Papel e Celulose: Empresa usa enzimas para limpeza

Para limpeza em papeleiras

Especializada no desenvolvimento e produção de enzimas para limpeza em processos industriais e domissanitários, a Hábil Química, de Sorocaba-SP, conseguiu recentemente criar um novo nicho para suas formulações.

Um serviço recente em estação de tratamento de efluentes de uma indústria papeleira fez a empresa descobrir a capacidade das enzimas para limpeza dos equipamentos trituradores de papel reciclável (hidropulper).

A descoberta, aliás, apenas procedeu de um conhecimento a priori da literatura técnica.

Ao se analisar as substâncias que formam os depósitos nas máquinas de papel, a aplicação de enzimas para limpeza é mais do que indicada.

Os contaminantes são, com freqüência, à base de proteínas. Os componentes orgânicos dos depósitos incluem microrganismos e moléculas de açúcares dos extratos de madeira e amidos.

As enzimas atacam as fibras protéicas pelas quais os microrganismos se ligam à superfície da máquina.

Essa biodegradação faz as colônias ficarem suspensas e assim são removidas do equipamento, não servindo de ancoragem para mais deposição orgânica.

Porém, a verificação em campo da eficácia das enzimas em máquinas de papel foi notada pela Hábil Química na Indústria de Papel Ramenzoni, em Cordeirópolis-SP.

A intenção inicial no tratamento enzimático era apenas melhorar o desempenho da estação de tratamento de efluentes, diminuindo os sólidos e também a carga orgânica, para melhorar a vazão de recirculação da água.

Uma formulação baseada sobretudo em celulases conseguiu reduzir o volume de lodo em 40%.

Mas, de acordo com a diretora técnica da Hábil, Gilza Minatel, esse procedimento ainda não foi suficiente para deixar a estação operando de modo satisfatório.

A engenharia de aplicação da Hábil, portanto, partiu para pesquisas de campo dentro do processo produtivo da indústria.

Como resultado, percebeu que um fator complicador era a limpeza alcalina e ácida realizada no hidropulper e em esteiras.

O ácido sulfúrico, utilizado para desagregar a massa presente no fundo do equipamento, e a soda cáustica, necessária para extrair a tintura dos papéis triturados, eram carreados com a água e as fibras longas do papel para a lagoa.

Química e Derivados: Papel: Vanessa (esq.) e Gilza - sistema substitui processos ácidos e alcalinos.
Vanessa (esq.) e Gilza – sistema substitui processos ácidos e alcalinos.

“Essa mistura transforma a estação da indústria de celulose e papel um verdadeiro desafio para os tratadores”, afirmou Gilza.

Como teste, a Hábil resolveu fazer uma limpeza com suas enzimas de prateleira (entre celulases, proteases e lignases) no hidropulper, um equipamento similar a um liquidificador em forma de tanque cilíndrico e com rotor giratório no fundo, responsável pela desagregação do papel misturado com água.

Com as enzimas, toda a massa acumulada no fundo foi dissolvida, como resultado da quebra das cadeias carbônicas das sujeiras (hidrocarbonetos, fibras, resinas, piches) pela ação enzimática.

Esse primeiro teste dispensou as constantes paradas para limpeza manual do fundo do hidropulper, melhorando também a eficiência da ETE, que deixou de receber o emaranhado de produtos químicos e de fibras de celulose e lignina.

O serviço na Ramenzoni ocorreu no início deste ano. Em agosto, a Hábil resolveu testar a tecnologia com mais profundidade na fábrica de papel da Ripasa, de Limeira-SP.

Nesse caso, o procedimento adotado foi o padrão: na primeira batida, no hidropulper, o ataque das enzimas limpou todo o fundo do equipamento, removendo a massa acumulada de sujeiras orgânicas.

Já numa segunda batelada, em dosagem contínua, notou-se uma melhora na qualidade do papel. “As enzimas permitem o aproveitamento melhor das fibras do papel a ser reciclado”, afirmou a coordenadora técnica da Hábil, Vanessa Batista.

Esse melhor aproveitamento é possível graças à degradação enzimática das cadeias da lignina, remanescente nas fibras que prejudicam a qualidade do produto final.

Além disso, nota-se também um reagrupamento melhor das fibras de celulose e um percentual bem menor de sujeira no papel reciclado, tornando-o mais resistente.

Os testes foram realizados em reciclagens de papel kraft, cartão, de colagem superficial e branco misto. Nesses mesmos processos, outra vantagem observada foi a ação enzimática sobre adesivos orgânicos presentes nos papéis.

“Ela também degradou toda a cola”, disse Vanessa.

No final de setembro, segundo a diretora Gilza Minatel, os testes na Ripasa trouxeram outras boas conclusões.

“Além do produto ganhar em qualidade, a produção, por fluir melhor, aumentou 40% e os rejeitos na ETE caíram drasticamente”, comemora a diretora.

Depois dessa fase, a Hábil pretende vender o conceito dos biodispersantes enzimáticos para todo o setor de celulose e papel, disputando mercado com os tradicionais produtos cáusticos ou ácidos.

A contenda, aliás, não seria apenas com os fornecedores dessas commodities utilizadas na reciclagem de papel. Isso porque a norte-americana Buckman, com filial brasileira em Sumaré-SP, também anunciou recentemente a intenção de comercializar enzimas da linha Neoteric, da Novo Nordisk, para o mesmo fim.

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