Perspectivas 2011 – Saneantes – Ascensão das classes C e D sustenta crescimento recorde
O ano de 2011 começou com um grande trunfo financeiro para as indústrias de produtos de limpeza. Pela primeira vez em sete anos, desde que a Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla) começou a monitorar o desempenho do setor, em 2003, o faturamento da indústria de saneantes no Brasil cresceu acima de dois dígitos porcentuais. O último balanço setorial, recentemente divulgado pela entidade, exibe um faturamento líquido de R$ 13,5 bilhões em 2010, montante 11% superior ao de 2009, ano que registrara 7% de crescimento em relação a 2008.
Em volume de vendas, o setor alcançou o patamar de 13,8 milhões de toneladas, contra os 12,3 milhões de toneladas computadas em 2009, apresentando 12% de crescimento.
O melhor desempenho no mercado interno dos últimos tempos não foi arranhado pelo câmbio desfavorável, que comprometeu as exportações, contabilizadas em US$ 216,7 milhões, soma inferior ao montante alcançado em 2009, de US$ 271,2 milhões, destacando sabões em barra, detergentes líquidos e gomas para passar roupas como alguns dos itens de maior demanda no mercado externo. Já as importações cresceram em 13,1% no último ano em relação a 2009, sendo registrados US$ 489,4 milhões, contra US$ 432,7 milhões do ano anterior, o que deverá resultar em algum desequilíbrio na balança comercial.
Os números positivos no mercado interno já eram esperados por todas as lideranças do setor, e constaram até mesmo de previsões de crescimento. Estudos realizados por institutos de pesquisa, como o Euromonitor Internacional, um ano antes, já haviam antecipado projeções de aumento de mais de 10% no faturamento dos produtos de limpeza no período dos próximos cinco anos em países do Bric, o bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia e China.
Para a presidente executiva da Abipla, Maria Eugenia Saldanha, o crescimento disparado do último ano no mercado interno só vem corroborar para consolidar os produtos de limpeza como itens essenciais de higiene e marcar a sua presença cada vez maior na vida dos consumidores brasileiros. “2010 foi um ano particularmente positivo para o nosso setor e entre os pontos que mais colaboraram para esses resultados estão o aumento de renda da população e as compras de 20 milhões de pessoas pertencentes às classes C e D, que passaram a consumir mais”, avaliou Maria Eugenia.
“Para 2011, nossa expectativa é de continuar crescendo acima de dois dígitos. Com o aumento na renda da população e a inclusão de novos consumidores, esperamos ter um número ainda maior de pessoas dispostas a pagar mais para testar as inovações mais práticas e mais eficientes que estão sendo apresentadas pelas indústrias”, afirmou a presidente executiva da Abipla.
Ao longo dos últimos anos, não faltaram evidências de que o consumidor brasileiro de todas as classes tem grande preocupação com a higiene e com os cuidados com a lavagem de roupas, pois o item de maior popularidade na cesta de produtos de limpeza do brasileiro continua a ser o detergente para lavar roupas – tradicionalmente comercializado em pó, mas, de uns tempos para cá, também oferecido na forma líquida. Ao abocanhar mais de 30% do faturamento das indústrias de produtos de limpeza, esses detergentes angariaram no último ano mais de R$ 4 bilhões em vendas, tomando-se por base os dados atualizados do setor.
Essa gorda fatia passa de 40% do faturamento, caso sejam somados outros itens para roupas, como amaciantes, sabões em barra e itens pré-lavagem, denotando perspectivas de crescimento futuro ainda mais promissoras. Além disso, o consumo de 4,47 litros por habitante/ano de produtos de limpeza registrado no Brasil ainda é considerado baixo em comparação com a demanda per capita de outros países.
De acordo com os últimos dados informados pela Abipla, a categoria de amaciantes teria alcançado pela primeira vez, em 2009, a casa de um bilhão de reais em vendas, crescimento em grande parte associado às inovações em produtos concentrados e apresentados em embalagens menores e mais econômicas.
Os maiores destaques de crescimento do ano de 2009 em volume de vendas, de acordo com as últimas pesquisas divulgadas pela entidade, ficaram por conta dos purificadores de ar, cujo desempenho foi 21,7% maior em relação ao ano anterior, mas também devem ser lembrados os produtos multiuso, que cresceram 14,3% em volume de vendas e 17,3% em faturamento.
As águas sanitárias também apresentaram crescimento de mais de 16% em faturamento no mesmo ano, porcentual acompanhado de quase 7% de crescimento em volume, desempenho em boa parte atribuído à funcionalidade dessa categoria, cada vez mais reconhecida como produto essencial às ações de higienização e de saúde pública.
