Com preços recuperados, indústria de papel e celulose ocupa quase toda a sua capacidade instalada e inicia desgargalamento para atender explosão da demanda mundial prevista para os próximos anos, na qual o Brasil deverá conseguir destaque
Difícil encontrar um setor com perspectivas mais animadoras do que o de papel e celulose. Após quatro anos com preços aviltados, a tonelada da fibra curta de eucalipto, cuja produção o Brasil lidera mundialmente, começa a recuperar sua média histórica e hoje está cotada no bom patamar de US$ 690 CIF.
O lucro rápido com essa retomada iniciada no final do ano passado tem feito as grandes empresas operar à plena carga e desengavetar projetos antigos de ampliação.
Mas apenas a ocupação de 98% das máquinas dos produtores de celulose de mercado e de 92% para os de papel pode-se considerar como fruto de necessidades mais imediatas. As fábricas a todo vapor atendem à explosão da demanda mundial por vários tipos de papel, provocada pela prosperidade americana, pela recuperação do Sudeste Asiático e pelo crescimento econômico chinês. Já os projetos desengavetados são para atender estimativas otimistas de longo prazo.
Uma dessas previsões, contida em pesquisa da consultoria Jaakko Pöyry, prevê que a demanda mundial de celulose, no período de 1997 a 2015, deve crescer a uma taxa média de 2,7% ao ano, percentual elevado a 4,6% quando se trata das fibras curtas de eucalipto, a especialidade brasileira. A demanda maior por estas últimas se explica por sua grande variedade de aplicação e, logicamente, por suas florestas altamente produtivas, que precisam de muito menos tempo para o corte: 7 anos contra até 30 das de celulose de Pinus.
Essa estimativa da Jaakko Pöyry, aliás, foi até mesmo superada e, novamente, com maiores vantagens para os fabricantes nacionais, que se utilizam em quase a totalidade das florestas de eucalipto para extração da celulose. Na década de 90, o consumo médio mundial de celulose e pastas cresceu na verdade 4,1% ao ano e, especificamente o de fibras curtas, elevou-se em 8,5%. De 1998 para 1999, o número foi ainda mais surpreendente: o acréscimo no consumo total alcançou 6,3% e, no caso do eucalipto, 13,1%.
Segundo estudo da gerência de produtos florestais do BNDES, o volume comercializado mundialmente em 1999 atingiu 39,9 milhões de toneladas, sendo 18,5 milhões em fibra longa (Pinus), 15,7 milhões na curta e o restante das fabricadas em processo sulfito, nas não-branqueadas e outras. Bom lembrar que o Brasil é o maior fornecedor da celulose de fibra curta de mercado, com cerca de 3,7 milhões de t/ano.
De forma geral, todos os 75 ofertantes mundiais de celulose precisam de investimentos. Mas, apesar de a celulose de fibra longa, extraída de pinheiros e predominante nos países nórdicos, estar por volta de US$ 20/t mais cara que a de eucalipto, a demanda adicional prevista para os próximos anos é maior nesta última. A se guiar pelas projeções, até 2015 haverá a necessidade de mais 15 milhões de toneladas da fibra curta e de “apenas” 7,4 milhões de t da fibra longa.
Investimentos – Para atender à demanda adicional, que ainda conta a seu favor o aumento contínuo do preço da celulose (até 2002 deve chegar a US$ 850), os grandes grupos nacionais e internacionais investem de forma avassaladora. Um exemplo recente, com influência global no setor, foi a compra da americana Champion pela International Paper (IP) por US$ 10,1 bilhões. Dessa transação se originou um conglomerado com vendas anuais de US$ 30,5 bilhões, o maior do mundo em papel e celulose. A negociação espelha ainda o interesse que as vantagens competitivas do Brasil despertam nos estrangeiros: a Champion é importante player local: o 5º em celulose e o 3º em papel.
Mas essa compra é apenas um dos indicadores de que o mercado brasileiro será palco de megainvestimentos. Não obstante o reforço de caixa que a Champion recebeu com o novo controlador, outros grandes grupos, e mais especificamente os de origem nacional, possuem planos de investimentos bem definidos. Segundo uma estimativa da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), nos próximos cinco anos o montante investido pelas principais empresas deve ultrapassar os US$ 5,5 bilhões. Só para se ter uma idéia, apenas no primeiro semestre de 2000 os pedidos de financiamento ao BNDES para projetos do setor totalizaram R$ 2,04 bilhões.
Os projetos são urgentes. Formado por 220 empresas de papel e celulose, e empregando 100 mil pessoas em 255 unidades industriais, o setor exporta 90% da sua celulose de mercado (a não integrada com a produção do papel).
Para sobreviver sob a competição internacional, as empresas exportadoras como Aracruz, Bahia Sul e VCP, precisarão desses aportes, vindos sobretudos pelas linhas de financiamento do BNDES. Em escala menor, os projetos também ajudarão para desenvolver o mercado interno, cujo consumo per capita de papel é considerado baixo (38,8 kg). Bom lembrar que 50% de toda a celulose produzida (7,2 milhões de t) é consumida no Brasil e 82% do papel fica em território nacional.
Quando saírem do papel, os projetos de ampliação e as novas unidades anunciadas devem fazer o parque nacional passar da atual capacidade de 7,2 milhões de toneladas de pastas celulósicas para 10 milhões em 2005. Para o gerente de produtos florestais do BNDES, Antônio Valença, o reequilíbrio entre oferta e demanda já será perceptível quando os primeiros grandes projetos entrarem em operação em 2002.