou Elivir Desiam. Além dos brasileiros, já está confirmada a presença de empresas de vários países, com destaque para Argentina, Alemanha, China, Egito, Eslovênia, França, Inglaterra, Itália, Japão, Turquia e Uruguai.

Dirigida aos profissionais do complexo do couro e calçado, a Fimec é promovida pela Fenac e a prefeitura de Novo Hamburgo, com apoio de Máquinas By Brasil, Assintecal e Brasilian Leather. O apoio institucional é da Associação Brasileira de Estilistas de Calçados e Afins, da Associação Brasileira de Químicos e Técnicos da Indústria do Couro, da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos para os Setores do Couro, Calçados e Afins, da Aicsul, da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos, do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil e do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos.

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