Na frente de combate às bactérias, os desinfetantes cresceram 5,8% em faturamento em 2009, permanecendo relativamente estáveis. Associado à missão das mais importantes na área da desinfecção, o álcool, por sua vez, vem ganhando posições no mercado, apresentando crescimentos de 15,3% em faturamento e de 9,2% em volume, de acordo com os últimos dados divulgados pela Abipla.
Os limpadores para banheiros e os desodorizadores sanitários também vêm ano a ano conquistando melhores posições, a considerar as demandas por produtos para ambientes com fungos e limos e também por produtos para neutralizar e eliminar odores, bem como perfumar ambientes.
Já os detergentes para lavar louças apresentaram ascensão de mais de 10% em faturamento em 2009, e registraram 5,6% de aumento no consumo em volume. Por último, entre as categorias de maior destaque, estão as vendas de saponáceos, impulsionadas pelo lançamento de novos produtos oferecidos em cremes e com fragrâncias, e ostentando crescimentos de 12,3% em faturamento e de 4,8% em volume em 2009, e denotando que as inovações estão sendo apreciadas pelos consumidores e que também servem de alavanca para o aumento das vendas.

Apelo ecológico – Segundo reconhece a presidente executiva da Abipla, a tendência mundial mais marcante no setor é desenvolver e lançar produtos de limpeza com matérias-primas e ingredientes mais amigáveis ao meio ambiente. A degradação dos produtos de limpeza tem constituído preocupação recorrente no setor e tem motivado fabricantes a desenvolver, por exemplo, produtos elaborados à base de enzimas naturais.
As bases dos novos desenvolvimentos são as tendências e iniciativas de produção de matérias-primas ecologicamente corretas e mais eficientes. Ao lado dos novos ingredientes, também são difundidos processos mais sustentáveis que possam reduzir o consumo de energia e gerar menos emissões gasosas, além de menores gastos de embalagens e menor geração de efluentes.
Assim, produtores de matérias-primas também estão se engajando ao movimento mundial em busca de fontes naturais e renováveis para a fabricação de produtos de limpeza dentro de parâmetros mais sustentáveis e de menor impacto ambiental. O ácido graxo de coco, utilizado como matéria-prima para a fabricação de diferentes tensoativos, figura entre os bons exemplos. “Trata-se de um excelente doador de viscosidade, estabilizador de espuma e solubilizante de óleos e essências, extraído diretamente da polpa do coco fresco e que, após processos de solidificação, trituração, prensagem e filtração, torna-se um óleo extravirgem para a formulação de sabões”, informou Maria Eugenia.
“O Brasil tem enorme potencial para gerar matérias-primas vegetais de fonte renovável e deverá explorar cada vez mais esse potencial nos próximos anos”, acredita Maria Eugenia. Por isso, várias alternativas estão sendo desenvolvidas no sentido de tornar essas fontes de matérias-primas realmente renováveis por meio de plantio mais intensivo e de condições corretas de extração.
A indústria de matérias-primas também se dedicou nos últimos anos ao desenvolvimento de novas tecnologias para a substituição do formol por outros conservantes, como as isotiazolinonas. Na mesma direção, o nonilfenol etoxilado, utilizado para a limpeza de superfícies e como solubilizante de fragrâncias, também está sendo substituído por alcoóis graxos etoxilados obtidos de fontes renováveis.
Segundo lembrou Maria Eugenia, o linear alquibenzeno sulfonato de sódio (LAS) se apresenta, atualmente, como o tensoativo mais utilizado para a formulação de produtos de limpeza. Trata-se de tensoativo aniônico, maior responsável pela remoção de sujidades, e com propriedades de biodegradação. Sua principal matéria-prima é o linear alquibenzeno (LAB), ingrediente desenvolvido pela indústria europeia no início dos anos 60, para atender às exigências da presença de substâncias biodegradáveis na composição de detergentes em pó.
“Por suas propriedades, o LAS é um produto químico presente em várias categorias de produtos de limpeza, como limpadores multiuso, detergentes líquidos e alvejantes, promovendo em detergentes em pó espumas com diluição rápida e total, por conta da sua biodegradabilidade”, afirmou Maria Eugenia.
Em se tratando de conservantes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vem coordenando desde 2006 estudos e debates sobre a utilização de conservantes na formulação de produtos de limpeza. Em 2007, o órgão publicou uma lista positiva com 32 substâncias sugeridas pela Abipla. Em 2009, a Abipla também encaminhou ao órgão informações sobre duas novas substâncias: triclosan (tricloro-2,4,4´ hidroxi-2´difenil-éter) e metilbromo (metil bromo glutaralnitrila), que foram aceitas na resolução RDC 58/09. Em maio de 2009, ao vencer o prazo para a substituição dos conservantes proibidos, as indústrias passaram a se adaptar às novas exigências.
“No momento, nenhuma matéria-prima está enfrentando proibição ou restrição. Porém, importantes regulamentações estão ocorrendo por conta do uso de tripolifosfato de sódio (STPP) em detergentes para lavar roupas e também do uso de conservantes”, informou Maria Eugenia.
No rol dos desinfetantes, somente é permitido o uso de ativos aprovados pela Comunidade Europeia ou pelos Estados Unidos. Entre os inseticidas e repelentes (elétricos), os ativos utilizados nas formulações devem estar listados em monografia publicada pela Anvisa.
Quanto ao cloro, segundo informou Maria Eugenia, não há qualquer tipo de restrição ao seu uso no Brasil. Regulamentação da Anvisa apenas estabelece a concentração de cloro ativo para a água sanitária, em virtude de sua utilização para finalidades como potabilização da água e desinfecção de alimentos, e também para os alvejantes concentrados.
“Em 2009, em revisão à Portaria 89/94 da Anvisa, foi publicado novo regulamento (Resolução RDC 55/09), trazendo benefícios que permitem o desenvolvimento dessa categoria de produtos. Ao tratar da água sanitária, alvejante à base de hipoclorito e alvejante concentrado à base de hipoclorito, o regulamento permite o registro do alvejante como desinfetante, para uso em ambientes e superfícies, desde que os fabricantes comprovem a sua eficácia ante os micro-organismos Staphylococcus aureus e Salmonella choleraesuis, e estipula regras para os dizeres sobre o modo de uso do produto na rotulagem”, informou Maria Eugenia.
Ao tratar dos alvejantes, a nova resolução criou a categoria de produto concentrado, estabelecendo, no mínimo, 3,9% p/p de cloro ativo e 5,6% p/p de cloro ativo, no máximo, durante o prazo de validade dos produtos. A resolução também exige que a comercialização do produto concentrado seja feita em embalagem flexível, sem tampa, e em dose única, com a diluição total do conteúdo, a fim de fornecer solução com concentração adequada para uso.
Práticas sustentáveis – No momento, várias iniciativas estão em curso na Abipla em prol da sustentabilidade. Implantado desde 2008, o Programa Movimento Limpeza Consciente, por exemplo, tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento sustentável do setor, fixando-se em áreas nas quais seja possível melhorar o perfil ambiental da indústria. Em 2009, esse programa abrangeu ações voltadas à destinação de embalagens pós-consumo, formalizadas no projeto Dê a Mão para o Futuro, e à regularização de empresas informais.
O projeto Dê a Mão para o Futuro foi criado a fim de contribuir para o recolhimento de embalagens pós-consumo. Trata-se de projeto voltado à preservação ambiental e à inclusão social, por meio da coleta e reciclagem de embalagens, e que se concretiza por meio de parcerias firmadas com associações e cooperativas de catadores. Seu ponto inicial foi no Rio de Janeiro, em março de 2009, com a parceria entre a Abipla e a Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Atualmente, mais de vinte municípios nos estados do Rio de Janeiro e Paraná são beneficiados por esse projeto.
Combate aos informais – Já o projeto voltado à regularização de empresas informais pretende combater áreas como as das águas sanitárias comercializadas no mercado brasileiro, que alcançam 42% de informalidade, liderando o ranking de produtos comercializados sem controle e registro.
“Com mais de 30% de índice de clandestinidade, os desinfetantes ocupam a segunda colocação nesse ranking, mas pretendemos em parceria com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Limpeza (Sipla), a Anvisa e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas do Sebrae mobilizar entidades e empresas para a busca da regularização”, acrescentou Maria Eugenia.
Conquistas tributárias – A Abipla e o Sipla também contabilizam várias conquistas na área de tributos, principalmente voltadas a reduzir alíquotas e, assim, contribuir para a maior competitividade das indústrias.
Em 2009 – após terem conseguido renovar o benefício de redução de 10% para 2% do imposto de importação para o óleo de palmiste refinado por um período de mais doze meses, e de STPP e sulfato de sódio, com a alteração da alíquota de 10% para zero, juntamente com a manutenção da barrilha na lista de exceções –, foram poupados US$ 35 milhões em reduções e desonerações no setor de produtos de limpeza. Em 2010, os ganhos foram ainda maiores e somaram mais US$ 38 milhões, totalizando em dois anos US$ 73 milhões em economia para o caixa das empresas em decorrência das medidas adotadas.
Outra frente de batalha para a associação e o sindicato é reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Estamos buscando a harmonização das alíquotas de IPI para todos os produtos em zero por cento, com base principalmente no princípio de essencialidade, bem como na necessidade de diminuir a diferença de preço entre o produto produzido na formalidade e o clandestino”, afirmou Maria Eugenia.
No início de 2010, a Abipla e o Sipla também inauguraram um centro de treinamento e capacitação, para atender à demanda por cursos técnicos, de aperfeiçoamento e de especialização. Ao longo do primeiro ano de atividades, esse centro capacitou e treinou mais de 200 profissionais.